O arrependimento da Serpente
O resto da viagem correu bem, Ron logo chegou trazendo um monte de sapos de chocolate. Harry parecia ligeiramente mais feliz após nossa conversa, e eu fiquei feliz por ele. Após uma hora e meia mais ou menos o trem parou, descemos na estação, Hagrid estava lá, acenando para nós, e as carruagens de terstálios também, ah é, agora eu poderia ver terstálios, afinal, depois da recente guerra, eu vi bastante gente morrer, infelizmente. Mas sabe, era tão bom chegar, era tão bom respirar o ar de Hogwarts, fiquei alguns minutos só observando, e absorvendo o máximo que eu pudesse daquela primeira imagem, algumas vezes achei que nunca mais fosse embarcar naquele trem de volta para Hogwarts. -Mione, vamos? – Era Ron, me tirando do meu estado de “absolva e absorva tudo a sua volta”. Ele pegou em minha cintura e fomos até Hagrid, Harry logo atrás de nós. Eu não sei porque, mas cada vez que vejo Hagrid ele parece maior, vai ver que gigantes nunca param de crescer, não, eu li em “Gigantes; como entender essas criaturas” que gigantes só crescem até os 18 anos, deve ser somente impressão minha. -Hermione! Harry! Ron! – A cada nome que Hagrid dizia a exclamação soava mais forte, ele estava sorrindo, com aquela barba desgrenhada e cabelo também desgrenhado. Eu me aproximei dele sorrindo, lhe dei um abraço. -Já não era hora, não sabem a falta que fazem suas visitas na cabana. – Disse, enquanto me soltava e começava, agora a abraçar Ron. -Você também faz muita falta para a gente, Hagrid. – Respondeu Harry, atrás de mim, me virei para olhá-lo, a frase não estava tão animada como ele supunha que estivesse. Hagrid parou de abraçar Ron e se dirigiu para abraçar Harry, o abraço em Harry foi ligeiramente mais apertado, fato percebido pelo grunhido que saiu da boca do garoto, quando Hagrid intensificou seu abraço. -É, gente, vou ver Gina. – Harry disse, dando um olhar significativo para mim, lhe respondi com um sorriso de boa sorte. -Mande um beijo para ela. – Disse Hagrid. -Ah, pode deixar. – Harry se virou e foi em direção ao grupinho onde se encontrava Gina, Luna e outras garotas que agora estariam na mesma sala que a gente. Ron e eu conseguimos uma carruagem só para a gente, já que não vimos Harry depois que ele foi procurar Gina. Vocês já devem saber como é Ron quando estamos sozinhos. Pois é, foi a carruagem começar a andar para o Ron começar a me agarrar. Os 15 minutos que demorava para chegarmos em Hogwarts foram muito bem aproveitados por Ron, e não vou ser hipócrita dizendo que não foram muito bem aproveitados por mim também, pois foram. Adorava tanto quando ele me beijava, quando me abraçava, e dizia que queria estar comigo pra sempre, era tão bom. Sinceramente, os 15 minutos passaram voando. Logo vimos aquela escada que levava ao castelo. Minha cabeça se encheu de lembranças, do primeiro dia em que pisei lá, de quando o chapéu seletor me escolheu para a Grifinória, do dia em que um trasgo me atacou e Harry e Ron me salvaram, de quando fizemos a poção políssuco, quando dei um soco na cara do Malfoy, ah, esse foi um ótimo momento, quando voltei no tempo, quando vi o Harry enfrentar um Dragão, o baile de inverno, o F.A.L.E, a AD, me lembrei dos passarinhos que taquei em Ron, mas também me lembrei da batalha final. – Nisso as portas do castelo foram se abrindo, mostrando o saguão, perfeito, reconstruído, depois daquela batalha. – Me lembrei de tanta gente que morreu ali, lutando contra o mal, mas logo meu coração se aqueceu, pois sabia que eles tinham morrido lutando por algo que valia a pena, me lembrei da nossa vitória, quando conseguimos derrubar Voldemort, e me lembrei que foi ali, naquele saguão que eu beijei Ron pela primeira vez. – Diante desse pensamento eu sorri. Fomos para o salão principal, que de fato estava mais lindo do que jamais esteve. Todos os professores estavam de pé em frente á suas cadeiras, de frente para nós que chegávamos. Ron pegou na minha mão e sentamos no meio da banco da mesa da Grifinória, Harry chegou de mãos dadas com Gina também, eles pareciam mais felizes, parecia que tinham se entendido, eles se sentaram ao nosso lado. O teto do salão estava maravilhoso, um céu tão estrelado como eu nunca havia antes visto, com estrelas cadentes cruzando todo o teto, observei mais atentamente a mesa dos professores, lá estavam Slughorn, que voltara a ensinar poções, eu suponho; um homem bem bonito estava ao seu lado, tinha os cabelos pretos, meio encaracolados, era bem forte, eu daria não mais que 40 anos para ele, esse devia ser professor de Defesa Contra as Artes das Trevas. Na outra ponta estava Hagrid, e ao seu lado, com aqueles óculos gigantes, estava profª Trelawney, e no meio, agora se levantando estava a profª McGonagall, que agora era a nova diretora da escola. Com um bater de palpas que ecoou o salão inteiro, McGonagall pediu silêncio. -Hoje é com muito prazer e felicidade que estamos aqui. Agora que a maior ameaça do mundo bruxo se foi. E eu, em nome da escola, e creio que em nome de todo mundo bruxo, credito esse fato principalmente á três alunos que estão aqui conosco. Gostaria de pedir um aplauso para Harry Potter, Ronald Weasley e Hermione Granger. – Nesse momento todos se viraram para nós, alguns começaram a apontar, outros a conversar, eu ficava tão envergonhada quando todos me olhavam sem eu ter levantado a mão para responder qualquer pergunta que fosse, senti que Harry também não estava muito á vontade com isso, ele me deu um sorriso bem esquisito quando o olhei, eu sabia que Harry tinha aversão a coisas desse tipo, Ron segurou bem forte na minha mão, eu olhei para ele, estava com as orelhas muito vermelhas. – Certo. – Os barulhos se cessaram. – Só irei fazer mais uma ressalva, prometo, logo poderão desfrutar desse maravilhoso banquete. Só quero dizer que tenho muito orgulho de estar substituindo Severus Snape, pois este foi um grande homem. Agora peço um salva de palmas a Severus Snape. – O salão inteiro se rompeu em palmas, é, Snape realmente merecia tudo isso, foi o homem mais fiel a Dumbledore que já existiu. - E um último aviso- disse Macgonagall - Na verdade uma novidade que acho que todos gostarão, para melhor confraternização entre as casas, foi decidido que alunos de casas distintas podem frequentar os salãos comunais de todas as casas, e até mesmo podem passar a noite nos dormitórios dessas casas. - Mais aplausos para essa novidade que teríamos esse ano. Eu sinceramente gostei, já que penso que a confraternização só faz de nós melhores bruxos, e seres humanos.- O banquete estava maravilhoso, era tão bom estar ali. Após o jantar me separei um pouco de Ron para ir ao banheiro. Estava no meio do caminho, num corredor vazio, quando uma mão me puxou. -Granger. - Eu me virei, lá estava a pessoa que eu achei menos provável que estivesse lá. -Malfoy. O que você está fazendo aqui? – Perguntei, soltando meu braço de sua mão. -Eu estudo aqui. – Ele me olhou, como viu que eu não entendi, ele resolveu prosseguir.- É que eu tive que refazer o último ano, já que ano passado não passei muito tempo na escola, por conta de... – Seus olhos baixaram, eu o interrompi. -Eu sei o que você andou fazendo Malfoy. – O olhei com um olhar de desprezo que por um momento tive dó dele, mas Malfoy mercê todos os olhares de desprezo possíveis. – Mas não foi para isso que veio falar comigo, não é? -Não, na verdade eu vim falar com você, porque apesar de você ter um soco bem potente, é mais fácil de lidar com você do que com Potter ou Weasley. – Antes que eu o interrompesse ele continuou. – O que quero dizer é que, na verdade eu só quero pedir perdão. – Eu devo tê-lo olhado com uma cara de surpresa sem tamanho, já que ele emendou. – Eu sei, você nunca pensou que eu fosse te pedir perdão, eu também pensei isso, até que percebi o que eu estava fazendo. E hoje posso te garantir que me arrependo de tudo o que eu fiz, de tudo o que eu te chamei, sabe, se arrependimento matasse, eu não estaria nem aqui falando com você. Granger, me perdoa? – É, agora eu estava com uma cara de surpresa, porque quando eu comecei a falar minha voz demorou a sair. -Malfoy. – Eu comecei, ele estava me olhando de uma maneira tão triste, desesperado que parecia que sua vida dependia desse perdão, seus olhos cinzas me miravam profundamente, olhos esse que contrastavam com seu cabelo loiro, que estava agora sem aquele gel habitual. – Sabe, eu não tenho poder nenhum para julgar alguém, e se você está realmente arrependido não tem porque eu não te perdoar. – Ele sorriu, sorriu de uma maneira que nunca o havia visto sorrindo antes, ele só sorria por deboche, quando xingava alguém, ou coisa do tipo, mas agora, Malfoy sorriu aliviado. -Obrigada Granger, você é ótima. – Ele olhou nos meus olhos, agora parecendo estar feliz. -Mas olha Malfoy, se você fizer qualquer coisa que possa me fazer mudar de idéia, eu nunca mais falo com você. – Disse séria. -Nunca. Eu me arrependo tanto. – Ele sorriu de novo. – Obrigada de novo, Granger. E se não for pedir muito, não conte ao Potter nem ao Weasley sobre o que conversamos. -Eu não iria contar, eles não estão preparados para entender que alguém pode se arrepender verdadeiramente, não estão preparados para ter um diálogo educado com você. – Eu sorri meio sem jeito, sabe, eu nunca imaginei sorrir quando estivesse conversando com Malfoy, na verdade eu nunca me imaginei conversando com ele a não ser aos berros e com várias palavras ofensivas saindo da boca de ambos. – Agora, com licença, preciso ir. – Ele acenou com a cabeça. Eu já estava á mais de 5 metros dele quando ele gritou. -Obrigada de novo Granger! – Eu me virei e somente sorri. Como as coisas mudavam, não é? Malfoy e arrependimento eram palavras que soavam estranhas quando combinadas, mas era bom. Se tem uma coisa que eu aprendi, é que não devemos julgar as pessoas, é só lembrar de Snape. Se Malfoy está realmente arrependido? Não sei. Se ele realmente vai mudar? Não tenho idéia. Mas sei que se quisermos podemos fazer as coisas diferentes, dei um voto de confiança á pessoa menos indicada, mas que achei que merecia, pelo menos agora. Se ele realmente mudar será ótimo para ele, se não paciência, tem coisas que nunca mudam, tem coisas que esperamos que mudem, outras que realmente mudam, sinceramente, espero que Malfoy se encaixe na terceira opção.
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