Ultimato
Provas, provas, provas e provas. Essa foi a rotina de Hermione na semana que antecedia o Natal. Ela não precisara se esforçar muito para tirar boas notas, porém o fez mesmo assim. Queria cada segundo do seu dia consumido por isso, só queria seus pensamentos voltados para o estudo. Entretanto algumas poucas vezes era inundada com as lembranças da última conversa que ouvira entre Harry e Rony.
Eu sinto nojo dela Harry...
A voz de Ron teimava em dizer, fazendo eco em sua cabeça.
Hermione chacoalhou a cabeça percebendo o lugar onde estava. A sala estava cheia de alunos com suas provas descansadas em suas respectivas mesas. Alguns pareciam ter certa facilidade com a prova enquanto outros estavam a ponto de se descabelar.
Ela se ajeitou na cadeira e percebeu sua prova logo a frente assim como os demais. Faltava apenas uma questão e após consultar o relógio constatou que ainda tinha tempo de sobra.
Sem permissão, seus olhos começaram a varrer a sala, sabe se lá a procura de que. Com cuidado para que o professor não achasse que ela estava colando, viu que Harry estava sentado na fileira ao seu lado. Ele parecia compenetrado, mas assim que o olhar da menina se dirigiu a ele, o mesmo a olhou e depois de poucos segundos lhe deu um sorriso. Hermione retribuiu timidamente, mas logo parou, pois Rony, que estava logo atrás de Harry, também a olhava sem expressão, no entanto.
Mione virou sua cabeça pra frente e bufou de raiva. Um barulho de um objeto caindo no chão lhe chamou atenção apesar de baixo. Ela olhou na direção oposta da fileira dos meninos e com um susto percebeu Malfoy encarando-a.
Ela simplesmente não conseguiu soltar seu olhar e eles ficaram “presos” por alguns minutos até que Malfoy riu baixinho, mas sombriamente.
Hermione virou-se pra frente novamente, marcou a última questão, levantou-se, foi até a mesa do professor para entregar a prova e deixou a sala com passadas rápidas.
O tempo do lado de fora estava bastante nebuloso e havia uma alta probabilidade de cair um temporal.
A menina foi diretamente para seu quarto e lá ficou estudando até a hora do jantar.
-Posso me sentar aqui? – disse uma voz doce logo a sua frente.
-Claro Luna.
Hermione vinha se sentando sozinha nas refeições por esses tempos, o que era ao mesmo tempo ruim e bastante gratificante.
Ao momento em que Luna chegou, a janela do Grande Salão foi iluminada com uma luz branca seguido de um estrondo vindo do lado de fora. Hermione percebeu que uma verdadeira queda d’água ocorria atrás da janela.
-Pasquim?
Hermione pegou da mão estendida de Luna o jornal que já conhecia. Pra falar a verdade, Mione nunca foi de se juntar com Luna, mas ela estava bastante agradecida pela loura estar ali agora, mesmo que já tenha achado que a menina era bem esquisita. Não que ela não fosse mais, ela só queria ter se livrado de seus “preconceitos” antes. Ela sentiu na pele o que é ser acusada injustamente e ser chamada de certos nomes. Na verdade, Luna era até bem parecida com Hermione.
-Luna, eu... –Hermione ia se desculpar, mas a loura a cortou.
-Tem alguma coisa te preocupando?
-Er... – Mione encarou meio assustada. -...Não exatamente. São coisas que... aconteceram.
-Elas vão se resolver, sabe? –Luna falava tão simples como se estivesse comentando o tempo. –Mas não vai ser fácil... Nunca é. E você já deve ter percebido isso, certo? – a menina tinha um sorriso enorme.
Hermione nesse momento percebeu que gostava de Luna. Mas era quando ela estava calada.
Quando Mione pensou que ela havia terminado e já estava pensando numa desculpa pra ir embora a menina continuou.
-Vencer é difícil. Perdoar é difícil. Mas a gente nunca tem exatamente o que quer, sabe? Às vezes a gente tem que fazer algo simplesmente porque é o certo, mesmo que pareça errado. Aprender. É por isso que passamos pelas coisas.
Hermione tinha os olhos arregalados. Ou alguém tinha colocado algo bem duvidoso numa poção e dado para Luna ou ela andara lendo muitos livros de auto-ajuda trouxas.
-Luna, eu... – tentou novamente, mas conseguiu continuar. –Desculpe, tenho que ir.
Hermione se levantou.
-Claro. – a voz da loura respondeu. –Cuidado com os corredores do castelo. Eles estão cheios de zomzóbulos.
Mione a olhou por alguns segundos e logo deixou o lugar. As palavras de Luna rodaram por sua cabeça, mas a menina apenas riu.
Mais tarde, após estudar Hermione deitou-se e tentou dormir. Mas não conseguia. Era como se algo muito forte estivesse a impedindo.
Ela sentou na ponta da cama, respirou algumas vezes. A chuva ainda caia do lado de fora e os trovões ainda gritavam. Ela desceu para a sala da grifinória e se sentou em frente a lareira.
Veio um silêncio profundo. Não se ouvia nada além da chuva do lado de fora. Isso permaneceu algum tempo, porém foi interrompido por um barulho que parecia vir dos corredores. Na verdade, parecia vir do retrato da Mulher Gorda.
Hermione olhou em direção a porta e nada. O barulho chegou aos seus ouvidos mais uma vez e Mione decidiu checar pra ver o que era.
Vagarosamente ela andou até a porta e abriu apenas um pequeno pedaço, milagrosamente, sem acordar a Mulher.
Nada. O castelo parecia estar totalmente vazio. O barulho veio novamente e Hermione congelou. Ela abriu a porta mais um pouco e não o fez mais, pois não queria testar sua sorte com o quadro. Ela se espremeu pela fresta da porta apenas para checar do lado de fora e quase gritou quando viu Madame Nor-ra parada logo a sua frente, olhando-a diretamente. Hermione colocou a mão na boca, entrou e fechou a porta do retrato.
Apesar de assustada, ela foi deitar-se e bem rápido caiu no sono.
Logo cedo na manhã, Hermione levantou-se para tomar café da manhã.
O Grande Salão da Grifinória tinha apenas alguns poucos estudantes que haviam caído da cama. A maioria deles tinha um livro escondendo seus rostos.
Vinte minutos mais tarde a menina andava pelos corredores em direção aos jardins do castelo. Pegou o costume de ir pra lá antes das provas para relaxar. Apesar disso, teve que ficar em baixo da “proteção” do castelo por causa da chuva. Ela se encostou na parede e olhou a chuva cair.
-Se preparando para as provas, Hermione?
Hermione se assustou com a voz e depois de novo por reconhecer seu dono.
Draco Malfoy estava parado alguns centímetros atrás. Tinha olheiras e o cabelo um pouco molhado. Ela se perguntou se ele estaria andando pela chuva. Ele tinha uma postura tensa e apesar de lhe chamar pelo primeiro nome, sua voz não era nada gentil e sua boca na verdade estava retraída juntamente com seu nariz naquela mais que conhecida cara de nojo.
Mione podia ter explodido, mas ela estava cansada de tudo. Com isso ela disse apenas sem muita vontade:
-O que você quer Malfoy?
-Você. – Ele parecia sério.
-Ah não! Mais uma vez não. –Hermione protestou e já ia saindo do lugar quando Malfoy a segurou pelo braço, levando-a de volta pro lugar onde estava.
-Me solta!
-Você não pode me dizer o que fazer!
-Olha Malfoy, sinceramente você tem que se decidir se me odeia ou não. Melhor! Já decidi por você. Você me odeia. Agora me deixa em paz! Já lhe dei um soco, já lhe lancei um feitiço e você não cai na real? Qual o seu problema, hein? –Hermione disse com a voz bem alterada e depois o empurrou.
Sem dizer uma palavra Malfoy a encostou na parede e lhe chapou um beijo nos lábios.
Hermione conseguiu se desvencilhar e lhe esbofeteou no rosto.
Malfoy riu.
-Você vai ser minha Granger. Não importa o que eu tenha que fazer ou com quem eu tenha que mexer. Você ouviu?
Mione riu sem humor e disse:
-Não tenho problemas auditivos.
Num movimento rápido, Malfoy a encostou novamente na parede, mas ao invés de beijar seus lábios, foi em direção ao pescoço da menina que ficou travada. A respiração do louro levantou os cabelos da nuca da menina que já estava com a mão na varinha. Ele beijou levemente seu pescoço e foi em direção a seus lábios parando apenas alguns poucos centímetros de distância. Rindo novamente, o menino se distanciou.
-Você me dá nojo Malfoy! – Hermione falou alto o suficiente pra Draco ouvir, mas o menino nada fez.
Não querendo pensar no que acontecera a menina consultou seu relógio e correu para a prova.
Quando chegou a sala, esta já estava cheia e a menina recebeu alguns olhares quando entrou. Ela ignorou e começou com o que seria seu penúltimo dia de prova.
Terminou a prova rapidamente, infelizmente. Isso fez sua cabeça se encher rápido de mais de tudo.
Ela também não falava com Gina a algum tempo. Ela precisava de uma amiga agora, mesmo que a ruiva estivesse diretamente envolvida com o que acontecera. O problema é que ela havia “sumido”.
Hermione avistou algumas vezes, Harry e Rony de longe na biblioteca e eles pareciam estar dando o máximo de si pra se concentrar. Gina, porém nunca estava com eles.
Isso preocupava a menina de certa forma, mas provavelmente ela estava estudando. Pelo menos era o que ela esperava.
Ela estava na biblioteca agora. Parecia mais seguro que antigamente, afinal Malfoy não aparecera mais por ali.
De repente a curiosidade a queimou quando a menina lembrou que o louro conversara com Rony. Tinha uma parte dela que desejava muito saber o que ele havia dito, mas a outra gritava que era melhor esquecer isso. E ainda tinha sua outra conversa com Malfoy. Era incrível como ele conseguia destruir tudo de bom, tudo o que ela desejava.
Após ler mais um pouco de “Hogwarts: Uma história” a menina parou um pouco com o intuito de descansar a mente. Olhou para os dois lados quase involuntariamente e como esperava não havia ninguém.
Eram essas horas que ela desejava mais que tudo que nada tivesse acontecido. Como antes sentira, sentia falta da facilidade de estar junto de Harry e principalmente de Rony. Sem culpa, sem desejos de voltar atrás. Só aquele sentimento de querer se jogar nos braços do ruivo o mais rápido possível e não sair mais.
Eram essas horas que se arrastavam e pareciam nada mais que uma eternidade.
Eram horas que ela reconhecia a solidão e percebia que havia simplesmente nada.
Ela deu um longo suspiro e deitou sua cabeça em cima do livro. Poucos segundos depois seus olhos fecharam.
-Olá Hermione. – disse uma voz tímida.
Mione abriu os olhos, alarmada e rapidamente levantou a cabeça reparando na menina que estava parada logo a sua frente.
-Gina.
Ela sorriu, se levantou e abraçou a ruiva que parecia surpresa.
-Tenho me perguntado por onde você andava.
Hermione falou.
-Estou com síndrome de Hermione.
Ambas riram, mas Gina logo ficou séria.
Puxando uma cadeira pra se sentar na frente de Hermione, a menina começou:
-Hermione, eu... não sei nem por onde começar.
Mione sabia o que viria a seguir.
-Você não precisa me pedir desculpas Gina. Eu sei que você estava tentando ajudar e sinceramente, não é sua culpa que seu irmão é um idiota.
-Mas ainda assim quero me desculpar.
-Desculpas aceitas. –Hermione disse prontamente.
-E eu queria te pedir uma coisa. –Gina disse calmamente.
Hermione esperou alguns segundos e ouviu Gina falando:
-Eu sei que isso é difícil, mas eu queria... eu quero que você passe o Natal conosco.
-Não posso. –Mione nem hesitou em responder.
-Ah, por favor, Hermione! Eu sei! Eu sei que você não quer ir por causa do Ron, mas... por favor! – Gina suspirou e continuou. – Te prometo que ficaremos juntas e longe dele. Eu só... não quero ficar lá sozinha.
Mione franziu a sobrancelha.
-Como assim sozinha? O Harry vai pra lá, certo?
Gina apenas respondeu que sim com a cabeça.
Hermione olhou a amiga direito. Tinha algo errado.
-Aconteceu algo Gina?
Os olhos da ruiva se encheram um pouco de lágrimas, mas ela logo respondeu:
-Eu e Harry não estamos mais juntos.
Isso explica algumas coisas... – Hermione pensou na distância de Harry e no “sumiço” de Gina. E de repente ela se encheu de culpa pensando que ela deixara sua amiga na mão por só se importar apenas com o que ela estava sentindo.
-Mas... o que ele fez?
-Eu recebi uma carta. –Gina respirou fundo. –Dizendo que Harry estava escondendo uma coisa e me dando o local pra eu descobrir o que era. E quando eu cheguei ao tal lugar... eu... eu vi Harry com Vane.
Hermione arregalou os olhos e deu um abraço na amiga que finalmente deixou as lágrimas escaparem. Tudo bem, isso passava de todos os níveis de estranhisse das coisas que estavam acontecendo atualmente. Hermione sabia que Harry é louco por Gina e que o que ele quer de Vane é distância. Ela estava deixando escapar alguma coisa.
-Gina, você tem certeza disso? – perguntou Hermione, agora olhando nos olhos da menina.
Ela assentiu e depois de alguns segundos:
-Não deu pra ver seus rostos por que os braços atrapalham e o que eu menos queria ver naquela hora era aquela agarração. Porque você pergunta isso?
Bom, estranho novamente. A única pessoa que Harry já se agarrou tinha sido com Gina. (Isso ela ouviu numa conversa pouco conveniente de Harry e Rony sobre “agarração” algum tempo atrás. Depois de perceberem que a menina não se sentia nada a vontade com isso, eles nunca mais retomaram o assunto, perto dela pelo menos.)
Alguns poucos segundos se passaram quando ela se lembrou de duas frases que tinha ouvido recentemente.
Cuidado com os corredores do castelo. Eles estão cheios de zomzóbulos.
Não importa o que eu tenha que fazer ou com quem eu tenha que mexer.
Essas frases de Luna e Draco pareciam. de alguma forma, conectadas. Essa constatação lhe deu algo que ela não gostava nada, nada.
-Você chegou a conversar com Harry?
-Claro que não! Ele com certeza negaria. A única coisa que fiz foi terminar tudo sem lhe dar chances de dizer isso. Eu sinceramente não agüentaria.
Hermione ficou algum tempo olhando-a, apenas pensando.
-O que foi Hermione? Você sabe de alguma coisa?
-Não... mas eu tenho uma teoria.
-Que? De que?
-Gina, eu não acho que quem você viu foi o Harry.
A ruiva arregalou os olhos.
-Mas... claro que foi! Você está tentando protegê-lo? –Gina levantou bruscamente da cadeira, mas Hermione a segurou pelo braço.
-Calma... é só que eu acho que isso foi obra de Malfoy.
-Malfoy? Mas por que? Porque eu? Isso não faz sentido...
Hermione suspirou e disse:
-Acho que isso é um ultimato.
-Um o que?
-Ultimato.
-Eu entendi Hermione, quero saber o por que.
-Ah tá.
Hermione contou toda a conversa.
Gina num ato de revolta bateu com a mão na mesa.
-Eu estou cansada desse garoto!
-Imagine eu. –Hermione riu sem humor. Isso deixou a ruiva meio sem graça, mas ela continuou.
-Nós temos que fazer alguma coisa Hermione!
Hermione assentiu.
-Eu sei disso.
-E eu acho que sei o que fazer. –Gina disse confiante.
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