A aposta



- "Vambora" acordando, praga descolorida... Se eu dormi pouco a culpa é sua e você vai também ficar na merda comigo o dia inteiro!
   Dorcas batia fortemente com o travesseiro na cabeça de Emmeline, que acordou assustada, tampando o rosto com os braços, tentando se defender das travesseiradas como podia.
   - Calma, Dorquita! Eu já acordei! Olha! Olha! Acordadona! Sempre alerta! – Emmeline tentava se levantar, mas a cada novo golpe, voltava a ser arremessada contra o colchão.
   -Eu estou vendo... – Dorcas continuava dando travesseiradas na amiga, com um sorriso maldoso no rosto e nenhuma intenção de parar.
   - Dorcas! Para! – A loira finalmente correu, trôpega, para fugir das batidas, mas Dorcas foi atrás, rindo e a atacando.
   - Não, pensando bem, gostei disso! É GUERRA!
   - Ah, é assim? Então é guerra!
   As duas amigas corriam pelo dormitório como duas loucas. Emmeline passou pulando pela cama de alguém, pegando o travesseiro que lá estava e encarando a guerra que Dorcas começara. Ela conseguiu manter distância e arremessou o travesseiro em direção da amiga, mas a menina se abaixou na hora, exatamente quando Lily saía do banheiro, recebendo uma travesseirada no rosto.
   - QUE INFERNO! - A ruiva gritou. – O que deu em vocês?
   Mas Dorcas e Emmeline estavam ocupadas demais para responder. Gargalhavam, caindo em uma cama, fracas de tanto rir. Lily, que estava definitivamente de mau humor, resolveuatacar as amigas com o mesmo travesseiro que a acertou.
   - Lily, foi mal! – Emmeline falava entre risos, tentando se defender. – Culpe a Dorcas! Ela começou!
   - Eu não quero saber quem começou! – Lily largou o travesseiro com raiva e caminhou até sua cama, pegando suas vestes e entrando novamente no banheiro.
   As duas meninas caídas na cama se entreolharam sem entender o comportamento estranho da amiga.
   - Que bicho a mordeu? – Dorcas coçou a cabeça.
   - Acho que ela não dormiu direito... – A loira comentou se levantando.
   - Falando em dormir...
   Dorcas apontou com a cabeça para Marlene, que ainda estava deitada e parecendo sonhar, com um sorrisinho de “vamos acordá-la do pior jeito”. Emmeline entendeu rapidamente a mensagem, se agarrando com um travesseiro. As duas chegaram sorrateiras ao pé da cama da morena, mas quando ergueram os seus respectivos travesseiros...
   - Nem pensem nisso! – Marlene abriu os olhos, se levantando num pulo
   - Ah, sua sem graça! – Emmeline fez bico, apertando o travesseiro contra si.
   - Me poupa das suas gracinhas, Emmeline – a morena fez cara de tédio.
   - Credo! Acho que o mesmo bicho que mordeu Lily, mordeu a Lene também! – A loira comentou com Dorcas.
   - Pois é... Ainda bem que nós estamos ilesas, Emme...
   - Nenhum bicho me mordeu! – Marlene resmungou.
   - Está bem, Lene... É TPM então? Nem Dorcas acorda de tão mau humor!
   - Obrigada pela parte que me toca...
   - Não é TPM! – Marlene deu um gritinho irritado depois de falar. – Eu não estou a fim de brincadeiras! Só isso! Puxa, é difícil entender?
   Emmeline e Dorcas deram com os ombros. Marlene nunca falava assim. Era tão difícil vê-la de mau humor. E mais Lily...sempre tão doce, até mesmo ao acordar... As meninas resolveram não brincar com ambas até entenderem os motivos ou até uma das duas resolverem explanar a situação.
   - Vamos andando, temos aula do Tio Slugh hoje no primeiro tempo – Dorcas comentou se arrumando, tentando quebrar o silêncio que pairava entre as quatro amigas.
   - Ah, o pedófilo... – Emme riu-se, mas Marlene e Lily permaneciam num silêncio sepulcral.
   Resolveram ficar caladas. As quatro se arrumaram como se fossem para um funeral, Lily se arrumou mais do que o de costume. Dorcas deu um cutucão em Emmeline, apontando para Lily, que agora passava blush nas bochechas. A ruiva era muito bonita, mesmo sem maquiagem. Nunca usava nada mais que um simples batom rosado, “cor de boca”, mas hoje, decidira passar rímel nos cílios, blush nas bochechas e batom mais acobreado. Jogou para trás os longos e anelados cabelos vermelhos com uma tiara grossa prateada. Estava pronta para uma festa, se houvesse alguma.
   - Será que ela está se arrumando para o Tio Slugh? – Emme riu
   - Não... Eu acho que para o Potter... – Dorcas fez cara de sábia.
   - O que estão cochichando, posso saber? – Lily cruzou os braços, encarando as duas. Marlene prestou atenção na conversa paralela também.
   - Ah... – Emme olhou para Dorcas suplicando uma desculpa.
   - Emme diz que se Tio Slugh ficar olhando muito para Lily hoje, ela vai perguntar se na testa da Evans está escrito “abacaxi cristalizado” – a loira arregalou os olhos ao ouvir tal declaração.
   - Duvido que foi Emme quem disse isso... – Marlene deu um guincho de impaciência.
   - Sabe que se disser isso está arriscado sair das masmorras direto para a detenção, não sabe? – Lily advertiu e Emme a olhou, contrariada.
   - Nossa... mas que graça teria se não tivesse risco? – Dorcas filosofou.
   - Vai... Então vai, Dorcas... Depois não diz que não avisei quando for reprovada no teste para Auror por ter detenções na escola! – Lily lançou a amiga um olhar furioso e saiu do dormitório.
   - Putz, meu... – Dorcas balançou a cabeça num lamento. – Vou implorar para Potter voltar a cantar essa garota... Ela está insuportável.
   - Ele deu um fora nela, ontem... – Marlene comentou quase sem querer.
   - Quê? – Dorcas e Emmeline perguntaram juntas.
   - Eu não devia ter dito isso...
   - Como foi isso?
   - Conta, Lene! Agora conta!
   - Bom... – Marlene decidiu contar, mas antes certificou-se que Lily não estava ali. – Ontem nós duas descemos para o Salão Comunal para conversarmos, já que não conseguíamos dormir... Daí, Sirius – ela deu um breve suspiro ao falar esse nome – entrou com o braço sangrando, e logo após veio o Jay... Ela e ele começaram a discutir e ele a deixou falando sozinha.
   Emmeline e Dorcas ouviam perfeitamente bem, mas não acreditavam em nada.
   - Não acredito...
   - Mentira...
   - É sério! – Marlene se ofendeu. – Eu não ia inventar uma história absurda dessas, ia?
   - Gente... – Dorcas mirou as amigas com ar de quem perdeu a melhor parte de um filme de ação. – Potter desistiu da Lily? Céus...
   - E pelo visto, ela está mordida! – Emme concluiu sabiamente.
   - Pois é... Acho que ela gosta dele... Só não quer assumir...
   - Eu não acredito que você contou, Marlene! – Lily estava parada logo atrás da amiga, que sentiu um arrepio na nuca ao ouvi-la resmungar.
   - Desculpa, Lily... eu... só expliquei seu mau humor...
- Ah é? Então eu vou explicar o seu... Sirius Black te usou e você está apaixonada pelo cara mais cachorro do mundo que nem te olhou ontem!
   Dorcas e Emmeline se entreolharam boquiabertas, embasbacadas com as declarações jogadas ao vento.
   - Não seja cruel, Lily! Eu não escolho por quem me apaixonar! Pior é você, que deixou Potter tão farto das suas patadas que perdeu o melhor partido de Hogwarts! Você não merece James, mesmo!
   - Marlene, cala sua boca! Se eu quisesse aquele demente do Potter, era só estalar os dedos, ele viria correndo como um poodle adestrado para mim! Eu me garanto!
   - Ah, se garante? – Marlene dera uma risada sarcástica. – Então, vamos apostar... Cinco galeões como Potter te ignora na aula do tio Slugh!
   - Fechado! – Lily respondeu com raiva
   - Fechado! – Marlene também demonstrou raiva na voz.
   - Dorcas... – Emmeline sussurrou. – Eu estou com medo delas...
   - Você não é a única, amiga... por via das dúvidas, vamos manter uma distância de segurança.
   - Certo... vamos sim.
   Após selarem a aposta, Lily e Marlene não se falaram durante todo o caminho até o Grande Salão. Sentaram-se à mesa da Grifinória para tomar o café da manhã, ambas com a cara amarrada. Lily lançou um olhar para James, que lia seu exemplar de “O profeta Diário” distraidamente, duas cadeiras após a sua. Sirius e Peter estavam ao seu lado, Remus estava do lado oposto. Emmeline olhou curiosa para ele, que tinha um corte profundo no rosto. Ele virou o rosto, encontrando o olhar da loira. Ela ficou levemente corada ao encarar os olhos azuis de Remus, profundamente ressaltados pelas escuras olheiras. Ele ficou sem graça, dando um sorrisinho amarelo. Ela retribuiu com o mesmo sorriso sem graça.
   - Bom dia, Potter... – Lily falou quase sem voz, fazendo Emmeline acordar do “encontro” com Remus.
   Mas ele continuou a ler. Marlene deu um risinho de vitória se servindo de geléia em sua torrada e Dorcas resmungou qualquer coisa inaudível.
   - BOM... – ela aumentou o tom de voz, mas continuava melosa – dia... Potter...
   - Hã? – James levantou a cabeça, ajeitando os óculos.
   - Estou há meia hora te dando bom dia... Bom dia, Potter.
   - Sério? Nossa, nem ouvi... Nem te vi aí, Evans...
   Lily mordeu os lábios reprimindo sua raiva. “Tanta produção para me ignorar?!” Marlene suspirou, vitoriosa. Dorcas gemeu e Emmeline olhou de James para Lily, confusa. Se ainda existissem dúvidas sobre a veracidade do depoimento de Marlene, essas estavam sanadas, era mesmo verdade. Potter ignorando Evans. Seria o Armagedon?
   - Devia ter aumentado a aposta... Nunca ganhar dinheiro foi tão fácil! – a morena falou triunfante com Emmeline, que estava ao seu lado.
   Saindo do café da manhã, os alunos caminharam sem pressa até as masmorras, onde teriam aula de poções com Horace Slughorn. Ao caminharem pelos corredores, James e Sirius perceberam que seria uma aula perfeita de início de período: Sonserina e Grifinória no mesmo local.
   - Oba! – James falou ironicamente e em alto tom – Diversão logo de começo! Estou tão feliz...
   - Jay, manera... – Remus advertiu seriamente.
   - Remito, Remito... Se eu manerar, não serei James Potter, saca?
   - Não saco nada... Que tal levar ao menos o último ano mais a sério? Detenções podem influenciar...
   - Negativamente na seleção e aprovação para o Quartel General dos Aurores... – Sirius e James completaram a frase por ele, todos com cara de paisagem.
   - É, nós sabemos, Rem – Black prosseguiu, dando um aperto no ombro do loiro.
   Remus corou, sentindo-se um tanto ditador. Mas o fazia para o bem dos amigos. Para disfarçar o desconforto, olhou em sua volta. Estava nitidamente abatido, tinha hematomas nos braços e um corte no rosto. “Machuquei tentando me barbear, se eu tivesse barba... Não teria acontecido isso...” ele falava para quem perguntasse o que foi aquilo. Na verdade, aquela noite foi péssima para ele, James e Sirius. Tudo fugira do controle e Sirius acabou machucado.
   Remus sentiu calafrios ao pensar que poderia ter mordido o amigo, ou o matado... Ele vinha insistindo muito para que eles o deixassem só nas noites de lua cheia, mas era o mesmo que dizer “Eu faço questão da presença de vocês” exceto por Peter, que nem precisou do comentário do amigo para se enfiar num buraco na parede, como o bom e asqueroso rato que era. James Potter e Sirius Black adoravam desafio; Peter Pettigrew adorava vê-los em ação, mas não ousava tanto assim e Remus Lupin se preocupava demais com tudo. Literalmente. Remus parecia procurar alguém naquele pequeno tumultuo de alunos, deixando Peter curioso.
   - Procura por quem, Remus?
   - Ninguém... – Ele ficou levemente corado com a pergunta.
   Mas na verdade...
   “Céus... Ela estava linda! Está mais linda do que nunca...” pensava Remus.
   Sirius, ao contrário de Remus, evitava olhar para os lados, como se estivesse em um cemitério, ignorando olhar para os túmulos ao redor. Aquilo estava deixando James louco de curiosidade.
   - Evitando alguém, Almofadinhas?
   - Quem? Eu? – ele se fez de desentendido.
   - Não... com Nicholas Flamel... Eu sou tão íntimo dele que o chamo de “Almofadinhas” não sabia?
   - Mas esse é meu apelido! – Sirius protestou.
   - Deixa de ser egoísta, cara! Não se apegue tanto assim... É só um nome!
   Mas Sirius não ouvia mais James. O que ele tanto evitara, ou melhor... quem ele tanto evitara encontrar, caminhava logo a sua frente. Ele disfarçou o olhar ao mesmo tempo em que James lhe dera um tapa no braço.
   - Ei! Estou falando com você! Hello!
   - E eu estou ouvindo esse monte de merda... não sou surdo, droga.
   James revirou os olhos e entrou na sala, sendo acompanhado pela legião de alunos que estivera ali esperando o horário da aula. Sirius, entretanto, se demorou um pouco mais.


- Então... Lucius me deu um anel... – Narcissa Black mostrava triunfante seu dedo anelar direito, no qual reluzia um belo diamante, na parte de cima de um grosso anel de ouro 24 quilates. – Ele me pediu em casamento! Vamos noivar assim que eu terminar Hogwarts!
   - Nossa, que legal...
   Amanda Stonebreaker comentou meio indiferente, ao passo que as outras três garotas que ali estavam, Thammy Greengrass, Sandra Pritchard e Stephenie MacNair babavam, se roendo de inveja do anel de Narcissa. Amanda balançou os cabelos loiros, que lhe desciam pelas costas em fios retos e pesados, lisíssimos e brilhantes. Era uma garota linda, uma das mais cobiçadas da Sonserina, e melhor amiga de Narcissa Black, que também era uma ótima pretendente, linda, loira, com incríveis olhos azuis e pela rosada, mas a qual Lucius Malfoy já havia pegado para si.
   - Está com inveja, Mandy? Não ganhou presente de nenhum pretendente nas férias? – Narcissa comentou maldosamente, fazendo as outras três darem risinhos.
   - Não preciso ter inveja, Cissy...
   Mas emudeceu. Sirius estava parado à porta da sala. Seus olhos acinzentados encontraram os verdes-esmeralda de Amanda. Narcisa olhou para o motivo da afonia da amiga, mas ao invés de um pensamento romântico, teve um súbito desejo de chacotar.
   - Ai, eu pensei que meu dia seria maravilhoso, mas logo pela manhã eu tenho que aturar traidores do sangue, mestiços e companhia limitada... – A loira platinada ironizou. – Eu não mereço. Sai da frente, Sirius... Não encosta em mim, não quero ser contaminada...
   - Bom dia para você também, priminha do coração...
   Narcissa passou virando a cara para o rapaz, sendo acompanhada pelas outras três garotas, que repetiram o seu gesto. Mas Amanda se demorou um pouco mais. Mirou Sirius, dando um breve sorriso, que não foi correspondido. Sirius a olhou, como se falasse com os olhos. Amanda acenou levemente com a cabeça. Parecia que estavam se comunicando por telepatia.
   Marlene, Dorcas, Lily e Emmeline estavam chegando naquela hora. Amanda disfarçou, lançando um último olhar para Sirius e entrando na sala, como se nada tivesse acontecido. As quatro meninas passaram por ele, mas Marlene o olhou um pouco mais.
   - Não vai entrar, Six? – ela se sentiu uma perfeita idiota ao dizer isso.
   - Vou... Vou sim... – Sirius sorriu para ela.
   Eles entraram, e Sirius sentou-se ao lado de Remus, que tinha o olhar detido em um determinado ponto. Sirius seguiu com seus olhos na direção onde o amigo olhava e enxergou Emmeline, ao lado de Dorcas, sorridente e falante, como sempre.
   - Putz, cara... – Sirius comentou com olhar de sedutor.– Emme voltou ainda mais linda das férias, não acha? Nossa, ela é linda... Loira, magra, olhos azuis, sorriso perfeito...
   - É... – Remus suspirou, quase como se carregasse um fardo pesado. – Emme é linda...
   - Não mais que Lily Evans... – comentou Gabriel Stimpson, que estivera ao lado de Sirius e Remus, ouvindo de penetra o comentário. – Que ruiva linda, ela... E os olhos verdes? Parece olhos de gato. Gata branca!
   - Não deixa James ouvir isso! – Sirius riu
   - Não tenho culpa se a Evans é a garota mais linda de Hogwarts! – ele se defendeu.
   - Ah... Eu prefiro a Dorcas! Puxa, que mulherão... – Peter comentou com birlho nos olhos, olhando para a garota, que conversava com Emmeline. Dorcas falava de um jeito tão sensual que ele a mirava boquiaberto, quase babando. – Os cabelos dela são tão brilhantes, os olhos claros e o corpo... tantas curvas num corpo só! Já viu o par de pernas dela?
   - Ela é muita areia para seu carrinho, Peter! – Sirius riu-se mais ainda. – Dorcas é muito gostosa... Mesmo!
   - Mas – uma nova voz falou quase tímida, ainda assim chamando a atenção dos meninos –, que Alice não me ouça... Marlene McKinnon é a mais gata de todas! – Frank Longbottom cochichou, piscando para os garotos. – Minha Alice é perfeita, mas só um cego não enxerga McKinnon...
   “Só um cego não enxerga a McKinnon...”.
   Aquela frase atingiu Sirius como uma lança, transpassando-lhe o coração. Engoliu seco e perdeu toda a vontade de continuar com aquele papo de mulheres. Olhou para Marlene, que estava muda ao lado de Lily. Era realmente perfeita...
   - Pele morena, olhos amendoados, corpão, lábios carnudos... – Frank descrevia exatamente o que Sirius olhava. – Como eu disse, Alice é minha alma gêmea... Mas Marlene é a visão do paraíso.
   - Sirius pegou a McKinnon! Oh, cara de sorte! É meu heroi, Black! – Peter de uma palmadinha no ombro do amigo.
   - É mesmo? – Gabriel o mirou com os olhos arregalados. – Você pegou a McKinnon! Cara! Que sonho!
   - Marlene não é do tipo de garota que se pega, seus lobos famintos! – Sirius se irritou
   - Oras... Mas você pegou!
   - Eu não peguei por pegar! Rola um... Sentimento...? – Ele falou incerto.
   - Ai, Merlin! Ela é sua namorada? Desculpe... Eu aqui empolgado... – Frank ficou sem graça.
   - Não... Ela não é minha namorada...
   - Mas deveria ser... – Remus se pronunciou. – Você estaria com alguém que realmente vale a pena...
   Sirius calou-se. Dos amigos que tinha, somente Remus o entendia de coração. Com Remus, ele se sentia a vontade para contar tudo. James era de longe seu melhor amigo, mas Remus era o confidente, aquele que não zoava os sentimentos e conseguia respeitar o ponto de vista de todos. Remus era o único que sabia dos problemas amorosos de Sirius. James não poderia saber muitos detalhes, não por não ser amigo o bastante, mas sim por não entender que não se escolhe por quem se apaixonar...
   E Sirius lançou um olhar para a outra ponta da sala.
   Lá estava ela.
   Amanda Stonebreaker. Era ela o motivo das aflições de Sirius. Desde o terceiro ano, Sirius ficava com a garota, mas ninguém, exceto Remus, sabia. Mesmo estando com ela, o garoto não deixava de ser mulherengo. Só que de uns tempos para cá, estava devagar... Seu coração estava divido. Amanda não era muito amada por seus amigos, e fazia por onde ser odiada: era uma garota arrogante, prepotente e relativamente malvada, como quase todos da Sonserina. Só que Sirius se apaixonara por ela, sem nem mesmo saber como. Ela também era apaixonada pelo garoto, mas não queriam, ambos, assumir seu namoro por motivos óbvios. Remus olhou para a aquela mesma direção, a olhando com pesar, voltando os olhos para o amigo. Sirius o olhou contrangido, mas Remus o dirigiu um aceno de cabeça como conforto.

Enquanto isso, do outro lado da sala...
   “Ele nem olhou para mim... Cretino! Eu passei rimel nos cílios, estão colando quando eu pisco e ele... ARGH!”
   Lily pensava, batendo sua pena com força desnecessária contra a mesa e olhando para James com raiva. O rapaz estava quieto, estranhamente quieto, com os olhos vidrado em um livro que Lily não reconhecera.
   - Ele está estranho, não é? – Marlene comentou ao perceber que Lily não tirava os olhos de James.
   - Que se dane! – Lily mentiu e tirou os olhos do garoto.
   Marlene riu-se, embora quisesse chorar. Sirius também estava estranho.
   - É amiga... Garotos – Marlene murmurou pesarosa. – Ruim com eles... Pior sem eles...
   Lily apenas balançou a cabeça, concordando com a frase feita da amiga.
   - Mas eu não esqueci que você me deve cinco galeões, OK? - Marlene provocou e reprimiu o riso.
   - Você disse “aposto que ele te ignora na aula do Tio Slugh” não “na mesa do café da manhã”!
   Lily riu, abraçando a amiga. Não dava para ficar muito tempo de mal uma com a outra. Não elas. Eram amigas demais para deixarem se abater por garotos. Garoto nenhum no mundo as faria brigar.
   Quer dizer... Pelo menos, até agora...
   - Está aí! Amo esse negócio de psicologia reversa... – James falou consigo mesmo, apertando o livro contra o peito e olhando para Marlene. – Já sei exatamente o que fazer...
   O garoto tinha um brilho maquiavélico nos olhos e um sorriso de triunfo no rosto. Pensava em algo que não deveria ser nada de bom. 

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