Encarando o Passado



O corredor que dava acesso ao apartamento de Matt estava lotado. Vizinhos curiosos e policiais se misturavam em conversas frenéticas. Matt, seguido de Claire, Rony e Hermione levaram minutos para conseguir passar pela multidão e chegar ao lado do detetive West, que já estava a espera do grupo.

-Muito prazer Sr. Homes – começou ele direcionado a Matt - precisamos conversar sobre algumas coisas, gostaria que o Sr. pudesse me dizer se tem alguma coisa faltando na casa e...

-Terei prazer em ajudar – interrompeu Matt nervoso – mas primeiro preciso saber onde está o Mark, gostaria de vê-lo antes de tudo, por favor.

-Claro Sr. – respondeu imediatamente o policial – está na suíte principal.

Matt virou-se para Claire sussurrando:

-Vá até lá, veja como ele está e, se estiver machucado, me chame certo?

-E você? – perguntou ela ansiosa.

-Vou resolver tudo por aqui, depois subo e falo com ele.

Matt parou por um momento olhando Claire nos olhos, ela parecia nervosa, mas ele apostaria tudo o que tinha de que o motivo não tinha nada a ver com o assalto.

-Está com medo? – perguntou já sabendo a resposta

-Ele não vai me perdoar – ela disse, por fim, admitindo o pânico.

-Você tomou essa decisão, agora leve-a adiante, converse com ele, exponha seus motivos, ele vai entender. Agora vá, e tenha coragem, tudo vai dar certo.

Claire confirmou com a cabeça se despedindo do irmão. Olhou para Rony e Hermione e fez um sinal para que a acompanhassem. Rumou para as escadas, no lado norte da sala. A suíte principal ficava no segundo andar, e tinha, mesmo ainda na porta, a aparência de ser enorme e aconchegante. Claire olhou para o casal que permanecera a alguns metros atrás dela e viu em seus olhos o mesmo sentimento que ela mesma sentia. O medo era crescente, mas ela afastou esses pensamentos para o fundo da mente e bateu na porta.

Ao receber a resposta afirmativa vinda de dentro do quarto, ela respirou fundo e entrou.

Harry estava parado no meio do espaçoso quarto, que tinha uma enorme cama de casal ao meio, várias estantes com tantos livros que ela nem conseguia contar, vários abajures e uma decoração clássica fechando o bom gosto do quarto. Claire olhou para o moreno percebendo que ele parecia assustado, mas seu olhar pareceu relaxar quando a viu, por um momento ele pareceu feliz, até que Rony e Hermione entraram no quarto.

Harry pareceu sem reação. Mas Rony e Hermione não conseguiram se conter, ambos sabiam que poderia ser um erro, que poderiam assustar e até chatear Harry, mas seus sentimentos foram mais fortes.

A grifinória não perdeu tempo, venceu a distância entre eles e abraçou o moreno com força, lágrimas escorriam por seus olhos, e ela não oferecia a menor resistência, ‘ele está de volta’ pensou Hermione com um alívio que fez com que suas pernas simplesmente enfraquecessem, no que ficou feliz ao sentir que os braços de Rony também envolviam ela e Harry em um abraço triplo ainda mais apertado. A emoção era tão intensa que eles nem notaram que Harry não correspondera, ele estava simplesmente parado, paralisado, não reagia. E quando Rony e Hermione finalmente se deram conta do fato, separaram-se do moreno e, quando o olharam nos olhos, perceberam que aquele reencontro seria ainda mais difícil do que jamais teriam imaginado.

Seu semblante exprimia medo, insegurança, mas principalmente, uma raiva cega. Ele olhou para Claire antes de perguntar:

-O que significa isso?

-Harry, me escute, por favor – começou ela – Fomos a casa dos Weasley depois do julgamento, eles tinha o direito de...

-Direito? – questionou ele, se afastando ainda mais da dupla e se aproximando da morena – Você falando de direitos Claire? Que direito você pensa que tem? Que direito você acha que tem sobre a minha vida? As minhas decisões? Você me prometeu, prometeu que não os traria aqui até que eu estivesse pronto. Eu te pedi tantas vezes para deixar o meu passado para trás, QUEM VOCÊ PENSA QUE É AFINAL, A DONA DO MUNDO? Você tinha que trazê-los para me ver não é? – falou agora sarcástico – não acredito que ainda tenha a coragem de mostrar a sua cara na minha frente. EU CONFIEI EM VOCÊ, e agora vejo que foi um erro. – Concluiu possesso.

Claire simplesmente travou, se ela tinha a mínima imagem de qual seria a reação dele, tinha sido muito mais leve do que a real. Sentiu o desespero a invadindo, o tinha magoado, de um jeito que nunca imaginara fazer, sentiu as lágrimas subirem por sua garganta, mas não permitiria que elas saíssem, sustentaria sua decisão, ela estava certa, trazer os Weasley para verem Harry era o certo a se fazer, e ela queria agarrar-se a essa verdade com todas as forças, e faria isso.

-Harry – começou novamente – você tem que entender...

-Não tenho que entender nada Claire, pelo contrário, já entendi tudo, nunca mais vou cometer o erro de confiar em você.

Rony e Hermione ficaram paralisados, não sabiam como reagir a esta situação, imaginaram que Harry estaria diferente, mas não tanto assim, ‘então a decisão de não nos ver foi dele’, pensou Rony ‘o que será que aconteceu para ele mudar tanto assim?’

-Saia Claire – disse Harry virando as costas – e leve seus amados amigos com você.

-Não vamos a lugar algum – disse Rony entrando na conversa – Não viemos aqui para ver a Claire, viemos aqui para ver você, porque somos seus amigos, sempre fomos, por Mérlim, a algumas horas você estava morto para nós, não acredito que não tenha nem a consideração de conversar conosco, de nos escutar.

Harry virou-se, agora deixando toda a sanidade para trás, aproximou-se de Rony a passos largos e gritou a plenos pulmões:

-E o que você teria para me falar em? Pelo que pude perceber no tribunal, você não era exatamente um grande e fiel amigo não acha? O que foi? Estão precisando do ASSASSINO aqui de novo? Quem vocês querem que eu elimine dessa vez? Posso saber?

-Harry, você não pode acreditar no que aquela megera da Umbridge disse – falou Hermione com um tom desesperado, lágrimas ainda abundantes em seus olhos – éramos seus amigos, somos seus amigos. Amamos você mais do que tudo, você não pode estar duvidando disso, por favor, tente se lembrar, somos uma família.

-FAMÍLIA UMA OVA! – gritou ele em resposta – vocês nem se deram ao trabalho de me procurar, devem ter deduzido que eu tinha morrido e, afinal de contas, eu já tinha matado o tal de Voldemort mesmo né? - Concluiu.

-Não é nada disso – recomeçou Hermione ainda mais chateada – Se nós tivéssemos a mínima desconfiança de que você estava vivo, de que aquele corpo era falso, teríamos virado o mundo de cabeça para baixo para te encontrar, nunca abandonamos você, e nunca faríamos isso. Ter matado Voldemort não define o que você significa para nós, nunca significou. Você é muito mais pra nós do que diz aquela profecia idiota.

-Então posso saber de onde vocês tiraram toda essa certeza? Por que, se é que não estou ficando maluco, eu estou vivo bem aqui na frente de vocês.

Rony e Hermione ficaram sem resposta, como iriam provar para o moreno o que diziam, mas Claire fora mais prevenida, direcionou-se para a escrivaninha que ficava ao lado da cama e tirou de lá o que parecia ser um recorte de jornal.

-Foi por isso que todos nós pensamos que você estivesse morto – disse ela.

A contragosto, Harry pegou o recorte das mãos da morena e olhou a manchete. Toda a incredulidade, toda a dúvida, toda a incerteza saíram de seus pensamentos no segundo em que ele viu a foto que estava na parte central da página. Era ele, dentro de um caixão, haviam pessoas por todos os lados, algumas chorava, algumas sérias, outras parecendo apreciar o show, com relutância tirou os olhos da foto e leu o título da reportagem:

“HARRY POTTER ESTÁ MORTO: DETALHES DO ENTERRO DO MAIOR HERÓI DE TODOS OS TEMPOS”

-Como isso é possível? – perguntou o moreno com um sussurro tão baixo que foi quase inaudível.

-É o que temos que descobrir – disse rápida Hermione, na esperança de estabelecer uma conversa com ele – e rápido, por que quem quer que tenha tido o trabalho de fazer todos nós pensarmos que você estava morto, o trabalho de plantar um corpo falso para que nós achássemos, não vai querer deixar o trabalho pela metade, ele virá atrás de você de novo, é uma questão de tempo.

Harry sentou-se na cama derrotado, desde que chegara do julgamento, achara que aquele tormento estava longe de terminar e agora ele acabara de ter a comprovação. Estava cansado, nervoso e confuso além da conta, precisava dormir, e rápido.

-Preciso ficar sozinho, por favor, saiam – disse seco

-Harry – recomeçou Claire – Acho que precisamos conversar sobre...

-Pois eu não acho – explodiu rude – dá pra você tirar a sua cara da minha frente antes que eu perca a cabeça?

Claire nem contestou, calou-se imediatamente, deu as costas e saiu do quarto sem olhar para trás.

Rony e Hermione ainda permaneceram no quarto, abismados com a reação do amigo, o ruivo parecia resignado com as atitudes do rapaz, mas Hermione não conseguiu ser tão compreensiva. Lançou a Harry um olhar reprovador e disse:

-Você não acha que esta sendo injusto com ela?

-Por que, ta querendo tomar as dores dela agora? – respondeu ele rude.

-Não se trata de tomar as dores de ninguém, mas eu conheço você e sei que nunca trataria alguém assim, antes de julgá-la tão severamente, você deveria tentar entender o lado dela. Ela está te ajudando, e você verá isso mais cedo ou mais tarde.

Harry lançou em direção a ela um olhar chateado, e disse sem constrangimento:

-O convite para sair do quarto foi para vocês também, por favor, me deixem sozinho.

Hermione estava obviamente chateada, mas sabia que ele tinha tido um dia difícil, assim como eles, e achou melhor respeitar o pedido do moreno, saiu do quarto acompanhada de Rony, deixando-o sentado a cama ainda de cabeça baixa.



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Assim que saiu do quarto onde Harry estava, Claire desceu correndo as escadas, o choro não mais contido, na verdade, não sabia de onde tinha tirado forças para não chorar na frente do moreno. Quando chegou a sala de estar, notou que os policiais que lá estavam quando ela subiu para o quarto já tinham ido embora. Ela dirigiu-se a cozinha, sabia que o irmão estaria lá. Precisava de um abraço, de consolo, urgentemente.

-Matt? – chamou assim que entrou no cômodo.

Assim como ela imaginara, ele estava parado na frente do fogão, tinha uma chaleira nas mãos e parecia prestes a colocá-la no fogo, mas quando os seus olhares se cruzaram, ele sabia exatamente do que ela precisava. Deixou a chaleira na pia e correu ao encontro dela já de braços abertos.

-Foi tão ruim assim? – perguntou ele depois de alguns minutos.

-Pior – respondeu ela entre soluços – ele nunca vai me perdoar.

-Nunca diga nunca – respondeu ele ponderado – mas, o que você vai fazer agora? – perguntou preocupado.

-Tenho que melhorar a proteção da casa – respondeu secando os olhos e parecendo pensar mais claramente – ambos sabemos que isso não foi uma tentativa de assalto.

-Eu pensei nisso também – disse ele olhando-a – acha que ele está em risco?

-Tenho certeza, vou em casa pegar alguns amuletos de proteção para colocar na casa.

-Quer que eu vá com você?

-Não, converse com o Rony e a Hermione, faça a proposta que combinamos.

Matt pareceu hesitar por um momento.

-Tem certeza? Acho que eles não gostaram muito de nós, e admito que por minha parte foi recíproco.

-Por favor, precisamos de ajuda, não podemos garantir a proteção do Harry sozinhos.

-Tudo bem – respondeu resignado – vou conversar com eles, volte logo ok!

-Estarei aqui em alguns minutos – disse ela se despedindo de Matt e aparatando.




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Hermione ainda ia a frente de Rony quando ambos chegaram a sala de estar, encontraram-na vazia. Não sabiam exatamente o que fazer, nada daquilo tinha sido exatamente planejado. Estavam perdidos em pensamentos quando ouviram a voz de Matt que estava a porta do que parecia ser a cozinha.

-Ei, vocês dois? Venham, fiz um chá, acho que precisamos conversar.

Rony olhou Hermione sem saber exatamente o que fazer, ela, no entanto rumou decidida em direção a cozinha, sem nem dar chance do ruivo contestar.

-Sentem-se – disse Matt de forma educada oferecendo duas xícaras ao casal – Se importam se eu perguntar o que vocês pretendem fazer agora?

-Na verdade – começou Rony sem tirar os olhos da xícara – Ainda não fazemos a menor idéia do que está acontecendo, muito menos do que vamos fazer daqui para a frente.

-Entendo – disse Matt – e, na verdade, estive conversando com a Claire e ela, bom, pediu para que eu fizesse uma proposta para vocês.

-Proposta? – perguntou Hermione.

-Isso – continuou Matt visivelmente constrangido e contrariado – tenho quartos extras aqui em casa, o apartamento é grande, e a Claire sugeriu que vocês ficassem aqui por enquanto, para, sabe, ajudar o Harry no início.

Rony olhou incrédulo para Matt, Hermione por outro lado, parecia surpresa e disse:

-Você tem certeza? Afinal de contas acho que não nos demos muito bem no início, e na verdade, não sei se confio em vocês ainda. – falou sincera.

-Pois eu também não poderia dizer que não recíproco – respondeu Matt vendo Rony apertar os punhos com força numa clara demonstração de chateação – mas a Claire acha que é importante vocês estarem por perto, fora que ela confia incondicionalmente em vocês e em sua família Sr. Weasley. Ela está certa de que poderão ajudar.

-Como ela pode ter tanta certeza? – perguntou Rony – Ela não nos conhece também.

-Isso vocês terão que perguntar a ela – respondeu Matt.

-Sr. Homes? – começou Hermione polidamente.

-Matt, por favor – interrompeu o médico – me sinto o meu pai sendo chamado de Sr. Homes.

-Tudo bem, Matt, e onde ela está? A Claire, quero dizer.– perguntou Hermione.

-Ela disse que ia pegar algumas coisas, amuletos para proteger melhor a casa, na verdade, não entendo muito do assunto, mas ela falou que era para melhorar a proteção do Harry, ela está preocupada.

-Mas por que? – voltou a perguntar Hermione – Por que a casa não está segura?

-O assalto – explicou Matt – a Claire acha que não eram pessoas comuns, ela acha que eram...

-Bruxos – concluiu Claire da porta da cozinha – e podem apostar que não estavam aqui para fazer uma entrevista com o Harry.

Claire aproximou-se da mesa onde estavam todos sentados, largou-se em um dos bancos e enterrou o resto nas mãos em claro sinal de cansaço.

-Como assim? – perguntou Hermione para a morena

-Nada do que aconteceu esta semana é uma simples coincidência, o julgamento não foi um simples capricho da ministra. Acho que foi uma armadilha, sabiam que o único jeito de Harry se expor era colocando a vida de um de vocês dois em risco. Por isso tínhamos que tirá-lo do tribunal rápido, mas acho que os subestimei, eles já estão se movendo, quando fui a minha casa agora, ela estava toda revirada, eles já estiveram lá também, não duvido nada que a casa do Harry também já esteja destruída a esta altura.

Matt deu um pulo em direção a irmã, levantando-a depressa a revistando com os olhos.

-Você está bem? – perguntou aflito – chegou a vê-los? Se machucou?

-Eu estou bem – tranqüilizou-o ela – quando cheguei já não havia rastros de mais ninguém na casa.

-Srta. Homes – começou Hermione – mas o que a faz pensar que são as mesmas pessoas? E se é isso mesmo, por que não machucar o Harry hoje, se eles estiveram aqui afinal, por que o Harry está intacto? E, por Mérlim, quem são eles? – perguntou num tom desesperado.

-Srta. Granger – respondeu Claire no mesmo tom formal – eu adoraria te dar todas estas respostas, mas só tenho certeza de algumas coisas, acho que estas são sim as mesmas pessoas que sumiram com o Harry de Hogwarts na noite da guerra, porque? Não sei explicar, é uma certeza, um sentimento, não posso pedir que confie em mim, mas apelo para a sua perspicácia. E sobre hoje, eles só não acharam o Harry por causa dos feitiços que eu lancei na casa, principalmente na suíte, para as pessoas que estiveram aqui hoje, não tinha ninguém no quarto. Um feitiço de confusão, é simples, mas útil.

-Por isso – começou Matt – que eu gostaria de reforçar o convite que fiz mais cedo, acho que a Claire está certa, precisaremos de ajuda para proteger o Harry, não podemos fazer isso sozinhos.

-Aceitamos – respondeu Rony tão decidido que surpreendeu até mesmo Hermione – só quero esclarecer que faço isso por ele, e não por vocês, ainda não tenho certeza sobre o que está acontecendo aqui, mas não pretendo deixar o Harry aqui, e como não acho que ele vá querer ir conosco agora, aceitamos.

-Ok! – disse Matt exibindo um sorriso meio de alívio, meio de constrangimento – vou levá-los aos quartos de hóspedes, me acompanhem por favor.



_____________________________X________________________________



A noite estava muito fria, Harry estava no meio de uma floresta densa que já lhe era muito familiar, sonhava com ela quase todas as noites agora. Sempre as mesmas palavras, o mesmo espelho, o mesmo homem. Mas essa noite estava diferente, a floresta estava mais escura, o espelho mais distante, harry andou até ele sabendo que não iria gostar do que iria ver, mas não conseguindo evitar.

Chegou a clareira, exatamente em frente ao espelho, como sempre fazia, mas não foi a imagem do homem já tão sua conhecida que estava lá. Mas sim um casal que a pouco ele tinha reencontrado, olhando diretamente nos seus olhos, estavam Rony e Hermione. Um desespero tomou conta de sua alma quando viu o desprezo que seus olhos revelavam, e sentiu todos os pêlos de sua nuca se arrepiarem quando os ouviu falar:

-Você nos traiu Harry – começou o ruivo

-Nos abandonou – disse agora Hermione

-Como pôde nos deixar daquela maneira? Nos precisávamos de você, de sua ajuda, sua companhia, e você nos deixou de lado – completou Rony

-Eu não entendo, do que voc... começou a dizer Harry

Mas a imagem mudou, não era mais casal que estava no espelho, agora um trio olhava para ele fixamente, não sabia como, mas os reconheceu imediatamente. Olhando em seus olhos estavam Cedrico, Sirius e Dumbledore.

-Você deveria ter me ajudado Harry – começou Cedrico – morri por que você foi fraco, por que não pode me ajudar, eu nem devia ter estado lá, você é o responsável pela minha morte, como pode?

-É Harry – continuou agora Sirius – Se você não fosse tão ingênuo, tão fraco, eu também estaria a salvo. Você caiu numa armadilha idiota. Seu pai ficaria tão decepcionado se estivesse vivo.

-Pois é Harry – concluiu Dumbledore – nunca pensei que você não conseguiria, lhe dei a missão de proteger seus amigos, mas você não foi capaz, deixou-os se ferirem, morrerem, os abandonou, foi fraco, me decepcionou.

Harry já não podia suportar, a dor que sentia excedia qualquer uma que ele já tinha lembranças de ter sentido, começou a afastar-se do espelho, numa tentativa frenética de se afastar daquelas pessoas, de esquecer suas palavras, mas foi impedido por uma pessoa a suas costas. Virou-se e viu o conhecido rosto ofídico, sorrindo para ele, a satisfação estampada em cada traço do rosto ao dizer:

-Viu Harry, o tornei igual a mim, você está sozinho!

-Não, por favor – dizia Harry já com a voz embargada – eu não quero, não foi minha culpa, por favor.

-Você nunca mais terá paz Harry Potter, bem vindo ao inferno!

Harry não conseguia mais suportar, tinha que acordar, sabia que era um sonho, começou a se debater, não podia ser real, não podia ser verdade, ele não conseguiria suportar se fosse, não conseguiria..

Sentiu que alguém estava a seu lado, gritava seu nome, tentando acordá-lo. Abriu os olhos e se deparou com os olho intensamente azuis de Claire, que estava debruçada sobre ele.

-Harry, o que foi? O que está acontecendo?

Mas o moreno não conseguia responder, desviou-se de Claire a tempo de despejar tudo o que havia comido o dia inteiro no chão ao lado dela. Sentia-se febril, estava com dificuldades de respirar, começou a ficar tonto, o rosto da morena entrando e saindo de foco.

-Mas o que? Mérlim – Claire disse já em desespero – MATT!!!!!!! – gritou – Corre aqui, Matt, rápido.

Claire virou-se novamente para Harry.

-Vai ficar tudo bem, confie em mim ta? Fica comigo, não dorme de novo, fica aqui – disse pegando as mãos dele – estou aqui com você, calma.

Harry olhou para ela com dificuldade, parte dele a querendo por perto, e a outra não. Estava confuso, aflito, não sabia o que pensar, como agir, o que só estava piorando ainda mais o estado dele. Suava frio agora, tremia e a visão de Claire cada vez mais aflita não ajudava em nada.

Matt irrompeu pela porta como um furacão, seguido de perto por Rony e Hermione.

-Que foi ? – perguntou Matt para Claire.

-Não sei, mas tem alguma coisa errada, o Harry acordou gritando, está suando frio, está mal Matt, faz alguma coisa.

-Me deixa examiná-lo – disse Matt agora ao lado de Claire, começou a examinar o moreno, o que parecia deixá-lo ainda mais nervoso, Harry tentava falar, mas parecia incapaz de controlar o próprio corpo.

-Minha maleta Claire, no meu quarto, rápido – disse Matt para a irmã.

Não foi necessário dizer duas vezes, a morena saiu do quarto como um furacão. Rony e Hermione agora também estavam ao lado da cama de Harry, observando-o preocupados.

Claire voltou ofegante em poucos segundos, com a maleta em mãos, passando-a a Matt. O médico, imediatamente, preparou uma seringa com um líquido incolor.

-Harry – começou ele – vou te dar um remédio que ajudará a respirar ok! Ele vai te fazer relaxar, mas preciso que você tente manter a calma.

Matt esvaziou a ampola no braço do moreno, o efeito foi imediato. Como se o peso que pressionava o peito de Harry tivesse desaparecido, ele agora conseguia respirar melhor. Sua cabeça também parara de girar e seu estômago parara de reclamar. Mas ao invés de isto tudo deixá-lo mais tranqüilo, na verdade foi a oportunidade que a mente dele esperava para fazê-lo relembrar o sonho que acabara de ter.

Sua cabeça estava a mil, o sonho fora tão real, mas será que fora real? Será que existia alguma verdade naquelas palavras, naquelas acusações, por quantas mortes será que ele era responsável? Quantas pessoas teriam se machucado por sua causa, por suas atitudes, por seus erros?

Levantou-se na cama num pulo, virou-se para Rony e Hermione que ainda o olhavam com espanto pela repentina reação e perguntou sem demora:

-Por que eu abandonei vocês?

-Harry – começou Rony – do que é que...

-Vocês estavam de culpando de ter abandonado vocês, por que eu abandonei vocês? O que aconteceu droga?!

-Harry – falava agora Hermione claramente confusa – do que é que você está falando? O que você quer dizer com...

-Harry – começou Matt indo em sua direção – acho melhor você descansar um pouco, você está confuso e...

-NÃO VOU DESCANSAR MATT – gritou o moreno – tenho que saber a verdade, vocês precisam me contar a verdade, por favor, eu preciso saber o que aconteceu.

-Nunca mentimos pra você cara – começou Rony exatamente a frente de Harry – Pode perguntar o que você quiser que eu irei responder.

Harry hesitou por um momento tentando se acalmar e perguntou sem rodeios.

-Eu matei Voldemort, isso eu sei, mas o que vocês não me contaram, eu sou responsável pela morte de mais alguém?

-Morte? – respondeu Rony confuso – de onde você tirou essa...

-Do meu sonho – respondeu Harry depressa – Cedrico, Sirius, Dumbledore, por que sou responsável pela morte deles? – perguntou sem demora.

Rony perdeu a fala por um momento, ‘ele está se lembrando?’. Olhou para Hermione na esperança de que ela desse as explicações que se seguiriam, mas se decepcionou ao olhá-la, ela estava paralisada, olhou para ele como se suplicasse para não ter que entrar nesta conversa. Ele suspirou e começou:

-Harry – disse se aproximando do moreno – a primeira coisa que você precisa saber é que nenhuma destas mortes é culpa de alguém além do próprio Voldemort, é verdade que nenhuma delas foi concretizada por ele em pessoa, mas foram todas por seus interesses. O que você tem a ver com elas? – disse em tom conclusivo – eram pessoas importantes para você, como tenho certeza que a Claire já te contou, pessoas que significaram muito em sua vida, por isso se sente assim em relação a essas mortes, mas não é culpa sua, acredite em mim.

O clima na sala ficou pesado após as palavras do ruivo, o silêncio reinou por um tempo, até que Harry fez a pergunta que o atormentava a muito tempo.

Quantos mais? – perguntou ele com um ar derrotado direcionado a Rony – Quem mais foi morto por causa desta guerra? Por minha causa?

-Muitos – disse Rony na tentativa de simplificar – e todos deram suas vidas por uma causa Harry, não por você.

-E como você pode saber disso? – recomeçou ele se exaltando

-Por que eles tiveram a chance de ir embora, de não lutar, mas lutaram, por que queriam um mundo melhor, queria a segurança de suas famílias, das pessoas que amavam. Esta batalha mudou nossas vidas, nossos conceitos, mas nunca deixamos de acreditar que venceríamos, que você venceria. Acreditamos em você, sempre.

-E foi um erro, confiar em mim, custou a vida deles, se eles soubessem...

-Teriam feito as mesmas escolhas – finalizou Hermione – ninguém que estala lá hesitaria um instante em dar a vida por aquela guerra, todos estávamos dispostos a ajudar, e infelizmente alguns não puderam permanecer conosco, mas nenhum de nós se arrepende do que aconteceu ou das escolhas que fez.

-NÃO, NÃO – começou Harry negativamente – sou responsável...

-Harry – começou Claire – você fez o que pode, se dispôs a dar a sua vida também, na noite da guerra, não tem que...

Mas Harry não esperou que ela terminasse, mirou-a com repugnância, o que fez Claire calar-se imediatamente e recuar alguns passos, ele não conseguiu se conter, experimentara tantos sentimentos em tão pouco tempo, precisava de uma válvula de escape, e acabara de encontrar uma.

-E quem você pensa que é para achar alguma coisa? – questionou-a bufando – Vai pro inferno você e suas opiniões, como você pode entender o que eu estou passando, vai...

-Harry – chamou Matt bravo indo em sua direção – por favor, controle-se, não...

Mas a frase foi interrompida quando Matt sentiu a mão direita de Claire em seu ombro. Ele olhou-a e teve o que, mais tarde, definiria como uma das piores visões de sua vida. Claire expressava tanta dor nos olhos que chegava a doer dele mesmo. Viu a irmã virar-se para Harry e responder:

-Sei mais sobre o que você está sentindo Harry do que você jamais poderá imaginar.

Harry paralisou, sua raiva e frustração se esvaindo rápido, tinha passado de algum limite, falado alguma coisa que não devia, Claire parecia arrasada, uma visão que ficaria registrada em sua mente pelo resto de sua vida, se arrependeu do que falara quase imediatamente.

-Claire – começou

Mas ela não dera nem tempo dele começar a falar, virou-se e saiu pela porta como vento. Matt olhou os presentes no quarto ainda surpresos e correu atrás da irmã, sabia por que ela tinha reagido daquela maneira, e não deixaria a irmã sozinha por nada. Aquele assunto já a tinha atormentado por muitas vezes, e ele não iria deixar aquela loucura recomeçar.

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