Traído
O cachorro negro escondido por trás de um dos arbustos mais próximos das margens do Lago Negro deitou-se sobre as patas, entediado.
Que legal, pensava ele. Tinha seguido Rachel Clearwater até ali, mas agora havia duas outras pessoas cuja presença ele não contava. Se ele saísse dali, o veriam. Se ele voltasse a sua forma humana... Sirius Black teria que ter uma ótima explicação para sua aparição do nada na cena tensa.
Enquanto ele bufava lá em seu canto, Rachel Clearwater tentava achar palavras para se justificar. Não parecia haver nenhuma que valesse à pena, nenhuma ao menos que não a fizesse parecer completamente louca. Será que Alice Prewett e Edgar Bones, estando ali ambos a espera de uma explicação para sua suposta tentativa de suicídio, acreditariam no que ela teria para contá-los? Ou será que ela sairia dali direto para St Mungus, para bater um papo agradável com algum Medibruxo especializado em doenças mentais?
- Rachel – Edgar sussurrou. – Se alguém tem culpa aqui, esse alguém sou eu... que te beijou e não respeitou sua dor... nem a memória do meu amigo... – os olhos do rapaz se encheram de lágrimas, demonstrando sua emoção. – Se algo acontecer a você, serei eu quem não conseguirei conviver com essa culpa.
Alice apertou o amigo contra ela, tentando o consolar. Rachel olhou para o Lago, depois balançou a cabeça e o fitou seriamente.
- Edgar, você é bom demais... – disse ela. – Bom demais... para mim.
- Por que você diz isso? – o rapaz quis saber.
Mas Rachel não o respondeu. Ela adotou uma postura fria. Os olhos verdes ficaram ligeiramente sombrios quando ela deu passos rápidos em direção aos dois amigos que ainda estavam abraçados.
- Fica longe de mim então – ela falou, sem dó. – Bem longe. Não quero que te aconteça o mesmo que ao... – e não completou a frase. Só engoliu seco e girou, correndo pelo mesmo caminho que a havia levado até ali.
- Rachel...! – ele a chamou e fez como se fosse atrás dela, mas Alice o deteve.
- Deixa ela, Ed – sugeriu a pequena, olhando com carinho para o amigo.
– Ela só precisa de um tempo...
- Eu não entendo, Alice! – explodiu Edgar. – O que há de errado com ela? O que há de errado... comigo?!
- Ed... não há nada de errado com você e Rachel falará sobre o que a aflige quando ela se sentir à vontade para tal. Vamos respeitar o espaço dela, ao menos, ela desistiu dessa... – ela deu uma olhada de soslaio para o lago e engoliu seco ao se recordar da visão de poucos instantes atrás – loucura.
O lufano meneava a cabeça com ar de incredulidade. Podia-se sentir o tremor de sua carne tamanha sua fúria e dor no pequeno corpo na garota agarrada a ele, na quase inútil – mas nobre – tarefa de consolá-lo.
- Por que isso, Alice? – murmurou ele. Sua voz era compatível com o rosto, desanimado. – Por que tudo está acontecendo assim?
A menina jogou seus braços ao redor do pescoço dele, o abraçando carinhosa e fraternalmente. Ele escondeu seu rosto entre o ombro e o pescoço dela e assim ficaram por algum tempo, consolando um ao outro.
- Então foi para isso que os dois saíram da sala de aula?
Uma voz musicalmente debochada ressoou até eles, os fazendo pularem de susto, se afastando um do outro. Não por estarem fazendo algo de errado – porque, em tese, não estavam, exceto pelo fato de estarem matando aula para ficarem do lado de fora do Castelo.
Os olhos negros de Catherine Mayfair se estreitaram de malícia. Alice e Edgar estavam espantados. O que ela pensaria deles? O que qualquer um pensaria sobre a cena?
- Não há tempo suficiente entre os intervalos para namorar? – continuou ela.
- Não, Srta Mayfair, não é o que está pensando...! – Edgar tentou se explicar, mas a nova professora loira não parecia muito disposta a ouvi-los.
- Menos 50 pontos para Grifinória e para Lufa-Lufa e... bom, como sou nova aqui, vamos consultar Dumbledore sobre o tipo de detenção que namoradores compulsivos tomam por aqui... – Catherine disse, com um sorriso de deboche nos lábios, os olhos eram duas fendas malignas. Alice empalideceu. Se fosse os dois para a sala do Diretor, teria que haver um ótimo motivo, e como eles explicariam isso? Não poderia dizer “olha, eu tive uma premonição de uma aluna doida que ia tentar se matar e aí nós a seguimos”, primeiro porque os dois foram pegos ali sozinhos e, segundo, não estava disposta a expor Rachel assim.
- Vamos, os dois – a mulher loira os mostrou o caminho. – Venham me seguindo direto para a sala do Diretor!
Os dois amigos se entreolharam, ela aflita e trêmula, ele, tentava manter a calma e fez um aceno com a cabeça para ela, como se dissesse que tudo ia ficar bem. Catherine Mayfair girou graciosamente e começou a andar. Edgar puxou Alice pela mão, mas ela resistiu um pouco mais. Ele a mirou, confuso.
- Não pergunta nada, eu não tenho como explicar isso, mas... – disse ela a ele. Depois olhou para um determinado ponto. – Obrigada por tentar, se não fosse você tê-la distraído, não teríamos chegado a tempo. Muito obrigada – e começou a andar junto com o rapaz.
Sirius Black xingou mentalmente, já que em sua forma de animago não dava para expressar verbalmente sua surpresa.
Remus Lupin parecia até mais velho, devido ao vinco formado em sua testa quando, olhando para o pergaminho aberto diante dele e de seus amigos, o fantástico Mapa do Maroto, James Potter e Peter Pettigrew, viu o pontinho definido por “Sirius Black” no exterior do Castelo. Olhou dali para James e reparou que ele tinha cara de falso santo.
- OK, explique-se – foi tudo o que disse.
- Vai ver acabou o papel no banheiro e ele resolveu fazer suas necessidades no matinho – James deu de ombros. – Sabe, às vezes ser cachorro tem lá suas vantagens...
- Engraçado... – Peter meteu o dedo no mapa, antes que Remus pudesse responder o que tinha pensado (e não era nada muito legal) ao outro – O Bones e a Prewett também estão lá fora... quer dizer, estão voltando agora, mas, eles também estavam lá fora.
- Será que o Edgar Bones também foi fazer caca no mato, James? – Remus fitou duramente o amigo.
Ele eu não sei, mas a Alice é bem louca para ter ido – ele balançou a cabeça positivamente diversas vezes, fazendo seu óculos escorregar até a ponta do nariz – ou para pegar umas ervinhas lá na estufa, quem sabe...
- DÁ PRA PARAR DE ME ENROLAR? – Remus berrou, chamando a atenção de alguns poucos alunos mais próximos do canto de onde estavam no Salão Comunal. – Que é, eu tenho cara de otário?
James ajeitou os óculos e Peter soltou uma lufada de ar. Os dois encararam o amigo, estupefatos. Quatro olhos quase saltando das órbitas.
Remus levou a mão à testa e baixou a cabeça. Suspirou. James e Peter se entreolharam.
- Antes de você, Dumbledore e a Mayfair chegarem – começou James com um tom de voz próximo a um sussurro, e Remus levantou a cabeça para mirá-lo. Peter começou a prestar atenção também –, Almofadinhas e eu estávamos olhando o Mapa, já que o McHale estava atrasado e tal. Foi quando vimos a Rachel Clearwater, da Corvinal, andando para fora do Castelo. Fizemos o trajeto provável que ela faria, e ele a levava direto ao Lago Negro. Supondo que ela não queria tomar um banho de sais para desestressar por lá, Sirius saiu atrás dela, já que o Filch estava ocupado nos andares superiores. Daí eu não sei mais o que aconteceu, só sei que... – ele virou os olhos para o Mapa do Maroto. Os outros dois fizeram o mesmo. Ele apontou o dedo para outra direção, uma escadaria onde “Rachel Clearwater” se movimentava – ela não está mais lá fora, já está sã e salva no interior do Castelo.
O Rapaz loiro passou os dedos por entre os cabelos. Parecia tentar absorver todas as informações recebidas. Enquanto isso, Peter olhou para seu relógio de pulso discretamente e levantou-se, puxando consigo alguns livros.
- Bem, err... – disse ele, com uma voz meio trêmula – eu vou para a biblioteca, marquei uma hora com um aluno que é bom em poções para me ajudar numas... coisas... aqui e... já está na hora. Qualquer coisa, vocês sabem onde me achar, não é? – e girou rapidamente nos calcanhares, mas James fez uma careta.
- Um aluno que é muito bom em poções? – repetiu ele. – Quem é melhor em poções que a Lily? Remus também é fera, não é? Precisa marcar com alguém? Quem mais é tão bom quanto... – e de repente, ele parou de falar, como se tivesse tido uma epifania.
Peter não se virou para os outros garotos, mas empalideceu. Pensou rápido antes de responder
- Eu marquei com alguém que acredita que na Alquimia, Remus já me jogou um balde de água fria e Evans, eu nem tenho tanta intimidade com ela para pedir aulas extras – e continuou caminhando para evitar novos interrogatórios.
Emmeline Vance tentava não enlouquecer, respirava fundo, entoava mantras para dissolução das trevas em sua cabeça... mas o fato de ter seu diário perdido em algum lugar do enorme Castelo de Hogwarts transformava seu sangue em larva, queimando todo seu interior, e ela queria gritar. Como falar com Remus? Ele a chamaria de idiota, irresponsável, estúpida... e com toda razão. Afinal, é normal que uma adolescente conte para seu melhor amigo, o diário, sobre o seu primeiro amor e como ele a faz sentir, mas quando esse primeiro amor é um ser das trevas, tipo um lobisomem, bem, alguns fatos poderiam ser deixados para trás. Geralmente conto de fadas não envolvem princesas e lobisomens, mas o lema de Emmeline (e isso estava escrito lá em alguma das páginas daquele maldito diário) era “esqueça o príncipe encantado, eu quero é o lobo mau! Uhu!”
- Emme... – Lily Evans falou com voz doce, mas a loira pulou de susto quando a mão da amiga a tocou. – Vamos refazer todo o percurso desde a aula, depois vamos até o “achados e perdidos”, o diário tinha o seu nome, não?
Ela só fez que sim com a cabeça.
- Eu acho meio improvável que alguém entregue um diário no achados e perdidos... – Marlene McKinnon falou sem pensar e ganhou uma bela cotovelada nas costelas dada pela ruiva. – Arrrgh! Isso doeu!
- Nem todo mundo é bisbilhoteiro e curioso como você, Lene!
- Eu acredito na Lene – Emme falou desanimada, fechando os olhos. – Claro, alguém vai querer ler o diário da lunática da Emmeline Vance...
- Não vamos pensar no pior agora, certo? – Lily falou irritada.
As três cruzaram um corredor e deram de chofre com Severus Snape vindo na direção contrária. Os olhos negros do rapaz foram direto nos verdes de Lily.
- Evans... – disse ele, ignorando completamente a presença das outras duas garotas – eu...
- Vamos, meninas... – Lily pegou cada uma pela mão e continuou o caminho como se nada tivesse acontecido.
Mas Severus virou-se e puxou-a pelo pulso, fazendo-a parar. Marlene sacou sua varinha na mesma hora. Emmeline saltitou para seu lado, nervosa.
- Eu só preciso conversar com você... – ele tinha uma voz sofrida, seu rosto curvou-se numa expressão quase digna de pena. – Eu preciso do seu perdão, não sabe o quanto isso é importante para mim.
- E desde quando você se preocupa com alguém que não seja você mesmo, Snape? – Lily silabou, de um jeito que era atípico dela, ainda tentando tirar se livrar da mão dele.
- Eu me preocupo com você.
- Agradeço sua preocupação, mas estou dispensando. Não preciso que alguém que acha engraçado fazer mal aos outros cuide da minha vida.
- Mas e quanto ao Potter? Ele sim vai ganhar troféu de bom rapaz, não é mesmo?
- Não que seja assunto seu, mas estou descobrindo que James Potter é alguém que você jamais será, Severus, sabe por quê? Porque ele sim, ele sabe o significado dessas três palavras: amizade, lealdade e coragem. Ele é um grande homem, merece meu respeito, já você... perdeu toda a pouca dignidade que te restava quando sua máscara caiu para mim. Não há segunda chance, eu já fui compassiva demais... você não tem mais jeito, é triste dizer isso do meu amigo de infância, mas é a verdade.
Severus separou os lábios como se fosse dizer algo, mas não emitiu som algum. Lily o encarava duramente, até que ele afrouxou a mão e ela pôde se libertar, massageando o pulso, que ficara vermelho no ato. A morena que segurava a varinha a apontou para o Sonserino, mas ele pareceu nem perceber isso.
- Mais uma dessas, Ranhoso, e eu te explodo, nem que isso me custe outra detenção! – alertou ela, com postura de Amazona treinada numa ilha de princesa guerreiras.
- Deixe a Lily em paz, seu nojento! – Emmeline resmungou, enquanto abraçava a amiga.
- Não... – ele assobiou. – Não, você e o Potter...?
Lily fez novamente uma careta de ódio. Sentiu o coração saltitar e seu rosto ficou tão vermelho quanto seus cabelos.
- E se for? – provocou ela. – Formamos um belo casal, não acha? Potter e Evans, casal super fofo, seremos o Rei a Rainha do baile!
- Ah, não, quero a coroa... – Marlene falou baixinho, implicando, mas só porque adorou a cara de idiota que o rapaz fez quando escutou isso. – Vai ser minha e do Sirius!
- Vai ser uma briga feia, eu também quero e Remus vai ficar sexy com aquela coroa! – Emmeline encarou os pés e também murmurou. De repente, as três amigas começaram a rir compulsivamente.
Severus Snape olhou para as três que riam, ofegante, como se tivesse acabado de correr uma maratona. Depois, saiu dali correndo, aturdido e trôpego.
- Não! Não com aquele cretino do Potter! – murmurava ele, com ódio, enquanto seu rosto queimava de ira.
- Eu preciso confessar uma coisa – Emmeline falou quando recomeçaram a andar. – Lily, você foi ótima! Adorei!
- Não, espera aí, você não entendeu o principal, querida Emme... – Marlene disse, fazendo cara de suspense, guardando a varinha por dentro das vestes – Ela acabou de declarar que, sim, ela ama James Potter
Lily enrubesceu. Olhou de relance para as amigas.
- Ahh! – a ruiva deu um tapa no ar, com um risinho bobo estampado nos lábios. – vocês já sabiam disso antes que eu mesma descobrisse, fala sério!
Emmeline e Marlene estancaram no caminho, olhando abismadas uma para a outra. Lily parou para observá-las.
- Que foi? – perguntou erguendo uma das sobrancelhas.
- QUE LINDO, ELA ASSUMIU! – as duas disseram em coro e se lançaram sobre a amiga, com tanta força que as três tombaram no chão, gargalhando como se tivessem sido acertadas por rictusempra.
Depois de ter conferido o endereço, o homem meteu a mão na maçaneta da porta confiante e a abriu decidido, mas eram tantos flashes que explodiam naquela sala cheia de canhões de luzes, que era fácil ficar tonto por ali. Amos Diggory fechou os olhos por um momento, se preparando para que quando os abrisse novamente, já não tivesse aquela surpresa luminosa toda.
- Está linda, linda! – alguém falava, uma voz melosa, parecia masculina, mas não muito “firme”, e mais flashes pipocavam. – Agora, jogue esses cabelos para o lado... assim! Diva!
Amos olhou em volta, era meio difícil identificar rostos por ali, já que somente onde os flashes estouravam é que a luz era mais intensa. O resto do ambiente era fracamente iluminado. Ainda assim, olhou para baixo, conferindo sua vestimenta: tênis com cadarços branco, calça jeans meio desbotada, camisa de malha branca e por cima, uma camisa quadriculada de botões aberta. Estava um perfeito trouxa “descolado”, com seus cabelos na altura do queixo num penteado meio rebelde. Agradeceu mentalmente à sua esposa, Beatriz, que adorava moda trouxa e o ajudou a montar um figurino, o mais trouxa jovem possível para passar por ali.
- Ei, até que enfim! – uma voz feminina fina e doce falou. Ele olhou para o lado e uma mulher loira de cabelos curtos enrolados e muito maquiada o encarava. – Você me deixou esperando muito tempo, bicho! Vamos logo!
- O quê...?! – Amos arregalou os olhos verdes, mas a garota o puxou pela mão, o conduzindo até o lugar dos flashes frenéticos. – Olha, deve haver algum...
- Eu sou a Leah Bredan, maquiadora e figurinista – falou ela, sem respirar, quase.
vou te apresentar ao fotógrafo e vamos ver seu figurino, para a sessão de fotos. A modelo chegou mais cedo e já está fazendo a parte dela, mas homens sempre me atrasam, eu já estou até acostumada, não leva pro pessoal não, bicho, paz e amor, sério mesmo. Jean, o cara chegou! – ela gritou, e saiu saltitando arrastando o homem consigo.
- Uh lah lah! – vibrou o fotógrafo, girando o corpo e dando de chofre com Amos. Deu um suspiro e fez uma cena teatral de calor, se abanando com uma das mãos. – Mas que isso... Disseram que o cara era um pão, mas esse aí é um... eu colocaria você num pedestal e passaria a eternidade te admirando, parece uma estátua esculpida por Michelangelo.
Amos deixou o queixo cair. Leah rolou os olhos, e bufou.
- Desculpa, como é?
- Deixa pra lá, criança – e suspirou novamente. – Bom, eu sou Jean Bismark, o fotógrafo. Leah, deixe esse deus de mármore mais deus que ele já é, porque eu já estou terminando com a Jew aqui e...
- AMOS? – alguém gritou lá no meio das luzes.
- Allana! – ele espremeu os olhos para reconhecer a irmã, que estava no meio do cenário, sendo a modelo para quem os flashes eram direcionados.
Alice e Edgar iam seguindo os passos graciosos de Catherine Mayfair pelos corredores do Castelo, até que, em um determinado momento, esses passos deram no mesmo lugar que os de Frank Longobottom e Benjamin Fenwick.
- Ed, Alicinha... – Frank falou, os olhando desconfiado. – Estávamos preocupados e procurando por vocês e...
- Ah, não se preocupe com eles – Catherine o interrompeu, a voz maliciosa. Alice sentiu o chão lhe faltar.
- Srta Mayfair, Frank é meu namorado! – disse ela, sem pensar.
- Sério? – a loira virou-se, com fingida surpresa, da menina para o rapaz – então, acho que ele deveria saber o que você e o Sr Bones estavam fazendo lá fora...
- Não estávamos fazendo nada demais! – Edgar se meteu, olhando para Frank, que agora tinha as sobrancelhas suspensas de surpresa e curiosidade.
- Lá... fora? – Frank balbuciou, olhando de Alice para o rapaz.
Benjamin observava a cena mudo, como se qualquer citação sua pudesse complicar ou agravar tudo. Mas sentia que algo ali estava bem ruim e nada que ele dissesse mudaria a situação mesmo.
- Eu peguei os fujões de aula num ato de afeto muito interessante lá fora, e já que o Sr é o namorado da Srta aqui – e a loira apontou com o polegar para Alice, sem tirar os olhos de Frank enquanto falava com ele. - Acho que deveria saber que talvez o “passar mal” dela fosse só carência.
- Frank, não acredita nessa mulher! – Alice soltou sem pensar. – Ela está fazendo isso de maldade!
Mas Frank não prestou atenção em nada. Ele estava olhando para os olhos de Catherine, que continuava lhe falando.
- E parece que seu amigo, Sr Bones, não é tão seu amigo assim, não é mesmo?
Edgar deu uma arrancada, empurrando Catherine para um lado, pegando Frank pelos ombros e encarando o amigo.
- Frank, Frank! Você não vai acreditar nesse absurdo, vai?
Frank piscou algumas vezes para colocar em foco Edgar. Depois de algum tempo em silêncio, num ato muito rápido, ele deferiu um soco no rosto do rapaz, o fazendo cambalear. Benjamin e Alice correram para apartar a briga que começaria, Frank já estava sacando sua varinha.
- POR FAVOR, POR TUDO QUE HÁ DE MAIS SAGRADO FRANK, PARA COM ISSO! – Alice começou a chorar.
- Traidor... – ele balbuciou, apontando a varinha para Edgar, que era assistido pelo outro lufano, que fazia um feitiço para estancar o sangue que escorria do seu supercílio aberto pela agressão.
- Não estávamos fazendo nada Frank! Foi só que eu vi a Rachel e...
- Como você pôde fazer isso comigo, Alice? – Frank e interrompeu, olhando-a com desprezo. Seus olhos estavam tão vazios. Não parecia o mesmo Frank de sempre. O seu Frank.
- Eu não fiz nada! Frank, eu te amo, eu te amo! Não acredita nessa mulher! Ela é louca!
- Acho que ofender verbalmente professores também tira pontos de suas casas, menina. Cuidado, a Grifinória vai ficar prejudicada por sua culpa... – alertou Catherine.
- Poderia eu saber o motivo da balbúrdia? – Albus Dumbledore apareceu no local, como se atraído pela briga. Por sorte, parece ter sido o único, já que nenhum outro aluno chegara até ali.
- Já saberá, Albus – Catherine falou, com seu rosto de anjo e sua falsa meiguice. – Srta Prewett e Sr Bones, por favor. Sigam-me. Os demais, Salão Comunal. Estou disposta a esquecer o... pequeno incidente, Sr Longbottom, porque eu imagino como se sente.
Frank baixou os olhos e não olhou novamente para Alice, que chorava compulsivamente. Benjamin se aproximou dela e deu um abraço e um beijo em seu rosto molhado.
- Ele só está nervoso, Alicinha, daqui a pouco eu converso com ele e tudo se ajeita, você vai ver! – disse ele, piscando e dando um risinho nervoso. – Não chora, minha querida, ele te ama.
- Obrigada, Ben, meu coração – disse ela, com a voz abafada.
- Valeu, Ben – Edgar disse, colocando a mão onde o amigo tinha feito um ótimo trabalho com seu feitiço curador. – Você é meu amigo de fé, sabe disso.
- E você é meu irmão camarada, Ed, estamos aí pra isso mesmo – E dizendo isso, girou o corpo e saiu correndo pelo corredor, antes que fosse chamado a atenção por ainda estar por ali.
- Bem, parece que podemos então levar nosso caso adiante, certo? – disse Catherine com tom zombeteiro.
Edgar e Alice a miraram com ódio.
Dumbledore a fitou com severidade.
- Cathy, espero que seja algo realmente importante.
- Importantíssimo, Dumbledore. Você logo saberá. E vocês também, crianças – e olhou para eles.
Ela tomou a iniciativa de entrar pelo acesso à sala do Diretor, sendo seguida pelo próprio e, logo depois, pelos dois estudantes, que estavam começando a achar aquela situação toda muito estranha. Estranha demais.
Peter erguia periodicamente os olhos do seu exemplar do livro “Alquimia e seus mistérios mais misteriosos” que ele fingia ler, para acompanhar quem entrava ou deixava de entrar na biblioteca. Não havia muita gente por ali, o que o deixava, por um lado, confortável, porque menos pessoas para achar seu ato meio estranho, mas por outro lado, mais nervoso, porque qualquer movimento estranho chamaria mais a atenção das pessoas.
Logo, viu alguém entrando como um furacão no recinto. A pessoa com as vestes da Sonserina parou um pouco, como se tivesse vindo correndo e precisasse tomar ar. Recostou-se na parede e foi observado por duas garotas da Lufa-Lufa, que olharam para ele com ar de curiosidade. Ele estava tão desligado que não retribuiu com um daqueles seus olhares de “estão olhando o quê?” simpáticos, que eram sua marca registrada.
Peter então baixou os olhos novamente para seu livro e conferiu o acervo ao seu lado. Tirou da pilha de livros o menor de todos e deixou por cima dos demais, arrumado estrategicamente. Olhou novamente para o garoto na porta e tremeu quando viu que os olhos negros já o miravam.
O grifinório fechou lentamente seu exemplar, organizando os livros que levaria consigo e deixando o resto do acervo encima da mesa. Apertou-os contra si, como se pudesse fazer deles um escudo e deixou a mesa, caminhando para a saída da biblioteca.
Passou por Severus Snape ao sair e quase não escutou sua voz muito baixa e debochada.
- E não é que você serviu para algo?
Peter saiu mais apressado, enquanto Severus se permitiu um sorrisinho torto, que nem parecia mesmo um sorriso. Esperou um pouco mais e caminhou em passos muito lentos, quase desinteressados, até à mesa que o garoto abandonara.
Passou a mão, como quem nada queria e só estivesse conferindo os interesses literários do outro, nos exemplares ali, achando o que queria: um pequeno livro de capa de veludo em tom roxo e bordas de metal prateado.
O diário de Emmeline Vance.
- Ah, o amor é lindo, a lunática e o Lobisomem – ele murmurou para si mesmo, pegando o livro discretamente e escondendo-o entre as vestes.
Sirius Black se jogou entre os amigos que estavam deitados displicentemente nas almofadas no Salão Comunal, dando um suspiro longo, cansado.
- Diarreia canina? – James implicou.
- Cara, não começa, vocês não vão acreditar em tudo o que eu vi e ouvi lá...
- Tudo bem, mas depois você conta, estamos mais interessados em saber agora quem é o professor de Alquimia de Rabicho...
James apontou para o Mapa do Maroto e Sirius ajeitou uma almofada de modo que pudesse fazer o menor esforço possível para ler os pontos que se moviam ali.
- Na biblioteca, ele esteve o tempo todo, sim, mas sozinho – Remus anunciou, olhando para os amigos.
- Será que o Rabicho tem um amigo imaginário, gente? – James supôs, e parecia estar falando sério. – Isso é sério, eu li isso num daqueles livros de psicologia trouxa lá.
- Olha...! – Remus exclamou em tom contido. – Snape!
- Não...?! – Sirius ergueu um pouco a cabeça. – Acredito mais na teoria do amigo invisível do James.
- Não! O Snape chegou na biblioteca e o Peter está saindo, olhem! – Remus fez com que os dois acompanhassem os pontinhos.
Depois, os três, com as cabeças quase coladas, viram o pontinho “Severus Snape” seguindo para onde antes o pontinho “Peter Pettigrew” estava paradinho.
Os três se entreolharam desconfiados.
- Sou só eu ou alguém aqui também está achando essa cena muito estranha? – Sirius falou no meio dos outros dois amigos, que concordaram com a cabeça e as testas enrugadas.
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Queria muito a continuação D:
2011-11-04