Comportamento Estranho



Frank Longbottom, Alice Prewett, Edgar Bones e Rachel Clearwater voltavam em uma carruagem gentilmente cedida pelo Ministério da Magia para que pudesse buscar e levar os alunos, com a máxima segurança de dois funcionários do Ministério os acompanhando, para o funeral do jovem Prewett.
            Assim que recebera a carta de sua família, Alice foi procurar Minerva McGonagall, com o pedido de que pudesse prestar sua última homenagem ao irmão morto covardemente. Visto o estado de agitação da pequena garota, a diretora da Grifinória também liberou das aulas daquele dia seu namorado, Frank, para que pudesse acompanhá-la. A Diretora da Grifinória então os levou até à sala de Albus Dumbledore, de onde poderiam ter passagem para o Ministério e de lá seguirem para onde estava sendo velado o corpo, Rachel e Edgar os pegaram no meio do caminho, implorando que os deixassem também ir. Alice assentiu e a única condição que Minerva os impôs foi pedir aos respectivos diretores da Corvinal e Lufa-Lufa que também os liberassem das aulas. Saíram e voltaram em menos de dez minutos, cada um com um termo de liberação devidamente assinado nas mãos.
            O funeral de Edward Prewett fora tristemente bonito. A família Prewett era uma das mais respeitáveis do mundo mágico e, por isso, muitos amigos foram prestar suas condolências a Chace e Stella Prewett. Alice estava apática, chorosa e calada, exatamente o oposto do que sempre fora. Frank estava tenso, parecia incapaz de fazer com que seus músculos relaxassem de alguma forma. Edgar passou todo o evento abraçado com a garota Clearwater, que parecia entorpecida, como se tivesse tomado a poção do morto-vivo.
            Agora, os quatro alunos voltavam para o Ministério da Magia, de onde partiriam para Hogwarts. O silêncio entre eles era constrangedor. Os funcionários do Ministério que os acompanhavam eram Arthur Weasley, marido de Molly, e Fabian Prewett, que, assim como Molly, era primo de segundo grau de Alice. O primeiro era um homem alto e muito sardento, de cabelos vermelhos e olhos escuros; o segundo usava o cabelo loiro-arruivado e comprido amarrado num rabo de cavalo baixo e tinha os músculos bem definidos.
            Frank Longbottom parecia particularmente pensativo. Fabian Prewett reparara isso e quando desceram da carruagem, próximo à passagem de visitantes do Ministério da Magia, o deteve para questioná-lo, enquanto Arthur Weasley guiava os outros três jovens.
            - No que pensa, Frank? – perguntou o Auror ao rapaz.
            Frank o fitou gravemente antes de respondê-lo. Olhou para os lados, certificando-se que ninguém estava próximo para ouvi-lo.
            - Quero me alistar na Ordem – disse Frank com tom decisivo e seco.
            Fabian arregalou os olhos para ele. Depois, suavizou sua expressão e até deu um leve sorriso.
            - Será uma honra ter você conosco, Frank... assim que terminar os seus estudos.
            Uma sombra na face do rapaz fez o homem sentir uma espécie de terror súbito. Frank não parecia muito... feliz.
            - Você acha que eu não sou capaz, não é? – ele cruzou os braços, encarando o outro. – É isso que a família de Alice pensa sobre mim, que sou um zero à esquerda!
            - Ei, calma aí! – Fabian jogou as mãos para frente. – Não é nada disso! Por Merlin, Frank! Você não pode simplesmente abandonar seus estudos! É um jovem brilhante, Alice disse que você quer ser Auror e para isso precisa ter completado os estudos! Eu sei que você está irritado pela perda de Edward, eu sei que ele era um irmão para você, até porque ele mesmo sempre disse que você era um irmão para ele.
           Uma lágrima, a primeira desde que recebera a notícia da morte do amigo e cunhado, rolou pelo rosto lívido de Frank. Fabian percebeu a comoção.
            - Escute, Frank, Edward admirava você de um jeito incrível. Ao contrário do que você disse, nós achamos que Alice não poderia ter achado alguém melhor que você para estar com ela. Por isso, eu acredito em você. Eu acredito que você será um exímio Auror e dessa forma vai evitar que outras famílias percam seus entes queridos, como aconteceu tragicamente com a nossa.
            - Quantas pessoas mais vão perder seus irmãos enquanto eu termino os estudos? – Frank secou a lágrima fujona e rebateu. – Quantas vezes mais vamos abrir O Profeta Diário e nos depararmos com um inocente sendo morto covardemente?
            - Frank – a voz suave e embargada de Alice se fez ouvir depois de muitas horas em silêncio. Frank e Fabian a miraram. Estava péssima: pálida, com olheiras profundas e olhos vermelhos de tanto chorar. Ela se aproximou quase flutuando, como um pequeno fantasma, e abraçou o namorado. – Se você chorasse, se colocasse para fora o que está sentindo, tudo ficaria melhor. Não é vergonha chorar a morte de um irmão nem fraqueza. É só tristeza. Não se deixe endurecer por isso, meu amor. Isso não trará Edward de volta, mas fará de você mais infeliz.
            Frank escondeu seu rosto entre o pescoço e a clavícula da namorada e, seguindo seus conselhos, chorou. Alice acenou para o primo e para Arthur Weasley como se dissesse para os deixarem um momento a sós. Rachel e Edgar também os deixaram, os dois ainda agarrados, consolando um ao outro. Os dois homens sugeriram que entrassem e assim fizeram. Edgar apontou um banco para a menina, para que pudessem sentar e aguardar Frank e Alice. Rachel também tinha uma aparência horrível. Edgar gentilmente acariciou os seus cabelos, trazendo sua cabeça para recostar no seu ombro. Ela parecia ter esgotado seus estoques de lágrimas e agora só leves soluços demonstravam que ela ainda permanecia viva.
            - Você o amava – Edgar falou em afirmação.
            A cabeça de Rachel se mexeu levemente em seu ombro, como se dissesse sim, mesmo ele não tendo perguntado exatamente.
            - Eu imagino como está se sentindo – completou ele.
            - Nós não éramos mais namorados – falou ela, depois de um momento de silêncio. – Ele tinha me deixado.
            - E ainda assim, você está chorando por ele. Esse é um tipo de amor que nos machuca, nos mata por dentro, e ainda assim não conseguimos nos livrar dele.
            - O que você sabe sobre isso? – Rachel levantou a cabeça para olhá-lo. Edgar estava abatido e fracassado. – Você já amou alguém e perdeu?
            Edgar deu um risinho sem humor.
            - Não exatamente. Eu não a perdi. Eu nunca a tive, é diferente. Mas a sensação de inutilidade, eu posso aposto que é a mesma.
            Rachel meneou a cabeça, compreensiva.
            - Deve ser. Ver, sentir e não poder tocar, pertencer – a garota falou, calmamente.
            Edgar Bones se ajeitou no banco. Os olhos castanhos dele se colocaram dentro dos verdes dela. Rachel estava atenta ao que ele diria. Sentiu uma certa simpatia pelo seu sofrimento, era próximo ao dela. Ele suspirou. Os lábios de Edgar se separaram, mas antes que ele pudesse falar algo mais, o homem ruivo veio até eles solenemente.
            - Crianças, vamos. Dumbledore já está esperando por vocês em Hogwarts. Fabian foi chamar Alicinha e Frank – Arthur acenou para que seguissem com ele. Edgar deu a mão para ajudar Rachel a levantar e um pouco de cor parecia ter voltado às bochechas da menina.


 James Potter jogou seus pertences e sua vassoura no chão, jogando-se logo em seguida ao lado de Sirius Black e Peter Pettigrew, sentados displicentemente na grama, de baixo de uma árvore grande. Ajeitou os óculos antes de falar, mas Sirius o impediu de qualquer forma, o cortando como se já soubesse exatamente o que falaria.
            - Espera Remus chegar, eu não estou com paciência para repetir a história.
            James deixou os ombros caírem e fez um muxoxo de insatisfação. Olhou para Peter e viu que o amigo se mantinha firme no propósito de ser um grande Alquimista. Os olhos estavam fixos num livro de capa preta e folhas amareladas. Pendeu a cabeça, num pesar silencioso. Remus Lupin foi visto vindo em direção a eles, entre gracinhas com Emmeline Vance. Os dois riam e se agarravam periodicamente.
            - Ih, pronto – Sirius comentou maldosamente. – Remus vai chegar aqui falando que fez contato de primeiro grau com a Fada da Gruta e suas Lanças Mágicas o abençoaram.
            James riu, mas Peter nem parecia ter ouvido o outro. Eles se entreolharam, abismados. Geralmente, era aquele garoto rechonchudo o primeiro a ler de qualquer palhaçada, por mais idiota que fosse. Grave seu comportamento.
            Remus deu um último beijo na namorada, que correu para juntar-se às amigas que estavam num outro canto do jardim, e ele foi sentar-se com os demais Marotos. Os olhos azuis brilhavam de forma incrível.
            - Que foi? – James provocou. – Viu algum sacrifício Druida para prosperidade ao vivo?
            Remus fechou a cara por um momento, mas depois voltou ao seu estado de felicidade instantânea.
            - Escutem, caras... Emmeline sabe sobre mim – disse ele.
            Peter pela primeira vez levantou a cabeça do livro. James e Sirius piscaram os olhos várias vezes, incrédulos com o que ouviam.
            - Como é, Remus? – James perguntou depois de algum tempo, fazendo uma careta.
            - Ela me pressionou, disse que já sabia sobre mim, mas queria que eu a contasse...
            - Remus, por todos as estrelas do céu, isso é péssimo! – Sirius bradou.
            - O que vocês queriam? – o garoto loiro cruzou os braços, chateado. – Primeiro me empurram para a garota, agora que eu confio nela, que ela aceita me namorar, não querem que eu compartilhe meu segredo? Cedo ou tarde ela saberia mesmo!
            - Mas não em Hogwarts, Remus! – Sirius contestou, pacientemente. – E se ela conta para as amigas? Emmeline é completamente lunática e...
            - Cuidado, Six – Remus se irritou.
            - Ah, OK, desculpa... mas é sério, ela parece não ter noção de nada que é perigoso...!
            - Vocês têm uma ideia muito errada de Emmeline, ela não é assim, ela me prometeu que vai manter segredo, só queria que eu pudesse contar com ela... Ah, quer saber? Quem não repara nas minhas ausências na Lua Cheia é um retardado! Antes Emmeline que aquele idiota do Snape!
            - Tudo bem, Remus, é um problema seu, se você confia nela, nós confiamos também – Sirius falou por fim, encerrando o assunto. – Mudando de assunto... eu vou matar o Regulus.
            - Podemos ajudar? – James levantou a mão, solícito.
            - Não, é questão de honra. Faço sozinho.
            - Que bonito o amor fraternal – Peter comentou, enfiando novamente a cara no livro.
            - Que aconteceu lá com o Dumbledore? – Remus questionou.
            - Bom, Dumbledore tentou usar seu poder de persuasão para nos convencer que somos irmãos, devemos nos amar porque família vem em primeiro lugar e todo aquele blábláblá de sempre. E então acho que ele reparou na minha cara de tédio e na cara de ódio do meu irmãozinho maldito, e optou por uma nova tática: chamar mamãezinha querida – Sirius falava com tom de deboche.
            - Uia! – James riu. – E ela te sentou o couro com o cinto, foi?
            O amigo o olhou sem paciência. Remus acotovelou James. Peter pareceu rir, erguendo os olhos novamente.
            - E então? – Remus quis saber.
            - Ah, eu não fiquei para ver... Para quê? O mesmo discurso há 17 anos: inútil, traidor do sangue, tenho desgosto de você, etc, etc...
            - Que lindo, 17 anos na cara e a mamãe é chamada na escolinha... – James caçoou, tomando em seguida um tapa no braço dado por Sirius.
            - Imbecil, era mais por Regulus, aquele idiota tem 15 anos, embora sua mente conspire para o mal como uma máquina bicentenária de fazer merda.
            - Sirius, esse seu relacionamento com sua família é algo realmente constrangedor – disse Remus desgostoso.
            - Não, Remus, minha família me trata de modo constrangedor. Eu não quero ser como eles, e eles não me aceitam como eu sou. O que você quer que eu faça? Que eu chore por atenção, que implore “oh, não, me amem do jeito que eu sou!” Ah, Dá licença, Remus!
            - Certo, eu te entendo de algum modo. Já resolveram a questão do baile?
            James e Sirius se entreolharam, desconfiados.
            - Quem vai com quem? – Remus precisou ser mais específico.
            - Ora, eu vou com Lily, James vai com Marlene, não é assim?
            - E você com Dorcas, Emmeline... com Edgar... – James foi se perdendo nas palavras, olhando de repente para Peter. Percebeu que os olhos dos outros dois amigos também estavam nele.
            Peter, pela terceira vez, levantou os olhos do livro o qual devorava vorazmente, os olhando com raiva.
            - É, podem caçoar, eu não tenho par e não vou a baile nenhum – disse ele, se erguendo do chão e mostrando o livro para eles. – Eu vou aproveitar para estudar mais... – e saiu da presença dos outros sem maiores explicações.
            Os três pares de olhos observaram em silêncio Peter Pettigrew caminhar com seus passos imprecisos, voltando para o Castelo. Preferiram se privarem dos comentários.
            - Eu estava pensando na Alice – disse Remus, de repente. – Emmeline disse que ela estava tão contente com o baile e, agora, isso com o irmão dela.
            James e Sirius só menearam a cabeça, concordando com a colocação do outro.


 Entre as Adoráveis, o clima estava meio triste. As meninas também estavam pensando na alegria de Alice sendo tirada dela.
            Quando Emmeline Vance se juntou a elas, agradeceu por não a questionarem nada sobre o que estava tratando com Remus Lupin. Ela se conhecia, não era muito boa em esconder seus sentimentos das amigas, mas logo foi dominada pelo momento “lembranças boas” que elas estavam fazendo sobre Edward Prewett.
            - Lembra daquela vez que Dorcas caiu na aula de vôo, e ele estava de monitor? – Marlene McKinnon comentou, com um sorriso melancólico nos lábios. – Ele ficou todo preocupado, a trouxe nos braços e perguntou se estava tudo bem...
            - É, como esquecer, Dorcas falou sobre isso durante uma semana – Lily Evans completou.
            Dorcas Meadowes olhou para elas querendo dar uma de suas respostas mais apimentadas, mas recordou-se que deveria ser calma, serena e tranquila, por isso, riu e fez que sim com a cabeça, sentindo-se uma perfeita e completa idiota. Resolveu, por bem, distrair-se da conversa, até porque estava muito triste realmente com o ocorrido à menina que fora tão legal com ela. Assim, desviou os olhos claros para outros cantos dos jardins. Deteve-se, estranhamente, num grupinho de baderneiros um pouco longe delas. Reconheceu de longe a corja da Sonserina. Ela reparou que um deles olhava em direção a elas. Franziu o cenho, mas não desviou os olhos. Tampouco o garoto imenso. E, num estalo, ele ergueu a mão grande e acenou timidamente... para ela? Não, não poderia ser. Dorcas continuou olhando com incredulidade, como se não fosse possível desviar os olhos dele. E então, ele sem uma resposta dela, baixou a mão e foi embora. Os olhos da menina o acompanharam desoladamente. Que comportamento estranho.
            - É impressão minha, ou Bletchley te deu tchauzinho, Dorcas? – Emmeline falou em tom de “não é possível”.
            Quando Dorcas virou finalmente os olhos para as amigas, reparou que as três tinham expressões de “hã?” no rosto. Todas exigindo uma resposta bem convincente. Ela ruborizou.
            - Acho que não, o que aquele ogro faria dando tchau para mim? – disse ela.
            Esqueceram-se do assunto, para felicidade de Dorcas, muito facilmente. Mas ela mesma não conseguia esquecer. “Por que diabos Domini Bletchley acenou para mim?”, pensava Dorcas, e esse pensamento a acompanhou durante todo o dia, a inquietando internamente.

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