O bicho-papão dementador



––––CAPITULO DEZESSETE––––

O bicho-papão dementador


Kyo sentia seu corpo todo dolorido e um cansaço muito estranho o dominou, sentia vontade de deitar ali mesmo no corredor e dormir, mas uma coisa o fazia andar, ele queria ouvir o que Uandalini iria dizer quanto ao salvamento que realizara ainda a pouco, mas a esperança que nutria de que Uandalini se impressionaria se extinguiram ainda a caminho da sala comunal da Grifinória:

–Como é que você pôde ser tão estúpido? –perguntou a garota, enquanto eles subiam a escadaria do quinto andar.

–Como é?

–Você, que estupidez foi aquela?

–Não foi estupidez, eu escutei você gritando e fui ver o que era, eu achei que fosse uma barata ou uma aranha, como é que você acha que eu imaginaria que seria um dragão?

–Sei lá, você não viu os destroços pelos corredores?

–Não, tava preocupado demais tentando descobrir de onde vinham os seus gritos.

–Ah-há, muito engraçado você, mas você podia ter aproveitado que estava fazendo esforço pra escutar e prestar atenção nos rugidos do dragão.

–Mas o dragão não rugiu, ele tava ocupado cuspindo fogo em você... bem quer dizer, ele rugiu sim, mas eu nem me toquei, tava preocupado com você...

–Ah, mas você foi muito estúpido.– disse ela e Kyo reparou que ele tinha ficado vermelha.

–Posso te perguntar uma coisa?

–Fala. –disse ela, com a voz entediada.

–Por que tanta preocupação?

–Nada, é que enfrentar um dragão sozinho? No que é que você tava pensando? E sua segurança, onde fica?

–Dane-se a minha segurança, tudo o que eu queria era te ver bem!

E essa foi a ultima palavra que os dois trocaram aquela noite, Kyo seguiu seu caminho, utilizando uma passagem secreta atrás de uma estatua de elfo das montanhas, deixando Uandalini plantada no chão, vendo o garoto se distanciar.

–Ainda bem que ele foi embora, eu não ia me segurar por mais tempo... –disse a garota pensando alto.

Kyo entrou na sala comunal, para ser mais sincero foi arrastado para o local, pois quando o viram defronte ao buraco atrás do retrato da mulher gorda. Os trigêmeos Weasley o ergueram e o carregaram até uma poltrona bem próxima a fogueira, onde já estavam sentados, estrategicamente, Sarah, Tiago e Ananda. Kyo na estava entendo nada.

–Eu posso saber o que esta acontecendo? –perguntou ele.

–Nós é que queremos saber o que acontecer! –exclamou Felipe, trazendo uma garrafa para Kyo.

–O que é isso? –perguntou Kyo –Espero que não seja Veritasserum!

–Não, é só cerveja amanteigada! –respondeu Tiago, mostrando que também tinha uma –Bebe ai, é muito bom!

Kyo deu uma pequena golada na garrafa, realmente seu conteúdo era muito bom e Kyo sentiu uma onda de calor se espalhar por seu corpo.

–Nós ficamos sabendo que você enfrentou, sozinho, um dragão! –exclamou Renan –E você saiu vivo?

–Não animal, não reparou que ele é um fantasma? –zombou Felipe.

–Ou quem sabe um zumbi? –completou Ciro, rindo, junto com Felipe.

–Sei lá, vocês não repararam que foi uma pergunta retórica? –se defendeu Renan.

–Mas e então? –começou Ananda. –Como é que você enfrentou aquele dragão?

–Ah, eu num tô a fim de falar nisso... –choramingou o garoto.

–Conta ai, vai. –insistiu Ciro.

–Nós estamos curiosos. –continuou Felipe.

–Nós te damos doces. –completou Renan.

Nesse momento Uandalini entrou pelo buraco do retrato, Kyo a olhou passar pelo grupo, ela escondia o rosto, como se não quisesse ser identificada, o garoto sentiu vontade de ir atrás dela, mas a raiva que sentia da garota não deixou.

–Não, valeu, –disse o garoto se levantando de sua poltrona –aposto que, como as coisas se espalham rápido aqui, vocês conhecem os detalhes melhor até que eu.

Uma grande vaia percorreu a sala comunal, mas Kyo não ligou, alem da raiva, da tristeza e da frustração, também tinha o fato de sua cabeça estar cheia de coisas sem sentido, havia vezes que ele sentia tanta vontade de beijar Uandalini, e tinha certeza de que seria correspondido, mas também tinha horas em que a vontade de dar um belo soco na cara dela era quase insuportável.

Ele subiu para o dormitório, junto com Tiago, que também parecia estar exausto. Eles entraram no dormitório e se largaram nas camas de colunas sem nem mesmo tirar o uniforme, Kyo ainda de óculos.

–Putz, e eu achando que já conhecia toda a biblioteca... –resmungou Tiago.

–Por que? –perguntou Kyo, sem se apegar muito nas palavras do amigo.

–A Sarah resolveu se infiltrar na sessão reservada, ela pegou um livro que sabia gritar, nem sei como você não escutou o grito dela.

–E o que é que tem?

–Nós tivemos que sair correndo, a Madame Pince fez o favor de sair do chão, pior que Filch, alias, ele também estava na sessão reservada, quando a gente correu só deu tempo de escutar a Madame Pince gritar: “Argo, o que é que você tá fazendo aqui?”, e nós saímos da biblioteca.

–O Filch? Na biblioteca?

–E na sessão reservada, e eu achando que ele não sabia ler... –riu-se Tiago.

Tiago se virou e dormiu quase que instantaneamente, mas Kyo teve algo com o que pensar durante toda a noite, que alias, ele passou em claro. O que Filch estava fazendo na sessão reservada da biblioteca enquanto um dragão quase matava uma aluna da primeira serie, que teve que ser salva por um outro aluno, também da primeira serie.

O outono estava quase em seu meio, as aulas estavam ficando um tanto quanto razoáveis, a prof ª Minerva parecia querer apenas testar o que os alunos haviam aprendido, como de costume, a única pessoa que sabia alguma coisa era Sarah, que, ao contrario do resto da turma, que só sabia fazer agulhas virarem fósforos e vice-versa, sabia fazer algumas transformações mais avançadas, até para alunos da primeira serie, como a de um porco-espinho em uma almofada de alfinetes, apesar da almofada dela se encolher quando se aproximavam com um alfinete.

Adamastor Pitaco mostrava para os garotos como enfrentar bichos-papões, o que era bem divertido, já que para se vencer um bicho-papão era necessário risadas e, para isso, eles faziam a criatura parecer ridícula, transformando-a em coisas muito estranhas, Tiago o transformara num dragão de algodão doce que cuspia sorvetes, Sarah o transformara num livro sem titulo, mas apenas ele riu, Archie numa charada sem resposta, agora só ele rira, Pubia e Nancy o fizeram virar aranhas enormes e sem patas, mas na vez de Kyo, antes que ele pudesse usar o feitiço Ridiculus na criatura encapuzada que causara arrepios em todos, o professor entrou na sua frente.

Todas as outras aulas ganharam uma certa facilidade, Kyo não entendeu o porque, mas achara que era apenas porque estava se familiarizando com as aulas e com a matéria, até mesmo as aulas de Snape pareceram ficar mais fazeis de se aturar, apesar de Kyo achar que isso fora apenas porque Snape aprendera a admirar a habilidade que o garoto tinha com o caldeirão, e o fascínio dele pela visão do caldeirão fervendo em fogo lento ou a facilidade que ele tinha para assimilar a matéria, mas de que isso importava? Kyo sabia que o professor ainda não gostava dele.

A altura que o outono ia avançando as chuvas iam se intensificando, o que atrapalhava os treinos de quadribol, que eram a cada dia mais molhados, exaustivos e difíceis. A visibilidade graças a chuva era cada vez menor e Kyo sentia vontade de desistir do quadribol e dedicar a carreira de espectador.

As aulas de herbologia também não estavam sendo fáceis, as plantas pareciam estar num incrível mau humor graças as chuvas incessantes. Sarah parecia gostar da aula daquele jeito, ela dizia que era bom ter desafios, mas Kyo não estava muito afim de desafios, afinal, um deles quase lhe arrancara um dedo na ultima aula.

No único dia de novembro em que o dia não amanhecera chuvoso as coisas continuavam correndo normalmente, nas aulas de historia da magia Kyo dormia, pois o velho professor Binns conseguia tornar a mais sanguinária das guerras no assunto mais chato do mundo, o que incomodava os alunos da Lufa-Lufa, que adoravam as aulas do velho e não entendiam as notas altas de Kyo. O velho Binns era, na verdade, um fantasma, que insistia em continuar a dar aulas, os alunos mais velhos contavam que ele, a muito tempo, estava sentado na sala dos professores e adormeceu, nessa época ele já era muito velho e, quando se levantou esqueceu o corpo e foi dar aula. Foi numa dessas aulas que aconteceu a coisa que Kyo menos esperava no mundo, ele, como de costume, estava dormindo na aula, enquanto Binns explicava sobre a revolto dos duendes de 1735.

–...Então o Grinduald, o Astuto, cujo qual muito de vocês confundem com Cavald, o Ligeiro, ele resolveu não só reivindicar o direito ao uso de sua mágica mas também queriam que os humanos lhes dessem direito ao estudo mágico e criassem uma escola para eles. os bruxos da época, é claro, não admitiram tal “afronta” e resolveram castigar os duendes por desrespeita-los e...

–Com licença, Pietro. –disse alguém a porta.

Todos olharam, já que as aulas de Binns não costumavam ser interrompidas, Binns tinha uma certa raiva escondida em seu olhar fantasmagórica. Quem estava na porta era Dumbleodore, tinha uma expressão apreensiva e Kyo temeu que alguma coisa muito ruim estava acontecendo se já não se passara.

–Pois não, professor. –disse Binns, com falsa calma.

–Eu gostaria de ter uma palavrinha com o Sr. Hunter, –disse Dumbleodore, seus olhos faiscando na direção do garoto, que sentiu suas entranhas congelarem –tenho uma noticia importante para dar a ele.

–Muito bem, Sr. Hunter, vá com Dumbleodore.

Kyo consentiu e já ia se levantando, quando Dumbleodore lhe disse algo que fez seu coração parar:

–Pegue suas coisas, Kyo, você não voltará.

O garoto enfiou seus livros e os rolos de pergaminho dentro da mochila, tapou os tinteiros e os enfiou nos bolsos da vestes. Quando saiu da sala percebeu que não era só Dumbleodore que o esperava, mas a prof ª Minerva, Sheeba Harry e Neville, todos tinham expressões muito estranhas nos rostos.

–Kyo, temos que dizer uma coisa e você terá que ser forte. –começou Dumbleodore, sua voz estranhamente enrolada.

–Pode dizer... –disse Kyo, tentando tomar coragem, não sabia o motivo, mas tinha certeza de que seria expulso, talvez não fosse bom o bastante, ou Dumbleodore talvez tenha se arrependido de não tê-lo expulso no dia com o dragão.

–É sobre seus pais, é que eles... –começou novamente Dumbleodore.

–Eles querem me tirar da escola? Podem esquecer, eu vou ficar! –disse Kyo, sentindo até um certo alivio.

–Não é nada disso. –interrompeu a prof ª Minerva.

–Eles... –começou mais uma vez Dumbleodore –Eles estão mortos...

A voz de Dumbleodore foi morrendo. Kyo sentiu seu coração parar, seu estomago afundar dois palmos, suas entranhas congelarem, suas pernas cederem, seu queixo cair e sua cabeça virar, isso tudo ao mesmo tempo, foi quase como se ele mesmo estivesse morrendo, não conseguia se mexer, alem de sua mão, que apertava a varinha, com cada vez mais força.

–Como..? –foi tudo o que ele conseguiu dizer.

–Vamos para a sala dos professores, –aconselhou Neville –lá poderemos conversar melhor.

–É, vamos Kyo? –disse Sheeba, dando um abraço meio fraco no garoto. –Você beber alguma coisa e tentar se acalmar.

Kyo não escutou direito o que Sheeba lhe disse, mas não ofereceu resistência, quando ela passou a guia-lo pelos corredores de Hogwarts até a sala dos professores, que ficava no primeiro andar, ao lado da enfermaria.

Eles passaram por salas cheias de alunos, que provavelmente estavam de aula vaga. Cruzou com Tathiane, que passeava pelos corredores com o uniforme de quadribol da Corvinal, com Carla Malfoy que parecia estar descendo para as masmorras, e até mesmo com Letícia Longbotton, que fez gesticulou para Kyo como se perguntando o que estava acontecendo, o garoto não respondeu, não por falta de vontade, mas simplesmente porque seu corpo parecia não querer responder as suas ordens.

A sala dos professores era um pouco menor que a sala comunal da Grifinória, tinha as paredes forradas com madeira escura e uma lareira bem grande, de pedra esculpidas, a um canto, esta acesa, o chão era de pedras toscas e no teto pendia um enorme lustre de cristal, varias poltronas estavam dispostas pelo local, e numa enorme mesa de centro dezenas de documentos e provas corrigidas a serem corrigidas, em qualquer outra ocasião Kyo ficaria contente de ver que tirara cem numa das provas de Snape, mas neste momento a coisa mais insignificante do mundo era sua nota em poções.

–Sente-se ali, Kyo. –disse Sheeba, indicando uma poltrona mais próxima a lareira.

O garoto não se sentou, se largou na poltrona, Dumbleodore se sentou numa a sua frente, os outros ficaram de pé. Dumbleodore limpou os oclinhos em forma de meia-lua e olhou diretamente para Kyo, aqueles olhos azuis brilhando tristemente.

–Muito bem, Kyo, o que gostaria de saber primeiro? –perguntou Dumbleodore, muito serio.

–Como. –disse Kyo, sem tirar seus olhos dos de Dumbleodore.

–Voldemort –a menção desse nome Neville tremeu –mandou três Comensais até sua casa, eles apareceram durante a noite e pegaram seus pais durante o sono, um só feitiço.

Kyo sentiu um enorme aperto no coração, apesar do alivio, “pelo menos eles morreram dormindo”, pensou o garoto, “não sofreram né perceberam o que estava acontecendo”.

–Que feitiço? –prosseguiu Kyo.

Avada Kedavra. –disse Dumbleodore, ainda mais serio do que antes. –O feitiço da morte.

–Por que? –perguntou Kyo, sentindo que um onda de fúria agora o invadia. –Só me diga mais isso, por que?

–Para te atingir, alguns dos alunos aqui são filhos de Comensais, apesar de não saber, provavelmente devem ter comentado com eles sobre seus desempenho fenomenal como bruxo, e estes falado com Voldemort –Neville tremeu novamente –que provavelmente se sentiu ameaçado e achou que se você se entristecesse seu desempenho cairia e assim você se tornaria uma ameaça menor, ele pode ser um bruxo das trevas, mas eu tenho que admitir que nunca vi uma mente tão brilhante como a dele, como seria bom se ele a dirigisse para algo construtivo... –Dumbleodore provavelmente entrara em algum devaneio.

Neste momento Snape entrou na sala, parecia preocupado e tenso, olhou para Kyo, depois para Dumbleodore, e, logo após, para os restantes, seus olhos se contiveram um pouco em Sheeba, mas não tanto quanto em Harry, que sustentou o olhar de Snape com um quase duas vezes mais duro.

–Parece que algo importante aconteceu, –comentou Snape, com um sorrisinho maldoso –o presidente da ordem da fênix e o ministro da magia na mesma sala não é coisa que se vê todos os dias.

–O pai de Kyo morreu, Severo. –disse a professora Minerva asperamente.

–Ah, deus, me desculpem, –disse ele parecendo sinceramente arrependido –meus pêsames, Sr. Hunter.

–Obrigado, professor. –disse Kyo, quase num sussurro, não entendia o que tinha acontecido com sua voz.

–Mas como professor? –perguntou Snape. –O que aconteceu?

–Três Comensais, Severo, –explicou Dumbleodore –apareceram na casa deles esta noite.

–Ah, merda! –exclamou Snape –Eu sabia! Eu sabia! Eu devia ter dito!

–O que foi severo? –perguntou Dumbleodore., apreensivo.

–A marca, –disse Snape, socando o ar –professor, ela ardeu noite passada, eu pensei que fosse mais um alerta falso...

–Como assim? –perguntou Harry, inquisitorialmente.

–Voldemort anda com umas brincadeiras idiotas, ultimamente. –explicou Snape –ele nos chama e, quando nós aparatamos até ele, ele diz que era só para verificar quem está pronto a atende-lo.

–E por isso você não avisou ao Alvo sobre a marca? –rugiu Harry. –Pelo amor de deus, Snape, onde é que você estava com a cabeça?

–Sr. Potter, o senhor não acha realmente que eu fiz isso de propósito? –perguntou Snape, ofendido.

–Não, desculpe, é que eu achei que você deveria ter dito a Dumbleodore sobre isso... –se desculpou Harry, mais calmo.

–Eu mesmo pedi para que Severo ignorasse alguns do chamado de Voldemort, –disse Dumbleodore, pondo a mão no ombro de Harry –a não ser que ela ardesse com muita freqüência, o que, eu admito, foi um grande erro, que foi pago com a perda de vidas inocentes.

–Snape, eu posso dar uma olhada na marca? –perguntou Harry, se aproximando de Snape.

–Tudo bem... –disse o outro, a contra-gosto.

Snape levantou a manga das vestes até o ombro e, para surpresa de Kyo, havia ali uma espécie de tatuagem macabra, uma caveira negra, que queimava por dentro, com uma serpente lhe saindo pela boca. Harry analisou a tatuagem, tocou-a de leve, depois se virou serio para Dumbleodore.

–Não ia adiantar de nada Snape ter ido... –comentou Harry –o chamado não era para ele.

–Como assim, Harry, querido? –perguntou Sheeba.

–Snape deveria saber, mais do que ninguém aqui, que Voldemort especifica quando ele chama e a pessoa convocada por ele fica com o braço inchado ou dolorido.

–Mas Snape não poderia ao menos ficar sabendo dos planos de Voldemort? –sugeriu Neville. –Já seria uma grande ajuda, não?

–Até que seria, –disse Snape –mas o Milord não conta nada a ninguém que não faça parte de seus planos.

–Por que Milord, Snape? –perguntou Neville.

–Perdão, e o costume, ele costuma nos punir quando não o tratamos como um rei ou deus...

A qualquer outra hora Kyo teria rido ao imaginar Snape cumprindo detenções por quebrar alguma regra de Voldemort, mas agora ele não conseguiria rir nem que Snape dançasse de maiô na sua frente.

–Ainda temos mais uma questão a discutir. –disse Dumbleodore, chamando a atenção de todos.

–Qual, Alvo? –perguntou Harry.

–Eu também gostaria de saber, Professor. –comentou Neville.

–Não, não agora –disse Dumbleodore –depois discutiremos sobre isso.

–Ah, qual é, Alvo? –exclamou Harry –Sem essa conta logo.

–Depois falaremos sobre isso.

Harry fez uma cara de pura decepção, mas Dumbleodore o ignorou. Ouve um longo silencio em que Dumbleodore mais uma vez limpou seus óculos e estalou os dedos. Kyo estava começando a recuperar a sensibilidade nas pernas, mas sua boca estava demasiada seca para que ele falasse alguma coisa.

–Kyo, você gostaria de ficar no castelo ou voltar para casa? –perguntou Dumbleodore, pondo a mão no ombro do garoto.

–Ahn..? –gaguejou Kyo.

–Gostaria de voltar até sua casa? –perguntou Dumbleodore, havia uma nota de carinho e preocupação na voz dele. –Acho que você gostaria de ver seus pais por uma ultima vez, participar do velório deles.

–É, acho que eu vou... –suspirou o garoto.

–Arrume suas coisas, –disse Harry –o expresso de Hogwarts estará te esperando na estação de Hogsmead, eu vou com você até lá, também tenho que voltar.

–Isso, Sr. Hunter, –disse a prof ª Minerva –vamos até o dormitório da Grifinória para que pegue suas coisas.

–Tá legal... –suspirou o garoto mais uma vez.

O garoto se levantou e seguiu com a prof ª Minerva até a saída da sala dos professores, ele viu Sheeba, Snape e Dumbleodore conversando aos cochichos a um canto e ouviu Harry falando com Neville, ele ainda exclamou bem alto:

–Você conosco Neville, ou vai ficar no castelo?

–Vou com vocês, mas antes vou trocar umas palavras com a minha filha, –disse Neville, quase que num desabafo –já faz um tempo que não a vejo, eu posso, não, professor?

–Claro, Neville, claro, –concordou Dumbleodore –ela estava na aula de...

–Historia da magia, Alvo. –lembrou a prof ª Minerva.

–Ah, sim, é isso mesmo, historia da magia. –disse Dumbleodore, coçando a barba.

Kyo subiu com a prof ª Minerva dois lances de escada, mas o costume de usar as passagens secretas era tão grande que ele se aproximou de uma estatua de mulher vesga e corcunda que se apoiava numa bengala de madeira nodosa.

–Dunersbawn... –resmungou ele e a estatua ganhou vida e se moveu para o lado para que Kyo passasse.

–Sr. Hunter! –disse a prof ª Minerva, com seu habitual tom enérgico de voz.

–Pois não professora. –disse o garoto sem parar.

–Co-como é que o senhor fez isto? Quero dizer, como sabe desta passagem secreta? Aposto que nem Argo deve saber disso!

–Descobri meio sem querer... –resmungou ele, sem parar de andar.

–Suponho que com ajuda dos trigêmeos Weasley.

–Não, o Harry me deu umas dicas.

–Então eu acho que o senhor deveria registrar o mapa, para o caso de ser confiscado.

Kyo achou que deveria ter ficado assombrado, mas seu cérebro parecia ter esquecido suas funções normais e não agia de acordo com o programado.

–Outra hora...

Eles saíram no andar logo abaixo da entrada para a Grifinória, subiram rapidamente a escada, ou melhor, incrivelmente lentamente, pois as pernas de Kyo pareciam feitas de chumbo, entraram na sala comunal, a prof ª Minerva disse a senha para o retrato da mulher gorda.

O lugar estava vazio, mas Kyo nem noto, passou direto pelas lareiras, que ainda tinham brasas, e pelas poltronas, subiu a escadaria que levava até o dormitório masculino. Quando entrou também não viu ninguém, somente os malões largados ao lado da cama , olhou para o seu, parecia um tanto desarrumado, mas ele não queria nem saber, enfiou seus livros, que ainda estavam na mochila, algumas roupas e pés de meia, que estavam em cima da cama e o fechou, com um chute. Com um certo esforço o ergueu do chão, e saiu, voltando a sala comunal, onde a prof . Minerva esperava, sentada numa poltrona próxima a lareira.

–Ah, ainda bem que você já voltou, pensei que fosse se demorar. –disse ela, quando avistou o garoto.

–Não tenho motivo...

O garoto se sentia vazio por dentro , sem vida, não sentia seus dedos e sua cabeça doía muito. Ele passou pela professora, que rapidamente se levantou para acompanha-lo, o garoto passou pelo retrato da mulher gorda e seguiu pelo mesmo caminho pelo qual veio. A professora Minerva corria para acompanha-lo, mas era meio q inútil, já que o garoto, ao contrario de quando vieram, andava quase correndo.

Quando chegaram ao saguão de entrada encontraram Neville e Harry esperando por eles, havia mais alguém, Kyo não reconheceu de inicio, mas quando se aproximaram um pouco mais viu que era Letícia, Neville parecia lhe dar recomendações:

–... você ouviu, hein? Não é para contar a ninguém sobre isso! É do mais absoluto sigilo!

–Tá bom, pai, eu não conto pra ninguém. –respondeu a garota, com a voz tediosa.

–E se a Uanda perguntar...? –insistiu Neville.

–Eu digo que ele precisava visitar parentes que estavam doentes...

–Isso, agora suba, você provavelmente tem aulas.

–Tá, tchau!

A garota beijou Neville no rosto e saiu correndo, ainda fez um sinal positivo para Kyo, quando passou por ele, o qual garoto quase não conseguiu retribuir. Harry se aproximou do garoto e apertou os ombros, Kyo sentiu vontade de sair correndo para um lugar onde ninguém pudesse encontra-lo e chorar, chorar muito.

–Pode deixar, Minerva, –disse Harry –nós cuidamos dela daqui por diante.

–Muito bem, Sr. Potter, espero que seja de confiança e cuide bem do garoto.

–Alguma vez eu te decepcionei? –riu Harry.

–Então vão, vão logo, o trem não pode focar esperando por vocês.

–Tchau, Minerva. –disse Neville.

–Tchau! –exclamou Harry, levando Kyo consigo.

–Tchau, vão em paz! –exclamou a professora.

Harry tomou o malão das mãos de Kyo e o carregou por magia, Kyo se segurava para não sair correndo. Harry e Neville conversavam entretidos. Os terrenos de Hogwarts ram bem maiores do que Kyo imaginava, quando viera com Hagrid eles atravessam o lago com os barquinhos que iam a uma velocidade bem grande, agora tinham que dar a volta e ir pelos portões. Nos portões da escola havia duas estatuas de javalis alados que pareciam com guardas.

Kyo sentia um tipo de tristeza crescer dentro de seu peito, algo que parecia doer e arder, que o incomodava e crescia. O céu, que ao amanhecer estava incrivelmente limpo, a cada minuto mais escuro, grandes nuvens cor de chumbo surgiam do nada e encobriam o céu azul. Harry olhava o céu estranhando o que estava acontecendo.

–Nuvens estranhas, não é, Neville? –perguntou ele.

–Pio que é, o céu estava tão limpo quando amanheceu... –disse Neville olhando para o céu, de repente ele conseguiu tropeçar no ar. –Ai... Que droga!

–Desastrado como sempre, você consegue encontrar o lugar mais estranho para tropeçar.

Harry e Neville riram gostosamente, mas Kyo nem se tocou disso olhava o nada pensando em seus pais, sua mãe que sempre fora tão carinhosa, sempre tentara protege-lo do tratamento de seu pai, que na verdade apenas queria protege-lo do fim trágico que sua tia Matilde levara, ele sempre reclamara da vida que tivera, do modo como era tratado em casa, mas agora daria tudo para que seus pais estivessem vivos e ele pudesse ter aquela vida de volta.

Eles chegaram na estação, o expresso de Hogwarts estava parado a espera deles, um homem com um macacão sujo e um chave inglesa em seu bolso os esperava a porta do trem. As repolhudas nuvens de fumaça se contrastavam perfeitamente com o céu cinzento.

–Boa dia, Sr. Potter, senhor ministro. –cumprimentou o homem que estava a porta do trem.

–Bom dia. –responderam Harry e Neville.

–Eu sou Juan Polzini, o maquinista do expresso de Hogwarts. –disse o homem. –E o jovem é..?

–Ah, esse é o Kyo, Kyo Hunter. –respondeu Neville.

–Ah, muito prazer Sr. Hunter. –disse Juan estendendo a mão para Kyo.

–Ahn... Valeu... –disse Kyo, apertando a ao de Juan.

–Vocês vão para Londres, certo? –perguntou Juan.

–É, em quanto tempo chegamos? –perguntou Harry.

–Agora são... –Juan retirou a varinha do bolso do macacão e a agitou no ar, fazendo surgir um relógio –Bem, são dez e quarenta... então chegaremos às seis horas, talvez sete.

–Está bem, mas não da pra chegar mais rápido? –perguntou Neville. –Tô comum pouco de pressa, sabe como é, não é?

–Acho que se colocar um pouco de lenha encantada da pra chegar as três, –disse Juan, cocando a cabeça –mas a viagem vai ficar meio desconfortável, tudo bem.

–Não ligamos para o conforto, – disse Harry, com um sorriso –quanto mais cedo, melhor.

Disse isso e entrou no trem, Neville logo atrás, mas Kyo não se mexeu, estava viajando em seus pensamentos, o maquinista entrou também, mas logo voltou:

–Não vai entrar, Sr. Hunter? –perguntou ele.

–Hã? Já vou...

O garoto entrou no trem e se dirigiu a primeira cabine vazia que viu, jogou o malão no chão e se largou num dos bancos. Olhou pela janela, a chuva começara a cair em gotas grossas. O garoto se deitou e ficou olhando para o teto da cabine, era azul marinho e, graças a escuridão lá fora, lembrava o céu em noites de lua cheia.

O tempo parecia não passar, ele olhava para fora, a chuva caia, mas ao longe era possível ver o sol brilhar, nos terrenos de Hogwarts, aparentava ser. Ele pegou sua varinha dentro do bolso da capa e começou a brincar com ela, observando as fagulhas vermelhas e douradas que saiam da ponta da varinha.

Vingardium Leviosa! –disse ele e seu malão subiu alguns centímetros no ar.

–Belo feitiço. –disse alguém a porta.

O garoto se virou e deparou com Harry, este rodava a varinha entre os dedos e sorria.

–Valeu.

–Você tá legal? –perguntou Harry.

–Mais ou menos...

–Eu sei como é?

–Sabe? –perguntou Kyo com sarcasmo.

–Sei, você nem imagina como eu me senti quando eu descobri que meus pais tinham sido assassinados...

–É ruim, não é?

–Pra você eu acho que tá sendo pior, quando eu descobri não tinha metade da capacidade de compreensão que você tem.

–Você tinha quantos anos?

–Onze, foi no dia do meu aniversario.

–Eu acho que com você foi pior.

–Por que?

–Você ainda era uma criança e ainda era seu aniversario.

–Mas meus pais morreram pra me salvar e os seus? Sem motivo algum, só pra mexer com você...

–É, mas isso não vai ficar assim, eu juro que um dia ele vai pagar!

–Você vai matar Voldemort?

–Ele não merece nem a morte.

–Como assim?

–Sei lá, mas deve existir uma coisa pior do que a morte...

–Azkaban.

–O que?

–Azkaban, a prisão dos bruxos, é o piro lugar no mundo, você enlouqueceria ali.

–Por que? O que tem lá de tão mal?

–Dementadores.

–O que?

–Dementadores, são criaturas horríveis, sugam toda a nossa felicidade e...

Um grito ecoou pelo trem. Kyo e Harry saíram para o corredor e viram um Neville incrivelmente branco correndo em sua direção, ele parecia apavorado e tinha a varinha em punho.

–Que foi, Neville? –perguntou Harry.

–Snape, –ofegou Neville –ele tá no fim do trem, ele voltou no tempo, assustador.

–Como, o Snape tem quase sessenta anos! –exclamou Harry.

–Era um bicho... –tentava dizer Neville, em meio a soluços –um bicho... um bicho-papão.

–Neville, você tem medo do Snape? –perguntou Kyo, se esquecendo da tristeza por um instante.

–Desde a primeira serie, –respondeu Harry, rindo –o Snape sempre apavorou o coitado.

–Pega ele, Harry, pega ele... –ofegava o pobre Neville.

–Tá bom, vamos lá Kyo. –chamou Harry.

–Quem, eu? –perguntou o garoto surpreso.

–Você já aprendeu como se enfrenta um bicho-papão, não?

–Já, mas...

–O que é que tem?

–Eu nunca enfrentei um... quer dizer, não realmente.

–Tudo bem, é a sua chance.

–Tem certeza?

–Claro, é sempre bom aprender e eu sempre adorei ver você e as suas mancadas.

Harry começou a rir, mas Kyo não achou a mínima graça.

–Sem, graça...

Eles seguiram pelo corredor, passando pela frente das cabines, olhando cada uma delas, mas nunca encontrando nada. Harry parecia se divertir com a caçada, o que Kyo não entendia, deveria ser coisa de velho, pensava o garoto, era verdade, Harry era velho, mas seu espírito era o de um garoto da idade de Kyo.

–Vai na frente, se encontrar alguma coisa é só me gritar. –disse Harry, mais ou menos na metade do trem.

–Mas e se não der tempo, –protestou Kyo –eu nem sei qual é o meu maior medo...

–Pode ficar frio, eu confio em você, você vai saber se virar.

–Harry, sei não, hein?

–Vai logo, cara, e para de encher.

–Beleza, mas eu avisei.

O garoto saiu correndo na frente, sentindo o orgulho inflar em seu peito, se Harry confiava nele ele não precisava da confiança de mais ninguém, quer dizer, talvez também precisasse da confiança de Dumbleodore. Ele esperou até que tivesse passado mais ou menos cinco vagões e começou a olhar as cabines uma por uma. Todas estavam vazias.

Depois de ter olhado umas vinte cabines teve a impressão de que estava indo devagar demais, pensou em correr e pular algumas cabines, mas na ultima cabine que olhou reparou numa coisa estranha, uma mala meio fechada, talvez o chacoalhar do trem que estava indo muito rápido a tivesse aberto. Ou fechado. Ele se aproximou devagar, nada de estranho na cabine, apertou sua varinha e apontou para a mala, sentia o suor escorrer pelo seu rosto, seu coração batia com força em suas costelas, estendeu a mão e abriu a mala.

De dentro da mala irrompeu uma criatura encapuzada, lembrava muito a que ele vira na aula de defesa contra as artes das trevas, de dentro da capa saiam duas mãos cobertas de cascas de feridas apodrecidas, o cheiro de podridão enchia a cabine, não se podia ver o rosto da criatura, mas o ruído da respiração dela zumbia nos ouvidos do garoto. Kyo sentiu como se uma estranha nevoa cobrisse seu cérebro, não ouvia mais nada, nem via nada, escutava vozes a distancia¸ “cadê ele, mamãe?”, “ele já vem querido”, eram as vozes de uma mulher e de uma criança. Kyo não sentia mais seu corpo.

–Harry... –foi tudo o que ele conseguiu dizer.


–Kyo, ei cara, acorda, morreu, foi?

Kyo abriu seus olhos lentamente, estava deitado no chão da cabine, Neville estava sentado no banco e Harry agachado sobre ele. Seu corpo tremia todo, sentia arrepios constantes.

–O que foi que aconteceu? –perguntou o garoto, se erguendo.

–O bicho-papão, se transformou num dementador. –respondeu Harry, dando ao garoto um chocolate. –Come ai, você vai se sentir melhor.

–Valeu, mas eu não desmaiei só por que vi o... dementador, foi? –insistiu Kyo.

–Não, –respondeu Harry –quando um dementador se aproxima da gente ele absorve nossa felicidade, ele se alimenta disso, quando nossas boas lembranças são absorvidas só ficamos com as ruins e, no seu caso acho que foram as piores de todas. Eu também ficava assim.

–Mas... eu não me lembro, –o garoto fez força para se lembrar –não sei, uma mulher e uma criança e um garoto... eu acho...

–Não faça esforço para se lembrar, não agora. –aconselhou Harry.

–Mas Harry, como foi que o bicho-papão virou um dementador? –perguntou Neville.

–Nem faço idéia –disse o outro, encolhendo os ombros. –Kyo, você já tinha visto um dementador antes?

–Não, –respondeu Kyo, pensativo –nunca... a não ser...

–A não ser o que? –perguntaram Harry e Neville em uníssono.

–Na ultima aula de defesa contra as artes das trevas, –respondeu o garoto –o professor Adamastor entrou na minha frente, mas por um instante eu o vi...

–Acho que seria uma boa idéia você aprender a enfrentar bichos-papões. –comentou Harry. –Que tal?

–Co-como assim?

–Aprender um feitiço para que possa enfrentar os dementadores.

–E isso existe?

–Você quer ensinar o Espectro patronum para um aluno do primeiro ano, Harry? –perguntou Neville, assombrado.

–Acho que sim, eu aprendi quando era mais novo do que ele. –disse Harry, descontraído.

–É, mas estava na terceira serie. –protestou Neville.

–E daí? Você quer aprende não é, Kyo?

–Ahn, quero... acho. –respondeu o garoto.

Depois disso ouve um longo silencio. Ninguém se mexia, só ficavam se encarando, Neville, que parecia não estar gostando daquilo, foi quem quebrou o silencio:

–Você é quem sabe, mas eu acho que o garoto não agüenta, não ainda.

–Não subestime o garoto, Neville. –disse Harry.

Eles falavam como se Kyo na estivesse presente.

–Sinceramente eu estou superestimando ele, só que eu acho que ele ainda não está pronto.

Neville saiu da cabine deixando os dois sozinhos. Kyo reparou que ainda estava sentado e se levantou, sua varinha estava em sua mão, que estava suada, suas costas e nuca também estavam suados. Ele olhou para Harry, que mais uma vez girava a varinha entre os dedos:

–O feitiço é meio complicado e exaustivo, mas eu acho que você não vai ter muitas dificuldades.

–Como assim?

–É o seguinte, o segredo é você se concentrar numa lembrança feliz, qualquer coisa.

–E você pensa que é fácil, você viu a minha vida como é.

–Não aconteceu nada em Hogwarts que possa ser considerado uma lembrança feliz?

O garoto forçou sua memória, o que será que acontecera que ele poderia considerar uma boa lembrança? Pensou no beijo que dera em Ananda, mas achou que deveria ter algo melhor, talvez sua seleção para a Grifinória, não, isso não. Não lhe ocorria nada. De repente ele se lembrou da sensação que sentira quando voara pela primeira vez numa vassoura, aquilo teria que ser bom.

–E ai? Algo bom? –perguntou Harry.

–É, digamos que sim. –respondeu o garoto desanimado.

–Então se concentra nela.

Kyo tentou se concentrar o máximo possível naquela lembrança, o que era difícil, pois havia alguma coisa no fundo de sua mente que o incomodava, como se sentisse um inseto andando pela sua pele.

–Agora, pegue sua varinha e repita: Espectro Patronum!

Kyo apontou sua varinha e a ergueu, fixou um ponto na janela se concentrou naquela lembrança e repetiu o que Harry disse:

Espectro Patronum!

Ele esperou que acontecesse alguma coisa, mas nada. Ele ficou olhando a toa para a ponta da varinha.

–Vamos tentar de novo.

–Mas eu não vou conseguir, o Neville tava certo, isso requer pratica.

–Kyo, você está com medo?

–Não sei...

–Você sabe por que o bicho-papão se transforma num dementador na sua frente?

–Não, nem faço idéia...

–Como você deve saber os bichos-papões se transformam na coisa que mais tememos...

–Mas eu nunca tinha visto um dementador antes! –interrompeu o garoto –Como poderia ter medo dele?

–Pelo simples fato que, inconscientemente, você tomou uma das atitudes mais sensatas que poderia, seu maior medo é ter medo.

–Como assim?

–Isso é uma coisa que você vai entender com o tempo, mas ago...

Harry e Kyo foram lançados com força contra a parede da cabine, parecia que o trem parara bruscamente. Depois de se desenroscarem, com alguma dificuldade, eles se levantaram e saíram da cabine, em direção a locomotiva, onde estava Juan, o maquinista.

–Já chegamos. –disse Juan, quando os avistou.

–Que horas são? –perguntou Kyo.

–Três e quinze. –respondeu Harry.

–E cadê o Neville? –perguntou Kyo, novamente.

–O senhor ministro já desembarcou, pela cara parecia estar passando mal. –disse Juan, rindo.

–Obrigado Juan. –disse Harry, saindo do trem, junto com Kyo.

Lá fora, na estação nove e meio, não havia ninguém, a não ser por Neville, que bebia cerveja amanteigada. Ao vê-los ele deu um breve aceno.

–Pô Neville, você nunca passou mal dentro do trem, o que foi? –perguntou Harry.

–Eu não sei, –respondeu o outro, com cara de mingau de aveia velho –acho que foi o café da manha que não me caiu bem...

–Para variar comeu mais do que agüentava, não é? –zombou Harry.

–Não enche.. blunpf... –Neville saiu correndo pelo portal, provavelmente a caminho do banheiro.

–Esse Neville... –riu Harry.

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