O gelo cortante



Era uma tarde fria de inverno e os alunos haviam sido dispensados da aula para descanso, afinal a semana de provas havia acabado de passar, e muitos passaram no maior esforço, mas outros resolveram deixar de lado os estudos e ficaram de recuperação, os mesmos corriam endoidados atrás de professores e alunos que soubessem a matéria e pudessem explicar, como esses eram poucos, a biblioteca estava vazia e foi lá que Victor decidiu marcar um encontro com seus amigos que haviam acabado de presenciar uma intoxicação em massa e haviam saído a enfermaria há uma semana.

Eles se reuniram em um canto onde quase ninguém se encontrava: uma ala da biblioteca de livros estrangeiros, onde ninguém descobriria eles ali, o local possuía três grandes estantes de livros empoeirados, e atrás das estantes haviam duas pequenas mesas rústicas com 3 cadeiras cada.

As duas horas da tarde todos já estavam ali, só faltava a Julia que Ricardo disse que a viu descendo as escadas para a cantina trinta minutos antes. Depois de Thamy e Ana terem espremido cinco cadeiras em uma das mesas para que todos ficassem bem próximos, Julia chegou com uma bolsa amarelo florescente em baixo do braço.

- Gente desculpa a demora! É que eu acabei passando na cantina para comprar algo pra gente tomar enquanto conversa!

- Mas é proibido comer aqui! – disse Ricardo quando Júlia já estava sentada e distribuindo uma lata de refrigerante para cada um.

- Então você fica sem, espertinho... Mas afinal, num é aqui que vocês disseram que nunca vem ninguém? Então não tem problema... – nisso, Ricardo já tinha conseguido pegar uma latinha da bolsa da Julia e estava bebendo naturalmente.

- Pessoal... vamos ao assunto principal. Então na manhã que todos passaram mal, e a Ana já estava na enfermaria, eu ouvi a enfermeira conversando com sua mãe – Victor apontou para Ana –, ela disse que você havia ingerido uma espécie de gás tóxico, o que me faz lembrar na noite do nosso encontro com Felton e Desitel.

- É isso faz muito sentido... Mas o que faria aqueles dois nos intoxicar? Eles seriam tão cruéis assim? – indagou Thamyres, dando um gole de seu refri.

- Talvez eles nem soubessem da existência dessa toxina... as vezes devem ter trocado o gás... – sugeriu Ana.

- Não sei se vocês sentiram o mesmo, mas depois do ocorrido eu tenho me sentido muito melhor! Vocês não têm noção... – disse Júlia.
- Eu também! Mas me senti muito estranho também... Aliás, é... deixa pra lá – disse Ricardo disfarçando.

- Agora fala logo! – disse Julia irritada.

- Vocês não acreditariam... Deixa quieto... – Ricardo olhava diretamente para a lata de Victor que estava sobre a mesa e não havia sido aberta.

- Ricardo, neste momento de pânico, em que não sabemos o que pode acontecer conosco por conta daquele maldito gás, acreditamos em tudo! Confie em nós, por favor! – disse Victor.

- Ok... Vou falar então, foi uma coisa muito estranha, não sei se estava alucinando ou coisa parecida, mas quando acordei estava com muita sede, olhei para o lado e lá estava a garrafa de água que sempre pego antes de dormir, mas no primeiro gole quase cuspi tudo: a água estava quente. Foi quando eu desejei tanto ter uma garrafinha de água gelada sem ter que levantar da cama, que eu senti uma força dentro de mim, e realmente me senti capaz de gelar aquela água, então me concentrei e aquela força aumentou e senti ela percorrer por cada veia do meu corpo, então tentei canalizá-la para minha mão direita, e deu certo! A garrafa gelou! – pelo olhar espantado de todos, que pareciam estar esperando a palavra “brincadeirinha!”, ele se direcionou para a lata de Victor, arrastou-a para perto de si e segurou-a com as duas mãos – prestem atenção – avisou.

Ele se concentrou e segurou com toda sua força a lata em sua mão. Ana e Thamy que estavam ao lado de Ricardo estremeceram e se afastaram impressionadas, a mão de Ricardo foi adquirindo um brilho azul claro, que lembrava a cor do céu naquele instante. E nisso, cada gota de suor da lata congelou-se.

- Meu Deus! Funciona mesmo! – gritou Victor, que espantando com seu barulho saiu da cadeira e observou se alguém havia escutado-o, quando voltou, sentou-se boquiaberto.

- Ainda não domino muito bem, mas acho que consigo treinar para melhorar... – disse Ricardo observando a lata congelado, feliz mas muito assustado também.

- Exibido! – disse Júlia – Gente, mas vocês acham que esse poder pode aparecer para nós também? Afinal todos inalaram aquele gás.

- Quem sabe não só esse poder, mas sim poderes diferentes! – disse Thamy admirada.

-Pessoal, ainda acho muito arriscado ficarmos animados com esses poderes, quem sabe eles podem ser malignos, não tenho certeza. Mas de qualquer forma acho uma idéia genial! – apressou-se Victor depois de perceber o olhar matador de Julia.

- Quem sabe... Poderíamos formar uma equipe! – falou Ana abraçando Thamy.
- Pessoal, precisamos nos manter informados de tudo o que ocorre conosco... Cada acontecimento estranho e fora do normal deve ser comunicado, ok? – disse Victor com o sorriso no rosto, não parava de imaginar o grupo formado de pessoas com poderes incríveis.

- É claro! E como será o nome do grupo? – disse Julia impaciente. – O que acham de Alunos Incríveis?

Todos deram risadas... Afinal, pensava Victor, a idéia de montar um grupo não era ruim. Seria o máximo serem realmente tudo o que cada pessoa no mundo sempre quis ser: um herói. Seriam a realidade fora das histórias em quadrinho, livros de ficção e filmes fantásticos, seriam os ídolos da era contemporânea, entrariam para a história, e ainda estariam em cada jornal e revista do mundo!

Mas será que seria tudo isso mesmo? Não poderia ocorrer uma falha neste plano? E se ocorresse totalmente ao contrario? E se o mundo odiassem-nos?

Nada deveria ser precipitado, tinham que pensar muito antes de qualquer ato. E também ainda não sabiam se o “poder” que Ricardo falara iria aparecer para cada um deles.

Nada estava dentro da razão, o máximo a fazer era esperar.

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