Impossível
2 - Impossível
As melhores três semanas da vida dele se seguiram aquela segunda-feira. Ele e Lily se encontravam praticamente todas as noites que podiam – exceção as sextas a noite, porque ela sempre jantava com a família nesses dias -, e ela parecia se tornar mais linda e divertida a cada dia que passava.
Os encontros começaram como quaisquers outros – restaurantes, ele até tentou levá-la àquele lugar trouxa – cinema – mas Lily logo tomou as rédeas da situação. Eles fizeram piquiniques, foram ao topo de montanhas que ele nem sabia que existiam, por Merlin, eles chegaram a nadar em um lago.
Mais uma vez, pura Lily. Ela se irritava com a normalidade, com o tédio. Fazia todo dia algo diferente. Ele chegou a perguntar o porquê. Por que fazer as coisas assim? Não que fosse ruim, mas por que tornar as coisas tão diferentes? Por que não se ater a rotina, só um pouco?
Foi quando as coisas começaram a dar errado.
O.0.o.o.0.O
- Sério, Scorpius, deixa isso pra lá.
- Lily, eu só queria saber por que tanta animação pela vida? - ele sorria, mas ela estancou no lugar, as mãos apertadas em formato de soco, a raiva visível até pelas costas delas.
- Agora eu preciso de um motivo! – ela gritou, se virando irritada. Ele se afastou alguns passos. – Te incomoda tanto assim?
- Não! – ele respondeu idgnado e ligeramente temeroso. Nunca a vira tão irritada antes. – Eu só estava curioso...
- Bem, não é da sua conta! – ela disse, lhe virando as costas, mas tropeçando nos próprios pés.
- Lils! – ele a amparou antes que ela caísse, notando que ela tremia ligeramente. – Você tá legal? – ela fez que sim com a cabeça, a mão segura na testa, os olhos fechados.
Ela se recompôes devagar e ele levantou a mão para tirar o cabelo do rosto dela, mas a ruiva se afastou assustado.
- Relaxa, eu só vou- - mas sua mão esbarrou na pele branca da garota e ele estancou. Ela estava queimando. – Lily, você tá sentindo bem?
Ela acenou com a cabeça de novo, se afastando em paços tropeçados. Resmungou algo para si mesma, lançando ao loiro um olhar.
- Eu tenho que ir...
- Mas, você tá queimando..
- Eu to bem – ela lhe afirmou, a respiração agora rasa e mal se mantendo sobre os pés.
Ela ainda lhe lançou um olhar encorajador antes de ir até a lareira o mais rápido possível.
Scorpius ficou lá parado, observando-a ir embora, confuso. O rosto da ruiva está quente como ele jamais vira, a febre devia estar altíssima. Manteve os olhos presos na lareira por alguns minutos, passando na cabeça a imagem na ruiva.
Balançou a cabeça, se virando e indo ao seu quarto. Uma noite de sono lhe faria bem.
Só voltaria a falar com Lily dois dias depois. Ela não havia respondido a sua carta e ele estava quase que furioso – ele merecia algum tipo de consideração, ela saíra correndo, obviamente doente, e praticamente o ignorara.
Mas qualquer fúria se dissipou ao avistá-la na Floreios e Borrões, conversando animada e sorridente com uma amiga. A cena de dois dias atrás podia muito bem nunca ter acontecido.
Ela arregalou os olhos quando o viu, mas sorriu, disse algo para a amiga e começou a caminhar na direção do loiro.
Os poucos metros entre eles pareciam ter se transformado em quilometros, e ela ainda ia devagar, um pés atrás do outro, o cabelo ruivo balançando perfeitamente atrás dela, os olhos brilhantes.
- Bom dia, Scor. Eu sei – ela adiantou, antes que ele pudesse dizer algo – depois a gente fala sobre o que aconteceu... lembra a minha amiga Linny? – ela indicou a jovem de cabelos castanhos ao lado dela que o examinava da cabeça aos pés.
- Scorpius Malfoy! E você nem se incomodor de mencionar que estava saindo com um Malfoy? – a garota se virou para Lily, um sorriso maroto nos lábios. Essa deu de ombros, empurrando a amiga para o lado.
- Ignore-a – ela riu. - Mas então, eu sei que não respondi suas cartas nem nada, mas só tive a chance hoje de manhã e daí a coisa aqui resolveu que seria uma boa idéia vir ao Beco Diagonal, já viu.
- Tudo bem – se virou para a outra – eu te perdôo, Lenneodora.
Linny abriu a boca, perdeu a fala e arregalou os olhos que se viraram de Lily para Scorpius.
- Você! Contou a ele o meu nome? Sua—
Ela sacudia a ruiva, dividida entre a raiva e o choque. Lily riu alto, indo se proteger da amiga, usando Scorpius como escudo.
- Ele achou Linny um nome estranho, daí eu expliquei que era apelido e ele arrancou o nome de mim! Culpe ele, eu sou um anjo!
Ela piscou os olhos repetidamente, sorrindo inocentemente. Linny parecia pronta para bater nela, mas estancou no lugar, pensativa. Estreitou os olhos para Lily e se virou para Scorpius.
- Quem a Lil não costumava gostar na família? - ele a encarou por um minuto, lançando um olhar a ruiva, que também não parecia entender.
- É... Molly, a prima dela... achava que ela era muito séria, nunca se divertia, mas daí ela começou a namorar um cara e a relaxar...
- Quem é o tio favorito dela?
- Se ela tivesse que escolher, ela escolheria o padrinho dela... George, não? Ele, Bill ou Charlie...
- Com quem ela perdeu a virgindade?
Ele fechou a cara para isso, mas respondeu.
- Um Danny sei-lá-das-quantas... os irmãos dela descobriram, e foi quando ela ficou com mais raiva de alguém da família... James azarou o garoto e ela não falou com ele por semanas... ainda não o perdoou totalmente.
Linny abriu a boca, espantada.
- Você me disse que tinha perdoado ele! - ela se censurou, voltando a se concentrar no loiro. - Por que ela usa aquela cartola amarela?
- Ela me disse que costumava achar ridícula, mas meio que aprendeu a gostar. Mas ela está mentindo. Eu sei que está.
Lily lhe lançou um olhar, sem saber o que dizer. Ela apertava o seu braço, como se se desculpasse, mas simplesmente não podia.
Linny puxou a amiga pelo braço, tentando afastá-la de Scorpius mas Lily grudou os pés no chão. Linny bufou, arregalando os olhos para a ruiva.
- Quanto tempo você demorou para contar ao James o meu primeiro nome?
Lily parecia tão confusa quanto o loiro, encarando a amiga como se fosse louca.
- Sei lá... ele insistiu por um tempo... alguns meses? Não lembro...
- Meses! O loiro aqui pergunta uma vez e você já fala? O negócio da Molly, eu fiquei sabendo depois de um ano! O do James, então, aparentemente eu nem sabia a história inteira? E eu te conheço desde do nosso primeiro ano em Hogwarts! Ele, você conhece a umas míseras semanas. É sempre assim? Não tem problema contar as coisas para ele? Confiar nele?
A compreensão parecia estar atingindo Lily bem devagar, que não respondeu,
- Mas o que isso tem demais?
Linny o ignorou, encarando-a a ruiva, não mais chocada, mas quase que com pena.
- Isso vai além de distração, muito além de ‘diversão’ – ele se virou para Lily, sem entender, mas ela tinha os olhos presos no chão, a mão na boca.
- Lily, o que você tá fazendo? Realmente quer se despedir de mais alguém?
As palavras se embaralhavam na mente dele, sem sentido concreto. Lily arregalara os olhos, como se visse um fantasma, sua boca aberta, mas nenhum som saindo dela.
- Deus... – ela disse finalmente. – Eu nem percebi... Não. Não pode ser, Linny. Não. Não.
Ela se afastou da amiga alguns passos, mas ao perceber que estava indo em direção a Scorpius, soltou um gritinho e pulou para o lado, andando para trás, olhando do loiro para a morena.
- Lily, o que tá acontecendo?
- Eu não sei... – se vê-la irritada o havia chocado, agora choque não era uma palavra forte o bastante para descrever cena.
Lily Luna Potter estava na sua frente, a mão na boca, e ele tinha a impressão que a qualquer momento ela poderia desabar em lágrimas.
Chorar. Lily. Chorando.
Que porcaria estava acontecendo?
Demorou alguns segundos para que ele percebesse que as palavras foram ditos em alta voz. Ambas as garotas agora o encaravam, Linny com pena, Lily ainda com a mesma expressão confusa.
- Me leva pra casa – Scorpius não sabia exatamente para quem o pedido fora feito, mas se aproximara antes que a morena pudesse, abrançando a ruiva, deixando que ela enfiasse a cabeça na curva do pescoço dele.
- Você tá quente – as palavras foram ditas tão inocentemente, com tal carinho que levou algum tempo para que Lily levantasse a cabeça, suspirando e Linny se aproxima-se, puxando a ruiva e colocando a mão sobre a testa dela.
- Eu não sinto as minhas pernas – ela disse, quase rindo, antes de desabar nos braços da amiga que a olhava como se implorasse para que ela lhe negasse algo. – Não me olha assim, Linny – Lily disse, num sussurro, forçando os lábios a se curvarem num sorriso – nós duas sabemos o que isso significa.
E antes mesmo que ela terminasse a frase, Scorpius se viu numa confusão de cores, que se mistuaravam entre si, embaçadas, e gritos, que ecooavam de todos os lados e de lugar nenhum.
Ele ignorava tudo, pegando a ruiva no colo. Lily estava com o corpo mole e tão quente que chegava a queimar, e tinha os olhos encarando ponto nenhum, vazios e inexpressivos, se não por um último brilho de vida, que ia se apagando cada vez mais, cada vez mais rápido.
O.0.o.o.0.O
Cada segredo dela, cada palavra mais vaga e misteriosa, tudo se desenrolando na frente dele, a compreensão atingindo-o no instante que a tomou nos braços, como um raio.
Só que aquilo doia muito mais.
Se lhe perguntassem o que aconteceu naquele dia, ele diria que foi naquele momento que o improvável tornou-se impossível. Eles eram diferentes, é claro. Diferentes demais, alguns diriam. Mas enquanto eles tivessem um ao outro, sorrindo e se divertindo... enquanto eles estivessem juntos, não haveria problema. Lily fazia parecer que não havia problema.
Mas aquilo ia além do limites. Não adiantava sorrir, e dizer que tudo ia ficar bem.
Porque não ia.
Mas ele não entendia. Não queria entender. Não podia ser.
Era só uma porcaria de febre.
O.0.o.o.0.O
O teto do St. Mungus é composto por 2.234 quadrinhos.
E o chão tinha 24 rachaduras naquele corredor. Sendo 19 quase imperceptíveis.
Depois de três horas, não havia mais nada que Scorpius pudessse contar. Ele não saíra da poltrona desde que chegara ao hospital e não mudara de posição há meia-hora.
Linny não queria lhe contar o que estava acontecendo. Os curandeiros simplesmente o ignoravam. E ele não ousara falar com alguns dos ruivos.
Havia muitos deles. Ocuparam o corredor inteiro. A família de Lily, ele sabia. Os seis homens mais velhos se sentavam numa fila de cadeiros, tão parados quanto ele, os olhos fixos na porta do quarto dela. Cinco mulheres estavam de pé, grudadas no chão, torcendo as mãos.
Os mais novos se mexiam mais. Alguns andavam de um lado para o outro, outros, escorregaram pela parede e estavam jogados no chão, embora não parassem quietos, mudando de posição a cada instante. E ainda havia uma delas, a bem morena – Roxanne, se ele se lembrava bem, Lily lhe falara sobre ela -, o encarava com o canto dos olhos, aparentemente a única a notá-lo.
Não os culpava, afinal estava tão ao fim do corredor que podia muito bem estar visitando outra pessoa.
Demorou 15 minutos e 36 segundos – mas quem está contando? – até que alguém disesse algo. Roxy se virou para ele, suspirando.
- Era com você que ela estava saindo? Porque ela não disse o nome pra ninguém. Só que era “um loiro muito gente fina” – ela desenhou as aspas no ar, quase sorrindo.
Ele concordou com a cabeça, desviando dos olhos negros e observadores da garota.
- Scorpius Malfoy? – o sussurro veio de um dos irmãos dela – James – e a esse ponto, toda a família se virara para ele.
Ele fez que sim de novo. Tinha suspeitas que desaprendera a língua inglesa depois de tanto tempo ali.
Um silêncio terrível se abateu no corredor. Ninguém mais se mexia e ele sentiu pares e mais pares de olhos o examinando, alguns curiosos, outros suspeitos.
Ele pensou em algum comentário leve, só para descontrair, ou algo que o fizesse parecer menos idiota. Mas as palavras que saíram fora outras.
- O que ela tem? – nenhuma resposta. – Lily. O que ela tem? Começa com a febre, eu já percebi. Daí que ela começa a perder a forças nas pernas e a respiração fica rasa... – as duas cenas que ela desabara passavam alucinadamente na sua mente, e ele procurava por qualquer detalhe que ele talvez tivesse deixado passar.
- Se ela quiser te contar, ela vai – veio uma voz decidida, invadindo os seus ouvidos e ele se encarou os olhos castanhos de volta – aquela era Lucy, ele tinha certeza.
Ele podia sentir que todo ser naquela família tinha uma pergunta ou um comentário, mas ninguém disse nada, pois uma mulher surgiu ao seu lado, os cabelos loiros meio mal-cortados, os olhos azuis sonhadores e curiosos.
- Oi. Como ela está?
Alguém apontou para a porta, ainda tão fechada quanto horas atrás. A mulher suspirou e se virou para ele.
- E quem é você?
- O nome dele é Scorpius Malfoy. Ele é o homem misterioso da Lil.
Ela olhou da ruiva – Dominique? – para ele, e sorriu.
- Muito prazer, o meu nome é Luna.
- Você é a madrinha da Lily. Ela me falou bastante de você.
Luna sorriu ainda mais, obviamente tocada, mas não o examinou como todos os outros. Só ficou encarando-o bem nos olhos por alguns segundos antes de se virar e ir até o grupo de mulheres mais velhas, os cabelos balançando desigualmente.
Depois disso, silêncio. E uma porta se abrindo. Cada cabeça daquele corredor se virou para o quarto de Lily e o curandeiro acenou, fazendo um gesto para que eles entrassem. Scorpius deixou que a família entrasse, em pequenos grupos, é claro.
Foi só uma hora depois que ele teve sua chance de falar com ela. Roxy o parou enquanto todos se arrumavam para sair.
- Ela disse pra gente voltar pra casa ou pro trabalho. Ela acha a gente meio superprotetor – ela riu – e tem razão. Eu tenho que ir agora, foi um prazer, Scorpius.
Alguns primos e primas de Lily acenaram e sorriram, e outros só o ignoraram. Harry Potter lhe lançou um olhar severo, mas se virou e foi embora. Roxy ainda demorou-se alguns segundos antes de seguir a família.
- Ela gosta de você. Talvez até demais – ela acrescentou, um tom preocupado e de pena.
Depois lhe deu as costas e Scorpius se viu sozinho com a porta do quarto da ruiva que realmente lhe interessava.
Mas depois de tanto tempo, ele só levou três segundos entre entrar e se sentar na cadeira ao lado da cama da garota. Os cabelos ruivos cubriam parte do seu rosto e os olhos o seguiram até que ele se sentasse. Embora tivesse um meio-sorriso no rosto, ela nunca lhe parecera tão frágil e delicada. Ela se encolhia na ponta da cama, abrançando com força um objeto que ele reconheceu como a cartola amarela dela.
Ela parecia incômoda, como se o lugar a irritasse – ele não podia culpá-la, as pares brancas e idênticas, o lugar parecia a definição do tédio e da rotina que Lily tanto odiava.
Por um tempo, ninguém disse nada. Então, como se experimentasse algo novo, Lily se aproximou e beijou-lhe de leve. Afastou-se rapidamente, mordendo os lábios e abraçando o chapéu com mais força.
- Minha madrinha trouxe. Disse que conheceu você. Que você parecia legal.
A voz dela parecia a única coisa intocada na garota. Ainda tinha o tom melodial e, embora reduzida, a mesma animação de antes.
- Vai me contar o que aconteceu?
- Eu tinha 17 anos.
Ele esperou ela respirar fundo, reunindo forças.
- Eu não andava me sentindo muito bem, vivia cansada, a tinha um pouco de febre. Fui a um curandeiro. Se chama Febre de Testrálios – suspiro. - É raro e geralmente ataca nascidos-trouxas ou mestiços. Mas de algum jeito eu acabei com ela.
- Funciona assim: quando eu passo por uma emoção muito forte, uma grande tristeza, raiva repentina, eu começo a me sentir mal. Daí vem a febre.
Ela fechou os olhos, se aninhando melhor na cama.
- É alta além dos limites e rápida. Vem em um segundo. Daí o meu corpo todo fica fraco e se for um ataque muito violento, eu apago. O tratamento – o corpo todo dela tremeu – é um dolorido, mas nada demais. Algumas pílulas por dia e visitas constantes ao St. Mungus.
Depois disso, ela parou. Fechou a boca e virou a cabeça para o outro lado. Ele não entendia. Encorajou-a a continuar.
- Mas, e daí, qual o problema?
Ela se virou em velocidade supersônica, e o coração dele falhou uma batida ao ver as lágrimas lutando para descer sobre o rosto dela.
- O problema é que é tratamento. Não cura. Um tratamento bem filho-da-mãe. Cada paciente reage diferente. Para alguns, funciona por 20 anos. Para outros, duas semanas. – Lily suspirou e ele se aproximou mais, colocando a mão sobre a dela. – Eu comecei quando eu tinha 17, e há alguns meses atrás eu comecei a não reagir tão bem.
As lágrimas finalmente caíram e caíram tão rapidamente e violentamente que ele não pode fazer nada para ajudar. A abraçou, bem segura junto ao seu corpo, sem saber o que fazer.
Se ela não estava melhorando, se estava piorando... a alternativa era terrível demais.
- Testrálios são o símbolo da morte. E todo mundo que tem isso morre no final. Em meses, em anos, não importa. Ela sempre chega no final. E vai doer. Eu vou sentir minha cabeça explodir, e cada parte do meu corpo vai arder e congelar, tudo ao mesmo tempo. Eu vou me sentir sendo arrancada do meu próprio corpo. Pelo menos, é o que dizem nos livros.
Ele balançou a cabeça tão forte que quase distendeu um músculo.
- Você não está...
- Morrendo? – ela completou e os olhos do loiro arderam. – Eu estou sim. Você mesmo viu. Eu só estava chocada, isso normalmente não causa ataques, mas foi um dos mais violentos que eu já tive. Eu não tenho muito mais.
Ele sussurrava que não, não podia ser. Sua cabeça pegava as peças e dicas que ela deixara espalhadas, montando um quebra-cabeça que ele não queria ver.
Lily soluçou e a voz dela finalmente quebrou, qualquer requisito de felicidade cortada e o tom inesperadamente abafado e ligeramente histérico.
- Não era pra ser assim. Você não devia ser tão importante! Era só um jeito de me divertir, de aproveitar a vida, de, quem sabe, mudar a vida de alguém? Mas você estragou tudo!
Ele não contestou, mal mexeu a cabeça. Estava com os olhos presos nela, lágrimas que ele nem sentia escorrendo pelo rosto, e parecia ter sido joado em um redemoinho, fatos voando, as palavras dela atingindo-o com mais e mais força, furando seus ouvidos, mas sem jamais deixá-lo surdo, não, não lhe dariam essa benção.
- Você fez com que eu confiasse em você... eu não faço isso, principalmente em só algumas semanas! É muito mais que o nome da Linny... ela tá certa, você pergunta, eu respondo praticamente tudo... por que você fez isso?
A última parte foi um mísero sussurro suplicamente e ela se agarrou a camiseta dele, bateu a cabeça contra o peito já molhado de lágrimas dele.
- Você fez com que eu me apaixonasse... por quê?
- Eu não sei. Mas eu me apaixonei por você também. Eu não sei como aconteceu, mas eu não acho que tem mais volta agora. E agora eu tenho que te ver m—
Ele não sabia aonde encontrara forças para aquela frase, mas nem seres divinos podiam fazer com que ele pudesse aceitar o fato que ela estava indo embora, que proferisse o maldito verbo em voz alta... porque isso seria entender, admitir, e ele não podia fazer isso.
- Por que você não me contou antes?
Não houve resposta. Não fazia diferença mesmo. Porque ela não estava morrendo. Não estava.
- Não me olha com pena, por favor. Não diga que vai ficar tudo bem, que você vai estar do meu lado quando eu... – a frase vagou no ar e mais uma vez ele se desejou surdo e cego também, pois vê-la chorando doia ainda mais.
Afinal, ela era sua Lily. Ela não podia sofrer, ela simplesmente não merecia.
- Só me prometa que você vai fazer esses últimos dias valerem a pena. Por favor.
Ele concordou, abraçando-a ainda mais junto a si, como se aquilo pudesse salvá-la. Ela adormeceu ali mesmo, o sorriso desaparecido do rosto bonito, mas parara também o choro.
- Eu te amo – ele sussurrou, beijando-lhe a testa e talvez ele ainda estivesse meio bêbado com tudo aquilo, e admitia que suas lágrimas o cegavam parcialmente, mas Scorpius jurou que viu os lábios da ruiva se curvarem num pequeno sorriso.
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N/A: Parte dois, honeys!
Espero que gostem!! Terceira e última parte a caminho... uhhh, que emoção!
Reviews, sempre! DD
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