A Cleptomaníaca Suicida
Capítulo III - A Cleptomaníaca Suicida
Saudade 1.Lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo suave, de pessoa ou coisa distinta e extinta. 2. Pesar pela ausência de alguém que nos é querido.
Saudade. É o sentimento que vive dentro do meu coração e nunca me abandona. Eu tenho saudade daquele tempo em podia sorrir de tudo e todos. Sinto falta do meu irmão e o seu apoio fundamental para a continuidade da minha vida. O coração chega a doer quando penso na época em que todos nós éramos um só. Sinto falta da paz em minha alma. E o principal de todos: Tenho saudade de como é ser Feliz.
- Como você se sente?
- Horrível.
- Por que, Senhorita Weasley?
- Eu estou me sentindo mais sozinha do que nunca.. e agora tenho a prova disso.
- As vezes nós mesmos causamos a nossa solidão.
- Não acho que seja isso.. Acho que algo bem mais profundo.
- O que você quer dizer?
- Que na realidade, nós sempre estamos sozinhos.
- Essa sua idéia é um tanto dramática,Ginny.
- Não, é apenas a forma com que me vejo e interpreto a droga da minha vida.
- Você fez o que eu lhe sugeri?
- Fiz e o que eu consegui foram risadas e mais humilhação.
- Não acredito.
- Pode acreditar, porque até eu mesma já me conformei com o tamanho da idiotice e ignorancia da minha família. São um bando de ruivos retardados.
- Acho que você está sendo pessimista, o que eu lhe falei sobre pessimistas?
- Que eles são chatos e completamente más companhias?
- Sim.. eles são exatamente isso.
- Acho que me transformei nisso, então.
- Ginny.. você tem que querer mudar.
- Mas eu quero, Doutora, é a coisa que mais quero no mundo, mas a cada dia parece mais difícil e.. argh! Por incrivel que pareça minha família não tem ajudado em nada.
- Você não pode desistir.
- Eu não vou desistir.. só estou um pouco desanimada.
- Entendo..
- O que você faria se todos fossem contra o seu maior sonho? Se todos rissem de você e a deixassem de lado na hora que você mais precisa de apoio e carinho?
- Acho que eu lutaria para conquistar o meu sonho com mais força e afinco.
- Eu tento, mas não sei se vou conseguir.
- Ginny..
- Quê? Hum.. estou sendo pessimista de novo, né?
- Sim, querida.
- Doutora..
- Quê?
- Você tem filha?
- Tenho sim.
- Você deixaria que ela jogasse Quadribol?
- Se isso fosse o que ela quisesse, com absoluta certeza.
- Hum..
- Algo mais, Ginny?
- Sim..
- Diga.
- Doutora, você quer me adotar?
- Luna? - Ginny perguntou com a voz um pouco melosa, parecendo entediada.
- Fale. - A outra respondeu um pouco avoada.
- Vamos cantar?
- Cantar o quê?
- Sei lá.. podemos inventar uma música.
- Tá legal.
As duas estavam deitadas em frente ao Lago nos jardins de Hogwarts. Era uma tarde de domingo e dia de visita a Hogsmead, portanto todos haviam ido as compras as deixando com os Jardins só pra elas. Ginny estava mais calada do que normalmente, contando que Luna já havia se acostumado com isso ela não deu muita importância.
- Ninguém me ama.. Ninguém me quer. Por isso eu vou comer barata. - Cantou Ginny com a voz monótona e rouca. Luna soltou um grunhido e uma exclamação de nojo.
- Que nojo, Ginny.. - As duas deram risinhos e viraram os olhos em direção ao céu.
- Barata frita.. barata assada. Sopa de Barata! - Cantou a ruiva mais animada, esganiçando a sua voz e gritando perto do ouvido da loira. Luna apenas revirou os olhos e soltou um longo suspiro.
- Eu te amo, então pare de cantar a droga dessa música. - Ela falou com um riso, jogando uma bolinha de papel na cara de Ginny.
-Tira cabecinha.. Chupa melequinha e joga o resto fora. - Ginny gritou em plenos pulmões, dando uma gargalhada.
- Ginny.. acabamos de comer. Eu estou ficando enjoada! - Luna falou baixinho, voltando a sua atenção ao Pasquim que estava em suas mãos.
- Cante comigo, Lun. - Pediu a outra com um sorriso eu-sou-um-anjinho-ruivo.
- Não vou cantar essa música sobre o Assassinato da coitada da barata.
- Barata é um bicho nojento, merece morrer. - Exclamou a ruiva, sem muitas preocupações.
- Você tem coração de pedra, Weasley. - Luna agora havia dado a conversa como encerrada, pois se desligara do mundo lendo a revista do seu pai. Ginny apenas bufou e revirou os olhos.
- Que delicia! Hum.. que delicia! Como é bom comer barata! - Gritou Ginny, tentando irritar a amiga, porém essa não lhe deu bola.
Seus olhos voaram em direção ao Campo de Quadribol e ela viu de longe vários pontinhos que eram pessoas em suas vassouras, voando velozmente. O desejo de se juntar a eles brilhou em seus olhos e ela sentiu-se tomada por um impulso incontrolável de voar pelos ares e chegar em uma altitude onde não conseguiria mais respirar e morreria... morreria feliz.
Suas mãos tremiam levemente e suavam de puro desejo e ela viu-se mais uma vez ali, tomada por sentimentos e emoções sem poder se conter ou controlar.. Levantou-se e partiu para o Castelo sem rumo. Não sabia o que estava fazendo e percebeu-se dando a senha a Mulher Gorda automaticamente. Seus pés traidores a guiavam para algum local sem que ela pudesse guiar-se. Entrou no dormitório dos meninos e foi em direção a uma cama. Puxou o malão que estava ali embaixo e ficou encarando o nome que estava em sua frente.
Harry Potter.
Sua respiração estava ofegante e tinha já todo o corpo tomado pelo suor nervoso. Ginny estava fora de si e aquilo era um grande problema.. como se estivesse entrando em crise novamente.
Abriu o malão fazendo um eco pelo quarto inteiro. Ela deu um sorriso diabólico nada compatível consigo mesma e começou a revirar nas coisas do menino. A adrenalina bombava em seu sangue e a dopava mais a deixando insana e feliz.
Ao avistar o que procurava soltou um suspiro de alivio e puxou a roupa para cima, passando-a levemente em seu rosto. O tecido era fino e sedoso, o que dava arrepios em Ginny. Ela o apertou em suas mãos como se quisesse ter certeza de que estava ali e permitiu-se sorrir.
Se Harry descobrisse aquilo seria o fim.. mas quem disse que ela se importava?
Deixou o quarto pra trás e foi em direção ao local que mais gostava do colégio com o tecido em suas mãos. Não tinha mais a expressão de felicidade e prazer de antes, estava séria e completamente pálida.. como se tivesse noção do que havia acabado de fazer.
Quando estava próxima do campo ela cobriu-se. Agora ninguém a perturbaria e ela conseguiria ficar em paz, assistindo o treino. Foi em direção as arquibancadas e sentou-se em um local afastado de qualquer fã louca, ou qualquer tipo de pessoa.
Buscou um pergaminho que estava em seu bolso e uma pena. Escutava claramente as ordens que Harry dava para o seu time e as anotava febrilmente como se sua vida dependesse daquilo. Não teve a mínima idéia de quanto tempo o treino durou, mas ela permaneceu ali sentada, apenas anotando.
Precisava de ajuda nem que essa viesse indiretamente.
Sorriu e sentiu seus músculos e nervos relaxando. Tocou no tecido em que a cobria e soltou um suspiro cansado e divertido ao mesmo tempo.
Ninguém poderia reclamar com ela, estava fazendo apenas o que a Doutora havia falado. Estava lutando pelo seu sonho.
Ao olhar para Harry sentiu o rosto corando de vergonha. Ele nunca imaginaria que fora ela que roubara a sua preciosa Capa de Invisibilidade. Digamos que era pra um bem maior e esse era a saúde mental da ruiva.
Em todos os treino de Quadribol Ginny estava presente, anotando tudo em um caderno que fizera especialmente para isso. Parecia que a cada fala de Harry e movimento que ele ensinava, mas ela achava que fora feita para isso. Depois de uma semana ela havia cansado do teórico e estava decidida a praticar..
Levou para o jantar as anotações por baixo do sobretudo da escola e ficou ali o apertando, apenas assistindo todos comendo sem preocupações ou algo parecido. Luna tentou conversar, mas ela apenas assentia e sorria para a amiga. Quando viu que ninguém mais sentiria sua falta ali ela saiu em direção ao campo de Quadribol.
O vento estava forte e ela sentia o estomago se retorcendo dentro de si. Não sabia se era de nervoso ou de fome, pois não havia comido nada no jantar. Segurou a varinha com força na mão e convocou a vassoura do irmão que agora a pertencia. A assistiu aproximando-se desde um pontinho preto lá de cima até ficar parada a sua frente pronta para ser montada.
Deu um sorriso confiante e passou o pé por cima da vassoura, sentado e se ajeitando. Inspirou o ar lentamente pela boca e deu o impulso. O vento batia com força em seu rosto e a gelava fazendo um contraste perfeito com o corpo quente e nervoso da menina. Aos poucos ela foi se soltando e sentiu-se livre novamente.. como se estivesse em casa.
Diminuiu a velocidade e pegou o caderno que estava preso em sua calça. Leu uma das instruções e passou a tentar praticá-las. A primeira era um tanto simples e fácil, um tipo de jogada que você fazia para desviar do adversário. Ficou treinando este até estar satisfeita e contente com o seu desempenho.
Brecou novamente para analisar o seu caderno. Finta com giratória. Estava escrito com a sua letra redonda, porém um pouco trêmula e mal feita. Ela leu baixinho as anotações que fez sobre a dita cuja, e arqueou as sobrancelhas. Não era algo muito simples de se fazer, mas nada que Ginny não pudesse dar um jeito.
Duas horas depois ela voltou para o Salão Comunal toda suada, suja e cansada. Deu Graças a Merlim por ver que não restava ninguém ali apenas Hermione e suas lições. Nem olhou para a amiga, queria chegar o mais rápido no banho para poder dormir.
- Ginny Weasley. - Chamou Hermione. Ela não parecia estar nem um pouco alegre, ou até mesmo animada.
A ruiva se virou e ficou esperando a outra falar, porém está apenas a encarava com a testa franzida, mordendo o lábio inferior. Ginny deu um sorriso sem graça. Não devia estar com uma aparência muito boa, mas ela realmente não ligava.
- Quê?
- Você sabe alguma coisa sobre o sumiço da Capa de Invisibilidade do Harry? - Ela foi direto ao assunto.. tão típico dela.
- Não. Por que eu saberia? - Ginny rebateu. Ela sentiu as mãos suarem e o coração bater mais rápido.
- Não sei.. eu estou apenas perguntando. - Hermione disse com um sorriso venenoso. Ginny sentia como se estivesse escrito Mentirosa bem grande e legível em sua testa, pela careta que fez a Hermione.
Não deixaria que a ex-amiga percebesse.
- Por acaso você está me chamando de ladra? - Ginny sentiu a coloração do seu rosto tingindo-se de vermelho, o que não era uma boa coisa.
Explosão Weasley na certa.
- Se a carapuça serviu.. - Hermione se levantou e a encarou em desafio.
- Ora, sua.. - Mas Ginny se calou e sorriu. Isso mesmo. Sorriu para a outra. Não daria a satisfação a Hermione vendo que ela havia perdido a linha. - Quer saber? Eu não me importo com o que você ou aquele bando de preconceituosos da minha família pensem. Não me importo nem um pouquinho. Então, que tal me deixar em paz vivendo a minha inútil vida de depressiva louca?
Hermione arregalou os olhos e sentiu a sua boca despencando. Não, ela realmente não esperava por isso. Ginny acenou para ela e virou-se para subir as escadas. Porém nesse mesmo instante Harry Potter entrava no local. Ele encarou as duas sem entender e parou um tempo em Ginny vendo o estado em que a garota se encontrava. Devia pensar que ela havia enfrentado uma guerra, ou algo parecido.
- O que está acontecendo aqui? - Ele perguntou meio sem saber o que dizer.
- Ah, só perguntei se Ginny havia visto a sua Capa, Harry. - Hermione disse lançando um sorriso doce a seu amigo. Ginny soltou um grunhido e teve vontade de voar no pescoço da amiga.
Cínica! Traiçoeira!
- Hermione, não era necessário. Ginny nunca faria algo parecido com isso. - Harry falou com um sorriso confiante nos lábios, olhando depois para a ruiva.
Ginny sentiu que o seu coração ia sair pela boca, suas pernas haviam virado gelatina e o cérebro havia derretido. Sentiu-se o pior ser do universo e o arrependimento a chocou no mesmo instante.
Como é que podia fazer isso com a pessoa que sempre a ajudara?
Ela deu um sorriso trêmulo e um tanto forçado para o moreno e virou-se para subir as escadas. A cada degrau ela sentia que ia desmoronar ao estado de nervosismo que estava.
- Vai saber. Ninguém sabe do que Ginny Weasley é capaz, ultimamente. - Hermione estava sendo irônica e completamente inconveniente. Ginny parou no meio da escada e fechou os punhos com força. - Quis até jogar Quadribol.
Harry ficou em choque sem saber o que dizer. Não sabia se defendia Ginny ou concordava com a amiga. Era uma situação embaraçosa e completamente desnecessária.
Mulheres e seus joguinhos.. Quem as entende?
- Por que você não vai lamber os pés do Ronald, hein Hermione? - Ginny perguntou com toda a calma do mundo, voltando a subir os degraus. O silencio foi absoluto e quebrado apenas pelo barulho da porta do Dormitório Feminino do Sétimo Ano sendo fechado por uma Ginny muito nervosa.
- Acho que você pegou pesado, Hermione. - Harry disse com uma expressão triste. Odiava aquela situação.
- Não enche, Harry. - A amiga disse rebatendo, enquanto pegava seus livros e saia pelo quadro da Mulher Gorda.
Provavelmente ia para Biblioteca, o seu tão sagrado santuário. Pobre Ronald...
Hey, Ginny, don't make it bad,
(Ei, Ginny, não faça ficar pior)
Take a sad song and make it better
(Escolha uma música triste e faça-a ficar melhor)
Remember to let her into your heart,
(Lembre-se de deixá-la entrar em seu coração)
Then you can start to make it better.
(Então você pode começar a melhorar)
Hey, Ginny, don't be afraid,
(Ei,Ginny, não tenha medo)
You were made to go out and get him,
(Você foi feito para sair e conquistá-lo)
The minute you let her under your skin,
(No minuto que você deixá-la debaixo da sua pele)
Then you begin to make it better.
(Então você começará a melhorar)
( N/A: Uma adaptação da música Hey Jude - Beatles.)
Ginny havia emagrecido notavelmente e estava mais pálida do que normalmente. Pelo visto, não se alimentava direito e parecia avoada, obcecada por algo. Alguns pensavam que havia entrado em crise de depressão novamente, outros diziam que havia enlouquecido, mas aquilo não importava nem um pouco para ruiva.
Toda noite, depois do treino de uma das casas de Hogwarts, quando todos se dirigiam para os Dormitórios ou Salões Comunais, Ginny pegava suas anotações e ia em direção ao Campo de Quadribol praticar. Tinha noites que ficava apenas fazendo exercícios para entrar em forma e estar com um ótimo preparo físico, porém esses a castigavam mais do que qualquer outra coisa. A deixava mais pálida e completamente dolorida no dia seguinte.
Essa noite estava excepcionalmente fria, porém Ginny não se importou. A chuva caia e a molhava, fazendo com que estremecesse. Mesmo naqueles tempos ela não perdia a vontade de subir na Vassoura de Fred e voar por tempo indeterminado fazendo fintas e jogadas. Não importava o frio, ou até mesmo a fome e o cansaço. Ela queria apenas treinar para conseguir alcançar o seu objetivo.
Mostraria para todos de sua família o que ela era capaz e eles engoliriam tudo o que haviam dito.
Sentia-se culpada toda vez em que usava a Capa de Invisibilidade de Harry, porém não tinha coragem de devolvê-la. O que o menino pensaria? Que ela era uma cleptomaníaca doentemente apaixonada por ele.
Não mesmo.
O melhor a fazer era continuar em posse da Capa, até que ela não precisasse mais assistir aos treinos. Não que isso fosse possível, mas um pouco de otimismo cai bem.
Naquela noite em especial, não havia comido nada e estava um pouco menos empolgada. Subiu na vassoura e deu várias voltas em torno do Campo tentando sentir-se calma novamente, mas o que conseguiu foi apenas ficar com frio e uma leve formigação na barriga. Ajeitou o cabelo, sentada na vassoura e começou a ler as anotações que havia feito no treino passado.
A chuva caia lentamente em sua cabeça e corpo, porém ela pouco se importava. Guardou o caderno em seu bolso e começou a praticar. A cada minuto sentia sua força evaporando-se e abandonando seu corpo junto com a chuva que a lavava e que apertava mais e mais a cada instante.
Já não enxergava nada e começou a se desesperar. Porém a vontade de alcançar o seu objetivo era bem maior. Era gigante, e ela não pararia por culpa de uma chuva estúpida. Não havia percebido que alguém a assistia e estava alheia de tudo que acontecia em volta.
Parecia que os ácidos contidos em seu corpo estavam fazendo um buraco em seu estômago. Ela não sentia a ponta dos dedos e não enxergava. Tentava fazer a manobra sem nem ao menos prestar atenção se estava fazendo corretamente. As lágrimas começaram a cair de seu rosto em uma velocidade incrível. Soluçava e sentia como se algo estivesse a puxando para baixo.
Lentamente percebeu que estava soltando-se da vassoura. E agora caia em direção ao solo. Nunca soube o que aconteceu depois, pois ela havia perdido a consciência. Apenas sentia que caia em direção a escuridão. Parecia que estava voando.
Em toda essa confusão ela apenas conseguia pensar em Fred e o quanto orgulhoso ele devia estar dela. Não sabia porque esse pensamento a assombrava, mas também não se importava.
Sentiu algo quente a envolvendo e um cheiro familiar. Os sentidos e as cores começaram a lhe voltar e logo ela já sentia a chuva batendo em seu rosto e algo a esquentando ou a abraçando.
Abriu os olhos e encarou as íris verde esmeralda que tanto amava a fitando com medo e preocupação. Sorriu fracamente e levou os dedos gelados e doloridos ao rosto do menino.
- Harry. - Ela murmurou bobamente. Ele não sorriu e nem mudou a sua expressão, apenas fechou os olhos quando sentiu a mão dela o tocando.
- Você é louca ou o quê? - Ele perguntou em um fio de voz.
- Pelo que me lembre, sou normal.
- Não.. não é. - Ele disse aproximando o rosto dela. Ela jurou que ele fosse beijá-la e até fechou os olhos, porém o toque dos lábios não aconteceu. - Não acredito que você tentou se matar.
- O quê? - Ela perguntou confusa.
- Achei que você já tivesse passado dessa fase, Ginevra. - Ele disse com severidade.
- Harry.. não. - Ginny olhou para o menino em desespero. O cansaço estava a fazendo fechar os olhos e impedia que ela explicasse o que havia acontecido. Sentiu o menino a pegando do chão e colocando em seu colo. Ela descansou a cabeça no peito definido dele.
- Estou muito decepcionado com você. - Harry disse com a voz fria e distante.
- Harry. - Ela murmurou tentando explicar-se, mas as palavras lhe faltavam na boca. O abraçou com mais força, esperando que assim ele enfim entendesse o que havia acontecido.
Harry abriu a porta da Enfermaria com um pontapé e a invadiu sem cerimônia. A enfermeira levou um susto e soltou um gritinho fino. O menino colocou Ginny em uma cama e foi conversar com a mulher.
- Ela não está bem. - Ginny ouvia bem de longe, como se assistisse aquela cena bem baixinho, quase sem volume.
- O que aconteceu, Sr Potter? - A enfermeira perguntou.
- Ela tentou se matar novamente. - Ele disse friamente, como se tivesse nojo da menina por culpa daquele fato.
- Merlin! Como?
- Se jogou da vassoura. - Harry disse querendo esquecer da cena que o aterrorizava.
- O quê?! - A enfermeira aproximou-se da cama da ruiva e a fitou. - Como ela não morreu?
- Eu estava com a minha vassoura e consegui pegá-la em tempo. - Ginny teve vontade de gritar ao escutar o menino. Gritar dizendo que não tinha tentado se matar e agradecer por ele ter salvado sua vida mais uma vez, mas as palavras ficaram presas em sua garganta.
Ela sentiu as lágrimas escorrendo pelo seu rosto e a dor preenchendo o seu coração.
- Me ajude a tirar as roupas molhadas dela, Sr Potter. - Falou a enfermeira aproximando-se da ruiva. Harry sentiu o coração acelerar quando tocou no casaco da ruiva e o tirou lentamente. Ginny murmurava palavras inteligíveis e começava a se contorcer.
- Ela vai ficar bem? - Harry perguntou com medo. Ele tocou o braço da menina carinhosamente e Ginny teve vontade de morrer. Queria o abraçar e dizer que estava bem, que só precisava dele ali com ela. Mas não conseguia.
- Vai. Ela sempre fica bem. - A enfermeira disse com um sorriso. - Agora vá, e leve esses pertences dela.
A Enfermeira entregou duas coisas a Harry. As roupas molhadas de Ginny e a Capa de Invisibilidade. Ele realmente não acreditou no que estava vendo e sentiu o ar lhe faltar. Apenas murmurou uma boa noite para a velha enfermeira e retirou-se da Enfermaria.
Ginny havia o decepcionado completamente.
A menina chorava compulsivamente e chamava pelo garoto. Queria pode explicar tudo.. Mas o sono era grande e a consumia. Quando percebeu a escuridão já havia a dominado.
Naquele momento eu percebi que havia perdido a única pessoa que ainda me protegia ou que demonstrava ainda gostar de mim. Aquilo me deixou completamente arrasada. Não sentia vontade de fazer nada.. nem ao menos a idéia de jogar Quadribol me animava, o que era um milagre.
Ninguém fora me visitar, não que fosse alguma novidade, mas eu realmente senti falta de Luna esses dias.
Recebi vários sermões da Enfermeira e até mesmo a Diretora veio me visitar e brigar comigo, porém eu não tinha forças e nem vontade explicar o porquê de tudo aquilo. Era como se a minha vida tivesse perdido toda a graça e o sentido.
Achei que o meu objetivo era apenas o Quadribol, mas me peguei pensando em Harry Potter o tempo todo. Como se ele fosse a gasolina da minha vida o que me mantinha com esperanças e até mesmo com vontade. Algo completamente novo e original para o meu vocabulário.
Eu sentia falta dele e essa era a absoluta verdade.
Nesse momento ele devia ter certeza que eu era uma menina suicida e ladra e isso me incomodava mais que tudo. Não ligava que a Diretora viesse com aqueles papos de "Você não pode desistir.. porque não é uma covarde" e os sermões ridículos da enfermeira, mas ao menos a idéia de que Harry estaria me odiando causava em mim várias reações inesperadas.
Meu coração parecia estar sendo esmagado e pisoteado. O enjôo me dopava e me deixava irritada, em minha barriga parecia que havia um monstro. E em toda vez que pensava em Harry o monstro sentia-se triste e revirava em minhas entranhas.
Pela primeira vez em muito tempo julguei-me completamente louca.
Louca por Harry Potter.. novamente.
- Você já pode ir, Srta Weasley. - Disse a enfermeira, encarando a ruiva com os olhos dominados por nojo e repulsa.
- Eu não posso ficar? - Ginny perguntou com os olhos brilhando em expectativa. Não queria sair daquela Enfermaria por nada, pois se saísse teria que enfrentar todos os problemas. E Ginny não queria lidar com eles tão cedo.
- Não. Você vai embora, agora! - A enfermeira disse sem dó nem piedade.
Ginny revirou os olhos e vestiu-se com o uniforme da escola. Estava ali a mais ou menos uma semana e ainda não se sentia pronta para sair. Pensou seriamente em se amarrar na cama e implorar de joelhos pra enfermeira, mas aquilo seria completamente ridículo.
Despediu-se e saiu da Enfermaria. Obviamente a fofoca já havia se espalhado e ela não ficou surpresa ao ouvir os comentários que as pessoas faziam quando passava. Soltou um longo suspiro e nem ao menos cogitou a idéia de ir pra aula, o que mais queria era sua cama quente e distância de qualquer estudante grosseiro de Hogwarts.
A enfermeira não havia entregado o caderno de Ginny para o menino, e agora a ruiva o carregava o abraçando como se tivesse medo de perdê-lo. Falou a senha para a Mulher Gorda.
- Está incorreta, Srta Weasley. A senha já mudou. - A Mulher Gorda respondeu de dentro de seu quadro.
- Merlin! Mate-me logo! - Gritou Ginny com raiva. Os estudantes que passavam alio perto apenas a olharam com desprezo e continuaram em seu caminho.
Mais coisas para comentar sobre a Ginny Louca Weasley.
- Sem senha, não pode entrar. - A Mulher Gorda falou para a ruiva. Pelo visto até ela sabia das fofocas.
- Por favor, você sabe que sou eu, então por que não me deixa entrar? Não vai custar nada! - A ruiva implorou para o quadro.
- Eu não posso deixar, Srta Weasley. Regras da escola. - A Mulher Gorda concluiu.
- Ah! Essas coisas só acontecem comigo.. - Murmurou Ginny passando a mão pelo cabelos ruivos. - Por favor.
- Dente de Lobisomem. - Disse uma voz atrás da menina. Ela pode reconhecê-lo mesmo sem ter virado para olhar ou qualquer coisa do tipo. Aquele cheiro e aquela voz eram inconfundíveis.
Sentindo que seu coração estava acelerando, Ginny praguejou mentalmente.
Harry passou por ela e invadiu o Salão Comunal esbarrando nela. Ginny revirou os olhos e seguiu o menino. Agora não tinha nenhum cansaço ou poção, ou qualquer coisa pra impedir que ela falasse. Ele querendo ou não explicar, ela falaria o que estava fazendo naquele Campo.
- Harry? - Ela o chamou. Mas ele não deu atenção e continuou a sua caminhada em direção ao Dormitório Masculino do Sétimo Ano. - Harry!
Nenhuma resposta.
Ficou parada no meio do Salão Comunal, implorando para que ele virasse e a encarasse, nem que fosse pr xingá-la ou jogar uma azaração. Só queria alguma resposta vindo dele. O barulho da porta do Dormitório se fechando a despertou de seus devaneios.
Saiu correndo em direção a escada e tentou abrir a porta, porém essa estava trancada.
- Harry, por favor. - Ela pediu um tom de súplica. - Eu sei que sou uma idiota, mas deixa pelo menos eu explicar.
- Explicar pra quê? Se já está tão óbvio. - Ele respondeu grosseiro. Ginny soltou um longo suspiro e apoiou a cabeça na porta.
- Eu não sou uma cleptomaníaca suicida, eu juro. - Ginny parecia estar desesperada para que ele a entendesse. Como se sua vida dependesse de aquilo.
- Ginevra, apenas vá embora. - Ele parecia estar bastante bravo e chateado.
- Harry.. lembra no seu segundo ano? Todo mundo pensava que você era o herdeiro de Slytherin, mas você não era. As aparências enganam. - Ela falou aquilo como uma última esperança, e nem sabia por que estava relembrando aquele tempo tão ruim.
A porta abriu com um crack. Ginny deu um sorriso vitorioso e levou a mão à maçaneta.Entrou no quarto calmamente e encarou o menino sentado em cima de sua cama.
- Você tem um minuto. - Ele disse com a voz domada de raiva.
- Eu não estava tentando me matar aquele dia. - Ginny percebeu que tremia e que o seu coração cavalgava em seu peito, mas não se importou.
- O que estava fazendo então? Vendo se conseguia voar? - Harry disse ironicamente.
- Eu.. eu estava treinando. - Ela parecia estar totalmente constrangida de ter falado aquilo. Como se revelasse seu maior segredo.
- Treinando o quê? Conte essa lorota para outra pessoa, Ginevra.
- Eu juro..Eu havia roubado a sua Capa em um ato de desespero e assistia todos os seus treinos com ela, anotando tudo em um caderno. Depois toda a noite eu treinava os movimentos e jogadas que você ensinava. Eu não estava tentando me matar ou nada do tipo.. eu apenas passei mal.
Harry estava sem palavras, a encarava com os olhos arregalados.
- Ta, mas.. Quê? - Ele perguntou confuso.
- Olha.. eu realmente roubei a sua Capa de Invisibilidade, ta legal? Mas foi em um ato de desespero, eu precisava de ajuda. - Ginny confessou com a cabeça baixa.
- Não era mais fácil você pedir a ajuda? - Harry perguntou com uma careta você-é-burra-ou-o-quê.
- Não! Você não entende, Harry? - Ela passou a mão nos cabelos e soltou um suspiro, tentando se acalmar. - Minha família é completamente contra o meu sonho medíocre de jogas Quadribol. Eles nunca te perdoariam se você me ajudasse. Eu precisava de ajuda, mesmo que fosse indiretamente.
- Ginny... eu não acredito nisso. - Ele estava sendo sincero. Ginny conseguiu ver isso nos olhos perfeitos dele.
Como resposta ela pegou o caderno que estava em seus braços e jogou no colo do menino. Ele a encarou um pouco confuso e ela fez um movimento com a cabeça para que ele lesse. Não se importou que havia anotações de como ele estava sexy naquele uniforme ou algo do tipo.. queria apenas provar que não era a louca que ele pensava.
- Você anotou tudo o que eu disse, não é mesmo? - Ele perguntou com um sorriso de confusão brotando nos lábios.
- Sim. Cada palavra e gesto. - Ginny respondeu. Estava corada e completamente envergonhada. Queria que o chão a engolisse.
- Isso é.. inacreditável. - Ele disse confuso, passando os olhos por tudo que Ginny anotara.
- Eu sei. Eu estava desesperada e foi a única saída que encontrei. - Ginny aproximou-se dele e sentou ao lado dele na cama. - Eu não tentei me matar.
- Acho que te julguei mal. - Ele disse um pouco envergonhado. Encarou a menina e deu um sorriso sem-graça. - Você realmente não é a cleptomaníaca suicida que eu pensei que fosse.
- Obrigado. - Ela murmurou com um sorriso, pegando o caderno das mãos dele.
- Eu entrei em desespero quando te vi caindo da vassoura. - Ele murmurou um pouco confuso. - Na hora não consegui encontrar outra explicação a não ser que você estava tentando se matar.
- É, eu já estou acostumada com isso. - Ginny murmurou com uma careta.
- Acho que preciso ficar um tempo sozinho, Ginny. - Ele pediu pra menina gentilmente.
- É, eu também. - Ela respondeu, caminhando em direção porta.
- Eu não sabia que ficava sexy fazendo a Finta com giratória. - Ele disse com um sorriso prepotente, antes que ela saísse do quarto.
Ginny sorriu e virou-se pra ele com o cenho franzido.
- Não tem espelho aqui, não? - Com um último olhar, Ginny deixou o Dormitório e Harry para trás.
A esperança e a vontade de volta em seu coração e o monstro em seu estômago ronronado alegremente.
(Narrado por Ginny Weasley)
A conversa com Harry fez toda a diferença. Já não importava mais nada; As fofocas, os risos falsos, os dedos apontados para mim em toda parte. Eu realmente estava pouco me importando, pois o perdão de Harry havia clareado a minha vida.
Mesmo eu estando sem Capa, ou seja sem treinos, eu não parecia triste nem abatida. Eu daria um jeito.
Eu sempre dava um jeito.
Levantei no dia seguinte, sem nenhum traço de preguiça e cansaço. Havia reabastecido todas as energias possíveis com a minha estadia na enfermaria. Agora eu tinha que dar a volta por cima e calar a boca de toda a escola.
Peguei o meu uniforme e fui cantarolando para o banheiro. Isso mesmo. Cantarolando. Algumas meninas do meu dormitório chamariam isso como milagre ou algo parecido. Eu chamava como normalidade.
A porta do banheiro estava fechada e eu fiquei ali esperando. Cantarolando e batucando com os meus dedos. Em um minuto ela foi aberta com um rangido e Hermione Granger ficou ali me encarando.
Eu vi a raiva e a prepotência no olhar dela. Tudo bem.. eu assumia. Ela havia me descoberto, mas eu não conseguia entender por que aquilo valia tanto pra ela.
Se ela quisesse eu até mesmo confessaria na frente de todos e até a chamaria de "Sabe-tudo", mas acho que não valia a pena.
- Só não vai roubar alguma coisa do banheiro, Ginny. - Ela murmurou com desdém. O sorriso irônico e falso que ela me mandou fez com que eu atingisse uma coloração vermelha. A raiva pulsava em minhas veias e começava a me cegar.
Meus pulsos se fecharam em ira e comecei a respirar profundamente, segurando a vontade de pular em cima dela e matá-la.
Inspira. Expira. Inspira. Expira.
- Não se preocupe.. Gosto de coisas masculinas, sabe? - Eu disse com a voz um pouco trêmula de tanta raiva. Hermione deu um risinho debochado e passou por mim.
Eu não sabia que o havia acontecido com ela, mas aquela não era a Hermione Jane Granger que eu havia conhecido. Era uma víbora traiçoeira, isso sim.
- Achava que reconquistaria o Harry fingindo encontrar a Capa em um beco escuro? - Hermione me olhou com os olhos pegando fogo. Parecia que ela estava com ciúme.
Ciúme do quê? Eu não tenho a mínima idéia.
Primeiro, ela gosta do meu irmão. Sim, esse gosta significa "ama, deseja, e derivados." Segundo, Harry nunca passou de um irmão pra ela. E terceiro, Harry já tem dona.
Não que ele saiba disso ou simplesmente pense nisso, mas ele já tem e ponto final. E eu não estou afirmando que gosto dele ou nada do tipo. Apenas sei que somos feitos um para o outro.
Ok. Ignorem isso.
- Não, na realidade eu roubei a Capa tentando dá-la pra você. Nem todos gostam de sua feiura, Hermione. - Eu nem olhei a reação dela. Apenas virei entrei no banheiro e bati a porta com força.
Meus dedos tremiam e eu vi as lágrimas de raiva brotando em meus olhos castanhos.
Que menina idiota! O que ela pensa que eu vou fazer? Roubar o melhor amigo dela?
É. Talvez ela pense isso! Tudo bem.. nada de pânico, Ginny. Você sabe que não vai roubar o Harry. Só um pouquinho, quem sabe.
Liguei o chuveiro e me joguei lá dentro. A água fria tocou os meus músculos tensos e me fez relaxar. Sorri e soltei um longo suspiro.
Faria de tudo para encontrar a antiga e nerd Hermione Granger.
Desliguei o chuveiro e me aprontei. Já devia estar atrasada, mas não me importava nem um pouco. Abri a porta e sai correndo.
O dormitório estava vazio. Juntamente com o Salão Comunal e os corredores. É, pode ser que eu estava um pouco mais atrasada do que previra.
Cheguei ao Salão Principal ofegante e suada, porém satisfeita. A escola inteira ainda estava tomando café, e isso só podia significar uma coisa: A diretora daria um aviso.
Como eu sabia? Bom.. era óbvio demais. Digamos que todos na escola são previsíveis. Sei exatamente quais vão ser as broncas e as reações de cada um. Deve ser pelo fato de ter ficado calada por um bom tempo, apenas observando.
Fui em direção a mesa da Grifinória e sentei afastada de todos que conhecia. Não queria dar explicações ou até mesmo conversar com ninguém. Percebi que alguém me encarava e procurei o par de olhos verdes. Fiquei completamente decepcionada quando vi que era apenas Hermione e que ela tinha a raiva transbordando de suas íris escuras. Apenas dei um sorriso falso e encarei a mesa dos Professores, sem dar muita atenção.
- Não vai comer, Ginny? - Perguntou uma menininha que devia ser do primeiro ano ou segundo. Não me lembrava do nome dela, mas sua face não me era estranha.
- Oh! Não, obrigada. - Eu disse meio sem jeito, com um sorriso torto. - Estou sem fome.
O pigarro de McGonagall chamou minha atenção e todas as cabeças viraram-se para ela. Estava incrivelmente esbelta em seu traje negro de bruxa e o chapéu pontudo. Porém continuava com o mesmo ar severo com os lábios contraídos e o cabelo preso perfeitamente.
Tem certas coisas que nunca mudam.
- Bom dia a todos. - Ela murmurou com a voz alta e rígida. Alguns alunos do primeiro ano que estavam sentados perto de mim estremeceram, enquanto os veteranos apenas davam risinhos.
- Bom dia, diretora McGonagall. - Respondemos todos em coro. Ela sorriu. Um sorriso um pouco forçado, porém sincero. Pegou um pergaminho que estava em sua mesa e o abriu.
De alguma forma desconhecida por mim, eu sabia que o aviso não seria bom. Parecia que o meu sexto sentido estava apitando, mas nem liguei muito. Apenas continuei a encarando sem muita curiosidade ou interesse.
- Por culpa de alguns acontecimentos atuais.. Ficou proibida a utilização do treino de Quadribol ou vassouras para estudantes que não pertençam ao time de suas Casas. - Ela disse com pausas e contrastes. Por incrível que pareça eu tive a sensação que ela olhava diretamente pra mim e aquilo fez meu sangue palpitar em minhas veias e corar o meu rosto.
O desânimo logo me pegou e eu abaixei a cabeça. Tinha a certeza que ela havia tomado aquela providencia para que eu não tentasse me matar novamente. Como se aquele aviso estúpido fosse me brecar. Eu a encarei em desafio, levantando a cabeça sem medo algum. Percebi que nos olhos dela não havia apenas a severidade normal e sim um toque de preocupação. Parecia que ela sabia exatamente o que eu estava fazendo e o porquê de tudo aquilo. Como se alguém tivesse explicado para ela.
Meus olhos percorreram a mesa inteira em busca do traidor. Em busca de Harry Potter. Pela expressão dele, estava tão espantado quanto eu. Vi em seus olhos verde esmeralda que tanto me fascinavam a verdade e a lealdade. Não podia simplesmente culpá-lo sem ter a plena certeza. Ela me encarou de volta e deu um sorriso triste.. como se quisesse me apoiar, ou algo parecido.
Correspondi sem vontade e voltei minha atenção a McGonagall. Ela falava mais alguns avisos, porém eu não conseguia entender nenhuma palavra. Pelo visto meus treinos e todo o meu esforço havia sido em vão, porque eu não poderia treinar mais. E assim nunca alcançaria o meu objetivo.
Toda a esperança foi sugada de dentro de mim e eu realmente desejei que tivesse morrido com a queda da vassoura.
Como costume, eu olhei em direção a mesa do Corvinal em busca de Luna. Pelo menos ela me entenderia e me acalmaria, porém o que eu encontrei foi um par de olhos azuis lotados de culpa. Naquele momento eu entendi tudo o que havia acontecido e senti o meu coração parar.
Não acreditava que Luna havia me dedurado. Era o maior absurdo que eu poderia pensar um dia, mas pelo visto era a mais pura verdade. A decepção me deixou cega de raiva e tristeza. Após lançar um olhar mortífero para ela, levantei da mesa e fui saindo rapidamente do Salão, sentido todos os olhos me acompanharem.
- Ginny, espera! - Eu escutei ela gritar. Mas eu não parei. Eu estava demasiada brava e triste para ter alguma conversa com alguém. Do jeito que eu sou, provavelmente falaria besteiras e me arrependeria mais tarde.
Apressei o meu passo em direção ao meu quarto, o lugar de onde eu nem devia ter saido naquela manhã. Toda a empolgação do perdão de Harry pareciam bem distantes.. como se pertencessem a uma era bem remota. As lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto e invadiram a minha boca. O gosto de sal fez com que o meu estômago se revirasse.Senti uma mão me puxando, fazendo-me virar.
Era Luna. E ela não parecia estar muito contente.
- Satisfeita? - Eu gritei, sem pensar.
- Você não entendeu nada, Ginny. - Ela disse com a voz baixa e lunática de sempre.
- Está mais do que claro. - Eu disse seca. Tentei me virar e fugir dela novamente, mas fui impedida.
- Eu fiz isso para o seu bem. - Ela falou encarando os próprios pés.
- Isso nunca me trará felicidade.. você está brecando e impedindo o meu maior sonho!
- Você não percebe? Você está a cada dia mais louca e neurótica. Sua depressão atingiu um estágio que ninguém mais consegue te acompanhar em nada.. Você já tentou se matar! Eu disse que te apoiaria, mas não em um caso onde você está se prejudicando! Eu não aguento mais te ver piorar sem poder fazer nada!
Eu fiquei sem fala. Sabia que o que ela estava falando fazia sentido, mas do mesmo jeito eu me senti traída. O meu corpo tremia e eu pensei que ia desmaiar, portanto o meu orgulho fez com que eu ficasse fixa no chão, em pé a encarando em desafio.
- Você destruiu a única chance que eu tinha de melhorar, Luna. - Minha voz era baixa e fria, e eu coloquei toda a minha raiva nela. Vi os olhos dela se arregalarem em terror e encher-se de lágrimas, mas não fiz nada. Apenas virei as costas e fui andando com passos acelerados e descompassados.
Eu queria ficar o mais longe possível de qualquer prova que o meu mundo estava desabando. Eu queria apenas um colo ou ombro amigo para chorar.
Eu estava mais sozinha do que nunca.
Ginny deu Graças a Merlin quando passou pela Mulher Gorda e praticamente correu pro dormitório. A cama parecia brilhar e Ginny jogou-se nela sem dó e piedade. Foi sentindo os músculos relaxarem o nó na garganta se desfazendo. Parecia que havia entrado em uma bolha, onde todos os problemas evaporavam.
Isso se chama ilusão. Doce ilusão.
Fechou os olhos e apreciou a calma e o silêncio. Toda a dor em seu estômago e no coração havia sumido, agora só havia ela e os pensamentos. Alguns se direcionavam pra sensação de estar voando e outros a traiam e a levavam aos beijos dados em Harry.
Sensações que estavam longe e que agora eram apenas lembranças.
Aquilo fez com que um aperto agudo doesse em seu peito. Tentou esquecer e ficar sem nenhum pensamento, apenas relaxando e se concentrando para entrar em transe. Queria esquecer de tudo, e que o chão a engolisse.
Sentou-se na cama com o objetivo de tirar os sapatos e os casacos. Mas ao fazer isso percebeu que havia algo ali. Um embrulho e uma carta, na ponta de sua cama. A curiosidade falou mais alto do que a vontade de se enfiar em baixo das cobertas e apagar. Ela pegou o embrulho e a carta e os encarou. Viu a caligrafia elegante e fina de Harry no envelope, vendo que era endereçada a ela. Rasgou o papel e fitou a mensagem.. um sorriso brotou em seus lábios.
Mando pra você um presentinho.. Faça bom uso. Te espero no Campo de Quadribol. Harry.
Rasgou o embrulho parecendo uma selvagem sedenta e praticamente ronronou de tanto prazer ao encarar o tecido fino da Capa de Invisibilidade. A vestiu e saiu correndo em direção ao seu lugar preferido no Castelo. Dessa vez sem culpa ou algo do tipo por estar com a Capa do menino, apenas o prazer de estar invisível.
Observou de longe o treino do time da Grifinória e pelos rostos cansados e suor em seus corpos, esse já estava no fim. Foi em direção a parte isolada da arquibancada e sentou-se lá, apenas os encarando.
Eles tinham uma tremenda sorte por estarem em cima daquelas vassouras sem enfrentar nenhum tipo de preconceito, ou algo parecido. Ela daria tudo para estar lá e poder finalmente realizar o seu sonho.
Na verdade, ela queria ser uma menina normal. Queria poder voltar a namorar e apenas um nome lhe vinha em sua mente, quando pensava nisso. Harry Potter. Esse pensamento a ruborizava e fazia xingar baixo, mas sabia que era a pura verdade. Ela queria muito poder abraçá-lo com força e beijá-lo até acabar as energias, mais uma vez em sua vida ela estava incondicionalmente apaixonada por Harry Potter.
O observou comandando a equipe e isso fez com que o coração batesse mais forte em seu peito. Viu os músculos se contraindo quando ele dava uma bronca em alguém que ela não conseguia identificar por culpa de sua insanidade. Imaginou-se beijando o pescoço alvo e desnudo dele e o tocando com carinho.
Merlin! Ela estava ficando louca! Louca de desejos impuros!
Nem percebeu que ele havia encerrado o treino, pois estava mais ocupada imaginando insanidades. Apenas viu-se sozinha no Campo de Quadribol, tremendo de desejo e invisível.
Escutou um barulho ao seu lado e viu Harry pousando a vassoura perto de si. Ele deu um sorriso misterioso e guardou um pergaminho velho e amarelo no seu bolso. Aproximou-se e sentou exatamente ao lado da minha.
- Apreciou o treino? - Ele perguntou com a voz rouca e febril, fazendo Ginny suspirar.
- Na realidade, eu estou meio avoada. Nem prestei muita atenção. - Ela deixou escapar, antes mesmo de pensar no que estava fazendo. Xingou-se mentalmente, devia ter mentido.
- Avoada? Eu não entendi o que aconteceu, direito. - Ele falou tateando a arquibancada em busca da mão da menina.
- Luna foi falar com McGonagall. Acha que eu estava fazendo uma loucura e a diretora proibiu-me e qualquer estudante que não faça parte do time de treinar. Foi isso que aconteceu. - Ela murmurou sem muita vontade. Parecia que a vida dela havia se esvaído, e que só sobrara a casca.
- Você não é uma pessoa muito sensata, Ginny. - Ele disse a repreendendo. - Luna fez isso pro seu próprio bem.
- Eu sei, e não a culpo, juro. Acho que ela agüentou muito tempo meus surtos, calada. Sabia que ia explodir em algum momento. - Ginny admitiu cabisbaixa. Harry tocou a Capa de Invisibilidade e a retirou com delicadeza.
- Eu sinto muito. - Ele disse com sinceridade. Ginny percebeu isso e esboçou um sorriso triste. Apenas estando ali com ele, as coisas não pareciam assim tão ruins.
- Eu sei que sente.. Mas agora não há nada que possa se fazer, Harry. O meu sonho impossível está a cada dia mais distante de mim. - Ginny o encarou nos olhos e ele pode captar a dor e o sofrimento. Em um impulso ele levantou a mão para tocá-la, mas desistiu no meio do caminho.
- Você não deve desistir.
- E eu não vou. Apenas estou me desanimando e tentando achar soluções, porém sinto que elas vão acabar em um devido momento.
- Eu sei. Queria poder ajudar. - Agora sim ele havia tocado na mão dela e foi como se isso espalhasse uma onda de eletricidade pelos corpos deles. Ginny corou e desviou o olhar dele.
- Mas você não pode, Harry. - Ela murmurou docemente, encarando o Campo.
Eles ficaram vários minutos naquela posição. Ginny encarando a sua frente de mãos dadas com Harry. Ele estava pensativo e mordia o lábio inferior.
- Acho que posso. - Ele abriu um sorriso e a encarou com esperança.
- Desembuche.
- Você não quer fazer outro teste? - Ele perguntou esperançoso.
- Teste? Teste pra quê, Harry? - Ela disse sem entender, o encarando com o cenho franzido.
- Para entrar no time da Grifinória. - Ele parecia decidido e não conseguia enxergar as complicações que aquilo traria.
Em primeiro lugar, não seria nada fácil. Considerando que a diretora provavelmente seria contra isso. Em segundo, ninguém ia querer aceitar uma Cleptomaníaca suicida no time, com uma exceção óbvia; Harry. E em terceiro, Harry arranjaria briga com todos os Weasley.
Ou seja, era impossível apenas pensar nesse fato.
- Não fale asneiras. - Ela retrucou um tempo depois.
- Você sabe que eu não estou falando nenhuma besteira.
- Você é um míope inconseqüente Harry. Eu não vou entrar pro time da Grifinória. Eu não quero entrar. - Ela falou em um tom histérico. Levantou-se e saiu praticamente correndo.
Harry soltou um longo suspiro. Seria difícil convencer aquela ruiva louca.
N/A: Eu estou com um pouco de pressa, me desculpem. Vários imprevistos atrapalharam a minha atualização e eu sinto muito. Não esperava demorar tanto tempo. Apenas torço para que tenham apreciado o capítulo.
Não vou responder a todas os comentários, agora. Pois a maioria delas é da enquete. Eu apenas agradeço a atenção que vocês tem dado a fic e fico muito feliz com isso.
O próximo capitulo promete, e esse foi mais ou menos de ligação.
Ginny se apaixonou novamente por Harry e isso dá inicio a vários acontecimentos na fic.
Bom.. chega de falatório.
Capa: O que vocês acharam? Eu segui a enquete e pela maioria dos votos a capa é do Harry e da Gi. Ela é bem simples e tem apenas um objetivo: Mostras a cumplicidade entre os dois. Espero que tenham gostado.
Agradecimentos: Agradeço a todos que estão acompanhando a fic, mas em especial as pessoas que deixaram comentário. E não posso deixar de citá-las: Dhanny, Juliana Andrade da Silva, May Lovegood Black, Jessica M. Adams, nõnõ ( Joane) , Guta Weasley Potter , Cla Weasley Malfoy, Tatah Potter, Tonks e Lupin , Carolina Vilela Good God.
E um beijo especial para as duas meninas que me ajudaram muito nesse capitulo em termos de inspiração e apoio: Byzinha Lestrange e Laís Paiva.
Obrigada por todas as palavras de incentivo, eu não vou desistir da fic! Nunca! Quero reviews, hein? Que tal 10 para o próximo capitulo?
Acho um bom número.
Até o próximo, Bjs.
Ari B.
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