Segredos
Rachel Clearwater olhou ao seu redor, procurando por Sirius Black.
Não esperava que alguém a tivesse seguido, ainda mais aquele rapaz. Nunca esperaria que logo ele a pegasse ali e atrapalhasse seus planos. Mas parecia que, assim como havia chegado, instantaneamente, também havia sumido. Melhor assim.
A garota fechou os olhos e tomou um longo fôlego. Sentiu um tremor percorrer seu corpo, já que não estava mais agasalhada. Estava se aproximando da margem do Lago Negro, o cabelo lhe chicoteou o rosto devido a um vento quase inesperado e forte que soprou na hora em que saiu do abrigo no qual se mantinha em segredo nos últimos instantes. Juntava toda a dor que acumulara nos últimos dias para seguir em frente, mas o que a fazia chegar até ali era algo muito maior... algo que ela nunca acreditara que pudesse de fato acontecer. Lendas que nunca achara que fossem reais.
Fechou os olhos e abraçou a si mesma, descendo sobre seus joelhos, às margens do lago. Duas lágrimas silenciosas rolaram pelas bochechas pálidas.
- Eu nunca vou me perdoar por isso, Edward – ela sussurrou. – Eu devia ter acreditado desde o começo... eu sou uma maldita!
O cachorro negro escondido estrategicamente atrás de uns arbustos mais próximos dali espiava os movimentos da menina, esperando que ela fizesse o pior, mas sem alarmá-la, talvez na esperança que ela, num surto de consciência, caísse em si e voltasse atrás por sua própria conta.
Alice Prewett se esforçava para acompanhar as passadas ligeiras de Edgar Bones, que por sua vez, parecia mais carregar consigo uma boneca de pano, tamanha a leveza daquela que puxava pelo braço Castelo a fora.
- Por favor, Rachel – ele murmurava consigo mesmo. – Por favor, mantenha-se viva!
Os dois cortaram rapidamente os jardins e partiram sem maiores demoras em direção ao Lago Negro.
Catherine Mayfair parecia ter mudado muito rapidamente de humor depois da interrupção de Edgar Bones e Alice Prewett em seu discurso sobre sua vida nos Estados Unidos.
A mulher loira perdera alguns instantes olhando para a porta da sala depois que ambos saíram.
- Como já foram apresentados à nova professora – Dumbledore aproveitou a interrupção para se colocar novamente para os alunos, dando um passo rumo à porta – Também eu os deixarei para que ela prossiga se apresentando. Espero que a recebam muito bem, alunos. Até breve.
O Diretor então fez uma solene reverência aos alunos e dirigiu a Catherine uma olhadela significativa, como se estivesse tentando comunicar-se com ela, dizendo-a “pegue leve” ou “calma lá!”. Todos os alunos observavam – praticamente sem entender nada – a mais essa cena, somada à anterior, do modo estranho como os dois alunos deixavam a sala de aula. Primeiro porque sempre quem acompanhava Alice nas horas complicadas era seu sempre leal e fiel namorado Frank Longbottom e, segundo, porque não era muito comum um professor ficar irritado ao liberar um aluno por esse estar sentindo-se mal, muito pelo contrário, seu papel deveria ser até de acompanhá-lo até à Ala Hospitalar, mas tudo bem, a Srta Mayfair era nova ali, poderiam dar esse crédito à ela...
Se não fosse pelo pequeno comentário tecido pela loira após sua “volta” à sala de aula, depois que Dumbledore deixara a mesma.
- Eu só gostaria de aproveitar o ensejo – disse ela, girando nos calcanhares e fazendo o belo vestido bailar graciosamente – para dizer que, embora aparente pouca idade e inexperiência para alguns, não tolerarei desafios de quem quer que seja e não deixarei que nenhum aluno coloque minha autoridade de professora em xeque. Espero que esse pequeno lembrete fique muito nítido na mente de vocês, pois eu tenho muita facilidade em descobrir mentiras... – e ela girou os olhos pelos alunos de forma quase ameaçadora – e não gostaria de começar uma relação com vocês baseada na desconfiança. Eu me fiz entender?
Alguns alunos balançaram a cabeça como sinal de concordância. James Potter, no entanto, apenas olhou para Remus Lupin mais uma vez. Fato esse que chamou a atenção da tão atenta professora.
- O Sr tem alguma dúvida quanto ao exposto, Sr...? – ela apontou para o rapaz de óculos.
James apontou para si mesmo, enrugando a testa. Todos os olhos viraram-se para ele. Lily Evans corou ao mirá-lo e sentiu vontade de se esconder debaixo da carteira para não presenciar a próxima cena.
- Ahh... – ele passou a mão pelos cabelos dando um risinho – Potter, sou James Potter, Srta Mayfair.
- Sr Potter, alguma dúvida quanto ao que eu disse? – ela insistiu, com um sorriso quase debochado nos lábios.
- Não, nenhuma – disse ele, mas depois ele resolveu voltar atrás – na verdade... eu tenho, sim, uma... que eu acho que deve ser a mesma dúvida de muita gente aqui... mas não sei se a Srta vai querer responder à minha pergunta, não...
Catherine andou alguns passos na direção de James, para observá-lo melhor, mas estranhou quando o rapaz baixou os olhos, evitando encará-la. Os demais alunos estavam curiosíssimos para saber a pergunta que seria feita. Provavelmente aquela seria a pergunta do dia. Lily se ajeitou na cadeira e colocou uma mecha do cabelo ruivo para trás da orelha, tentando inutilmente parecer indiferente ao prestar atenção nos dois.
- Sim, pode fazer sua pergunta. Decido se a responderei ou não – ela o disse, depois de alguns instantes, sem fazer com que ele a olhasse, entretanto.
Mantendo seus olhos na mesa, James então perguntou num fôlego só:
- A Srta estava nos dizendo que ensina a jovens nos Estados Unidos sobre Criaturas das Trevas há alguns anos e tem experiência em campo com Paranormalidade e Manifestações de Espíritos, mas, se me permite, parece que acabou a Escola ontem... e acabou de dizer de si mesma que aparenta ser jovem e inexperiente... Permita-me então, quantos anos a Srta tem?
Alguns alunos prenderam o riso, outros assobiaram baixinho. Outros se entreolharam assombrados e os demais apenas continuaram prestando atenção unicamente porque era realmente a pergunta que eles queriam tê-la feito desde o início da aula. Já Remus Lupin sentiu vontade de socar o amigo.
A mulher loira, por sua vez, arfou e demorou a responder. Quando o fez, riu quase dissimuladamente, batendo as mãos numa palma divertida.
- Ah, eu fico lisonjeada que aparente ser assim tão jovem! – ela passou teatralmente uma das mãos pelo rosto. – Mas devo dizer que aparências enganam, caro Potter. Contudo, não é elegante perguntar a uma mulher quantos anos ela tem, esteja ela em que idade estiver, mocinho...
James deu um riso ao ouvir isso e, assim, outros alunos o acompanharam. Remus pendeu a cabeça.
- Mas posso lhe assegurar, querido – continuou ela, voltando à frente da sala – tenho idade e experiência suficientes para ensiná-los perfeitamente bem. Fique tranquilo.
O rapaz meneou a cabeça e ergueu a mão, como se concordasse com ela.
- Aham, estou muito tranquilo... – debochou ele e virou-se para trás, lançando um beijinho para Remus, que já o fitava com ar de repreensão.
Benjamin Fenwick virou-se discretamente para trás, aproveitando a distração da turma, enquanto todos prestavam atenção em James Potter e Catherine Mayfair, deixando um pedaço de pergaminho na frente de Frank Longbottom, que parecia não dividir com os demais o mesmo espaço terrestre.
Qual é? Vai ficar com essa amarrada o dia inteiro?
Frank fechou os dedos contra o punho e se segurou para não socar a mesa – ou a cara do amigo. Mantendo a calma – e sem querer seguindo a orientação imposta por Edgar – suspirou e pegou sua pena para respondê-lo.
Você viu o Edgar? Qual é a dele?
Passou o papel para o garoto lufano da frente, com mais raiva que o normal. Era tão estranho ver Frank irritado que chegava a ser engraçado, porém assustador. Benjamin pegou o papel, mas riu assim que o leu, o que fez o outro sentir mais raiva. Fenwick tampou a boca com a mão e conferiu para ver se alguém o tinha notado, contudo a turma ainda estava absorta na conversa de Potter e Mayfair. Assim, escreveu rapidamente e passou o pergaminho novamente para trás.
Que bonitinho! Olha ele com ciúmes!
Fala sério, Alicinha que pediu para ele ir com ela, para de ser idiota, Frank.
E tem mais, Ed gosta de outra.
Dessa vez, Frank demorou muito para responder o pergaminho. Demorou tanto que o assunto de James e da professora já tinha até acabado, quando o lufano de repente sentiu um impacto em sua nuca, seguido de algo caindo em seus pés. Olhou para trás e viu um Frank com cara de vingativo e um pergaminho amassado próximo ao seu pé direito. Benjamin fez uma careta, massageando a nuca, mas notou que Longbottom ainda fazia um gesto, como se quisesse que pegasse a bolinha de papel para ler. Assim ele o fez: abaixou-se discretamente, desamassou a compacta bolinha comprimida pelo ódio de Frank e leu as últimas palavras escritas por ele escritas.
Vai pro inferno!
Benjamin só escutou um risinho de vitória vindo da carteira de trás quando amassou novamente o pergaminho, aguardando uma oportunidade para vingar-se da bolada recebida.
Edgar e Alice entraram correndo pela área mais arborizada que dava acesso às margens do Lago Negro.
A silhueta de uma garota magra podia ser vista de longe, ela estava a princípio abaixada em seus joelhos, mas erguia-se lentamente. O rapaz largou a pequena garota que puxava consigo e antecipou-se, tomando uma carreira mais rápida, ganhando mais velocidade. De repente, Rachel dava dois passos para frente e a voz de Edgar retumbou num grito angustiado.
- RACHEL, NÃO!
Os cabelos escuros de Rachel desenharam um semicírculo no ar, quando seu corpo se desequilibrou no susto que aquele grito a deu, fazendo-a cair na água escura do lago.
- AH, NÃO! NÃO!
Edgar e Alice correram para tentar puxá-la de volta à terra, desesperados, mas quase imediatamente, como se tivesse sido puxada por alguma força invisível, nenhum vestígio de que a garota ali tivesse caído existia, exceto por uma leve ondulação na superfície negra tocada levemente pelo dourado da claridade do dia.
- Héstia?
A menina deu um leve pulo na cadeira quando ouviu seu nome com um sussurro. Ela olhou para o rapaz ao seu lado. Ele ergueu a mão como se pedisse desculpas.
- Desculpa, te assustei?
- Ai, eu estava... – Héstia passou a mão pelo rosto, sem graça. Onde estava ela, se não na sala de aula de História de Magia? – Desculpa, Ryan, fala?
Ryan Entwhistle ergueu a sobrancelha, como se não a tivesse entendido. Ele tinha um pergaminho, seu livro, pena e tinteiro em mãos. A menina reparou que todos os alunos se moviam na sala. Algo estava acontecendo e ela, de fato, não estava por ali.
- OK, eu desisto – rendeu-se ela, levantando as mãos na frente do corpo. – Eu devo ter dormido. O que eu perdi?
- O professor mandou fazermos em duplas um resumo sobre o último capítulo revisado – o rapaz explicou, sentando-se ao lado de Héstia. Ela gemeu.
- Ah... eu vou reprovar em História da Magia, eu sou uma vergonha para o clã Jones... – resmungou ela, jogando a cabeça na mesa. Ryan riu.
- Sem erros, hoje é seu dia de sorte, eu faço o resumo, nosso segredinho... shh! – e ele piscou com seus olhos pretos para ela.
- Ryan, eu já disse o quanto eu te amo? – Héstia falou para a madeira que encarava.
- Aham, eu sei – ele riu mais ainda. – O que houve com Rachel? Tão raro ela faltar aula? – perguntou em seguida, quase indiferente, já escrevendo no pergaminho.
Ouvir o nome da amiga fez o coração de Héstia doer. Ela ergueu a cabeça e olhou para o rapaz.
- Ela está meio... indisposta.
- Puxa, que coisa essa morte do Prewett, não é? – Ryan estalou a língua.
- Não sei... se é bem por isso não... – a garota falou, sem nem ao menos saber por que falava isso.
- Você já tem companhia para o baile, Héstia? – ele perguntou, com um pouco de esperança na voz.
- Ahh... – Héstia deixou o queixo cair. Baile? Que baile? Quem ainda estava pensando em baile numa altura dessas? – Tenho sim. Eu acho, se tiver... baile.
- Que pena – ele estalou novamente a língua. – A Rachel já tem companhia?
- Ryan, não me leva a mal não, mas... podemos falar de História da Magia agora?
- Ah, como queira... – Ryan a olhou confuso. Héstia suspirou e afundou novamente a cabeça na mesa.
Quando os garotos seriam mais sensíveis, hein?
Quando Alice se jogou na frente de Edgar, ele não entendeu nada. A pequena mão dela tampava sua boca e ela parecia ter acabado de tirá-la de um montinho de neve. Os olhos verdes da menina estavam tão arregalados que pareciam prestes a pularem das órbitas.
- Não grita...! – ela sussurrou, em pânico. – Se você gritar, Rachel vai se assustar e cair no lago!
Edgar apenas fez que sim com a cabeça, mas a mão de Alice não liberou sua boca. Ela olhava em direção a margem. Os dois conseguiam ver Rachel lá, exatamente como Alice a tinha visto milésimos de segundos antes: abaixada em seus joelhos, como se meditasse.
- Vamos nos aproximar – Alice continuou, mas sem destampar a boca do amigo – ela vai escutar os passos e não vai pular enquanto souber que tem gente por aqui.
Novamente, Bones assentiu com a cabeça. Finalmente a garota o soltou e saltitou na frente pelo caminho para chegar à Rachel, fazendo o máximo de barulho que seu pequeno corpo a permitia. O garoto a imitou, pisando firme nas folhas, estalando os galhos que estavam pelo chão também.
O cachorro negro escondido pelos arbustos arfou sozinho. Como era possível...? Sempre a Prewett, já estava ficando chato aquilo. Tratou de abaixar-se nas patas e apenas cuidou para que não os flagrassem ali.
Rachel Clearwater escutou barulho de passos. Já tinha dado um passo a frente, em direção à margem. Sentia o frio mais gelado vindo das águas do lago e aquela escuridão da água a dava uma sensação de morte ainda mais intensa. Nada que realmente a assustasse perto do que a trazia ali. Mas não estava disposta a pular na presença de testemunhas. Não queria que ninguém a tentasse salvar, não queria que alguém tentasse “morrer” por ela. Vacilou então e deu dois passos para trás, virando a cabeça para ver quem se aproximava. Viu Alice Prewett surgindo lentamente por trás de uma árvore. Não viu Edgar a princípio.
As duas meninas se olharam por um momento sem dizer nada uma a outra. Alice deu um sorriso meio amargurando e depois encarou seus pés.
- Rachel... – ela sussurrou – o que... o que você...?
A voz de Alice falhou. Ela mordeu o lábio inferior e não conseguiu segurar o choro. Rachel fechou os olhos e virou os olhos para o lago, sem coragem de encará-la. Edgar foi para o lado de Alice, sem falar nada. Abraçou a amiga pela cintura, amparando-a. Rachel escondeu o rosto nas mãos.
- Eu não vou conseguir viver com essa culpa, Alice! – Rachel resmungou depois de algum tempo.
Mas não houve resposta por parte de Alice. Quem respondeu foi Edgar. E isso fez com que Rachel desse um pulo de susto.
- Culpa? Que culpa, Rachel? Você não tem culpa de nada, por Merlin! Ninguém tem culpa do que houve!
Os olhos de Edgar e de Rachel finalmente se encontraram. Os dele exigiam uma explicação. Como culpa? Ela fora praticamente trocada por outra pela namorado que fatalmente foi morto por Comensais da Morte, onde ela tem culpa nessa história?
Os dela, estavam desesperados. Como explicar para ele toda essa... maldição?
Alice parecia tão estarrecida quanto Edgar. Culpa? Isso também era estranho. Ela e Frank tinham guardado um segredo de Edward, mas pelo visto, Rachel também parecia ter um segredo guardado. Seria aquele o dia de segredos revelados?
Um jovem sorridente atravessava o corredor extenso do Nível Quatro do Ministério da Magia. Trazia consigo uma pasta e acenava para todos pelos quais passava, simpaticamente.
Parou em frente a uma porta de mogno com uma placa dourada, onde se lia “Damon Scamander – Chefia da Unidade de Captura de Lobisomens, Departamento Para Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas”. Deu três batidinhas e abriu a porta, olhando para dentro da sala o homem atrás de sua mesa de trabalho que o mirava de volta.
- Sr Scamander, eu o atrapalho? – perguntou o jovem simpático, o tom de sua voz era animado e cordial.
- Nenhum pouco, meu rapaz! – o homem acenou para que ele entrasse, apontando imediatamente a cadeira vazia a sua frente. – Ah, sim, em que posso ajudá-lo, meu caro?
O rapaz sentou-se, colocando gentilmente a pasta que trazia consigo sobre a mesa. Levantou os olhos verdes e jogou para trás os cabelos castanhos antes de começar a falar sobre o que o trazia até ali.
- Sr Scamander, eu estava revisando, conforme o Sr me pediu, os registros de Lobisomens. Porém... – o rapaz abriu a pasta que trouxera, girando-a para mostrar algo ao outro – eu me deparei com um problema recente aqui...
- E diz respeito a que?
- Ao caso Prewett – respondeu imediatamente.
Damon Scamander pigarreou. Sua face empalideceu notavelmente e ele ficou ligeiramente sem jeito. O jovem notou isso, mas preferiu ignorar e prosseguir.
- Então, Sr Scamander... Segundo relatado, o Lobisomem Fenrir Greyback, que é nosso caçado número 1, foi participante dessa morte, mas... não há qualquer citação sobre isso conosco! – o jovem balançou a cabeça, mas sem deixar de sorrir. – Quer dizer, os Aurores não deveriam ter chamado alguém da Unidade de Captura de Lobisomens para assumir essa parte do trabalho? Nós precisamos ter acesso a essas informações e...
- Diggory – Damon o cortou quase grosseiramente – Eu quero que você pare imediatamente de lidar com esse caso em específico.
Amos Diggory olhou para o seu chefe com ar de incompreensão. Havia um ano que estava ali na Unidade de Captura de Lobisomens, área do Ministério da Magia na qual sempre quis trabalhar, estava se esforçando ao máximo para ser um funcionário exemplar, e assim o era: era um dos mais jovens e mais promissores do setor, tanto que era praticamente o “protegido” de Damon Scamander, o atual chefe da sessão. Mas aquele tipo de comportamento era muito estranho vindo de seu superior, ainda mais se tratando de Fenrir Greyback, a prioridade do setor, o mais temível e caçado Lobisomem. Era do conhecimento dos caçadores de lobisomens que seu desejo era criar um exército de lobisomens, em número suficiente para superar o de bruxos e assim poder começar uma guerra entre as espécies, provavelmente.
- Desculpa, eu não entendi – Amos disse, meio timidamente.
- Quero que pare de se importar com o Greyback – reafirmou Scamander. – Repasse apenas os outros nomes, trace um gráfico dos mais importantes e traga para mim até amanhã.
- Mas...? Sr Scamander, o Sr não ouviu tudo e...
- Diggory, é só isso que eu quero que faça – e Damon apontou a porta, friamente. – Pode ir agora, eu estou meio ocupado no momento.
Amos não se mexeu. Não conseguia aceitar aquele tipo de ordem. Damon, por sua vez, o olhou duramente. Depois, deixou os ombros caírem, como se estivesse desistindo. Gostava muito daquele rapaz, era tão competente... mas ordens superiores eram ordens superiores.
- Diggory, ouça – Scamander falou num tom mais amigável. – Quando eu comecei minha carreira eu também queria mudar o mundo todo, mas com o tempo, eu percebi que há coisas que simplesmente não podem ser mudadas. Você vai perceber isso logo. Eu te peço, por favor, ignore esse caso, eu já devia ter passado isso a você, foi erro meu, me desculpe... O caso Prewett deve ser desconsiderado da tarefa que lhe incumbi.
Amos tentou contestar, mas o chefe apenas ergueu a mão e ele não ousou o interromper.
- Eu soube que sua esposa está grávida, é verdade? – Damon o perguntou, mudando completamente o assunto.
- Sim, está, ela descobriu há umas duas semanas – Diggory comentou quase num ar sonhador, em despeito a sua expressão de confusão anterior.
- Então, meu caro rapaz, pense no seu filho ou filha. Escute o que eu estou te dizendo, não faça nada que possa prejudicar seu trabalho agora, que você será pai de família. Ouça meu conselho. Esqueça esse caso.
O rapaz ficou inexpressível. Não conseguia entender, nada daquilo fazia sentido. Seu trabalho não era perigoso, mas considerando o tempo atual de guerra, comprar pão pela manhã era uma tarefa de altíssimo risco. Do que Damon Scamander estava falando? O que havia ali naqueles registros de tão perigoso, de tão misterioso que poderia custar o emprego de Amos Diggory?
- Sr Scamander, tudo bem, eu vou deixar o caso mas... só mais uma pergunta... a família desse rapaz... eles também não têm nenhum retorno sobre a morte? Digo, eles não vão ter nenhuma... justiça... pela morte do filho deles?
Damon Scamander deu um longo suspiro, encarando as mãos que estavam apoiadas sobre a mesa. Ele não respondeu. Amos então entendeu que a resposta era não, eles não vão ter nenhuma justiça.
- Tudo bem então – ele disse, fechando a pasta e levantando-se. – Eu vou guardar o documento novamente no lugar e revisar os demais registros.
O chefe meneou a cabeça, satisfeito com o trabalho do seu funcionário padrão. Diggory era um ótimo subordinado, nunca contestava sua autoridade, isso era perfeito. Ele observou o rapaz deixar sua sala sorridente, da mesma maneira como havia entrado.
Porém, ao fechar a porta atrás de si, Amos fechou a cara. Olhou para a pasta em sua mão e suspirou.
- Pense em seu filho ou filha...? – murmurou para si. – Hump, eles estão pensando no Edward, o garoto que morreu? Estão?
Ele olhou ao seu redor quando retomou seu caminho para sua sala, onde os arquivos nos quais trabalhara durante todo o dia estavam organizadamente distribuídos em ordem alfabética encima da mesa. Cuidou para que ninguém o visse ali, quando fechou a porta e, colocando a pasta que carregava sobre a mesa, pegou sua varinha de dentro de sua veste e apontando para aquele objeto, murmurou:
- Protean!
Logo, Amos Diggory tinha em mãos uma cópia idêntica de todo o histórico de Fenrir Greyback para si mesmo. Não desrespeitaria a ordem do seu superior, realmente, guardaria exatamente onde fora mandado o arquivo original.
Mas levaria a cópia consigo e pesquisaria por sua conta e risco os furos daquela história, que estava muito mal contada. Mas não faria isso sozinho. Não mesmo. Já tinha em mente quem poderia – e com certeza iria – ajudá-lo.
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