* Capítulo 4 *
Harry não tentou beijá-la, como esperava. Em vez disso, en¬terrou os dedos em seus cabelos e encarou-a com um misto de paixão e desejo.
Não devia deixar que isso acontecesse. Devia resistir, lutar, livrar-se das mãos dele... Era uma mulher supostamente noiva! Não podia permitir que Harry acreditasse que se deixaria seduzir por outro homem que não fosse o noivo.
Como se estivesse lendo seus pensamentos, ele depositou um beijo rápido e suave em seus lábios.
— Esqueça William. Isso não tem nada a ver com ele. Isso é entre nós dois, algo que desperta nossa curiosidade há muito tempo.
— Não...
— Não? Nunca pensou como seria estar em meus braços?
— Nunca.
— Nunca pensou em comparar meus beijos e os de William?
— Estou perfeitamente satisfeita com meu noivo!
— Nesse caso, por que está tremendo?
— Porque sinto frio.
— Mas sua pele está quente. E macia. E seu rosto... — ele sorriu, tocando sua face com a ponta dos dedos. — Está corado de desejo.
— Isso não é desejo. É maquiagem.
— Nenhum cosmético é capaz de fazer isso. E quanto aos olhos? Nunca vi um tom de castanho tão lindo. E estão brilhando, traindo suas palavras.
— Não estão brilhando. O problema é que não enxergo sem meus óculos e...
Ele riu.
— Você, Hermione Granger, está muito inclinada a pequenas mentirinhas. Vai ter de parar com isso... e sei como fazê-la parar.
Sabia o que ele pretendia. Ia beijá-la, e quando os lábios tocassem os seus, não teria mais forças para resistir.
— Harry, não — implorou, tentando evitar o inevitável. — Vai se arrepender. Nós dois vamos nos arrepender.
— Talvez esteja certa. Mas ao menos teremos algo digno de nosso arrependimento — e beijou-a.
Foi mágico. Hermione sentia-se levitar, o sangue correndo pelas veias com velocidade espantosa e o coração disparado, entoando uma melodia envolvente.
As mãos deslizavam por suas costas, e uma delas deteve-se em sua cintura para puxá-la para mais perto. Ajustavam-se perfeitamente e, incapaz de conter o impulso, Hermione abraçou-o e correspondeu ao beijo.
Muito tempo havia se passado desde a última vez em que estivera nos braços de um homem. Mesmo assim, ainda recor¬dava como podiam ser maravilhosas as sensações provocadas por um toque delicado, por uma carícia sensual. Mas o que sentia agora era diferente, e essa diferença a perturbava. Era uma combinação de perfeição e perigo, de realização e ruína, de segurança e vulnerabilidade. Pior, era uma tentação na qual não podia cair.
Como se pressentisse seu alarme, Sam começou a chorar. Agarrando a interrupção como se ela fosse a salvação pra todos os males, Hermione empurrou-o e aproximou-se do berço portátil. Com o bebê nos braços, aproximou-se da janela e manteve-se de costas para Harry.
Podia ver sua imagem refletida na vidraça. Os punhos cer¬rados, o rosto contraído, a respiração ofegante... Então não fora a única atingida. A certeza não lhe trouxe alívio. Pelo contrário, só alimentou seu alarme. O caminho que percorriam levava ao desastre, e tinha muito a perder para seguir às cegas. Tinha de pôr um ponto final nisso de uma vez por todas.
— Vou trocar Sam antes de ir para casa — disse com voz controlada.
— Pode trocar as fraldas do bebê, mas não vai a lugar nenhum. Nem esta noite, e nem amanhã.
— Você pode cuidar dela sozinho. Voltarei amanhã cedo e...
— Já disse que não. Prometeu ficar até que Alexander ou Carina retornassem, e pretendo cobrar a promessa.
— Harry, isso não é correto. Não é...
— Próprio? — Ele riu com sarcasmo. — Acha que estou preocupado com essas bobagens? Só me preocupo com o bebê que você está segurando, com o que é melhor para essa criança. E o que sei sobre bebês pode ser resumido numa única palavra. Niente. Nada.
— Não sei muito mais que você. Além do mais, hoje aprendeu o essencial. Sabe como trocá-la, como alimentá-la, e é evidente que pode sobreviver a uma noite sem minha ajuda.
— Talvez, mas... por quê? Quero que fique aqui, a meu lado, ajudando em todas as decisões.
— Contrate uma babá.
— É muito arriscado. Não quero que a polícia volte a meter o nariz nesse assunto. É só por um ou dois dias, Hermione! Logo Alexander e Carina virão buscar o bebê, e então tudo voltará ao normal.
Hermione aninhou a criança nos braços. Nunca mais as coisas voltariam ao normal. Sua vida havia sido alterada de maneira irreversível, e a única coisa que podia fazer era esperar e torcer para que tudo acabasse bem.
Esperava que Alexander e Carina voltassem, que Sam fosse feliz com os pais, que Harry não insistisse em aproximar-se, e que James jamais soubesse sobre sua breve insanidade. Mas, acima de tudo, esperava poder escapar com o coração intacto. Sabia que Harry não estava interessado em compromissos afetivos e, além do mais, tinha uma promessa a cumprir e um sonho a realizar. Não permitiria que ninguém a desviasse desse objetivo.
— Não tentarei tocá-la novamente esta noite — Harry ofereceu. — Prometo que estará segura em minha casa.
Segura? Inacreditável. Mas não tinha escolha. Se não havia sido capaz de abandonar o bebê mais cedo, certamente não poderia deixá-la agora. Conseguira manter-se afastada de Harry durante onze meses, e podia suportar mais algumas semanas sem ceder à tentação.
— Está bem — suspirou resignada.
— Pode dormir com uma de minhas camisas. E também tenho um robe extra e uma escova de dentes nova. São apenas dois quartos, mas os dois têm banheiro privativo. Prefere ficar com Sam esta noite, ou quer que eu a leve para o meu quarto?
— Eu fico com ela.
— Está bem. Não quer que eu fique com ela um pouco, enquanto você toma uma ducha?
— É uma ótima idéia.
Minutos mais tarde Hermione colocava-se sob o jato de água morna e revigorante que parecia capaz de lavar todas as tensões do dia. Flexionando os ombros, fechou os olhos e deixou-se envolver pela sensação de alívio e conforto, e foi com pesar que finalmente desligou o chuveiro e voltou para o quarto. Harry deixara o robe e uma camisa de seda sobre a cama.
Vestida, escovou os cabelos molhados e notou os leves re¬flexos dourados sob o tom castanho.
— Está vestida? — Harry perguntou do lado de fora.
— Sim, entre.
— Já troquei a fralda de Sam e ofereci a mamadeira — ele comunicou. — Pode ficar com ela enquanto vou buscar o berço portátil?
Em pouco tempo ele as acomodou. Hermione ficou parada no meio do quarto, perturbada sob o olhar intenso que parecia desnudá-la. Tinha certeza de que seu disfarce desmoronava a cada segundo. Depois daquele beijo, Harry certamente sabia que usava roupas vários tamanhos maior que o seu, e agora que a via coberta apenas por uma camisa e um robe, devia ter obtido a confirmação.
— Precisa de mais alguma coisa? — Ele perguntou.
— Não, obrigada.
— Se precisar, não hesite em me chamar. Boa noite.
— Boa noite.
— Ah, Hermione...
— Sim?
— Notei que conseguiu se ajeitar sem aqueles óculos. Talvez tenha sido um caso de cura milagrosa...
A porta se fechou atrás dele e Hermione emitiu um gemido abafado. E agora o que faria? Talvez fosse melhor desistir das mentiras e salvar o que ainda lhe restava de dignidade.
Depois de inspecionar o bebê, deitou-se e apagou o abajur sobre o criado-mudo. O luar iluminava o teto e ela cruzou os braços sob a cabeça, estudando os reflexos. Lá estava ela, pas¬sando à noite no apartamento de Harry. Se algum dia James des¬cobrisse, sofreria um ataque cardíaco. Precisava tomar provi¬dências para que ele jamais soubesse.
Mais importante que isso, tinha de impedir que Harry desco¬brisse que não era noiva, ou estaria encrencada. E não só por ter mentido. Aquele beijo havia sido um engano. Um grande engano. Um engano que não pretendia repetir.
Mais quatro semanas...
De repente, o curto período de tempo parecia uma eternidade.
Um ruído ecoou em algum lugar do apartamento e Hermione abriu os olhos. O relógio marcava três da manhã, e ainda não dormira quase nada. E a culpa era de Harry. Por que alguém escolhia morar num lugar tão barulhento? Sam agitava-se no berço a cada ruído, resmungando e obrigando-a a levantar-se para verificar se estava coberta e bem acomodada.
Como agora. Descoberta, a pequena agitava os braços e as pernas como uma pequena locomotiva, resmungando em sinal de desconforto. Sonolenta, Hermione pegou-a e saiu do quarto em busca das fraldas e das mamadeiras. Encontrou as primeiras bem no meio da sala, e descobriu aliviada que Harry deixara várias mamadeiras preparadas no refrigerador. Um minuto no microondas foi suficiente para aquecer o leite na temperatura perfeita.
Na sala, Hermione puxou uma cadeira para perto da janela e acomodou-se, aninhando a pequena nos braços. Londres brilhava lá embaixo, movimentada, mesmo a esta hora da madrugada.
A lua cheia brilhava no céu e inundava o aposento com sua luz prateada. Hermione olhou para Sam e espantou-se com a in¬tensidade dos sentimentos que passara a nutrir por essa criança em menos de vinte e quatro horas. Podia até imaginar-se cui¬dando de um filho... e podia imaginar o pai, também.
Só havia um problema. Queria um homem que a amasse com exclusividade, que a escolhesse dentre todas as mulheres e nunca mais olhasse para trás. E esse homem não podia ser Harry, concluiu, os olhos cheios de lágrimas.
— Tudo bem?
Não o vira aproximar-se, e agora mantinha a cabeça baixa para impedir que ele visse as lágrimas em seus olhos.
— Sim, tudo bem. Sam acordou molhada e com fome.
— Eu já esperava algo parecido — ele sorriu. — Você parece cansada. Quer que eu cuide dela durante o resto da noite?
— Não, eu... estou bem.
— Pois parece exausta — ele insistiu, massageando seus ombros na tentativa de ajudá-la a relaxar. — Fique calma, Hermione. Tudo vai acabar bem. Tenho certeza disso.
— E se ela não voltar? E se ela abandonar o bebê?
— Então Alexander cuidará da filha, e encontraremos uma so¬lução para o problema. Essa menina é uma Potter, e farei tudo que estiver ao meu alcance para protegê-la.
— Sua família tem sorte por poder contar com alguém como você.
— Seu noivo também é um homem de sorte. Poucas mulheres teriam feito o que fez hoje.
— Eu tinha escolha? — Ela sorriu, tentando amenizar a tensão que crescia entre eles.
Harry não retribuiu seu sorriso.
— Você sabe que sim — respondeu. — Podia ter se negado a ajudar. Podia ter virado as costas para mim e ignorado um problema que, afinal, não é seu. Mas ficou a meu lado, e isso significa muito.
Hermione fechou os olhos, tentando banir da mente as imagens perigosas que a atormentavam. Era tarde, estava cansada, e ele a atraía como nenhum outro homem jamais conseguira.
— Harry, vá dormir — sugeriu.
Mas ele permaneceu onde estava, os olhos iluminados por um brilho impressionante.
— Tem idéia de como está linda sentada ao luar, acalentando esse bebê? Seus cabelos brilham como se tivessem reflexos dourados.
— É impressão sua — ofereceu apressada. — Vá dormir, por favor. Você prometeu, lembra-se?
— Prometi que não a tocaria novamente ontem à noite, mas não disse nada sobre esta madrugada. E caso não tenha notado, estamos vivendo um novo dia. Também não prometi que não me sentaria com você para apreciar o luar, que não conversa¬ríamos, que não ficaria para vê-la acalentar Sam como se ela fosse sua.
Cada palavra a seduzia. Hermione desviou os olhos dos dele, tentando fugir à tentação.
— Está esquecendo meu noivo.
— Não, não estou. Mas gostaria que o esquecesse, ao menos por alguns minutos. Ele não é bom o bastante para você, ou não a convenceria a usar essas roupas ridículas e manter os cabelos sempre presos. Você é linda, Hermione, e esconder essa beleza é um pecado.
Sam esvaziou a mamadeira e Hermione colocou-a em pé, apoiada em seu ombro. O momento ajudou-a a recompor suas defesas.
— Harry, sou sua secretária — disse com voz firme. — Sou noiva de outro homem e pretendo me casar com ele. Você me pediu ajuda e eu o estou ajudando. Não torne a situação mais difícil que o necessário, sim? Não estou interessada em manter um... relacionamento com meu chefe. Já tenho William. — Fe¬lizmente conseguira pronunciar o nome sem gaguejar. — Ele é tudo que desejo.
Devagar, Harry virou-se e saiu da sala sem dizer nada. Por um instante, Hermione pensou em segui-lo e confessar a verdade, mas sabia que não podia dar-se ao luxo de envolver-se com esse homem. Não se queria ter seu próprio negócio... e sair dessa com o coração intacto.
— Levante-se!
Hermione gemeu e colocou o braço sobre os olhos. Harry riu.
— Trouxe café.
— Café? — ela perguntou com voz fraca.
— Uma xícara para agora e um bule cheio esperando na cozinha.
Ela levantou-se e olhou para o berço. Vazio!
— Onde está Sam?
— Na sala, sobre um cobertor estendido no chão — ele respondeu, dirigindo-se à porta. Trate de apressar-se. Temos um dia cheio pela frente.
— Não tenho nenhuma roupa limpa para vestir.
— Passaremos em seu apartamento a caminho das lojas. Você poderá mudar de roupa e preparar uma pequena valise para os próximos dias.
— Próximos dias?
— Sim, alguns. Alexander telefonou — e saiu sem esperar pelas inevitáveis perguntas.
Com a ajuda do café forte e aromático, Hermione preparou-se em dez minutos. Depois de localizar os óculos no sofá da sala e colocá-los, recolheu os grampos espalhados pelo carpete e guardou-os no bolso. Em seguida foi encontrar Harry na cozinha.
— Será que pode explicar essa história? — Pediu, servindo-se de mais uma xícara de café. — O que Alexander disse?
— Ele não conseguiu encontrar Carina na Itália. A mãe dela está sendo atendida por um especialista na Suíça, e ela foi para lá. Alexander a seguiu.
— Contou a ele sobre a polícia? Disse que não sabemos como cuidar de um bebê? Quando ele pretende voltar?
— Disse tudo que devia dizer, e ele pretende retornar o mais depressa possível. Sei que está aborrecida com toda essa história, e também estou, mas não há nada que eu possa fazer. Ainda não. Portanto, vamos tentar manter a calma, está bem?
Certo. Até a polícia aparecer, ou, pior ainda, James.
Hermione tentou manter a calma. Gritar e espernear não re¬solveria o problema.
— Tem algum plano de ação? — Perguntou, entre a irritação e a resignação.
— Primeiro iremos ao seu apartamento. Depois comprare¬mos algumas coisas para Sam. Telefonei para o escritório e adiei todos os compromissos por alguns dias. Enquanto isso... Quer cereal, ou prefere ovos mexidos?
— Cereal.
Depois da refeição, começaram os preparativos para o passeio. Fraldas, lenços umedecidos, talco, roupas, mais fraldas...
— Esqueceu as mamadeiras — Harry apontou. — E é melhor levar uma lata de leite, também.
— Então providencie outra sacola, porque esta está lotada.
— Que tal uma bolsa térmica para as mamadeiras?
— Mais uma coisa para carregarmos. E como vamos aquecer as mamadeiras? — ela irritou-se.
— Num microondas, é claro.
— Um microondas. Pretende levá-lo, também?
— É claro que não —ele sorriu paciente. - Todo mundo tem um microondas. Só teremos de pedir para usar aquele que estiver mais perto. Vamos lá, Hermione. Está ficando tarde, e não temos o dia todo.
— Não está esquecendo alguma coisa? — ela perguntou ao vê-lo dirigir-se à porta carregando as sacolas.
— Acho que não. Sacola de fraldas, bolsa térmica, ja¬queta, trocador e um saco de lixo para as fraldas sujas. Está tudo aqui.
— Tudo, menos o bebê. Vá chamando o elevador enquanto eu vou buscar Sam.
Trinta minutos mais tarde, cruzavam Londres e estacionavam na frente do prédio de apartamentos onde Hermione morava. À distância que a separava do centro da cidade não era tão grande, e a economia que fazia justificava o trajeto diário até o local de trabalho.
— Não vou demorar — ela avisou, preparando-se para descer do carro.
Mas Harry já estava retirando o bebê da cadeira de segurança, sinal de que pretendia acompanhá-la.
— Sam quer conhecer seu apartamento — ele riu. — E eu quero ter certeza de que não vai levar nenhuma das roupas do William.
— Do que está falando?
— Daquelas roupas três tamanhos maiores e três décadas atrasadas.
Sem outra alternativa, Hermione o conduziu até a unidade que alugava.
— Sinta-se em casa — convidou com ironia. — Voltarei num instante.
No quarto, ela retirou uma pequena valise do armário e começou a separar o que considerava essencial. Dois minutos mais tarde Harry e Sam surgiram na porta.
E numa das mãos de Harry estava o prêmio que conquistara no concurso de jovens empresários.
— Pode me explicar o que é isso? — Ele pediu com tom frio.
N/A: Uhuuuu word recuperado!!!!!!!!!!!!!!!! agora vou att com mais frequencia por aki, ainda tenho um monte de adpatação que quero passar pra voces *.* Tenho vários livros dessa coleção *.* eeeeee...Nossa mto obrigada aos coments... Todo mundo valeu gente! autora sem criatividade hj...hehehehehehe...
Bjokas ( vou recompensa-los na proxima N/A)
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