Significado dos Sonhos



Finalmente, anoiteceu. Finalmente todos os alunos conseguiram voltar aos seus Salões Comunais e dormirem. Quer dizer, nem todos.
            No Salão Comunal da Grifinória, Alice e Frank estavam abraçados, juntos em uma das poltronas. Alguns amigos tinham falado com eles, mas estavam ambos tão apáticos que ninguém forçou uma conversa mais longa. Em um certo momento, Alice deu um suspiro longo e encarou o namorado. Frank passou a mão delicadamente por seus cabelos curtos.
            - Eu estou pensando em Edgar e Rachel – disse ela. 
            - Eu também estava pensando sobre isso.
            - Eles precisam saber, Frank. Edward pediu segredo, mas agora... nada mais importa. E eles estão sofrendo.
            Frank meneou a cabeça lentamente em concordância.
            - Viu como ele a protegeu? Ficou agarrado com ela o tempo todo – Alice comentou, entrelaçando seus dedos nos dele.
            - Eu percebi.
            - Também não aguento mais tratar Rachel com indiferença, costumávamos ser amigas.
            - Alice, vamos conversar com eles amanhã, mas agora, você precisa dormir.
            - Oh, você vai ficar acordado?
            - Não, mas vou esperar você dormir para ter certeza que estará bem, depois eu fico bem também.
            Alice se ajeitou na poltrona e deu um beijo leve nos lábios dele. Depois, afundou novamente a cabeça em seu peito.
            - Eu não sei o que seria de mim sem você, Frank. Acho que eu enlouqueceria.
            Frank beijou os cabelos de Alice, mas não a respondeu. Tinha planos para quando terminasse a Escola. Estava decidido: ia se unir a Ordem e isso, na pior das hipóteses, significaria perder Alice. Seu coração estava apertado. Não poderia perdê-la, mas não poderia fingir que estava tudo bem. Ela não era a favor da escolha do irmão, exatamente a mesma que ele fazia. Guardou isso para si. Alice dormiu rapidamente em seu colo, mas ele permaneceu acordado durante toda a noite. Era impossível dormir com tantas dúvidas o inquietando.


Lily acordou de repente. Tivera um sonho ruim. Tateou seu relógio por cima da mesinha de cabeceira e viu que era 3 horas da manhã. Enrugou a testa e olhou para as lados. Todas as meninas estavam dormindo tranqüilamente, exceto Alice, sua cama estava vazia.
            Seu coração estava acelerado e uma angústia a consumia internamente. Como parecia impossível voltar a dormir, resolveu colocar seus chinelinhos acolchoados e descer até o Salão Comunal. Poderia escrever em seu diário ou ler alguma coisa até seus ânimos acalmarem novamente.


James abriu os olhos com esforço. Sua testa suava e ele precisou piscar várias vezes – e depois colocar seus óculos – para se certificar que estava a salvo no dormitório dos meninos. Respirou fundo quando olhou para Sirius na cama mais próxima com sua cara amassada contra o travesseiro. Tirou os óculos e esfregou o rosto com força. O sonho que teve o fez sentir-se amedrontado. Nunca temia nada, mas aquele sonho... fora muito real. Real o bastante para deixá-lo aterrorizado.
            Chegou a deitar-se novamente, mas depois de ouvir alguns roncos e socar seu travesseiro, desistiu. Pegou uma revista sobre Quadribol, a qual a capa era estampada pelo time presunçoso do Falmouth Falcons, e desceu para o Salão Comunal, incapaz de ficar por ali. Ao passar pela cama de Frank Longbottom, percebeu que estava vazia, mas deu de ombros e saiu do dormitório.


Frank havia cochilado, sua cabeça estava displicente e incomodamente caída no encosto da poltrona, de onde ele não ousou sair depois que Alice pegara no sono, com medo de acordá-la. Mas quando a namorada começou a se mexer, ele acordou, olhando-a com cautela.
            Alice curvou seu rosto numa espécie de terror, seus músculos se contraíram de forma estranha e quando ela abriu sua boca, deixou escapar um grito agudo, como se sentisse uma dor muito grande.
            - ALICE! – Frank a sacudiu para acordá-la. Parecia estar no meio de um pesadelo. – Acorda! É só um pesadelo!
            Os olhos da menina estavam cheios de lágrimas quando ela finalmente acordou. Agarrou-se ao rapaz e chorou.
            - Calma, meu amor, foi só um sonho ruim... – ele tentava acalmá-la, mas ela soluçava.
            - O que houve? – James chegou correndo onde o casal estava.
            Logo atrás dele, Lily amarrava os cabelos com uma fita, os olhando atentamente.
            - Que há com Alice? – perguntou ela, olhando para a cena da pequena garota grudada ao namorado.
            - Ela teve um pesadelo – Frank respondeu.
            - Também? – James ergueu uma sobrancelha.
            - Ué? – Lily olhou para ele confusa. – Eu também acordei depois de um sonho ruim.
            Alice ergueu a cabeça para encará-los. Estava mais contida agora e secou o rosto.
            - Com o que vocês sonharam? – ela os perguntou.
            James e Lily se entreolharam, como se decidindo quem começaria. Ele fez um breve aceno para a menina ruiva.
            - Primeiro as damas.
            Lily assentiu com a cabeça. Sentou-se na beirada de uma cadeira e voltou a olhar para Alice.
            - Eu sonhei uma coisa muito estranha. Sonhei que eu corria, eu sabia que estava sendo perseguida, mas não via quem me perseguia. Eu precisava chegar a algum lugar e quando cheguei, havia um clarão, uma luz intensa. Minha meta era proteger aquela luz. Então eu me virei, pronta para atacar quem fosse, mas depois... – Lily olhou para todos numa pausa oratória. – Sei lá, ouvi um grito e tudo ficou preto. Aí eu acordei.
            James estava estranhamente pensativo quando ela terminou.
            - Que coisa estranha, eu sonhei quase a mesma coisa – disse ele, passando a mão pelos cabelos, como se tentasse os pentear. – Eu precisava defender algo. Só que no meu sonho, eu não corria para defender nada, eu ficava e a luz ia se afastando, até ficar tudo preto e angustiante. Eu acordei pronto para gritar.
            Os dois se olharam demoradamente. Todos pareciam incapazes de falar algo, mas Frank lembrou-se de perguntar com o que a namorada tinha sonhado. Alice demorou a responder, como se considerasse se deveria ou não contar seu sonho.
            - Eu sonhei que via meu irmão ser morto – disse ela, por fim.
            Frank franziu o cenho. Ele conhecia Alice o suficiente para saber quando ela mentia. Ou melhor, ela não sabia mentir. Não para ele. Algo o dizia que seu sonho dava um significado pior ainda aos sonhos dos outros dois.
            - Nossa, deve ter sido pavoroso, porque você sabe que isso aconteceu mesmo – Lily murmurou, afundando-se na cadeira.
            A outra garota concordou com a cabeça e levantou-se de onde estava.
            - Vai ver eu consiga dormir melhor na cama, embora os braços de Frank sejam realmente confortáveis – ela deu a mão para o namorado, que levantou-se imediatamente também. – Eu vou subir, Frank também precisa dormir, não é, meu heroi?
            - Eu vi sua cama vazia e estranhei – James comentou.
            - Alice dormiu no meu colo, eu não quis acordá-la.
            - Meu namorado não é perfeito? – Alice o beijou e se despediu com um aceno dos outros dois.
            James e Lily ficaram sentados um à frente do outro. Trocaram um sorrisinho tímido, ele abriu sua revista e ela, seu livro. Porém, parecia que nenhum dos dois estava muito concentrado em sua leitura. Vez ou outra, erguiam os olhos para verificar o que o outro estava fazendo. Num dado momento, Lily fechou seu livro decidida e se inclinou na cadeira, se apoiando com os cotovelos nos joelhos.
            - James... – ela sussurrou para chamar a atenção do menino.
            O jeito como ela dissera seu nome o fez estremecer. Ele até pensou em simular, manter seu plano de durão, mas tratou de deixar de ser idiota e, assim como ela, fechou seu passatempo de fachada e a olhou atentamente.
            - Sim?
            Lily mordeu o lábio antes de prosseguir. James engoliu seco, ela ficava muito sensual quando fazia aquilo. Lily era simplesmente linda, até quando acordava. Ele se pegou pensando que queria acordar ao lado dela todos os dias, pelo resto de sua vida.
            - Eu preciso te pedir desculpas. Na verdade, já era para ter pedido, mas eu não conseguia ficar a sós com você e...
            - Lily – James ergueu a mão, detendo-a de continuar. – Não é você quem me deve desculpas. Sou eu quem devo me desculpar com você.
            - Não, James! Eu sempre te tratei tão mal, você sempre foi tão paciente comigo!
            - Eu estava fingindo – ele disparou, sem pensar.
            A menina fez uma careta.
            - Quê?
            - Eu estava fingindo – repetiu. – Eu li um livro sobre psicologia reversa, coisa trouxa, você deve saber melhor que eu, e fingi que tinha desistido de você, que estava magoado, para você sentir-se culpada. Não é verdade. Eu nunca desistiria da única garota que vale à pena nessa vida. Se você me dá foras, me esnoba, é porque eu faço por onde. Eu sei que não te mereço, mas isso não me impede de desejar ter você ao meu lado.
            Lily parecia ter esquecido de como se fazia para fechar a boca. Estava embasbacada. Primeiro, sentiu uma raiva imensa. “Ele fingiu o tempo todo!” pensava, o odiando. Depois, sentiu um arrepio na nuca, quando ele disse que ela era a única garota que valia a pena. Para não ser injusta, ela preferiu ficar calada.
            O rapaz escondeu o rosto entre as mãos, dando um suspiro longo. Estava envergonhado. Lily era a única pessoa que o fazia sentir-se daquela forma, completamente idiota e errado.
            - Pode me odiar, Lily. Pode me xingar, me bater. Eu sou um idiota. Eu faço tudo errado, sempre – ele ergueu os olhos, e havia lágrimas sinceras ali, ela percebeu. – Mas eu não sei mais o que faço para te dizer que eu te amo. Ou melhor, eu não sei mais o que faço para te provar que eu te amo, que eu estou disposto a te fazer a mulher mais feliz do mundo... eu não sei mais!
            James tirou os óculos e escondeu novamente o rosto, envergonhado por chorar na frente dela. Ele não queria encará-la. Ela poderia julgá-lo fraco, mas isso não o importava. Ele só não conseguia ficar perto dela sabendo que nunca a teria, aquilo o deixava a terrível sensação de que nunca seria feliz na vida.
            Lily, por seu lado, parecia ter acordado de um transe quando conseguiu fechar a boca. Então, levantou-se lentamente, caminhando a curta distância entre eles. Ela levou suas mãos até as deles, tirando-as de seu rosto. Ele não a olhou, mas chorava, as lágrimas já chegavam ao seu queixo. A garota o puxou delicadamente, obrigando-o a levantar. Ainda assim, ele não a encarou. Passou a mão pelo rosto dele, secando as lágrimas.
            - James, olha pra mim – falou num murmúrio, quase inaudível, segurando seu rosto com as duas mãos.
            Ele a olhou. Ela também tinha os olhos úmidos.
            - Obrigada por não desistir de mim – completou ela.
            Não havia muito mais o que dizer naquele momento, então, ela passou seus braços pelo pescoço de James e aproximou seus lábios dos dele.
            E assim aconteceu o primeiro beijo de James Potter e Lily Evans, o beijo mais esperado dos últimos seis anos de Hogwarts.

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