Envenenado
Parecia a Hermione que a cada dia vivido com Rony era uma primeira vez de alguma coisa... muitas vezes o casal discutia bobamente, embora com uma freqüência bem menor do que na época de Hogwarts.
Ah! Hogwarts... tantos e tantos e mais tantos momentos inesquecíveis... um desses momentos tinha sido a pior vigília de Hermione no castelo.
Ela estava na Sala Comunal da Grifinória lendo... tentava se distrair, pois gostava muito do livro “Hogwarts: Uma História”, e mesmo sabendo o livro inteiro praticamente de cor, Hermione gostava de reler... era um título que a distraia e, inacreditavelmente, não estava cumprindo sua função naquele dia... sua mente não parava de desviar para um rapazinho ruivo e sardento de olhos azuis!
“Como é difícil ignorá-lo hoje!” pensou Hermione “Hoje ele faz 17... é uma data especial... mas não, não vai ser difícil... eu nem ao menos o vi hoje... deve estar em uma comemoraçãozinha particular com aquela lambisgóia! Ai que ódio!” – sem perceber, ela apertou a mão fechada em seu colo. “Talvez o veja hoje mais tarde na aula de Aparatação. Mas eu não tenho que pensar nisso! Não tenho que pensar nele...”
- Aí está você, Srta Granger! – disse a voz severa de McGonagall, ressoando na sala vazia (era sábado e todos estavam nos jardins).
- O que aconteceu professora? – perguntou Hermione, sentando-se direito e preocupada com o tom de voz da professora, sem saber exatamente com o que se preocupar. Será que tinha negligenciado alguma tarefa de monitora?
- Então você realmente não sabe? Estávamos te procurando... Potter está na sala do diretor relatando o que aconteceu, bom, o fato é que o Sr. Weasley se encontra seriamente acamado na enfermaria...
- Quê??!
- É, parece que foi envenenado, mas agora Madame Pomfrey está cuidando dele...
- Mas... como?
- Não sabemos como, Potter me contou rapidamente e estava aflito para te contar o ocorrido, mas eu achei melhor levá-lo ao professor Dumbledore e fiquei de te avisar.
-Desculpe, professora. – disse Hermione, percebendo que já estava de pé – Mas tenho que descer à enfermaria.
- Claro, eu tenho que...
Mas Hermione não estava mais prestando atenção... correndo desabalada pelos corredores.
Rony? Envenenado? Aquilo não podia ser... tinha algo estranho naquela história. Era ilusão ou as coisas a sua volta estavam estranhas... ela sentia uma sensação de vertigem – fraqueza e desmaio, como se estivesse com a pressão baixa. Mas não conseguia parar de correr.
Ela virou um canto e viu que Harry e Gina estavam parados na frente da Ala Hospitalar, que estava fechada.
- Harry! Gina! – ela gritou e, depois que chegou mais perto: - Harry, o que aconteceu? Por que não me contou? Por que não estão lá dentro? Quero vê-lo! – disse Hermione, empurrando a porta trancada e fazendo o movimento de sacar a varinha.
- Hermione, calma. – pediu Gina – Rony vai ficar bem... a Madame Pomfrey acabou de nos dizer isso, mas não podemos entrar ainda. Ela já vai nos chamar.
Hermione sentiu os olhos se encherem... estava se sentindo enfraquecida. Só iria realmente acreditar depois que visse Rony, depois que percebesse seu peito arfando. Virou-se para Harry e ele lhe contou a história toda... desde os bom-bons (ou eram bolinhos? Isso agora não importava) com a poção do amor, até aquela hora, que tinha descido do escritório de Dumbledore e encontrado Gina no meio do caminho.
Então ela se se encostou à parede da enfermaria e deslizou até o chão... ainda existia chão? Sentia-se perdida e mal percebeu que Harry e Gina discutiam animadamente sobre quem poderia ter envenenado o hidromel e porque estaria visando o Slughorn.
Imagens passavam em sua mente em questão de nana-segundos, sem que ela conseguisse bloqueá-las... imaginou que Rony morria e em seu desespero ela chorava e gritava enquanto Harry e Gina tentavam abraçá-la para acalmá-la... imaginou-se soluçando em cima do corpo de Rony, finalmente revelando seu amor infinito por ele, beijando-lhe o rosto e os lábios frios, suplicando para que ele voltasse... imaginou-se até como Julieta na ocasião em que perde seu Romeu, tentando absorver o veneno de sua boca, buscado uma gota do líquido fatal que lhe roubara seu amor e, em desespero puxava uma pequena adaga e a cravaria em seu coração, bem no espaço vazio onde antes Rony morava. Hermione não conseguia bloquear as imagens; pensou no enterro de Rony e se imaginou contando para a Sra. Weasley como amava o seu filho e escutava da boa senhora que ela tinha a certeza que seu filho era loucamente apaixonado por ela.
As horas passaram devagar... o mundo parecia estar prendendo a respiração e, quando as imagens começaram a da um tempo na mente de Hermione, ela começou a pensar lucidamente. “Estou sendo idiota... é claro que ele vai sobreviver, pois Rony é muito forte! Ele tem que sobreviver!” – ela sentiu as lágrimas queimando-lhe os olhos novamente. “Eu tenho feito muitas bobagens... desperdicei meus preciosos momentos ao lado dele... oh Deus! Por favor, que eu tenha uma segunda chance... eu não preciso perder o que amo para dar valor!”
De repente as portas da Ala Hospitalar se abriram e Madame Pomfrey declarou que eles poderiam entrar... que horas seriam? Umas oito da noite, talvez, pois já estava bem escuro.
Hermione sentiu que deslizava até onde Rony estava deitado, mas na verdade estava quase correndo. Ele estava dormindo e arfava lentamente. Hermione chegou perto de Rony antes de Harry ou Gina e sentiu que uma onda quente de alívio a envolvia por completo. Era como receber um abraço tranqüilizador. Ele estava vivo!
- Rony... ah Rony...! – sussurrou Hermione, sem querer acordá-lo. Ela esticou sua mão esquerda e tocou muito de leve o rosto dele, mas recolheu logo o braço assim que Harry e Gina se aproximaram e os três sentaram ao redor da cama.
Pouco depois chegaram os gêmeos, então Hagrid e finalmente o Sr e a Sra. Weasley e ela foi embora com Harry e Hagrid.
Naquela noite, Hermione sentiu o peso de tudo aquilo desabar e silenciosamente chorou copiciosamente, lembrando-se de tudo o que ela e Rony tinham vivido juntos e como estavam se magoando nas últimas derradeiras semanas infinitas... e ela não parava de lembrar de Rony sussurrando seu nome em meio aos sonhos. Tinha certeza que era correspondida, sempre tivera essa certeza que nunca foi capaz de encorajá-la o suficiente para se declarar... “Ele estava sonhando comigo, meu amor.” Aos poucos adormeceu.
No dia seguinte, um domingo, Hermione se levantou cedo, decidida a fazer as pazes com Rony... seja lá como fosse fazer isso. Pensou em descer e tomar café primeiro, mas as borboletas em seu estômago impediriam a comida de descer. Foi direto para a Ala Hospital, então.
- Nossa querida, está cedo! – exclamou Madame Pomfrey – Ele acabou de acordar.
- Esperava que estivesse dormindo ainda. – disse Hermione num fiapinho de voz. – Posso entrar?
- Claro. – disse Madame Pomfrey, dando-lhe passagem e Hermione sentiu o coração disparar.
Atravessou a Ala Hospitalar devagar e viu claramente quando Rony a reconheceu e se endureceu sentado na cama, apoiando as costas em diversos travesseiros na cabeceira. Madame Pomfrey entrou em seus aposentos, deixando-os sozinhos e em silêncio.
Quando seus olhares se cruzaram, não mais desviaram os olhos um do outro e Hermione contornou a cama e sentou-se na própria cama de Rony, pero o suficiente para tocar seu rosto sem esforço.
- Oi. – disse ela vacilante.
- Oi. – respondeu ele, meio relaxando nos travesseiros que tinha nas costas.
- Como está se sentindo?
- Bem... quero dizer, to ótimo.
- Você deu uma baita susto em todos nós. – disse Hermione e Rony sorriu. – Graças a Deus você está vivo... ou talvez graças ao Harry que fez você engolir um bezoar.
- É... – disse Rony com um riso, olhando-a de forma curiosa.
- É verdade que você se apaixonou inesperadamente por Romilda Vane? – perguntou ela, rindo.
- Nem me fale! – respondeu ele meio sério e meio risonho – Harry já espalhou essa história, então? Nunca queira tomar uma poção do amor... é realmente... você fica... – ele perdeu o que dizia, olhando-a fundo nos olhos.
- Que bom que está se sentindo bem, Rony.
- Melhor agora que você voltou a falar comigo. – disse ele quase de supetão e ela conseguiu ver as orelhas do menino ficarem vermelhas antes de desviar o olhar pela primeira vez desde quando entrara na enfermaria, sentindo o rosto e o pescoço queimarem.
Um segundo depois ela voltou a olhá-lo e se surpreendeu ao vê-lo olhando-a. Esticou o braço esquerdo até o rosto dele e pensou que ele a olhava cheio de amor e desejo e, então, o puxou para um enorme abraço, muito forte. E, depois de vários segundos abraçados em silêncio, Hermione sentiu que tinha controlado o choro que queria vir e disse, embora numa voz vacilante:
- Rony, eu sinto muito! Muito mesmo... por ter parado de falar com você e pelos...
- Não Hermione. – disse Rony, cortando-a, embora ainda abraçados – Não precisa se desculpar. Eu tenho sido um idiota de marca maior... você sabe...
Eles se separaram e se encararam novamente.
- Eu tive medo de te perder. – confessou ela, olhando para as cobertas que escondiam as pernas de Rony.
- Não... – disse Rony vagamente e, quando seus olhos tornaram a se encontrar, ambos sentiam que queriam falar muitas coisas para o outro, mas ficaram em silêncio e, passados alguns minutos, esses momentos de desconforto passaram e eles conversaram longamente descontraídos.
Hermione lhe contou que a família o tinha visitado, como Harry o salvara e, a despeito de ter participado muito pouco da discussão de todos a respeito do envenenamento, ficou quase uma hora conversando com Rony sobre isso. Quando assunto morreu, Hermione disse:
- Suponho que devo ir tomar café e me encontrar com o pessoal... adiantar um dever, talvez...
- Já? Você não descansa nunca, né?
- Poderia ter descansado ontem ou feito deveres se não tivesse ficado o dia inteiro plantada do lado de fora dessa enfermaria, preocupada. – disse ela com um leve sorriso para Rony, que sorriu abertamente enquanto ela se levantava de sua cama.
- Até mais tarde, Rony. – disse Hermione, se curvando para beijá-lo na bochecha, por mais vontade que tinha de desviar seus lábios para a boca dele. – Ah! E Feliz Aniversário atrasado – acrescentou, passando os dedos nos cabelos vermelhos dele.
- Promete que virá mais tarde? – perguntou ele de supetão – Com Harry, quero dizer...?
- Claro que sim! – e sorriu, saindo da enfermaria mais leve do que nos últimos meses. Encostou-se um pouco na porta da enfermaria, pensando conscientemente “Eu te amo” e perguntando-se se ele estaria pensando o mesmo dela naquele exato momento. E Rony, de fato, estava.
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