O fogo ardente e o aço penetra

O fogo ardente e o aço penetra



Capitulo X – O fogo ardente e o aço penetrante
Victor e Ricardo haviam acabado de acordar, e estavam se vestindo. Lá dormiam apenas os dois e mais um menino do segundo ano chamado Yuri, mas eles mal se encontravam pois seu horários eram diferentes. Depois do incidente no auditório Felton havia mudado de quarto e Desitel também. Aliás, os dois sumiram da vista deles, Victor imaginava se Dona Virgulina havia dado uma bronca nos mesmos... Ou quem sabe, poderiam estar armando alguma coisa.
Ricardo ficava se exibindo com seu poder pelo quarto, afinal Yuri já havia acordado e estava tomando café da manhã com os demais. Enquanto Victor estava sentado em sua cama, observava Ricardo formando flocos de neve sobre sua cabeça:
- Viu, Victão? Estou aperfeiçoando! – disse ele olhando o brilho azulado que saia de sua mão.
Victor respondeu com um sorrisinho e voltou a deitar, ficava pensando em qual poder poderia adquirir... foi quando o despertador soou pela segunda vez, então arrumaram suas camas e seguiram para o café da manhã, ao saírem do quarto Victor percebeu o quanto estava frio lá dentro.
- Ricardo, você virou um ar-condicionado ambulante! – disse enquanto subiam as escadas.
Ao chegarem ao refeitório encontraram com Ana e Thamyres se servindo.
- Alguma novidade meninas? – perguntou Ricardo segurando uma bandeja e posicionando na fila. – Cadê a Júlia?
- Nada... Nenhuma novidade, a Ju parece que teve um probleminha com uma presilha de cabelo... Não sei, quando acordamos, ela já estava no banheiro. Nem a vimos, ela saiu que nem um foguete quando abriu a porta e foi direto para o closet. – respondeu Thamy, enquanto servia-se de arroz.
- É mesmo... E hoje acordei com tanta febre... Mas estou normal, nenhuma dor de cabeça... – disse Ana colocando a mão em sua testa. – isso não passa!
Sentaram em um canto isolado da mesa central, em meio as conversas e garfadas Ricardo ficava perguntando para todos se queriam uma “turbinada” de gelo nas bebidas. Ana irritada com tantas perguntas segurou firme o seu copo e entregou para Ricardo.
- Vai! Gela meu copo logo, antes que eu faça você ir sentar com Felton e Desitel do outro lado mesa! Quem sabe eles não querem suas turbinadas!
Desconcertado com a resposta de Ana, Ricardo mesmo assim apontou para o copo, verificou se realmente ninguém os observava; seu dedo começou a brilhar e da ponta uma espécie de feixe de flocos de neve fora saindo e em instantes o conteúdo do copo estava totalmente congelado.
- Ops... Acho que exagerei! – antes que Ana pudesse responder qualquer coisa Ricardo retrucou – pode deixar que eu pego outro para você Aninha querida!
Enquanto Ricardo cruzava o refeitório em direção as maquinas de refrigerante, suco e água, Julia dobrava a porta do grande e iluminado recinto em direção a Ana, Thamy e Victor. Ela apresentava uma expressão estranha, que Victor nunca a viu apresentar. Com passos apertados e meio desengonçados ela chegou a mesa, tomou um gole do suco de Thamy, observou o copo congelado mas ignorou-o e começou a falar rapidamente:
- Hoje de manhã, eu acordei mais cedo que vocês – e apontou para Ana e Thamy – para poder ter mais tempo para me arrumar. Já estava toda pronta, só faltava o cabelo, o problema foi esse. Estava de frete para o espelho e resolvi colocar algumas presilhas no cabelo, quando toquei em uma delas... – ela tomou fôlego, e com muito esforço falou – ela se desintegrou! Virou um liquido metálico! Assustei-me tanto, que derrubei toda a caixinha de presilhas no chão, quando fui recolhê-las cada uma que eu tocava virava esse liquido que eu lhe falei! – todos escutavam muito atentos.
Ela deu uma pausa e começou a chorar no ombro de Ana, neste momento Ricardo chegara e já pedira explicações, enquanto Thamy explicava cada detalhe, Julia soluçava.
- Mas Julia! Não é tão mal assim! – disse Victor, tentando acalmá-la. – Nós vamos encontrar um jeito de reverter isto! Nós vamos pesquisar, vamos procurar saber sobre este gás...
- Não é tão mal?! Tudo o que eu toco vira liquido! Alias todo metal que eu toco vira liquido! Mas isso não é o pior! Quando estava tentando limpar o banheiro, acabei que tocando no liquido, e no mesmo instante, a Ana bateu na porta e lembrei-me do café da manhã, e não sei o porquê, mas as presilhas fundidas viraram um garfo! - e voltara a soluçar no ombro de Ana.
- Calma Ju, você vai aprender a controlar! Tenho certeza disso! É só uma questão de tempo e treino. Você vai ver... – consolou Ana dando tapinhas em suas costas.
- Pessoal, o que acham de um encontro, hoje a noite, para ajudar a Ju a controlar seus poderes, e procurar saber mais sobre aquele gás. Nós precisamos encontrar a fonte dele. – sugeriu Victor num tom de voz em que apenas os cinco podiam ouvir.
- Boa idéia Victão, onde e quando? –perguntou Thamy.
- Bem, como precisamos saber de onde veio o gás, precisamos ir para o auditório, foi lá onde tudo começou. Depois disso, a gente pode ir para algum dos camarins, e lá discutimos sobre nossas descobertas e ajudamos a Julia. O que acham de nos encontrarmos lá dentro às 11 horas da noite?
- Boa! Às 11 horas não vai ter ninguém que possa nos atrapalhar, afinal é proibido caminhar pela escola a partir das 10 horas. Opa... Esquecemos sobre este pequeno detalhe... Isto é fora das regras! – disse Ricardo.
- Mas é um risco que devemos correr! Afinal a Julia precisa de nossa ajuda e nossa saúde depende daquele gás, porque a gente ainda não sabe dos danos que podem causar.
- Ok, ok. Então as quinze para as 11 da noite, nos encontramos no corredor das meninas, belê? – sugeriu Ricardo.
- Beleza! Boa sorte para todos nós!
O dia seguiu tranqüilo para todos os estudantes, as aulas eram apenas de revisão e muitos professores deixavam os alunos se divertirem, afinal era o final do bimestre. Julia tinha se acalmado, apesar de ainda ter medo de tocar em qualquer coisa que fosse de metal, só não conseguiu se controlar quando percebeu que seu próprio dedo havia se transformado em uma espécie de adaga. Ela permaneceu com a mão em seu bolso até o fim das aulas e do almoço, pois tinha medo de conferir se o dedo já havia voltado ao normal, e corria o risco de ao invés de vê-lo feito em material orgânico; normal, vê-lo feito em aço.
As aulas de tarde foram suspensas, devido à semana de recuperações. E o grupo ficara esperando nos jardins da escola, lotados de alunos dormindo, brincando, estudando, lendo e fazendo tarefas. Victor observava as nuvens, que cobriam o céu azulado naquela hora, ficava imaginando que tipo de poder apresentaria, se apresentasse. Super inteligência? Controle da água? Capacidade mover os objetos com o poder da mente? Nada se encaixa em sua mente, por que estava demorando tanto?
No fundo ele queria que isto acontecesse, seria uma chance de mostrar para si mesmo que tinha um potencial diferente de todos, estava animado com todos estes acontecimentos, apesar do medo também correr por suas veias, pois não sabia se esses poderes seriam benéficos. Enquanto um turbilhão de perguntas enchia sua cabeça, Victor adormeceu. E teve o mesmo pesadelo de quando fora internado. Aquela fera o perseguia, e Victor não conseguia fugir, quando...
- Victor! Acorda! Está chovendo! Vamos entrar! – disse Thamy chacoalhando Victor que acordara assustado.
Todos correram para dentro da escola e dispersaram por entre todos os aposentos livres da escola, Victor, Ana, Thamy, Julia e Ricardo ficaram na biblioteca conversando até a hora do jantar.
Quando subiram para o refeitório, poucas pessoas já se encontravam ali, dentre elas Felton e Desitel que soltaram umas risadinhas de deboche quando passaram por eles.
- Não sei por que, mas tenho a impressão de que eles estão tramando alguma coisa... – disse Thamy, enquanto todos já estavam sentados na mesa. Julia preferiu utilizar talheres de plásticos, em caso de ocorrer algum acidente.
Depois do jantar, o grupo de dividiu e as meninas foram para seu dormitório, e os meninos para o seu. Ambos procuraram vestir roupas escuras para serem mais difíceis de serem vistos perambulando pela escola. As quinze para as 11 eles já se encontravam no corredor das meninas. Todos desceram as escadas que davam para o pátio e seguiram em frente para a outra escadaria que dava acesso aos demais andares da escola.
O auditório fica no sexto andar, e como no sexto andar também ficava a secretária, alguns seguranças ficavam mais por lá. Por isso não tiveram problemas nos outros andares. Quando chegaram lá, haviam dois guardas.
- Vocês perceberam que os guardas não estão vestidos para a ocasião? – disse Ricardo, movendo-se para perto dos seguranças, sem que os mesmos percebessem...
- O que ele quis dizer com isso? – cochichou Julia no ouvido de Victor.
- Faz parte do plano, olha! – respondeu Victor, todos estavam escondidos atrás de um grande vaso de concreto que ficava no corredor.
- Vocês criaram um plano e não avisaram a gente? –perguntou Ana.
No mesmo instante Ricardo estava muito próximo dos guardas, mas estava abaixado e ao lado de um banco de espera, que fica ao lado da porta a secretária, ele tirou as mãos do bolso de sua blusa e apontou-as em direção aos guardas, o mesmo brilho azulado de antes tomou conta de seus membros, e com feixes de vento extremamente gelado ele conseguiu abaixar impressionantes graus da temperatura do corredor.
- Hey, será que alguém ligou o ar-condicionado? – perguntou um dos guardas cruzando os braços para se aquecer.
- É claro que não! Todos estão dormindo... Esqueceu que o clima de hoje em dia é louco? Vamos buscar nossos agasalhos no almoxarifado! – disse o outro.
Nisso os dois seguranças atravessaram o corredor na direção oposta a eles, quando entraram no almoxarifado e fecharam a porta, todos saíram em disparada para o auditório.
Ao entrarem Ricardo fechou a porta e colocou suas mãos sobre as maçanetas que congelaram quase que instantaneamente.
- Pronto... Isso deve impedir a passagem de qualquer intruso. – e foi em direção aos outros que examinavam cada parte do auditório.
Victor se direcionou diretamente para as coxias, onde havia encontrado máscaras anti-gás e o anel de Dona Virgulina, mas nada se encontrava ali.
- Impossível! Onde foram parar aquelas máscaras! Elas poderiam ter sido compradas junto com os cilindros que transportavam o gás defeituoso! Viemos aqui à toa... – disse desanimado.
- Não viemos à toa! Vamos para algum dos camarins tentar ajudar a Julia! – respondeu Ana.
- Vamos. – disse Julia que ainda possuía tristeza em sua voz. Eles atravessaram as coxias e passaram por um corredor com 8 salas, cada parede possuía quatro portas. Eles tentaram abrir todas mas nenhuma estava aberta.
- Só tem um jeito... – pensou Victor – Julia, precisamos de você... Você nos contou que conseguia materializar qualquer coisas com o metal... Vamos você tem que nos ajudar primeiro para que depois possamos conversar com mais calma ali dentro. Thamy, trouxe os materiais?
- Trouxe sim... Está aqui dentro. – Thamy tirou uma mochila preta de suas costas, abriu-a e de lá retirou uma faca inteiramente de metal, que conseguira guardar da janta.
- Julia, pegue a faca sem medo, você não quer que ela se desintegre agora, segure firme. – disse Victor, e com movimentos lentos Julia foi se aproximando da faca, e repetindo em voz alta: “não quero desintegrar, não quero desintegrar”, e finalmente ela tocou a faca e nada aconteceu, todos comemoraram alegremente, até Julia conseguiu dar uma risadinha.
- Isso Julia! Parabéns! Eu não falei que você conseguiria? Então, agora enfie a faca no buraco da fechadura, e apenas deseje muito que a faca tome a forma daquele buraco, se transformando numa chave, canalize todo seu poder para sua mão. – ela se encaminhou para a porta vagarosamente como se estivesse carregando uma bomba prestes a explodir, ela colocou a chave no buraco da porta e fechou seus olhos, sua mão adquiriu um brilho semelhante a de Ricardo, mas o de Julia era mais tênue, e possuía uma cor prateada. A faca se fundiu e rapidamente tomou a forma da chave que cabia ali, nisso a chave voltou a se materializar.
- Uhul! Você conseguiu Julia! Conseguiu! Agora gire a chave! – disse Victor, enquanto todos comemoravam novamente. Ela girou a chave, e abriu a porta, quando todos entraram, ela retirou-a e fechou a porta, a chave materializada ainda conservava o mesmo cabo da faca.
O camarim era amplo e repleto de muitos armários, cada um com uma etiqueta colorida colada na porta. Na sala ainda possuíam três espelhos grandes com formatos ovais, e em frente de cada havia uma penteadeira. Antes que Julia pudesse sentar-se em algumas das cadeiras que estavam espalhadas pela sala, todos deram um abraço em conjunto nela.
- Julia, você conseguiu! Controlou seus poderes, parabéns! – dizia Ricardo.
Após o abraço, cada um foi para um canto da sala espionar o que havia em cada armário. Enquanto Victor e Ricardo estavam olhando as fantasias que se localizavam no final da sala, as três meninas estavam verificando as gavetas das penteadeiras. E lógico que não faziam questão em experimentar as infinitas maquiagens que ali estavam guardadas.
Ana estava na penteadeira do meio, e com uma escova alisava seus cabelos negros e cumpridos, que lhe caiam sobre as costas, possuía olhos castanhos claros e pele clara, pois nunca gostara de tomar sol. Thamy se encontrava na penteadeira da esquerda, perto da porta de entrada, Thamy também tinha cabelos longos e castanhos, que combinavam com seus olhos cor de mel. Júlia, na penteadeira da direita, estava a procura de esmaltes de unha amarelo, para combinar com sua bolsa, possuía cabelos castanhos claro e curtos, seus olhos azuis escuro contrastavam com sua pele clara.
Ricardo agora experimentava uma fantasia de mosquito, que impressionava pelo tamanho de sua confecção, era extremamente gigante. Ricardo possuía uma estatura média e tinha os cabelos loiros escuros, e olhos verdes. Depois de rirem do mosquito gigante, Julia disse:
- Vamos pessoal! Não temos a noite inteira, preciso que vocês me ajudem...
- Okay... – respondeu Thamy, convidando Julia para sentar ao seu lado. – vamos começar pelos objetos menores. – ela retirou se sua mochila um prego comum. – Julia segure o prego normalmente, usa aquela técnica que você usou para segurar a faca.
O tempo foi passando e todos ficaram com sono, Julia já tinha dominado a técnica, conseguia manipular os objetos normalmente. Só se assustava quando parte de sua mão também virava metal.
- Isso significa que você também pode se transformar no que quiser Julia... Da próxima vez vamos tentar controlar as suas transformações, beleza? – disse Thamy enquanto Victor trancava a porta do camarim com a faca transformada. Eles se encaminharam para a porta do auditório e todo gelo já havia derretido. Neste momento Victor lembrou-se do gás e lembrou que a escola possuía um cartão de compras próprio.
- Pessoal, a escola possui um cartão de crédito para compras! Será que a D. Virgulina não teria comprado o gás com este cartão? – disse antes que pudessem abrir a porta.
- É mesmo! Precisamos conferir este cartão... – disse Ricardo que conferia se os guardas estavam no corredor. – Mas acho melhor deixar esta outra missão para outro dia, já é muito tarde e temos aula amanhã. Vamos logo pessoal, não tem ninguém aqui no corredor... Para onde será que foram aqueles seguranças, hein?
- Não faço a mínima idéia... Vamos antes que eles possam chegar. Quanto à missão do cartão, creio que é melhor deixarmos para outro dia mesmo... – disse Victor quando percorriam o pátio em direção as escadarias dos dormitórios.
Victor e Ricardo acharam melhor acompanhá-las até o quarto, e depois irem para o seus. Quando chegaram, Thamy abriu a porta com o cartão magnético. Mas ao entrarem Julia e Ana que estavam mais atrás elas perceberam que todas as suas coisas estavam espalhadas pelo quarto: roupas, porta retratos, cadernos, estojos, sapatos, botas, toalhas, e tudo o que se encontrava guardado nos armários pessoais.
Sobre a cama de Ana, havia um bilhete:
“Decidimos fazer uma limpeza neste quarto imundo de vocês... É melhor terem cuidado conosco, vocês não sabem do que somos capazes.”
- Só pode ser daqueles três vagabundos! – disse Ana, num estado de raiva que Victor nunca havia à visto antes. – eles é que não sabem do que somos capazes! – e deu um urro de raiva, e quase instantaneamente, suas mãos pegaram fogo. Ela não sabia o que estava acontecendo, pois o fogo não a queimava. Eram chamas vivas e fumegantes.
- Ana! Seu poder! Incrível! – disse Thamy impressionada.
- É mesmo! Fogo! Sinto-me a menina mais poderosa da face da terra! – disse Ana que agora estava num estado de euforia enorme. – Isso explica a febre! Isso explica tudo! Fogo! Eu venho sonhando isso faz dias!
Foi difícil fazer Ana voltar suas mãos ao normal, ela estava totalmente encantada com tanto poder. Depois de todos conseguirem recuperar o fôlego, e depois de todos parabenizar Ana, que já fazia gracinhas com o sua inusitada força, Victor e Ricardo foram para o dormitório.
Já em sua cama, Victor pensou, “cada dia eu me surpreendo mais com nossas capacidades... Mas e o meu dia? Quando vai chegar?”
Mal sabia ele que este dia estava próximo o suficiente para ir comemorando...

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