Aos Quinze
Finalmente, a aula chatíssima de História da Magia chegava ao fim.
Foi possível ouvir Héstia Jones dar um suspiro de alívio, assim que Ryan Entwhistle voltava da mesa do professor, conversando alguma coisa sobre Quadribol com o o colega de casa Kenneth Davies, depois de ter entregue o trabalho que fizera sozinho. Kenneth acenou para Héstia que apenas meneou a cabeça, antes de ir juntar seu material.
- Nossa, Ryan, eu nem sei como te agradecer... – ela disse a Ryan, que já estava ao seu lado, passando a mão pelos cabelos negros. – Eu tenho tantos problemas com História da Magia...
- Ah, bom, é... eu sou muito bom nessa matéria, se você quiser, eu posso te ajudar a estudar e... assim a gente pode passar mais tempo juntos e quem sabe...
- Não, meu namorado também é muito bom – ela o cortou, levantando-se, agarrando-se com seus livros e sentindo as bochechas queimarem. – ele vai me ajudar se eu pedir.
O rapaz enrugou a testa. Cruzou os braços, lançando a Héstia um olhar duvidoso.
- Quem é seu namorado, Hest? – ele quis saber.
Quase na mesma hora, Amanda Stonebreaker passava por eles, trazendo no rosto um sorrisinho maquiavélico. Desacelerou o passo para ouvir mais daquela conversa. Estava numa fase em que qualquer fofoca – mesmo entre corvinos estúpidos ao seu ver – era indispensável.
- Hã... – Héstia hesitou, mas piscou e balançou a cabeça, tomando coragem. – Fenwick... Benjamin Fenwick, da Lufa-Lufa é meu namorado.
Ryan deixou o queixo cair. Amanda virou-se discretamente, tomando notas de alguma coisa.
- Fenwick? – ele repetiu, incrédulo. – Mas o Fenwick não namora a Amelia Bones?
Héstia arregalou os olhos. Amanda prendeu o riso e rabiscou algo em um pedaço de pergaminho, completamente realizada e feliz por ter sido tão esperta por parar para escutá-los.
- Não...! Claro que não! Se fosse, ele não estaria comigo! – ela redarguiu, ficando mais vermelha que de costume. – Amelia é só amiga dele...!
- Mas que coisa, então tem algo errado aí – o outro parecia pensativo.– Eu convidei a Bones para o baile e ela me disse que ia com o namorado, Benjamin Fenwick... Mas que mundo injusto! – ele deu um soco no ar – eu aqui, sozinho e sem companhia e o idiota do Fenwick com duas gatas...?
- Olha aqui, Ryan, isso é uma mentira! – Héstia aumentou o tom de voz, sentindo uma imensa vontade de espancar Entwhistle.
- Tudo bem, quem está sendo enganada por ele é você mesmo... – ele levantou as mãos na frente do corpo, com ar indiferente. Depois, seus lábios se alargaram num sorriso de malícia. – Quem diria, o bonzinho boboca e sorridente do Fenwick pegando duas ao mesmo tempo...!
Plaft!
Os poucos alunos remanescentes na sala viraram-se para verem de onde vinha o som estalado. Se depararam com um Ryan Entwhistle que esfregava a bochecha e uma Héstia Jones enfurecida, beirando um ataque de nervos.
- Arrrgh! – ela deu um gritinho e girou nos calcanhares, saindo da sala.
O rapaz virou os olhos para os amigos e sentiu-se ligeiramente constrangido por alguns sonserinos que riam sem nenhum pudor dele. Sentiu então uma mão pesada em seu ombro e fechou os olhos quando percebeu de quem era.
- Não liga não, cara – Domini Bletchley o falou, dando uma piscada amigável. – Primeiro elas humilham e depois se entregam, vai por mim, eu sei do que falo!
E deu um tapa nas costas do outro, que o fez dar três passos involuntários para frente. Ryan apenas concordou com a cabeça. Não era muito sensato descordar do grandão sonserino ali. Dois tapas bem dados já estava bom para um dia.
- Amigo... - Kenneth Davies se aproximou sorrateiramente depois que viu o Sonserino se afastar. – Eu acho que nem precisava te dizer isso, mas... eu bem que te avisei para parar de atirar para todos os lados, uma hora, o tiro ia sair pela culatra... Ainda bem que Mary McDonald me disse sim ao invés de me dar um gancho de direita quando eu a convidei...
- É, você não precisava mesmo dizer isso – Ryan olhou com raiva para o amigo.– E obrigado por jogar na minha cara que você tem par para o baile e eu não, quem precisa de inimigos com amigos como você?
- Desde quando virou conselheiro amoroso, Bletchley? – Amanda cutucou, olhando para Domini com deboche.
- Desde quando eu percebi que estava cercado por idiotas – retrucou ele, a medindo de cima a baixo. – E que eu poderia muito mais quando os ignorasse.
- Ah, então o caso de amor com a galinha Grifa vai bem?
- Muito melhor que o com a piranha Sonserina – ele respondeu num sussurro debochado e saiu da sala.
- Que beleza – murmurou alguém ao lado da garota loira, que fervia de ódio. – Trocando baixarias com alguém que tem menos neurônios que você... é uma atitude muito nobre.
- Por que você não vai à...
- Meça as palavras, garota insuportável – Severus Snape a olhou friamente. – Então, será que você escreveu algo útil aí?
Amanda olhou para os pergaminhos amontoados em seus braços, por entre os livros. Depois levantou os olhos para o garoto.
- Muitas coisas úteis, você não me subestime, eu sei ser...
- Deixe-me ver essa porcaria – ele meteu a mão nos papéis e começou a ler, sem se importar com o resto do discurso da colega de casa. – É, algumas coisas aproveitáveis... deixe o resto comigo.
- Como é? A ideia foi minha e... – ela argumentou, sem sucesso e sem resposta, pois Snape já saía da sala levando suas anotações.
- Garota idiota – ele murmurou consigo mesmo, dando um quase riso, mas parecido com um tique nervoso. - Mas até que serve para alguma coisa. Agora... veremos como o outro inútil se saiu...
Severus seguiu pelo corredor apressado, caminhando sem olhar para os lados ou para trás. Sua mente estava amontoada de intenções, as piores possíveis.
Catherine Mayfair sorriu graciosamente para os alunos assim que seu tempo de aula acabou.
- Então, ficamos por aqui hoje – disse ela, dando dois passos elegantes, posicionando-se à frente dos alunos. – Para a próxima aula, quero que me tragam um rolo de pergaminho com uma resenha sobre o capítulo 10 do livro “Criaturas das Trevas – Como se Defender”. Será nosso próximo assunto e quero que já estejam por dentro da matéria.
Remus Lupin gemeu quando, abrindo o livro no sumário, viu que o tal capítulo tratava nada mais, nada menos, que de Lobisomens.
- Eita que a próxima aula vai ser boa...! – James Potter sussurrou.
- Ah, vai – Remus rolou os olhos azuis, grunhido qualquer coisa depois.
- E outra coisa – Catherine falou novamente, olhando os lugares vazios de Alice Prewett e Edgar Bones. – Os alunos que não assistiram à aula, avisem-nos do trabalho. Saindo daqui passarei na Ala Hospitalar para ver como nossa colega está... e se o Sr Bones está com ela.
- Caraca... – Benjamin sussurrou, olhando para trás. Frank parecia incapaz de falar, pois se destravasse seus dentes, poderia morder alguém, tamanha a raiva que o fazia comprimir a mandíbula. – Eles não estão na Ala Hospitalar, estão?
- E eu lá tenho cara de Madame Zara para adivinhar isso, Ben? – Frank perguntou mal humorado. – Quem é a adivinha aqui é a Alice, e ela bem que poderia ter previsto a confusão que ela vai arrumar para si quando a Mayfair descobrir que ela não está em Ala Hospitalar nenhuma. Essa mulher aí não parece brincar em serviço.
- Acho melhor sairmos antes e procurarmos Ed e Lilice, aí a gente fala para eles se meterem lá para quando ela chegar, os encontrar lá! – o rapaz lufano sugeriu, já de pé e juntando seu material rapidamente.
Frank hesitou um momento, parecia pensar, mas pulou da cadeira e imitou o amigo.
- Vamos – disse ele, abraçando os livros e puxando Benjamin pela manga das vestes. – O problema é saber por onde começar a procurar aqueles dois... ai, não quero nem pensar no que eles podem estar fazendo... – e deu um grunhido que parecia mais um rosnado.
- Frank, sem ciúmes...
- Ah, não começa a encher o saco não, Ben... você é o quê? O presidente do fã clube do Bones?
Plaft!
Frank esfregou a nuca, sem parar de andar, contudo. Olhou para Benjamin, que se esforçava para não gargalhar,tanto que os olhos eram apenas dois rasgos no rosto vermelho pela força feita por tal ato.
- Estamos quites agora – Benjamin falou finalmente, quando viu que já poderia abrir a boca sem ter um ataque de riso. – É, eu não esqueci da bolada que você me deu.
- O que você acha que aconteceu com o McHale, hein? – o rapaz de óculos perguntou ao amigo enquanto andavam pelo corredor, Sua expressão estava pensativa.
- Não sei – Remus Lupin respondeu sem ânimo. – Vem cá, como diabos você descobriu que...
- Ahh, não conto sem a presença de Sirius! – James levantou a mão, o cortando. Balançava a cabeça com autoridade. Remus resmungou novamente.
- Não é possível ter percebido do nada, há algo que te impulsionou, eu sei que há.
- Não falo – repetiu o outro.
- Eu vou descobrir.
- Tenta a sorte, Aluado.
- Acha que só vocês são espertos, não?
- Nem! Você é esperto, mas nem imagina como eu cheguei a essa conclusão! É incrível! Almofadinhas precisa estar junto, ele vai ficar com cara de idiota, mais idiota que já tem!
- O que você e o Almofadinhas estavam fazendo quando nós chegamos?
- Nada de bom – respondeu com um risinho debochado. – Só pra variar um pouquinho...
Remus deu um suspiro cansado mas não disse mais nada. Para quê? Depois de seis anos, é fácil reconhecer uma causa perdida quando se está diante de uma. Nisso, James resolveu olhar para Peter Pettigrew, que estava muito quieto, e percebeu que ele mais parecia um inferi, andando sem saber porque ou para que andava.
- Rabicho...?!
Peter girou lentamente a cabeça para o amigo. Parecia ter acordado naquele momento, como se fosse um sonâmbulo, saído da cama sem perceber. Os dois outros o fitaram curiosos.
- Que houve, cara? – James ergueu uma sobrancelha.
- Na-nada... – ele respondeu, inseguro, apertando contra si os livros que trazia consigo.
- Pare de implicar com ele – Remus reclamou. – Vamos, vamos ver onde o cagão do Sirius se meteu...
- Eu vou contar para ele que você o chamou de cagão! – James riu.
- Pontas, no dia em que eu perder a paciência com você... – Remus não completou a frase. Só meneou a cabeça de modo ameaçador. James gargalhou.
Amos Diggory saiu da sua sala, engolindo seco e tentando não fazer uma cara de culpado. Apertava contra seu peito a pasta recém clonada dos arquivos confidenciais da Unidade de Captura de Lobisomens.
- Diggory?
Ele deu um pulo ao ouvir a voz dizendo seu nome. Parecia um gato assustado.
- Sim? – ele olhou para quem o chamava.
- Nossa, te assustei? – Andrômeda Tonks riu. – Eu sou tão feia assim?
- Não, não... Eu que estava distraído mesmo... E você não é feia, pare com isso! É linda, Ted que me desculpe.
- Ahh, boa saída, o elogio... – ela estalou os lábios, depois sorriu. – Eu precisava de alguém aqui que seja da Comissão Para Eliminação de Criaturas Perigosas, pode me indicar alguém?
O homem rolou os olhos pelo corredor imenso do Departamento para Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas. Por fim, deu de ombros, olhando para aquela à sua frente.
- Desculpe, Tonks, eu não conheço muitas pessoas de lá, mas faça o seguinte, vá até...
- Espera, espera... – ela ergueu a mão – Que há com você, homem?
- Quê?
- Gente, quem está grávido, Bea ou você? – ela riu.
- Por quê? – Amos piscou os olhos várias vezes, tentando entender o comentário.
- Quando eu fiquei grávida de Dora, eu fiquei bem lerda, como você está agora.
- Ah, entendi... E obrigado pela parte do lerdo.
- Não há de quê – ela piscou para ele. – Como vai a mais nova mamãe da área?
Ele finalmente sorriu, parecia que o fato de lembrar-se que sua esposa estava grávida o deixava mais tranquilo.
- Está linda, mais linda que nunca, como se fosse possível Beatriz ser mais linda do que já é!
- Ai, que inveja. Bea tem um maridão mesmo. Quando eu fiquei grávida, Ted se referia a mim como meu barrilzinho de Hidromel, olha que romântico.
Os dois começaram a rir alto do comentário da mulher.
- Qual foi a piada? Eu estou precisando rir também.
Um homem alto e muito forte parou perto dos dois. Tinha um semblante bondoso, mas um tanto triste, embora simpático. Os dois que riam o fitaram, diminuindo a intensidade da risadaria.
- Oi, Prewett – o cumprimentou a mulher primeiro. – Estávamos aqui falando de maridos românticos e sobre a escória da classe também.
- Gideon – Amos fez um aceno respeitoso com a cabeça para o outro. – Como vai, amigo?
- Err... bem – Gideon Prewett disse, dando um sorriso nada convincente. – Maridos românticos? Quem? Ton-Ton ou o nosso Dig-Dig aqui?
- Claro que o Diggory, argh! – Andrômeda revirou os olhos escuros e grandes. – Ted só é romântico quando precisa de algo, tipo: Amor... pega uma cerveja amanteigada para mim, minha cocotinha?
Amos e Gideon riram dela. Andrômeda Tonks era uma daquelas pessoas que era praticamente impossível se manter sério ou triste estando perto dela. Completamente diferente das irmãs, Bellatrix e Narcissa Black. Na verdade, diferente de todo o resto da família Black. Família da qual foi excluída – sem muito trauma deixado por isso – ao casar-se com Ted Tonks, um simpático, gentil e também divertido homem. Gideon após rir, deu um suspiro cansado e baixou os olhos, encarando seus sapatos. Amos o olhou quase com pena.
- Estou brincando, Ted é um amor para mim, é muito bom mesmo para mim e um pai perfeito para Dorinha. Mas, admito que Beatriz foi quem ganhou na loteria – ela continuou, ignorando o suspiro do homem mais alto. – Diggory estava aqui se derretendo de elogios para ela, dizendo que está mais linda que nunca, agora que está grávida.
Gideon ergueu imediatamente a cabeça. Amos ficou com as bochechas ruborizadas.
- Beatriz está grávida? – perguntou ele. – Ora, eu não sabia.
- É... é que... é de pouco tempo e... – Amos coçou a cabeça, sem jeito. Dera um grande fora naquele momento: Gideon era seu amigo desde os tempos de Hogwarts, eram muito bons amigos e, mais grave que isso, fora seu padrinho de casamento com Beatriz Longbottom, e ele não tinha contado sobre a gravidez de sua esposa. – A gente nem tem se visto muito nesses dias e... teve tudo... aquilo... com o...
- Eu entendo – o cortou Gideon. – Dê meus parabéns a ela! Então, meu amigo vai ser pai! – e passou o braço grande pelos ombros do outro, o abraçando fraternalmente. – Como se sente?
- Muito bem! – Amos sorriu, Andrômeda também estava sorridente observando a cena. – Você sabe, não é, G? Que eu sempre quis casar-me com a Bea, e a agora com um bebê, seremos uma família de verdade! Eu estou tão realizado, sempre foi meu sonho formar uma família e...
Amos olhou para o amigo. O semblante de Gideon ia ficando cada vez mais distante e triste conforme escutava aquelas palavras. Quando percebeu que tanto o amigo quanto Andrômeda questionavam com o olhar aquele comportamento, ele tratou de simular, dando um sorriso forçado.
- É muito bom ver você feliz, amigo! Eu torço por vocês, que tenham felicidade para sempre! – Gideon deu três tapinhas nas costas de Amos. – Agora, me perdoem, eu preciso resolver um assunto com um cara aqui da Comissão Para Eliminação de Criaturas Perigosas, foi-se o tempo que Aurores só saíam para lutar e... só. Sem assuntos e papeladas internas – e ele deu de ombros, chateado.
- Ah! – a mulher deu um pulinho de animação. – Eu estava realmente precisando de um contato nesse departamento! Seja bonzinho, Prewett, e me apresente, sim?
Gideon fez uma reverência para Andrômeda passar à sua frente. Ela deu um tchauzinho para Amos e virou-se. O homem, porém, demorou-se um pouco mais.
- Eu estou feliz mesmo por vocês, Am – disse ele, dando agora um sorriso sincero.
- Eu sei, G. Eu te agradeço muito pela amizade a mim e a Bea. E você sabe que sempre poderá contar conosco.
Gideon balançou a cabeça positivamente e foi acompanhar Andrômeda. Amos esperou até que o amigo desse as costas para ir fechando seu sorriso. Gideon estava sofrendo e isso doía nele também. Olhou para a pasta que trazia consigo novamente e respirou fundo, mais decidido que nunca a procurar por quem poderia lhe ajudar.
Amelia Bones saiu da sala de aula lendo – pela quinta vez – o pedaço de pergaminho. Desde o café da manhã tinha repetido aquele ritual. A aula de poções do quinto ano tinha terminado e os alunos, tanto da Lufa-Lufa quanto os da Grifinória, com quem dividiam o horário – se apressavam em sair quase correndo dali.
- Lê o quê, Mia? – alguém a perguntou, fazendo-a amassar entre os dedos o papel no susto. Olhou para trás e viu a amiga da grifinória, Mary McDonald, com seus cabelos escuros brilhantes e olhos castanhos, sorrindo. – Nossa, você hoje nem me esperou para conversarmos! Que houve?
- Hã, nada... – Amelia falou, dando um risinho.
- E isso aí, o que é? – Mary voltou a perguntar.
A garota lufana olhou para o pergaminho já amassado, olhou para os lados e resolveu que era bom mesmo falar com alguém. Mary era uma de suas melhores amigas, por que não com ela?
- Uma carta do Gaspard.
- Ahhh... – Mary exclamou. – E o que ele diz?
- Que está muito feliz, já está como medibruxo residente no St. Mungus.
- E isso está te deixando com essa cara de quem comeu e não gostou? – a garota da Grifinória fez uma careta.
- Não, não é isso que está me deixando assim... – Amelia deu um guincho de riso. – É que... ele está me pedindo para passar o natal com ele e a esposa.
- GASPARD CASOU? – Mary deu um grito.
- Shhh! – Amelia a repreendeu. – Entendeu agora o motivo da minha cara?
- E quem foi a sortuda que casou com o pedaço de mau caminho do seu irmão mais velho, diz?
- Sei lá, eu não a conheço – a outra deu de ombros. – Ele diz que é uma garota que ele conheceu numa viagem turística, ela é italiana e veio para Londres para se estudar. O nome dela é Vittoria, Vittoria Callegari, agora Vittoria Bones. É só isso o que ele conta aqui, é tudo o que eu sei da minha cunhada. Ah, e o mais legal, Mary... ela é trouxa.
Mary assobiou ao ouvir o relato da amiga.
- Sabe o que dizem sobre os bruxos italianos, não sabe? – perguntou à Amelia. – Que eles têm um Ministério sinistro lá, e as penas não são como aqui, não! O bruxo saiu da linha um pouquinho... cabam! Morre mesmo. Eles são terríveis, têm a própria justiça, fazem a própria lei, ainda mais no que diz respeito à convivência com trouxas, então... uh...
- Obrigada por me lembrar, Mary – Amelia revirou os olhos verdes. – Agora, me responde, o que deu no idiota do meu irmão para fazer isso? Ele não avisou a ninguém! Nem Edgar sabe. – Amelia suspirou profundamente. – Eu não tenho nem coragem de contar também.
- Seus irmãos nunca se deram muito bem, não é? – Mary passou a mão carinhosamente pelos cabelos da amiga.
- Não mesmo. Aliás, ninguém na minha casa se dá muito bem, como você sabe, amiga... mas eu me dou bem com os dois, o que é meio constrangedor para mim, ficar entre eles. Já eles, agem como dois desconhecidos. Edgar gostava mais do Edward Prewett que de Gaspard e Gaspard era mais irmão do Amos Diggory do que do Edgar.
Amelia corou levemente, e se mexeu como se estivesse incomodada ao dizer a última frase.
- Ah, falando no Diggory... – Mary estalou os dedos, como se tivesse lembrado de algo muito importante. – Sabe o que eu ouvi lá no Salão Comunal da Grifinória ontem?
A outra menina fez que não, dobrando cuidadosamente a carta do irmão e guardando dentro de um dos livros que tinha nos braços.
- Que a esposa dele está grávida!
Amelia deixou o queixo cair.
- Como? – perguntou, num fiapo de voz, um pouco mais alta que um sussurro.
- Como se fica grávida, Mia? – Mary riu. – Já tem 15 anos, não sabe ainda?
- Não foi isso que eu perg... – ela parou de falar e balançou a cabeça, irritada. – Esquece. Como você soube disso?
- A esposa dele... que dizer, aquela garota que era namorada dele quando entramos em Hogwarts, você sabe, aquela linda e magra, que foi rainha do baile com ele, no nosso primeiro ano, e último deles, é claro, a Beatriz, lembra dela?
- Lembro... – Amelia respondeu entre os dentes. – não precisava de tantos detalhes, eu só perguntei como você soube da gravidez...
- Essa Beatriz é prima do Longbottom, aí parece que a mãe dele escreveu, eu o ouvi comentar com a Alice. Imagina só se o filho sair ao pai, hein? – Mary deu uma cutuvelada de brincadeira em Amelia. – Diggory não era uma graça? Ah, eu lembro do meu primeiro dia...
Mary tagarelava, mas Amelia não parecia mais prestar atenção em nada do que a amiga dizia. Antes estava pensativa devido a mais uma das loucuras do irmão mais velho, agora, acabava de receber a notícia de que Amos Diggory, seu amor platônico desde os 11 anos de idade, além de um homem casado, ia ser pai. Ela poderia até conviver com o fato dele ter uma namorada, namoros terminam; ser casado, casamentos acabam! Mas... um filho, já era demais.
- ...quando apresentaram os monitores das casas, lá da Grifinória, aquele deus de mármore do Gideon Prewett – Mary prosseguia, com seu ar sonhador e sem parar nem para respirar. – aí depois eu vi os monitores da sua casa, Lufa-Lufa, Amos Diggory e seu irmão, Gaspard Bones, era até difícil saber quem era o mais bonito dos dois... ahh... e a gente com 11 anos de idade. Que mundo injusto. Agora, que temos 15... eu tenho que ir ao baile com o Davies que não é nenhum Diggory, Prewett ou Bones da vida...
Amelia não a escutava, embora seu discurso estivesse ficando cada vez mais intenso. Ainda divagava sobre Amos, e era aquele garoto, mesmo sendo seis anos mais velho, mesmo a considerando uma irmã, que habitava seus sonhos. Quando Amelia sonhava com seu primeiro beijo, era o rosto de Amos que ela queria ver quando abrisse os olhos. Mas tudo parecia perdido agora. Depois que Gaspard, seu irmão mais velho, saíra de casa, realmente ficara mais difícil vê-lo, mas ela sabia onde morava, ela o visitava “inocentemente” e era tratada como uma irmã por ele... Ela conhecia muito bem sua esposa, Mary talvez não soubesse disso. Mas então, como fazer isso com um bebê fofinho lá? Assim, todo o castelo que Amelia construíra nos últimos quatro anos, estava sendo enterrado por uma avalanche de tristeza.
- ...não, e ainda bem que ele me chamou, muito mais ele que o “Ryan Enche-o-saco”... Ele é bonitinho, tem 17, é do time e eu não vou ficar chupando o dedo no Salão comunal, enquanto as minhas amigas dão seu primeiro beijo! – Mary finalmente parou para tomar fôlego. Sorriu e virou-se para a amiga. – E você, Mia, vai ao baile com quem?
Amelia girou lentamente a cabeça para Mary. Agradeceu mentalmente pela amiga ser tão desligada a ponto de não perceber seu estado de catatonia. Meditou sobre a pergunta antes de respondê-la. Não tinha par para o baile por uma questão muito simples: não ia a baile nenhum e por isso, esnobou educadamente uns quatro convites recebidos. Nunca ligou para isso. Seu garoto dos sonhos não estava mais em Hogwarts. Só que agora era diferente. Já tinha 15 anos, nunca tivera um namorado, não tinha interesse por nenhum garoto da sua idade. Hora de mudar as coisas.
- Estou decidindo – disse, por fim.
- Eita, e foram tantos convites assim?
- Não, não é bem por isso, mas uns eu descartei imediatamente. Por exemplo, o Bertram Aubrey – Amelia apontou discretamente para um garoto que falava com outros alunos da Grifinória, também saídos da mesma aula que elas. – Sem chances, disse não a ele na hora, sutilmente, mas disse que não ia a bailes porque tinha um trauma de infância... inventei uma mentira tão feia que eu até pensei em ser atriz depois disso.
- Ui... – Mary tremeu e fez cara de nojo, como se tivesse chupado limão azedo. – Apoiada, amiga, depois daquela azaração que Potter e Black lançaram nele, a moral do meu colega ali, que já era baixa, despencou ainda mais.
- Pois é, e isso não só na Grifinória, mas nas outras casas também – a lufana piscou. – E teve o Ryan Entwhistle.
- Ah, o “Enche-o-Saco” te chamou também? Esse aí está a perigo...
- Não, e o pior, eu meti o pobre do Fenwick no rolo... disse que ia ao baile com ele! – Amelia riu.
- Não diz que você vai mesmo ao baile com Benjamin “eu sou um sonho” Fenwick? – Os olhos de Mary brilharam.
- Claro que não! – Amelia deu um tapinha no ar. – Ben é praticamente meu irmão, eu disse isso só para o chato largar do meu pé, e outra, ele é paradão na da Jones, eles estão namorando, sabia?
- É, os bonitos sempre já têm donas... – a menina lamentou.
- Aí, na verdade, estou em dúvida entre dois... – disse ela, erguendo uma sobrancelha. Olhou com malícia para Mary. – Quem você acha que deve beijar melhor: Stephen McDougal ou Gabriel Stimpson?
Mary deu um tapa no ombro de Amelia.
- Puxa, eu te odeio. Sabe há quanto tempo eu quero sair com o gatinho do Gabriel? E ele é do último ano, cara! E do time de Quadribol da Grifinória... argh!
- Então, vai ser com ele – e ela riu, girando nos calcanhares, fazendo Mary dar um grunhido de raiva, mas segui-la ainda assim para continuar tagarelando.
- Troca de par comigo, vai! – Mary implorou. – Kenneth também é gatinho e também é do time, é da Corvinal, tem 17 e...
- Gabriel, devo chamá-lo de Gabe ou de Biel? – Amelia provocou.
As duas acabaram gargalhando juntas. Se abraçaram e seguiram pelo corredor falantes. Coisas de garotas de 15 anos. Amelia decidiu se permitir fazer coisas de garota de 15, como Mary. Agora que não adiantava mais nada tentar ser mais velha e ainda poder se arrepender disso depois.
- Uma rosa para minha flor.
A voz ao mesmo tempo convicta e suave falou dentro do ouvido de Dorcas Meadowes, fazendo seus pelos do braço se arrepiarem na hora. As amigas pararam de andar e fizeram um “hummm” baixinho e em coro, ao verem Domini Bletchey se aproximar por trás dela, estendendo uma rosa vermelha em seguida.
- Aw! – Dorcas arfou, emocionada, pegando a rosa e se virando para olhá-lo.
- Eles até que formam um casal fofinho, não? – Emmeline Vance comentou num sussurro.
- Super fofinhos... – Marlene McKinnon falou cheia de deboche, olhando para os dois que agora estavam conversando baixinho e quase grudados um no outro. – Deve ser assim que se comportam dois trasgos apaixonados.
- Credo, Lene! Que maldade! – Lily Evans bateu nas costas da amiga, mas não deixou de rir do comentário.
- Você é tão ruim quando quer, Lene! – Emmeline fechou a cara. – Dorcas está radiando felicidade! Se pudéssemos ver sua aura, ela estaria cor-de-rosa!
- Aham... cor-de-rosa... – Marlene revirou os olhos.
- E a sua estaria como, Lene... preta? Black? – Lily implicou.
Marlene pigarreou e se ajeitou. As outras duas se entreolharam divertidamente.
- Hã, vamos indo para o Salão Comunal, Dorcas não parece que vai nos acompanhar mesmo... – mudou de assunto sabiamente, vendo a amiga e o garoto Sonserino dando beijinhos de leve.
As três recomeçaram a andar, rumo ao Salão Comunal da Grifinória. Pararam na frente do quadro da Mulher Gorda, disseram-lhe a senha e entraram, jogando-se cada uma em uma poltrona disponível. Emmeline jogou sua mochila em cima da mesinha de centro e meteu a mão no seu interior. De repente, enrugou a testa e olhou lá dentro. Marlene e Lily começaram a prestar atenção nela. Agora, ela começava a tirar os seus pertences de dentro da bolsa e colocar sobre a mesinha, nitidamente nervosa.
- Onde está? Onde está! – ela murmurava, sua mão estava trêmula e seus lábios ficaram descoloridos.
- Emme, o que aconteceu? – Lily perguntou finalmente.
- Meu diário! Ele estava aqui! Não está mais!
Emmeline colocou a mochila de cabeça para baixo, num ato bem estúpido e desesperado, a sacudindo, mostrando que não havia mais nada ali dentro.
- Não está! – repetiu, numa voz rouca, jogando longe a bolsa. Começou a chorar compulsivamente.
- Você deve ter esquecido na sala, Emme – Marlene comentou. Ela e Lily ajoelharam na frente da amiga, que escondera o rosto entre as mãos e soluçava. – Mas, também precisa ficar assim por conta de um diário, Emme?
- Precisa! – retrucou em tom ofendido.
- Vamos voltar na sala, ele deve estar lá – sugeriu Lily para suavizar a situação.
- Não, eu tenho certeza, ele estava dentro da mochila! – Emmeline falou. Depois, olhou seriamente para a garota morena. – Quando você falou para eu guardar o diário, eu coloquei dentro da mochila, tenho certeza. E depois, eu sempre confiro tudo na minha mesa antes de sair da sala, vocês sabem!
- Então para onde foi esse maldito diário? – Marlene indagou, pensativa.
- Tinha algo de muito importante nesse diário Emme? – a ruiva perguntou em tom de suspense. – Algo que nós e Dorcas não sabemos? Tipo... somos suas melhores amigas e tal.
Emmeline fitou demoradamente as amigas. Não era justo mentir para elas, mas não se tratava dela. Não havia nada sobre ela que as meninas não soubessem, mas o caso era exatamente esse: não era sobre ela. Porém, o drama todo pelo diário perdido seria realmente exagerado demais para um monte de boboseira sentimental, se considerasse apenas a parte da vida dela que as amigas conheciam. Por fim, a loira tomou um longo fôlego, decidindo não colocar as amigas nisso.
- Não, nada que vocês não saibam, é só que... é toda minha vida ali, tem valor sentimental – disse ela, encarando suas mãos. Não era boa em mentir, ainda mais para suas melhores amigas.
- Ow, minha linda! – Lily se esticou e a abraço. Logo em seguida, Marlene fez o mesmo, dando na menina um abraço duplo. – Vamos achar seu diário, palavra de Adoráveis. Não é, Lene?
- Isso mesmo, palavra de Adoráveis Poderosas! – Marlene concordou, dando um beijo estalado na bochecha da loira.
Mas Emmeline não respondeu. Já nem sabia mais se era melhor mesmo ninguém achar esse diário. Aliás, o problema era exatamente esse: alguém tê-lo encontrado. E lido seu conteúdo, principalmente as últimas páginas, nas quais ela falava sobre Remus Lupin e sobre as noites de lua cheia.
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