Na aula de poções



- James... Que cara de idiota é essa?
    James se virou para encarar Sirius, que o olhava, mantendo um sorriso irônico no rosto. Remus o ouviu e olhou para o amigo, também. James fechou o livro com rapidez, percebendo que estava agindo feito um bobo, ali, parado, com aquele sorrisinho na cara.
    - Estava te imitando, Six... - respondeu depressa.
    - Eu não tenho essa cara de retardado quatro olhos que você tem, Jay.
    - Que livro é esse? - Remus apontou para o livro que James tentava esconder.
    - Esse...? - James não sabia se escondia o livro ou o mostrava. - Ah... é um... err... Grimório! - falou com empolgação, denunciando que estava mentindo.
    - Grimório? E desde quando você mantém um Grimório? - Remus não se deixou enganar.
    - Desde o dia que eu decidi ter um Grimório, oras!
    Remus arqueou as sobrancelhas e olhou de relance para Sirius, que fez uma expressão do tipo "ele acha que nos engana". Quanto pensaram em indagar mais alguma coisa, Horace Slughorn entou na sala, caminhando como se estivesse fazendo um grande esforço para que suas pernas o obedecessem. Era um homem robusto, com uma expressão cínica e uma preguiça evidente. James quase o agradeceu por aparecer ali agora e evitar um interrogatório dos amigos, contudo, ao ver Sirius balbuciando "isso ainda não acabou" tratou de pensar em uma desculpa muito rapidamente, se afundando na sua cadeira.
    - Vou contar até três e Tio Slugh vai olhar para Lily, quer ver só? - Dorcas disse, piscando para Emmeline. - Um... Dois... Três!
    Quase na mesma hora, Slughorn mirou a ruiva, com um sorriso enorme no rosto redondo.
    - Querida Evans! Como foi de férias? Sua família trouxa está bem?    
    - Ah... - a menina respondeu sem a menor vontade - Tudo ótimo, estão bem sim, obrigada por perguntar...
    Emmeline assoviou e Dorcas tampou a boca para não gargalhar.
    - Dorcas, credo! Por que não diz que eu vou tirar um "excede expectativas" no meu N.I.E.M de Defesa contra Artes das Trevas? - falou ela, boquiaberta.
    - Porque eu só prevejo o que de fato vai acontecer, Emme...
    - Meu, Lily... Ele te ama! - Marlene cochichou com Lily, quando viu o professor se afastando. - É de dar medo!
    - Eu preferia realmente que ele me odiasse... - Lily tinha as bochechas da cor dos cabelos e enfiou a cara no livro para não ter que encarar a turma depois da demonstração pública de afeto.
    Marlene ria baixinho, não tentando chamar a atenção de ninguém. De repente, olhou para o lado em que estavam sentados os meninos, vendo que Sirius apoiara o queixo na mão, olhando para o nada, tendo Remus ao seu lado, que olhava para um determinado ponto. Marlene seguiu com os olhos para encontrar o que ele olhava, e percebeu que seu olhar parava exatamente na mesa onde Dorcas e Emmeline sentavam
    "opa... Ele..? Oh!"
    - Nossa... Ele está a fim de uma delas... - pensou alto.
    - Que? Quem? - Lily a fitou confusa.
    - Ah, pensei alto... - Marlene inclinou levemente a cabeça em direção de Remus - Ele... olhando para elas - e tombou a cabeça para a mesa das amigas.
    - Quem, Remus? - Lily deu um risinho de surpresa.
    - É... Eu achei que ele fosse gay!
    Lily e Marlene soltaram uma gargalhada alta, fazendo toda a sala olhar para elas, inclusive o professor, que estava magicamente escrevendo algumas orientações para o período no quadro. Ele lançou um olhar duro para o lado delas, mas Marlene jurou que era especialmente para ela, já que Lily era sua protegida.
    - Algum problema, Srta McKinnon? - perguntou ele, seriamente.
    - Desculpe... - Lily respondeu com um sorriso sonso. - A culpa foi minha, professor.
    - Tudo bem, Evans - a expressão dele mudou completamente ao mirar a outra menina. - Mas sugiro que não faça mais... atrapalhará os seus amigos que não são tão bons em poções quanto você.... - e lançou um último olhar para Marlene, que se ofendeu na hora.
    - Ah... eu vou... tentar... calar - a ruiva corou e Marlene rosnou.
    - Algum problema, McKinnon... - remendou ela numa careta, por trás de um pergaminho que levantara estrategicamente para ficar invisível para ele.
    - Podem ir dizendo o que foi... - ouviu-se Dorcas protestando baixinho para as duas, fingindo pegar tinta de uma delas com sua pena.
    - Remus tá a fim de uma de vocês... - Marlene falou maldosamente.
    - Mas heim? Ele não era gay?
    - Por que acha que gargalhamos? - Lily estava vermelha por tentar segurar o riso.
    - Ele não é gay, suas más! - Emmeline amarrou a cara, repreendendo as amigas. - Ele é um fofolético! Um doce! Completamente diferente do Sirius e do James... E do Peter... Ai, por que eu sempre esqueço que ele existe?
    - Mocinhas... - Slughorn limpou a garganta. - Vamos prestar atenção na aula?
    - Pede desculpas aí, Lily! - Dorcas sussurrou debochadamente.
    - Eu não sou uma bonequinha de luxo, Dorcas... - Lily olhou para a amiga com certa raiva.
    - O que é uma bonequinha de luxo? - Marlene perguntou confusa.
    - Esquece...
    - Desculpa tio Slu... Err... Professor... Slughorn... - Emmeline corou e os outros alunos riram em coro.
    - Ai, Emme é uma idiota! - Marlene bateu na testa com a palma da mão.
    - Ah, releva! Depois a gente dá uns abacaxis cristalizados para ele e ele nem vai se lembrar desse incidente! - Dorcas comentou, enquanto o professor tentava mais uma vez retomar a aula.
    Após a terceira tentativa, Slughorn conseguiu prosseguir com os ensinamentos de poções programados para aquele dia. Mas daí a dizer que todos estavam acompanhando as suas palavras... era demais. Remus estava completamente fora do mundo. Vários pensamentos rondavam sua cabeça. "Eu não posso fazer isso... eu não sou... normal..." pensava, com pesar. Sirius o fitou por um instante, sabendo exatamente que o amigo não estava bem.
    - Está sentindo algo, Remus?
    - Eu? - Remus parecia ter acordado de um sonho. Piscou várias vezes tentando focar o amigo. - Eu, não...
    - Está tudo ok mesmo ou você acha que eu acreditei em você?
    - Estou... Acho... - os cabelos loiros de Remus se agitaram e ele resmungou. -Depois falamos, antes que Slughorn nos chame a atenção.
    A aula parecia mais longa que o usual. Demorou o que parecia ser umas três horas, embora não tivesse chegado a uma. Ao acabar, os alunos saíram apressados, como se fugissem de mais alguma arguição de Slughorn. Emmeline e Dorcas saíram mais a frente, deixando Lily e Marlene ainda na sala. Lily estava arrumando o material quando sentiu uma mão em seu braço, puxando-a sem nenhuma educação.
    - Mas...? Está louco? Que isso?
    - Eu preciso falar com você... - Severus Snape a encarava, com o que pareceu a menina uma tentativa de parecer sincero.
    - E você fala com a mão? Me solta agora, ou eu...
    - Ranhoso! Solta a Evans agora! - James parou perto dos dois, uma mão dentro das vestes, pronto para sacar sua varinha se preciso.
    - Eu ia falar a mesma coisa! - Marlene estava trêmula de irritação. Não era todo dia que via a amiga ser abordada tão grosseiramente.
    - E desde quando recebo suas ordens, Potter? - Severus fez cara de desdém.
    - Desde quando eu tenho uma varinha e sei usá-la!
    - Os dois... - Remus se antecipou, empurando Sirius para o lado, ao perceber que estava quase comprando a briga de James e Marlene. - Parem agora! Se não vão para detenção! E Snape... solte Evans... Antes que se complique.
    - Não sabe agir sozinho, Potter? Precisa de reforços? - Severus não pareceu ouvir Remus e tampouco soltou o braço da menina.
    - Eu acabo com você em um segundo, Ranhoso!
    - Me solta! - Lily forçou o braço, se soltando da mão de Severus. - Está maluco? Quem pensa que...
    - Por favor, Lily... - ele falou com um tom de voz quase inaudível. - Eu só preciso conversar com você... cinco minutos... só isso!
    - Pra que cinco minutos, Snape? Eu só preciso de um segundo para mirar a varinha em você e gritar "estupefaça"! - Lily estava irritada e sua voz estava um oitavo acima.
    - Está aprendendo isso com ele? - o rapaz da Sonserina a mirava intrigado, apontando para James.
    - O que está acontecendo aqui? - Slughorn voltara a sala, ofegante, como se tivesse corrido uma milha.
    - Professor... Snape está perturbando a Lily! - Marlene falou como uma criança que acusa o coleguinha de uma travessura sua.
    - Oras, Snape! Não me decepcione! - Slughorn o olhou com incredulidade e severidade.
    - Mais que inferno! - Severus lançou a todos um olhar de "morram" e saiu pisando duro.
    - Ele é um idiota... - James riu-se.
    - Ele é um louco, isso sim! - Lily ainda estava queimando de ódio. - Obrigada, Potter...
    Quando ela entendeu o que James Potter tinha feito, estranhamente sentiu vontade de sorrir. E assim fez. Olhou para ele com um sorriso quase resplandescente. James, por sua vez, sentiu os lábios se contraindo numa espécie de sorriso também... mas não podia desistir do plano.
    - Obrigada, por quê? - perguntou ele, enrugando a testa.
    - Por me defender...
    - Eu não te defendi... Eu fiz o que faria por qualquer um... - James sequer olhou para Lily.
    Quase era possível ouvir o coração da ruiva se despedaçando depois disso. Uma expressão de desilusão transpassou o rosto bonito e ela sentiu como se fosse chorar. "Não! Não vou chorar por causa desse... biltre... estúpido!" e ergueu a cabeça para o teto, respirando fundo. Ouviu ao fundo a voz do professor se despedindo, mas não o mirou.
    - Bom, espero que comportem-se agora - Slughorn deixou a sala, arrastando os pés e secando a testa com um lencinho de seda.
    - McKinnon... - James virou-se para a garota, com um sorriso travesso no rosto. - Posso lhe falar um instante?
    Marlene arregalou os olhos, lançando a Lily um olhar preocupado. Sirius e Remus se entreolharam. Lily voltou a mirá-los, deixando o queixo cair. "O que ele tem a tratar com Lene?" pensou em fúria contida.
    - Claro... Pode falar...
    - É particular...
    - Ah... - Marlene corou. Os olhos verdes de Lily a fuzilavam. - Tudo bem... agora?
    - Pode ser?
    - Lógico... Então...? - ela o mirou curiosa, estalando os lábios.
    - Venha... - James a pegou pela mão, conduzindo-a para fora da sala.
    Lily, Sirius e Remus ficaram parados, com cara de paisagem, sem entender nada.
    - Alguém entedeu? - Sirius parecia ligeiramente inconformado.
    - Na boa... - Lily deu um guincho de raiva. - Ele pode ser amigo de vocês, mas Potter é um perfeito idiota!
    - Ele...? Não... ele nasceu com aquela cara de idiota, mas ele até que é legal... - Sirius comentou maldosamente.
    - James voltou das férias estranho, Evans - Remus balançava a cabeça, como se reprovasse o comentário de Sirius - Mas ele não é má passoa.
    - Ah, não? Ele me deu um fora fenomenal ontem...
    - Ah, isso é por que... - Sirius começou, mas Remus o interrompeu.
    - Desculpe, Evans, mas você vive dando foras nele também, não é?
    - Claro... ele é um insuportável! - Lily revirou os olhos.
    - Então, por que está tão brava com a hostilidade dele? Deveria estar feliz que ele não esteja te enchendo o saco - Sirius falou, com um sorriso debochado no rosto.
    - Eu não estou brava! Só não gosto de coices...
    - Ah, mas não fazemos aos outros o que não desejamos que façam conosco Evans... Se você o trata com coices, deveria estar preparada para recebê-los também. Tudo o que a gente manda, volta - Remus piscou, amigavelmente. Quando Lily pensou em protestar, ele se antecipou - E agora, vamos, Six. Temos aula de Defesa Contra as Artes das Trevas...
    Remus girou nos calcanhares, caminhando com um sorriso vitorioso no rosto. Sirius lançou a Lily um olhar de "ele sempre sabe o que dizer" e correu para seguir o amigo, deixando Lily sozinha, irritada e confusa. "Oras... Será que ele me chamou de grossa?"
    - Você é o melhor, Aluado! - Sirius levantou a mão para Remus
    - Não... Só sou um adepto da verdade, doa a quem doer... - e bateu na mão do amigo, em sinal de cumprimento.


Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.