Revolta Magnífica



Ali era frio e escuro, nem o brilho de seus cabelos vermelhos aparecia mais. Ele estava tremendo muito, suas mãos estavam sujas e machucadas e George exibia um corte fundo na bochecha do lado esquerdo do rosto. Tinha olheiras fundas e um olhar fixo de quem tinha sido torturado.
- Mas eu sei que tudo vai ficar bem... Vai ficar bem... - Cantarolava ele, na esperança de afugentar o medo. - Angie... Desculpe-me, eu queria estar aí com você agora...
Vinha em sua direção uma mulher alta, com uma longa capa preta abotoada até o pescoço, ela deslizava belamente, fazendo-se perceber sua aproximação. Seus longos cabelos igualmente ruivos esvoaçavam com a rapidez de seus passos. Aos poucos, Ginny ia se aproximando do vulto encolhido em um canto que se balançava freneticamente para trás e para frente, que era George Weasley.
- Oi irmãozinho! - Disse ela se agachando ao lado dele.
- Gy... Por quê? - Disse ele, a voz rouca e fraca.
- Ah, George, deixe de ser idiota! - Exclamou ela, pacientemente. - Está um pouco muito claro!
George não respondeu. Levantou os olhos e olhou para Ginny, seus olhos com olheiras e inchados doendo ao se encontrar com a pouca luz que vinha da varinha de Ginny. Ela sorria e estava bonita e bem cuidada, exibia no antebraço esquerdo uma marca queimada a ferro, de um crânio com uma cobra saindo da boca, o que George reconheceu ser a Marca Negra que marcava todos os Comensais da Morte de Voldemort. Mas essa tinha algo diferente, tinha duas letras mas em baixo do crânio: R.M.
- R.M.? - Perguntou ele finalmente, sustentando o olhar brincalhão de Ginny. - O que significa?
Ginny soltou uma gargalhada aguda, que lembrava a de Bellatrix Lestrange. Após se recompor, ela disse:
- Revolta Magnífica. - Começou ela, mas vendo a expressão intrigada de George, revirou os olhos e continuou: - A nova era! Sangues-ruim ao nosso lado, por ora, é claro, trouxas mortos pelas mãos de seus ''salvadores'', e nós, os Comensais da Nova Era governando. O mesmo plano do Lord das Trevas, só que aperfeiçoado e mais fácil de ser alcançado com rapidez. Agora, nós só precisamos liquidar a Granger para libertar, enfim, Bella... - Concluiu ela com os olhos brilhando de alegria, como os olhos de uma criança.
Essa foi a vez de George rir. Ele riu com gosto e Ginny ficou atônita e, parcialmente, com raiva.
- Ai, ai... Ai Ginerva. Como você é ingênua! - Disse ele com a voz carregada de deboche. - Granger? Até mês passado era como? Ah me lembrei, era Mimi pra cá, Mimi pra lá! Não é?
- Como Georginho? - Falou ela com falsa tranqüilidade. - Acho que não faço mais a linha de amiguinha de sangues-ruim.
George não respondeu novamente. Já tinha chegado onde queria: deixado Ginny nervosa. E quando Ginny ficava nervosa, tudo escapava de sua boca sem ela nem perceber que estava falando.
- Vamos Ginerva! Revolta Magnífica? Que nomezinho mais infantil! - Falava ele rindo, juntando todas forças para se levantar. - Foi você que escolheu, né? Porque isso é a sua cara! Não tinha um piorzinho? E essa história de "liquidar a Granger"? Admita! Você está com raiva porque ela apóia o Harry e a Loony! - Terminou ele se pondo de pé, sentia-se mais corajoso e forte.
Não me chame de Ginerva! E não cite o nome daquela estranha na minha presença! - Ela começava a perder a expressão feliz e fios de raiva começavam a aparecer entre as suas feições.
- Ah, que foi? Ginerva Ingênua, que tal? - Disse ele no mesmo tom que usava quando ele e Fred saíam para fazer travessuras.
- George...
- Ginerva Ingênua! Ginerva Ingênua!
- CALA BOCA!
- Ginerva Ingê...
Sua voz foi silenciada por um estampido mais alto. Um estampido seguido de um clarão e berro de furar os tímpanos:
- CRUCIO MAXIMA!
Cada pedacinho do corpo de George estava doendo. Ele não conseguia suportar, desabou no chão se contorcendo, a dor invadindo cada vez, mais o ser corpo. Achou que ia ficar doido a qualquer minuto, achava que ia terminar tudo ali... Então sentiu um alívio imenso invadir seu ser. A princípio, achou que estava morto, mas foi trago a realidade por uma voz familiar, que conversava não com ele, mas com Ginny.
- Amor, eu já disse para você não perder a paciência com esse tipo de gente. Entenda: nós precisamos dele para poder continuar na Ordem! - Disse Neville Longbottom.
- O-o quê? Neville? - Disse George, se levantando com muito esforço, seu corpo ainda dolorido ao máximo.
- Ah! George! - Disse Neville, estendendo a mão para ele se apoiar.
George cuspiu no chão e olhou para Neville com desprezo, com a ultima força que lhe restava, deu um brado:
- COMO VOCÊ PÔDE?
- Longa história, amigo... Longa história... - Dizendo isso, murmurou um feitiço desconhecido por George, e viu o Weasley cair no chão, suas expressões faciais de raiva de dissolvendo numa expressão tranqüila e adormecida, parecida com a de um bebê.
Ginny riu e olhou para Neville, que era um homem feito, forte e até um pouco bonito, que nada lembrava aquele "mané" de Hogwarts. Neville tomou Ginny em seus braços e a beijou apaixonadamente. Sem hesitar, ela o retribuiu.




- Granger...?
- Porra! Minha cabeça! - Berrou Hermione, colocando a mão sobre a testa, transbordando de fúria que ela desconhecia de onde tinha surgido.
- Ai! Graças a Merlin! - Respondeu Malfoy, que voltava com uma coruja carregando um carta. Virou-se para a coruja e disse: - Leve para o Weasley, não deixe ele fazer nada sem ler antes!
E a coruja levantou vôo saindo pela janela da sala para a escuridão da noite. Malfoy abraçou Hermione, ele estava úmido de suor, mas nada comparado a Hermione, ela estava molhada mesmo. Encharcada da cabeça aos pés. Hermione retribuiu o abraço e forçou um sorriso, mas não estava muito afim de ficar agarrando ninguém, principalmente Malfoy. Estava com raiva daquilo tudo, não parecia ela mesma. Seus olhos estavam escuros e opacos novamente, seu rosto exibia traços de Bellatrix e ela tinha fios escuros na cabeça.
- Malfoy! O que houve? Eu não me lembro de nada! - Ela estava carregada de fúria, mas tinha um certo quê de vitória na voz. - Eu não agüento mais isso!
- Calma Granger! Eu estou aqui agora. - Respondeu Malfoy com calma, não queria discutir com ela agora. Não queria discutir com ela em momento nenhum.
Eles se soltaram do abraço e Hermione se deitou no sofá. Estava também bem pálida, com a mesma cara de George, de quem foi torturado até perder a cor. A sua cabeça latejava e ela ia revendo as cenas que tinha visto até antes de Malfoy chamá-la. Parcialmente ela não sabia como tinha visto aquilo, mas conseguia se lembrar perfeitamente de tudo: Ginny, George e Neville, a Revolta Magnífica e a Marca...
A Marca... Seu braço ardia onde supostamente teria a Marca Negra. Aproveitou-se que Malfoy tinha ido novamente mandar uma coruja, e levantou a manga longa da blusa que estava vestindo e viu uma mancha vermelha e grande que estava ardendo muito. Não tinha Marca nenhuma, mas tinha algumas linhas indefinidas, que, em sua mente, formavam um Marca Negra e as duas letras: R.M. Quando percebeu passos, ela rapidamente puxou a manga da blusa para tampar o braço. Não queria falar nada com ninguém. Pelo menos AINDA não.
Malfoy vinha chegando acompanhado de Frankie, o elfo doméstico que ficara para substituir Dobby. Trazia nas mãos uma bandeja de prata (a mesma bandeja do dia anterior) com alimentos. Depositou a bandeja na mesinha de centro e fez uma reverência.
- A senhorita deseja mais alguma coisa?
Hermione não estava afim de responder. Não sabia o porque, mas o elfo estava lhe causando repugnância. Malfoy vendo a cara de Hermione para o elfo, se apressou e respondeu:
- Pode se retirar, Frankie. Obrigado.
O elfo desaparatou com um estalido. Malfoy virou para Hermione.
- Tudo bem? - Sua voz estava humilde, mas também ansiosa e preocupada. - Tipo, você está melhor?
- Não. - Ela queria evitar palavras, ser direta. Mas sua voz estava grosseira e Hermione sentia uma raiva que se misturava com um sentimento de satisfação que ela realmente passava a desconhecer a origem. Percebendo a grosseria de suas palavras, disse: - Desculpa... Quer dizer... Não estou muito bem ainda.
- Sem problemas. Coma, você não come nada desde o café e já está tarde. - Disse Malfoy apontando para a janela. - Você vai acabar ficando muito mais fraca e pálida.
Hermione olhou para a janela, já estava escuro e ela então se deu conta de tudo. O "sonho", a Marca e a terrível dor de cabeça e no peito, perto do coração.
- Eu tive um sonho. Quer dizer, eu acho que foi um sonho. - Começou ela e em seguida bebeu um pouco de suco que estava na bandeja. Malfoy se sentou no sofá perto dela. - Tinha George, Ginny e... Neville.
- Neville?
- É, no sonho, ou o que tenha sido, George estava em um lugar e ele estava com uma aparência horrível. E... - Hermione contou tudo sobre o sonho para Malfoy e no final, ela reuniu coragem e mostrou a ele o vermelho em seu braço. Ele colocou o braço dela ao lado do braço esquerdo dele e comparou as duas Marcas, porque ele também tinha sido um Comensal no passado e a Marca era poderosa o suficiente para não se deixar apagar por um feitiço. Malfoy puxou a varinha e disse para ela:
- Eu vou por um feitiço aqui para aliviar a ardência e outro para esconder a vermelhidão. - Disse ele forçando um sorriso de calma. - Já está quente e todos vão estranhar você com blusas de frio.
- Mas então eu não vou contar pro Harry nem pro Ron? - Perguntou Hermione, a voz voltando ao tom delicado e decidido de sempre.
- Não, Granger. - Sorriu Malfoy. Ele pegou a mão de Hermione. - Os dois têm muito que fazer para se preocupar...
- Tipo o quê? - Interrompeu ela, os olhos castanhos brilhando e os cabelos mais claros retornando ao normal.
- Caçar George, por exemplo.
- Mas você acha, depois de tudo o que eu te contei, que ele ainda é culpado?
- Talvez. Não sei dizer. Você me falou que foi só um sonho.
Aos poucos a Hermione Granger de antes ia voltando. Os traços de Bellatrix estavam sumindo e ela começava a se sentir melhor. Tirou a blusa de frio e jogou no chão. Viu o lugar onde antes estava vermelho ter voltado a cor normal Terminou de comer e olhou para Malfoy que ainda estava sentado do seu lado, mas olhando para a janela.
- Obrigada. Disse ela finalmente, pousando a colher na bandeja.
Malfoy não respondeu, apenas sorriu e chamou Frankie, que levou a bandeja de volta.
- Sabe, Granger... Eu estou realmente apaixonado por você. - Disse ele de súbito, fazendo Hermione ficar surpresa. Mas logo após um sorriso começou a brotar nos lábios dela.
- Nem está! - Brincou Hermione, se aproximando.
- O que?
- Brincadeira. - Respondeu ela. - Eu também, sabe? - Ela estava puxando Malfoy pela camisa para mais perto. Esperava esse momento desde a manhã daquele dia.
Malfoy só conseguiu dar um sorrisinho. Ainda estava bem vermelho. Ele passou a mão pela cintura dela e Hermione enlaçou os braços no pescoço de Malfoy. Ele encostou os narizes deles e a beijou. Aquilo foi como uma injeção de ânimo em Hermione. Apesar da dor de cabeça e no peito, ela sentia seu corpo todo agradecer por isso. Ela retribuiu o beijo, afastando ao máximo essa dor e se entregando ao momento, que estava cada vez mais agradável. Não queriam, mas foram parando de se beijar aos poucos e se abraçaram. Não precisavam mais de palavras, aquele abraço valia por tudo o que eles tinham que dizer no momento.
De repente, a atenção deles foi desviada pelo barulho de passos que vinham em direção a sala. Rapidamente se soltaram e Malfoy se pôs de pé. Logo depois entraram na sala um Harry e uma Luna gravemente feridos e com as varinhas na mão.
- Mione! - Luna correu em direção a Hermione que se levantou e a abraçou. - Ficamos sabendo do que aconteceu, mas nós fomos atacados.
- Como assim, atacados? - Indagou Malfoy. - Por quem?
Harry se adiantou para explicar, na esperança de poupar Luna:
- Loony e eu estávamos saindo da loja de roupas, quando escutamos uma gritaria e um monte de gente correndo num desespero... - Começou Harry com a voz forte, mas segurando o braço direito que sangrava muito. - Aí apareceu uma menina que era igual a Pansy Parkinson, que lançou um Sectumsempra um mim e Loony. - Ele mostrou o corte vertical fundo perto da orelha de Luna e o que tinha no braço direito. - Não sei como, mas ela reconheceu a gente e vários outros começaram a vir pra cima e...
- Acabamos assim. - Concluiu Luna.
- Frank! - Berrou Hermione. O elfo instantaneamente apareceu e ela mandou trazer curativos, sua varinha e essência de Ditamno.
- Sente-se Luna. - Ordenou ela e Luna obedeceu. Hermione começou a tratar dos ferimentos de Luna e jogou a essência de Ditamno para Malfoy, que passou no braço de Harry e o enfaixou. - Mas como vocês se safaram?
- Não sabemos, Mione. - Respondeu Harry infeliz. - Escutamos um barulho agudo e uma fumaça preta encheu a rua que a gente tava e quando sumiu, os Comensais tinham ido também. Arrasaram o Beco Diagonal.
- Mas estamos bem agora. Disse Luna.
- Vocês disseram que tinha uma menina que se parecia com Pansy mas não era ela, então quem era? - Perguntou Malfoy, que tinha escutado tudo calado até agora.
- Paulette Parkinson. Irmã mais nova de Pansy. - Respondeu Luna. - Nunca foi para Hogwarts, foi educada em casa, por isso vocês não devem ter ouvido falar dela. Mas ela é uma cópia cuspida de Pansy.
- Mas como que ela descobriu que eram vocês?
- Não fazemos idéia. - Respondeu Harry frustrado.
Malfoy e Hermione se olharam e depois voltaram a fazer o que estavam fazendo antes. Hermione ainda limpava os inúmeros ferimentos de Luna e Malfoy cochichava alguma coisa para Harry que lançava olhares furtivos a Hermione, que, por fim, perguntou?
- Horas?
- 23h. - Respondeu Luna se levantando. - Obrigada Mione. Vamos indo pro nosso quarto, Amor? - Perguntou Luna para Harry e dando um beijo na bochecha de Hermione foi em direção a ele.
Harry assentiu e se despediu de Malfoy e abraçou Hermione e se retirou com Luna. Malfoy caminhou até o sofá onde estava Hermione e ficou de pé encarando ela.
- Que foi? - Perguntou Hermione pondo a varinha de lado.
- Eu contei ao Potter sobre o que aconteceu hoje...
- Sobre a gente? - Exclamou ela, corando levemente. Malfoy sorriu e continuou.
- Não, Granger. Sobre o que aconteceu com você depois que levaram a Angelina... Quando você apagou. Mas não falei nada sobre o que você viu.
- Ah... E o que ele disse?
- Para eu cuidar de você. - Disse ele sorrindo e estendendo a mão para Hermione. - Vamos subir. Tomar banho e poder descansar.
Hermione colocou a varinha no bolso e se apoiou na mão de Malfoy para se levantar. Malfoy passou a mão envolta da cintura de Hermione e juntos começaram a subir a escada que levava até o quarto de Malfoy.

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