O encontro
Os primeiros raios de sol começavam a surgir no céu. A maioria dos alunos provavelmente nunca soube que aquela visão era tão magnífica. Todos, menos um: Ted Tonks. Um rapaz alto, cabelos castanhos e rebeldes, olhos igualmente claros e belos. Era uma pessoa reservada, gostava de ter seu próprio espaço. “Tímido até certo ponto, sonhador até certo ponto, criativo até certo ponto” ele pensava enquanto escrevia algo em uma caderneta. Aliás, esse objeto estava sempre com ele. E era ali que ele gostava de criar suas poesias e expressar seus sentimentos. Naquele momento, Ted não estava escrevendo nada que fizesse algum sentido. Apenas palavras, soltas pela ponta de sua pena. O rapaz olhou para cima, surpreendendo-se com a velocidade com que o tempo passara. Era costume para ele acordar ainda na madrugada e descer aos jardins do castelo, procurando por inspiração para uma nova estrofe. E se fosse pego? “Antes uma detenção aplicada a mim do que aos meus pensamentos” ele respondia categoricamente quando lhe perguntavam. Mas aquela noite estava diferente. Mais fria, mais escura, mais calma, ele não sabia o quê. Estava sentindo-se um pouco inconfortável para escrever. Vez ou outra a tinta chegava a riscar o papel, mas nada concreto era formado. Falta de inspiração. Era isso? Caso essa fosse a questão, um dia de descanso bastaria. Então ele se levantou vagarosamente e foi até a porta do castelo, parando por um momento para observar o nascer do sol.
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O silêncio sepulcral reinava no dormitório feminino da Sonserina. As garotas ainda estavam dormindo, mas não por muito tempo. Uma moça acabara de se levantar e caminhou até a janela, ainda em tempo de ver algumas montanhas distantes revelarem uma enorme luz incandescente. O dia estava amanhecendo.
- Algo me diz... – Ted murmurou para si mesmo quando o sol já havia nascido completamente.
- Que hoje será um dia diferente. – Andrômeda falou, como se pudesse escutar as palavras de Ted no jardim. Mas não podia. Aliás, os dois nunca sequer tinham se visto alguma vez. Eram desconhecidos. Desconhecidos que se amavam, mesmo sem saber.
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Andrômeda se vestiu rapidamente. Colocou a roupa que usava para dançar e sentou em uma cadeira que ficava logo a frente de um grande espelho. A imagem do jovem rosto de uma garota foi refletida. Olhos grandes e bem delineados. Negros, como o cabelo cacheado que encostava em seus ombros. O desenho da perfeição, o desenho do pecado. Após colorir seus lábios carnudos com um batom vermelho, a moça foi ao armário e logo encontrou suas sapatilhas. Amarrou-as com uma fita verde e então decidiu não esperar suas amigas acordarem. Algo parecia estar vibrando dentro dela, chamando-a para sair do dormitório. E ela o fez. Quando chegou ao quadro do Salão Comunal, tomou o devido cuidado de não fazer muito barulho. Ela subiu as grandes escadarias que davam para o segundo andar, que costumava ficar vazio durante os fins-de-semana, e ao atingir o patamar, passou a caminhar lentamente. Vez ou outro lançava olhadelas em direção a uma sala, procurando o local perfeito para ensaiar. E achou, de fato, uma grande sala circular e completamente vazia. “Perfeito” ela pensou entrando no local.
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Andares abaixo, Ted Tonks caminhava tranquilamente pelos corredores principais do castelo. Em pouco tempo conseguiu alcançar a escada de madeira que o levaria ao salão comunal da Grifinória. Quando já conseguia ver o magnífico quadro da Madame Gorda ele escutou um barulho distinto. Algo havia caído no chão e quebrado com um estampido ensurdecedor. E não foi longe de onde ele estava parado.
- Por mil dragões! – Exclamou Argo Filch, o zelador de Hogwarts. Mas Ted não ficou no local tempo suficiente para poder ouvir mais murmúrios. Rapidamente o rapaz encostou-se à fria parede de pedra que, como ele conhecia há certo tempo, era uma passagem secreta que levava ao segundo andar.
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Andrômeda agora dançava graciosamente. Seus passos eram executados com perfeição e leveza. Um rodopio, seguido de um salto curto e os braços da moça seguiam o ritmo daquela canção inaudível. Os olhos cerrados, os pensamentos difusos. Era assim que ela se sentia quando dançava: Em elevação. Mal notou quando um rapaz cruzou o corredor e a encontrou dançando ali. Era simplesmente a garota mais bela que ele já encontrara durante toda a sua vida. A inspiração, que há pouco não chegara à cabeça de Ted, acendeu-se dentro dele como uma fogueira. Versos, palavras e letras mudas bombardearam sua mente, fazendo seu coração acelerar. Ele não podia ficar parado na porta abobalhado daquela maneira. E se ela o visse? Não ligava. Observá-la não era uma opção, era um desejo que não podia ser renegado.
Algo na memória humana é engraçado. Minutos parecem segundos, horas parecem séculos. Ou, segundos parecem uma eternidade. E assim aconteceu. Ted não a observara nem por cinco segundos e pensamentos inundaram sua mente até então desnorteada. Ali estava ele, jurando amor eterno àquela garota debaixo de um carvalho em uma tarde de outono. E agora os dois passeavam de mãos dadas, ambos embaixo de um frágil guarda-chuva, abraçados para se protegerem do frio. E, em meio a essa confusão de sentimentos, os sentidos do rapaz foram retomados e ele continuou a caminhar. Apenas caminhou, sem pensar onde chegaria e assustou-se quando se encontrou em pé ao lado de sua cama no dormitório masculino da Grifinória.
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