Apenas palavras



Ted não conseguiu dormir mais depois daquele incidente. Aliás, nem ousaria dormir. Ele queria escrever, era isso. Ou melhor, não era isso. Ele queria correr desesperadamente até o segundo andar e confessar que amava aquela garota e que sempre a amaria. E se ela não o amasse também? Não importava. Ele seria capaz de amar pelos dois. Sentindo-se estranho, ele ficou sentado em sua cama até seus companheiros de quarto acordarem também. E não demorou para que eles perguntassem o motivo de suas poucas palavras. Mas ele não estava escutando. A imagem daquela bailarina dançando não saia de sua cabeça e ele sabia que não queria que ela saísse. Nunca mais.

Vagarosamente, e ainda em estado de choque, ele caminhou em companhia de seus amigos até o Salão Principal, onde os outros alunos já deveriam estar presentes. "Talvez ela esteja lá também" ele pensava como aplicasse em si mesmo uma injeção de ânimo. Ao chegar ao imenso salão retangular, com quatro enormes mesas verticais de cedro e uma horizontal dourada mais a frente, Ted lançou um olhar ansioso em volta do recinto. Não precisou procurar bastante para encontrá-la. Estava ali, com suas amigas, conversando descontraída e sorrindo. Ah, seu sorriso. Era mais belo que a mais bela das paisagens do mundo. Seus olhos negros, avivados por uma linha fina de maquiagem deixavam-no quase inconsciente. E foi entrando nesse estado de inconsciência que ele fez o que fez. Sim, Ted sabia que em seu estado normal nunca faria algo tão precipitado, mas era necessário agir. Não sabia exatamente porque a pressa, mas algo o chamava para falar com ela. Ele precisava pensar um pouco. Precisava fazer algo inteligente. Algo que ao menos a fizesse mirá-lo com aqueles olhos encantadores. Sentou-se no primeiro bancou que encontrou e tirou sua caderneta do bolso, arrancando-lhe discretamente uma folha.

Então, pôs se a escrever uma mensagem. Estava sendo mais difícil que o comum. O que escrever para a pessoa que você ama? Um "eu te amo" bastaria ou será que "eu morreria por você" seria mais apropriado? Ele não sabia, mas com o decorrer dos minutos, conseguira rabiscar alguma coisa no papel. Focou seus olhos nas pequenas letras escritas com tinta vermelha e leu baixo:

"Incerteza. É isso que sinto no momento. Não em relação ao meu amor por ti, mas sim em relação ao que você pensará ao ler essas humildes palavras. Quem sou eu? Um poeta que se apaixonou por uma bailarina.”

Ainda sentindo-se inconfortável com o que escreva, o rapaz foi até a mesa da Grifinória. Estava tão próximo da bailarina que conseguia sentir o perfume de flores que exalavam do cabelo dela. Aquele perfume maravilhoso deixava-o atordoado e foi quando a moça de cabelos negros se virou que ele percebeu o que tinha feito. Havia a chamado e agora, olhando bem para ela, seria capaz de desafiar Deus ou Merlin a criar uma criatura tão perfeita quanto aquela perfeição a sua frente. O sorriso simpático, os olhos brilhantes e sua boca bem contornada. Era a garota mais perfeita do mundo. Sua mão trêmula ergueu o pequeno bilhete e ele conseguiu, sem saber como, sorrir e dar uma piscadela para a moça. E saiu, sem dar nenhuma palavra de explicação. E foi aí que um balde de água fria o atingiu. E se ela amasse outro? Ou se já fosse comprometida? Ou pior, não o quisesse. Foi quase em desespero que Ted sentou-se novamente na mesa da Grifinória para tomar café da manhã. Durante aqueles angustiantes minutos, não conseguira lançar nem sequer um olhar em direção a mesa da Sonserina, pois temia que ali encontrasse a sua garota rindo com desdém de suas palavras apaixonadas.

**

Era noite. As mãos frias de Ted eram aquecidas apenas pelas fracas labaredas que ainda crepitavam no salão comunal da Grifinória. Passara o dia sem notícias de sua bailarina. Foi com um súbito aperto no coração que ele se deu conta que nem ao menos sabia o nome dela. Seria errado amar alguém que até mesmo desconhecia o nome?

O cansaço agora já tomara conta de seu corpo. Ele preferiu não ficar ali, remoendo aquela angústia. Subiu até o dormitório e trocou de roupa. Já ia se deitar em sua cama quando percebeu que um delicado bilhete repousava sobre as cobertas de linho branco. Seu coração acelerou incrivelmente e foi ofegante que ele segurou o pequeno papel e leu baixo.

“ Incerteza também é a palavra adequada pra descrever o que eu sinto. Não sei seu nome, nem você sabe o meu. Mas sabemos que nos amamos. Será que eu o amo de verdade ou me apaixonei pelas suas palavras? Não sei. Mas se foi você quem escreveu aquelas linhas tão belas e simples, não tenho dúvidas: Eu sou a bailarina que se apaixonou pelo poeta.”

Ted caiu em sua cama incrédulo. Ela o amava.

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