O HOMEM DE DUAS CARAS



Capítulo 26
– O Homem de Duas Caras –


A primeira coisa que Harry viu foi o servo de Voldemort. E, contrariando tudo o quê ele pensara, tudo o quê desejara, tudo o quê imaginara, não era Snape.
Era Quirrel.
Você? – Espantou-se o Vampiro moreno.
Quirrel girou no lugar, e sorriu. Não um sorriso nervoso e assustado, mas um lento e sarcástico sorriso de troça, de sentimento de ter vencido. Harry foi encarado como um menininho idiota, e sentiu algo viscoso subir por sua garganta.
– Ah, Potter – Disse Quirrel, e sua voz não apresentava o menor traço de sua suposta gagueira. – Que bom que chegou cedo. Surpreso?
– Eu... – O moreno vacilou. – Eu achava que era... Snape...
– Severo? – Riu Quirrel, chamando o professor pelo nome de batismo. – Ele faz o tipo, não? Mas ele já teve a vez dele, sabe? Ele já teve sua excursãozinha nas Trevas. De qualquer forma, ele é tolo demais para isso...
– Mas ele... Vocês brigaram na Floresta...
– Ah, sim. – E o professor de turbante riu, satisfeito. – Ele tentou me parar naquele dia. Mas ele não sabe que meu Mestre está sempre comigo, e que nós não podemos ser detidos!
Harry deu um passo para a frente, mas Quirrel imediatamente criou fortes cordas que envolveram o moreno. Imediatamente, as cordas ganharam uma forte luz, que cegou Harry e o derrubou no chão, de joelhos.
– A luz dói, Potter? – Crocitou o homem. – Isso prova o quanto você é fraco! Agora, o quê significa este estranho espelho...?
Harry levantou os olhos, semicerrados, e então os arregalou de surpresa. O Espelho de Ojesed estava ali, atrás de Quirrel!
O professor tocou o vidro prateado, e alisou a moldura, leu as inscrições, deu voltas no espelho, e franziu a testa.
– Eu me vejo entregando a Pedra Filosofal para meu Mestre. – Disse ele, pensando alto. – Mas o quê isso significa? A Pedra está dentro do espelho? Devo quebrá-la?
Então uma voz ressoou na câmara escura. Uma voz sem vida, sem alegria, sem emoção. Era como uma voz morta, uma sombra do passado. Um timbre de gelar o sangue, que fez o coração de Harry disparar dolorosamente contra as cordas de luz que o prendiam tão fortemente.
– Use o menino... – Sussurrou a voz.
– POTTER! – O grito de Quirrel foi seguido de um estalar de dedos, e então Harry era jogado para a frente por algo invisível. As cordas caíram de seu corpo, e ele se viu encarando o Espelho de Ojesed.
Chegamos ao fim, Potter Disse a voz em sua cabeça. O seu lado ruim.
Não, não chegamos. Deve haver alguma escapatória! Replicou o seu lado “meio bom”.
Qual? O velhote do Dumbledore?
Sim! Dumbledore pode me ajudar nessa! Tenho certeza que ele estará aqui em breve!
Harry, você não é idiota. Dumbledore está longe, e não chegará a tempo.
Então o quê devo fazer?
Roube a Pedra, e a destrua.
Eu não quero a Pedra!
Você quer sim. Quer o poder, o fato de não precisar nem mesmo do sangue... Energia eterna!
Não quero energia eterna, nem a Pedra. Eu não sou tão maligno!
Você não pode lutar contra sua própria essência, Harry Potter.
Posso lutar sim! Posso lutar contra mim mesmo, sempre pude! Não será uma estúpida voz interior que vai me derrotar. EU NÃO QUERO A PEDRA FILOSOFAL, QUERO APENAS ME SALVAR E SALVAR MEUS AMIGOS!

As vozes desapareceram, e Harry viu seu reflexo, parado, dentro do Espelho. O Harry refletido sorriu, e tirou do bolso uma pedra bruta, de um vermelho sangue, do tamanho da esmeralda que Harry carregava no pescoço, dentro da blusa. O Harry do espelho mostrou a Pedra Filosofal, piscou, e a enfiou no próprio bolso.
Harry sentiu um peso incomum no bolso de sua calça, e quase sorriu. Suor desceu por sua costa, e a perna roçou nos flancos quebradiços do objeto que residia seu bolso.
Ele tinha a Pedra Filosofal.

– POTTER! Diga-me o quê você vê! – O rugido de Quirrel o despertou de seus devaneios. Harry tinha os olhos grudados no espelho, onde agora apenas via seu reflexo, sorrindo maroto, mesmo que ele mesmo não estivesse fazendo isso.
– Vejo meus pais – Mentiu ele. – Estamos em nossa casa...
Quirrel gritou, e o atirou de lado. Harry sentiu a Pedra Filosofal cortar sua perna, quando caíra sobre ela.
– Ele está mentindo... – Sussurrou a voz hedionda.
– POTTER!
Quirrel se jogou para a frente, e Harry rastejou rapidamente para trás. Ele levantou e correu, tentando fugir pela porta por onde viera. O professor estalou os dedos e um círculo de chamas extremamente luminosas envolveu a sala, impossibilitando a fuga desesperada.
Harry tentou correr para o outro lado, mas Quirrel o bloqueou, e o jogou para trás. A esmeralda saltou de dentro da blusa de Harry, e iluminou-se vivamente com a luz das chamas. O pequeno Vampiro agarrou a esmeralda na mão, e sentiu a pedra aquecer como nunca.
Imediatamente uma forte presença e paz surgiram. Ele sentiu um cheiro doce de lírios, e também um perfume leve de alguma coisa fresca, ardida, quente. Harry agarrou a pedra com mais e mais força, sentindo a proteção, o amor, a certeza que nunca sentira antes, em sua infância triste na casa da Rua dos Alfeneiros.
Quirrel tocou Harry, e com um grito o largou. A ponta de seus dedos estava queimada levemente.
– Quirrel – Sussurrou a voz maligna, ecoando pela sala.
– Sim, Mestre? – Murmurou o professor, de volta, tremendo da cabeça aos pés.
– Deixe-me falar com ele...
– Mas Mestre, o senhor ainda está muito fraco e...
– Agora!
Quirrel virou de costas para Harry, que ainda agarrava ferrenhamente a esmeralda. O professor elevou as mãos à cabeça, e começou a desenrolar seu turbante púrpura, que nunca tirava. Por fim a faixa caiu, e Harry encarou o lugar onde devia estar a parte de trás da cabeça de Quirrel.
Mas ali havia mais um rosto.

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