O acidente de Hermione



Capítulo XVI


 


 


O acidente de Hermione


 


         -Eu posso entrar?-perguntou Sirius


            -Sim, claro que pode.-respondeu Brighid sorrindo.


            Sirius andou pelo quarto de hóspedes, agora impecavelmente limpo, acomodando-se na cama forrada de veludo azul marinho. Brighid sentou-se ao lado dele, encarando seus olhos negros; gostava de estar ao lado dele, sentia-se segura, caso sua mãe estivesse viva e eles se reencontrassem, adoraria tê-lo como pai adotivo.


            -Como foi em Hogwarts?


            -Foi bem, quer dizer, fora as pessoas me olhando torto desde que cheguei e depois de um incidente que houve...muitas delas não falam comigo.


            -O acidente com Goyle? Soube que melhorou e foi para casa. Viram que foi você?


            -Não, mas a maioria acredita que sim. Eles têm razão, a culpa foi minha, mas foi para me proteger. A mim e a Gina. Acredita em mim?


            Soou mais como um pedido do que propriamente uma pergunta. Porem, Sirius sorriu paternalmente e confirmou com a cabeça, para alívio da garota.


            -Acho que você e Harry são os únicos que gostam de mim.


            -Não diga isso, todos aqui gostam de você.


            -Mas tem medo de mim, medo do que posso fazer. Ás vezes, até eu tenho medo de mim mesma.


            -Queria, não tenha medo do pode fazer. Se recebeu esse dom é porque pode lidar com ele. A questão é se realmente você está querendo lidar com ele, aprender a controlá-lo. Eu soube de sua recusa a ajuda da Professora Lyra Bass.


            -Ela vem tentando me convencer do contrário, mas, é que...


            Brighid pensou se deveria dizer dos sonhos que tia com a mãe, talvez ele entendesse, talvez ele lhe explicasse. Seria bom desabafar...


            -Tem algo que queira me contar, querida?


            -Não, Sirius. Não há nada. Só acho que posso controlar sozinha.


            -Ninguém vive sozinho neste mundo, Brighid. Todos nós precisamos da ajuda uns dos outros. Pense nisso.


            -Bem...como anda a tradução do diário? Dumbledore fez algum progresso?


            -Infelizmente não. A última página do diário onde Dumbledore tem certeza que Samuel escreveu a localização da Arca encontra-se indecifrável. Borrada, letras apagadas, nenhum feitiço consegue amenizar o estado da página. Molly está quase terminando o jantar, depois desça. Conversaremos sobre seu progresso no mundo da magia.


            Sirius deu-lhe um beijo na testa e saiu. Perdi as visões que tinha com Samuel escrevendo o diário desde que comecei a conversar com minha mãe. Desde que comecei a usar os meus poderes ao invés de controlá-los. Se ao menos eu sonhasse com a última parte do diário...pensou Brighid.


 


            -O que há com você, Rony?-perguntou Harry


            Os dois estavam sozinhos no quarto guardando seus pertences nas gavetas. Rony mal olhava para o amigo e fora durante toda a viagem para o Largo Grimmaul, tanto para ele quanto para Hermione. Rony parou de guardar suas meias e olhou para Harry, tinha o rosto corado antes de conseguir falar.


            -Eu quero fazer uma pergunta, Harry. E preciso que seja sincero, por favor.


            -Sim, serei sincero. O que houve?


            -Eu...eu...é que...o-o que v-você sente pela Hermione?


            -Hã...o que?


            -O que você sente pela Hermione? Gosta dela? Mais que um amigo?


            -Gosto dela como um irmão, Rony. E tenho certeza que ela sente o mesmo em relação a mim. Gosta dela não é?


            Rony demorou em responder, contemplava os próprios sapatos, surrados, antes de confirmar timidamente com a cabeça. Harry aproximou-se dele dando-lhe tapas em suas costas, o amigo sorriu sem graça.


            -Acho que ela também gosta de você.


            -Eu acho que não, Harry. Sempre brigamos, o tempo todo. Ela me irrita, mas não consigo ficar longe dela. E depois desses ataques, quer dizer, não sabemos se estaremos vivos um dia ou...


            -Nada de ruim vai acontecer a vocês, Rony, eu prometo. Diga a ela o que sente, acho que deveria tentar.


            -Ela tentou falar comigo quando chegamos. Mas eu estava aborrecido, ainda estou, com a pressa dela em procurar por você. Ultimamente, é só o que ela tem feito, observado você, principalmente quando esta com a Brighid. Parece até que tem ciúmes da amizade de vocês dois.


            -Sério? Eu não percebi.


            -É, mas eu percebi. Anda, vamos descer para jantar, estou morto de fome. -disse Rony infeliz abrindo a porta do quarto e descendo as escadas.


            Três dias após a chegada dos garotos do Largo Grimmauld, poucos membros da Ordem visitavam a sede. Alegavam trabalhos demais no Ministério e vigilância contra possíveis novos ataques. O mundo bruxo estava completamente em alerta, qualquer lugar poderia ser um possível alvo. Graças às orelhas extensíveis de Fred e Jorge, os garotos descobriram numa das conversas com os membros presentes da Ordem, que Arken e Mestre Obi-wan encontraram Hidrash e este revelou que os ataques eram a chave para descobrir a localização da Arca. O peregrino tinha absoluta certeza que esconderam o objeto na África, porém, não fazia idéia da localização. Juntamente com Dumbledore, Arken e Mestre Obi-wan, migrou ao Brasil para ajudar na busca.


            -Se ao menos Dumbledore conseguisse decifrar as últimas palavras do diário.Teríamos uma chance.-comentou Arthur.


            -Sem isso estamos lutando as cegas, sem nenhuma vantagem contra Voldemort.-disse Sirius.


            -De uma coisa sabemos, o outro lado também não descobriu a Arca e até agora não houve nenhum novo ataque.-refletiu Lupin.


            À noite, Brighid encontrou Harry sozinho na varanda. Ele observava absorto as ruas cobertas de neve, e sequer notou a presença dela. Quando viu a presença dela, sorriu amigavelmente voltando a olhar a rua deserta.


            -Que faz aqui, Harry?


            -Nada, só dando um tempo. E você está bem?


            -Sim, eu me sinto bem aqui. E Sirius, Molly e os outros são bons comigo, principalmente Sirius. Mas me sinto culpada por não ajudar na procura da Arca, nunca mais sonhei com Samuel. Ele se afastou de mim.


            -Ou será que foi você que se afastou dele?


            -Como assim?


            -Seus poderes...os tem controlado?


            -Hum....tento.-mentiu Brighid.


            Harry olhara profundamente para ela, seus olhos verdes encontraram com os dela. Como ele é lindo...Deus, como meu coração acelera ao seu lado, pensou Brighid. Sabia que ela mentia, disso não tinha dúvida, porém, nada comentou. Era, talvez, a oportunidade perfeita para usar seus poderes, conseguir um beijo.


            -Não vai me conquistar assim, Brighid. Meu coração pertence à outra pessoa.


            Por essa, ela não esperava. Como ele sabia? Quem lhe contara? Olhou perplexa para o amigo, sem inventar qualquer desculpa para explicá-lo. No entanto, Harry não parecia bravo, ou magoado, apenas sereno e calmo. Semelhante a um irmão mais velho que entende as travessuras de seu irmão caçula.


            -Eu sei que é você, Brighid. –continuou Harry-Mas não pode roubar meus sentimentos e colocar os seus. Fico honrado pelo carinho que sente por mim, porém, não vai me conquistar forçando-me a amá-la do modo como gostaria.


            Surpresa, pela reação do amigo, ou ainda gostar de Arken tendo ela rompido com ele e estando a quilômetros de distancia, Brighid nada respondeu. Apenas contemplava o chão coberto pela neve.


            -Me desculpe, Harry. Me desculpe mesmo. Acho que, quer dizer, eu não sei como te explicar, dá uma explicação que não te deixe com raiva de mim.


            -Eu não estou com raiva. Como disse, me sinto honrado, mas não conseguimos as coisas assim. Há uma tarefa dada a você, Brighid, que, por minha causa, não está mais tentando fazer. Acertei?


            -Sim, nunca mais sonhei com Samuel. E as páginas do diário.


            -Voldemort vai vencer se não conseguirmos, Brighid. Precisa controlar seus poderes, se concentrar e descobrir a Arca. Precisamos salvar o mundo, e os outros. Nossos pais morreram para nos manter vivos, porque somos peças importantes para determinar o rumo desta guerra.


            -Ama mesmo a Arken não é?


            -Sim, eu a amo muito. Apesar de estarmos separados e dela ser uma Cavaleira Jedi.


            Doeu ouvir aquilo, doeu profundamente. Contudo, ela entendeu. E, de algum modo, sentiu-se livre. Livre por não estar mais presa aquele sonho, sem saber se o conseguiria ou não. Livre por saber a resposta, mesmo que tenha doído ouvi-la.


            -Posso te pedir uma coisa, Harry?


            -Claro.


            -Me dava um beijo? Eu nunca beijei ninguém. Só gostaria que, pelo menos, eu guardasse um beijo seu.


            -Será um prazer, Brighid.


            Delicadamente, Harry encostou seus lábios nos dela. Seu beijo era doce, inocente. Durou poucos segundos, o suficiente para os dois ouvirem um murmúrio baixo, mas ofensivo.


            -Harry!-era a voz de Hermione


            -Espere Hermione, não é nada disso que está pensando!


            A amiga não lhe deu atenção, olhava para Brighid séria e pensativa. Ele ia abrir a boca para explicar, mas ela pediu que se calasse. Brighid olhava um tanto apreensiva para Hermione, e Harry.


            -Por favor, preciso conversar com Brighid a sós. É importante.


            -Hermione...


            -Por favor, Harry!  


            Ele deixou as duas sozinhas na varanda. Desceu alguns lances de escadas e esperou, pensou nas suspeitas de Rony, no entanto, desconsiderou todas elas. Era impossível a amiga estar apaixonada por ele, tinha de ser outro motivo. Talvez a conversa entre as duas fosse amigável. Mas, um grito alto e grave congelou seu sangue. Em seguida outro, e outro até o silencio e o fazer correr até a varanda.


            Hermione estava deitava no chão, branca e imóvel, com Brighid aos seus pés chorando sem parar.


            -Brighid...


            -Harry, não fui eu.Eu juro! Não fui eu!-dizia ela entre lágrimas.


            Em seguida, os outros moradores da mansão chegaram à varanda: Sirius, Molly, Arthur, Lupin, Tonks, Gina e...Rony. O ruivo correu para a amiga, gritando o nome dela na tentativa de vê-la acordar.


            -HERMIONE, HERMIONE!ACORDE, O QUE HOUVE?


            -Harry, tire Rony daqui!Temos que ver o estado de Hermione.-pediu Tonks


            Harry, com a ajuda de Gina, praticamente empurrou Rony para fora da cena. Ele continuava a gritar por Hermione, ate olhar para Brighid, imóvel num canto afastado. Harry percebeu as suspeitas do amigo, e de como ele enrijecera. O segurou o mais forte que pode.


            -Calma, Rony!Não sabemos o que aconteceu!-disse Harry.


            -FOI VOCE, NÃO FOI!HERMIONE SE MACHUCOU POR SUA CAUSA!SUA BRUXA ORDINÁRIA!-esbravejou Rony.


            -Não fui eu!Eu juro que não fui eu!-disse Brighid soluçando.


            Mas nenhuma das pessoas ali presentes pareceu acreditar nela, exceto Harry e Sirius, eles a olhavam com desconfiança e medo. Medo do que ela faria com cada um deles. Brighid percebeu, e saiu correndo aos prantos.


            -SE ALGUMA COISA ACONTECER COM ELA...EU JURO QUE...


            -Não sabemos o que aconteceu, Rony!Ela vai ficar bem!-dizia Harry.


            -Fique calmo, Ronald Wesley!-pediu Sirius com autoridade- Hermione está respirando, vamos levá-la ao St.Mungus.


            Sirius a carregou com cuidado nos braços levando-a para longe, no hall da mansão ele a passou para os braços de Lupin que desaparatou junto com Tonks e Arthur para o St.Mungus. Rony fizera menção de ir também, mas Molly o impediu. Disse que amanhã o levaria, e que logo Arthur voltaria trazendo notícias. Rony chorava compulsivamente, andando de lugar para outro na cozinha; todos que restaram de concentraram lá a espera de notícias, o garoto recusou a comida que trouxeram para ele.


            -Temos um problema.-disse Gina descendo as escadas e parando na porta da cozinha.-Brighid fugiu.


            -O que?-perguntaram Harry e Sirius ao mesmo tempo.


            -Não está no quarto dela, e seus pertences também não.


            -Fez bem, ela não é bem-vinda aqui!-disse Rony com raiva.


            -Cale a boca, Rony!Você não sabe se foi ela, não temos certeza!-respondeu Sirius nervoso.


            -Sabe muito bem que foi ela, Sirius!Só ela aqui pode fazer uma coisa dessas, Hermione com certeza disse algo que não foi do seu agrado, e Brighid a machucou!Eu disse que ela podia fazer isso, EU DISSE!


            -Rony, eu sei que está com raiva.-disse Harry- É melhor procurarmos não tirar conclusões precipitadas. Avisaram a Dumbledore?


            -Sim, Arthur disse que mandaria o recado a ele quando chegasse no St.Mungus.-respondeu Molly.-Harry tem razão, meu querido.Eu sei que gosta de sua amiga, mas vamos esperar por respostas.


            Mas até Molly parecia não acreditar nas palavras que dissera. Derrotado, Rony subiu as escadas pisando com força os degraus. Gina também subiu, e Molly resolveu limpar a sala de visitas.


            -É melhor ocupar a mente numa hora dessas!-disse ela –Até Arthur trazer as notícias.Vou mandar uma coruja a Fred e Jorge, avisá-los do que aconteceu.


            Sirius e Harry ficaram sozinhos na cozinha. Agora, Sirius parecia realmente preocupado. E Harry também. Não devia ter deixado Hermione sozinha com Brighid. Uma voz dentro dele dizia que ela não fizera isso, mas outra voz confirmava. Qual delas estava certa? Brighid fora embora, por culpa ou ressentimento daqueles que a acolheram?


            Seja qual for à resposta, a questão é que ela se encontrava sozinha numa das noites mais frias de Londres. E que Comensais da Morte a esperavam ardentemente, queria sua cabeça a qualquer preço.Voldemort queria sua cabeça a qualquer preço.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.