O TRASGO



Capítulo 14
– O Trasgo –



No dia seguinte Hermione não apareceu. Era sábado.
Harry tocou e remexeu sua comida com o garfo em todas as refeições. Ao mesmo tempo em que uma arrebatadora raiva amarga habitava seu peito, uma forte sensação de culpa lutava em seu interior. Sentia-se dividido, a garota que brigara com ele sem sentido algum lhe despertava um forte sentimento de algo que ele nunca tivera antes.
Harry Potter ainda não sabia o que era ter alguém para cuidar. O que era ser responsável por algo além da própria vida. E mesmo a forte amizade que ele consolidara com Rony não despertara completamente esse sentimento.
Ele tinha que cuidar de Hermione Granger.
Com as mãos enfiadas nos bolsos, Harry andou por entre os corredores. Um grupo sorridente de garotas que, Harry lembrou, eram do dormitório de Hermione passou por ele.
– Você viu a Granger? – Fofocou uma delas. Harry empinou os ouvidos.
– Ela passou o dia inteiro trancada no banheiro – Informou outra.
– Chorando – Completou a primeira, rindo. – Vai ver percebeu que não tem amigos e ninguém gosta dela.
O grupo explodiu em risadinhas. Harry sentiu o gosto amargo da tristeza mesclada com a culpa subir por sua garganta como uma trepadeira sussurrante.
Apertou o passo para fugir da risada de escárnio, da satisfação mórbida de ver alguém sofrendo. Fugiu das paredes acusatórias e do desespero de ter machucado alguém. Seu peito se apertou.
Correu.
Parou.
No que estava pensando? Devia haver milhares de banheiros em Hogwarts, a metade era de banheiros femininos. Nunca encontraria Hermione desse jeito, receberia mesmo era uma bela punição por invadir banheiros femininos. Teria de esperar ela aparecer.
E então, o quê fazer? Nunca se desculpara com alguém, de coração. Nunca tivera amigos, nunca amara na vida. Teria coração para essas coisas?
O Vampiro se sentou num banco qualquer e finalmente percebeu que a “criação” dos Dursley era muito mais parca que pensara. Harry não sabia o quê era ter amigos, como cuidar deles, como fortalecer suas amizades. Ele não sabia o que era amor, paixão. Não sabia o que era carinho, felicidade plena. Nunca soubera isso. Afundou o rosto nas mãos.
Uma garota, em algum lugar daquele imenso castelo, chorava por culpa dele. Era tão irreal ter uma pequena parcela dos sentimentos de alguém em suas mãos, era como ter um delicado pássaro ferido em suas mãos grandes e desajeitadas. Que vontade de voltar no tempo! Que tristeza de saber que fizera tal mal a uma menina de ar frágil e assustado.
Harry levantou-se e cambaleou por algum tempo. Não tinha objetivo, nem consciência, não sabia para onde ir. Apenas andou, talvez na esperança que ela surgisse ali.
Vagueou pela escola, sem rumo, vazio em profunda confusão por estar muito cheio de sentimentos, de sentidos, de ressentimentos. Andou por entre os quadros sussurrantes, entre as vozes perdidas, entre as portas. Desceu escadas sem saber que o fazia, percorreu corredores, arrastou-se junto aos outros alunos. E entrou no Salão Principal.
Rony o levou até uma parte da mesa, rindo e brincando como sempre. Neville jogava seu Lembrol de uma mão para a outra, enquanto Simas e Dino riam de uma piada qualquer. Alunos conversavam, comiam, riam. Os professores debatiam algo interessante, embora Quirrel, assustado como sempre, não estivesse ali com eles.
Faltava alguém.
Harry mirou o prato cheio de comida, sentiu-se rodeado pela alegria e riso do Salão.
Faltava Hermione.
As portas do Salão abriram-se repentinamente, com um estrondo. Quirrel entrou, correndo e gritando, enlouquecido. Os outros professores se levantaram, Harry foi arrebatado de seus pensamentos e mirou o homenzinho perturbado, assim como todos no Salão.
– TRASGO! NAS MASMORRAS! TRASGO NAS MASMORRAS! – Berrou o Professor. – Achei que devia avisar.
E caiu de borco no chão, desfalecido. Um instante de silêncio percorreu o Salão. Cada respiração presa podia ser ouvida. Cada fio de cabelo se deslocando era um ensurdecedor barulho.
Um garfo acertou o chão como um tiro.
Alunos gritaram, bancos foram derrubados. Rony largou os talheres, gritando e fugindo. Harry levantou-se, o estupor ficando para depois. Alguns pensamentos lógicos lutavam dentro de sua cabeça. Um estampido alto foi ouvido, depois mais um. E outro.
Dumbledore estava de pé, estalando os dedos. A cada estalar um som parecido a deu um tiro estrondava pelo lugar.
– Alunos de Hogwarts – Disse ele, a voz ampliada no máximo, por magia. – Não existe motivo para pânico. Monitores, escoltem todos os alunos para seus Salões Comunais. Professores, nós iremos para as masmorras.
Todos se levantaram e cumpriram as ordens. Harry e Rony foram levados entre os alunos da Grifinória e se juntaram à Percy, que estava no máximo de seu orgulho.
– Alunos da Grifinória, sigam-me! Eu sou o Monitor, cumpram minhas ordens e nada de mal acontecerá com vocês. O Trasgo não irá atacá-los.
Eles agora dobravam um corredor. Os pensamentos lógicos de Harry terminaram a luta. Nenhum venceu.
– Rony – Sibilou ele. – Vamos sair daqui.
– Hum? Por que diabos vamos sair da proteção?
– Hermione! Ela está no banheiro, não sabe do Trasgo. Temos de encontrá-la!
Rony pareceu pensar por alguns instantes, mas concordou. Esgueiraram-se do grupo e seguiram correndo silenciosamente pelos corredores.
– Onde você acha que ela está? – Perguntou Rony.
– Não sei – Admitiu o moreno. – Precisamos encontrá-la de qualquer jeito.
Seguiram por mais um corredor, entraram por uma porta. Havia um banheiro ali perto, Harry lembrava.
– Você está sentindo esse cheiro?
Agora que Harry parava para pensar, realmente havia um cheiro estranho ali. Uma mistura horrenda de meias velhas e lixo putrefato. Invadia as narinas de uma forma nojenta e pegajosa. Era como o cheiro de uma doença, de uma monstruosidade.
Um barulho ressoou ali perto. Eles se esgueiraram pela parede e puseram pela primeira vez os olhos num Trasgo.
Era uma criatura grande, de pele esverdeada e encalombada. Tinha pernas grossas como troncos de árvores, e braços tão compridos cujos dedos encostavam no chão. Usava roupas rústicas e arrastava um grande porrete decididamente perigoso em suas mãos gigantescas. Uma cabecinha minúscula despontava no alto de todo o corpanzil. Um monstro, um idiota.
A criatura mal-cheirosa andou até uma porta aberta e lentamente entrou, de uma forma muito imbecil. Parecia perdido e estupidamente interessado. Harry e Rony trocaram um sinal.
Correram, Harry bateu a porta com força, atrás da criatura. Rony girou a chave que, por sorte, estava na fechadura. O mostro ficou preso lá dentro. Podiam procurar por Hermione em paz. Sorriram.
Um grito estridente congelou o sorriso de Harry em sua face. O Vampiro colou seus olhos verdes na porta que acabara de trancar.
Você é um maldito azarado, Potter.
A voz, que era muito parecida com a sua, ecoou em sua mente. Sentindo-se mais imbecil que o Trasgo, ele e Rony retrocederam. O ruivo abriu a porta e eles entraram.


Hermione enxugou o rosto. Não sabia o que dera nela, não sabia por que o maldito Vampiro Completo chamado Harry Potter mexia tanto com seus brios e seus sentimentos. Sentia-se estranha perto dele. Um misto de protegida e incrivelmente ameaçada.
Levantou da privada onde estava sentada sobre a tampa fechada e destrancou o boxe. Sentia-se vazia depois de todo aquele choro, quase sem forças. Só queria se arrastar até sua cama e dormir longas horas até a segunda-feira...
Girou a maçaneta e saiu. Deu de frente com uma grande, suja e fedida figura. O Trasgo não era a melhor imagem naquela hora. A garota encarou os olhinhos malvados do monstro e fez a única coisa que lhe veio à cabeça:
Gritou.
O Trasgo não gostava de barulhos altos. Girou a maça que trazia em mãos e quase acertou a Meio-Vampira, que se jogou no chão. Os boxes quebraram com a maça terrivelmente poderosa, fazendo chover vidro e madeira sobre Hermione. A garota se arrastou por baixo dos escombros, tentando fugir.
A maça atingiu a parede, quebrando o revestimento, que desabou sobre os escombros. Hermione gritou de novo, enquanto se arrastava e derrapava no chão. Uma pia de porcelana foi atingida e cortou os braços da garota com os cacos afiados. O cano estourou e espirrou água por todo o banheiro, fazendo com que o chão ficasse escorregadio, úmido e perigoso.
A garota se escondeu embaixo de uma das pias. Ficou prensada contra o canto da parede, encolhida ao máximo. O uniforme preto de Hogwarts a escondia melhor na sombra da pia, mas mesmo assim o Trasgo logo a acertaria. A maça desceu com tudo numa pia, à alguma distância de Hermione. Ela fez força para não gritar...
A porta abriu com tudo, batendo a madeira na parede. Harry e Rony surgiram, correndo. Os dois frearam derrapando ao verem a cena do Trasgo destruindo o banheiro e Hermione tremendo, enfiada embaixo de uma das pias.
Harry pensava rapidamente, analisando o que podia fazer. O Trasgo era, sem dúvida, maior e mais forte que ele. Não conhecia nenhuma magia para derrubar um monstro daqueles. Sua única alternativa era distraí-lo para que a garota fugisse. Depois... Não saberia o que fazer.
– Ei! Seu monstrengo imbecil! – Gritou o garoto.
O Trasgo não daria muita atenção aos gritos, mas um cano o acertou na cabecinha minúscula. Ele voltou-se para Harry, que pensava rapidamente.
Só havia uma chance.
Harry agarrou nas sombras de sua mente aquela forma que descobrira há pouco tempo. Rapidamente a trouxe à tona, sentindo a pressa fazer suas costas arderem. A camiseta do uniforme e sua capa se rasgaram quando as imensas asas negras escaparam de suas costas.
Harry deixou as asas numa posição entre abertas e encolhidas.
O quê ele vai fazer? – Pensou Hermione. – Não dá pra voar aqui!
Harry não queria voar, como ele logo mostrou. Ele enfiou a mão entre o aglomerado de penas que eram suas asas e arrancou um punhado delas. Sentiu a dor terrível que era arrancar as próprias penas negras, sentiu suas asas tremerem de dor. Virou o pulso num movimento rápido e jogou as penas contra o Trasgo.
Estas se fincaram na criatura com força, transformadas naquele estranho metal. Madame Hooch tinha o alertado que se arrancadas se tornariam duras e cortantes. Nada como ver a coisa funcionando.
O Trasgo cambaleou quando o equivalente a cinco facas afiadas se fincou nele. Duas das penas negras se enterraram em sua perna direita, outras três em seu braço que carregava a maça. Mesmo sua pele encouraçada não conseguiu parar as lâminas escuras. Harry enfiou a mão de novo nas asas e jogou mais penas.
A criatura vacilou para trás, tentando fugir das dores.
– HERMIONE! FUJA! – Berrou Harry. Rony se apressou para agarrar a garota e tentar tirá-la dali. Ela não se movia, paralisada de medo. Estava com os olhos colados na cena de Harry contra o Trasgo e o ruivo não conseguiu fazê-la se mexer.
– Vamos, Granger – Murmurou ele entre os dentes. – Precisamos cair fora...
O Trasgo avançou e mais penas o acertaram. Harry estava com os dentes cerrados. A dor que vinha de suas asas era terrível, como arrancar pedaços dele, o que era verdade. Ele atirou outra pena e sentiu que a asa se fechava lentamente. Desviou os olhos para Rony e Hermione. Ela continuava parada.
– SE MEXA SUA ESTÚPIDA! – Berrou ele. – SAIAM DAQUI!
A garota piscou lentamente e se mexeu muito devagar. Rony agarrou seu braço, mas ela se retesou novamente.
Harry virou-se para eles, ignorando o Trasgo. Esse foi seu maior erro.
O monstro agarrou seu atacante pelas pernas e levantou Harry, deixando-o de cabeça para baixo. Tudo girou e se turvou, enquanto Harry se esforçava para não deixar os óculos caírem. O Trasgo tentou acertá-lo com a maça, mas ele se desviou habilmente, preso ainda pelos pés.
– RONY! FAÇA ALGUMA COISA! – Chamou ele.
Rony olhou em desespero para os dois, o Trasgo e Harry. O quê fazer?
O monstro levantou a maça acima de sua própria cabeça. Desceria a arma sobre Harry, matando-o com apenas um golpe. As asas eram inúteis.
– Wingardium Leviossa! – Berrou o ruivo, estendendo a mão. O Trasgo desceu o braço, mas a maça gigantesca ficou flutuando acima da cabecinha dele.
Confuso, a criatura olhou ao redor, soltando Harry no processo. O garoto caiu no chão com força, estourando os óculos e fechando as asas. Ele escorregou pelo piso úmido. Rony sentiu suas forças acabarem.
A maça caiu com um estrondo sobre a cabeça de seu próprio dono. O Trasgo cambaleou e caiu com força para trás. Harry se remexeu um pouco e suas asas se encolheram e sumiram. A porta finalmente se abriu de novo.
– O que é isso? – Esganiçou a Professora Minerva McGonagall. – Que vocês pensam que estão fazendo?
Além da Professora estavam o Professor Flitwick, de Feitiços, o zelador, Argos Filch e o próprio Dumbledore.
Rony estava com a mão erguida ainda, como se continuasse com o feitiço. Ele a abaixou. Harry cambaleou ao se levantar, colocando os óculos rachados no rosto.
– Bem... – Começou o ruivo.
– A culpa é minha, professora – Disse uma voz.
Hermione se levantava, finalmente. Ela saiu de baixo da pia e tentou esconder os arranhões que tinha nos braços.
– Senhorita Granger? – Exclamou a Professora.
– Eu li tudo sobre Trasgos, professora, e quando vi esse achei que podia enfrentá-lo... Se os meninos não tivessem aparecido e me salvado, eu estaria morta.
Harry e Rony engoliram em seco e fingiram que a história não era novidade para eles.
Hermione mentindo? E para um professor? Harry sentia vontade de rir.
– Se é isso – Pensou a Professora. – Que atitude insensata! Lutar contra um Trasgo! Se bem que os senhores Potter e Weasley se saíram bem. Por isso... Menos cinco pontos para a Grifinória por ser tão tola.
Hermione abaixou a cabeça.
– E – Continuou Minerva. – Como pouquíssimos enfrentaram um Trasgo Montanhês adulto e sobreviveram para contar a história... Mais cinco pontos para o Senhor Potter e cinco para o Senhor Weasley. Por serem tão sortudos.
Um sorriso de alegria pairou nos lábios de Harry.
– Agora vão para a Enfermaria, cuidar desses machucados.
Dispensados, os três seguiram para a Ala Hospitalar.
– Obrigado – Murmurou Hermione.
– Não foi nada. Obrigado pela história – Murmurou Harry de volta. Rony assentiu.
A garota sentiu um sorriso mínimo brotar em seu rosto.
– Mas você está me devendo óculos novos.
Hermione tirou delicadamente os óculos de Harry e os encarou.
Reparo.
As trincas das lentes sumiram e até mesmo a ponte do nariz, remendada com fita adesiva, voltou a ficar inteira. Os óculos brilharam como novos.
– Pago – Sorriu a garota.
Harry colocou os óculos de volta e respirou fundo.
– Você vai ter que fazer o mesmo com minha camisa.


_________________________________________________

Bem, chegamos ao "pequeno grande ponto desta Fic". Hermione se juntou ao trio, e agora o circo está quase armado, só falta colocar a gasolina para poder pegar fogo.
Aqui vem as notícias: Harry Potter e a Pedra Filosofal Vampire Version está no ponto chave. Vocês chegaram até aqui, sem dúvida, tendo uma enxurrada de capítulos que mostravam um pouco do mundo da Fic.
Incrivelmente este momento está acabando. O capítulo quinze é a calmaria. O capítulo dezesseis a puxada de fôlego.
E no capítulo dezessete, vocês chegam ao âmago do mistério d'A Pedra.
Infelizmente depois do dezesseis a Fic irá deslanchar absurdamente rápido, e quando perceberem eu estarei com um belo aviso da continuação.

A continuação, Harry Potter e a Cãmara Secreta, será colocada imediatamente ao fim desta V.V. 1. Vocês poderão vê-la, piscando de felicidade com novos mistérios, problemas e confusões.
Surgirá Ginevra "Gina" Molly Weasley, a caçula da família Weasley. O mistério da Câmara Secreta na escola Vampira, e como Harry irá agir com isso.

Finalmente, também devo avisar que a cada capítulo o momento da decisão se aproxima. Não nessa, não na próxima, e talvez não nas próximas. Mas na quinta Fic de V.V., surgirá o NC.

A Fic foi planejada nesse ritmo. Não poderia ser um Vampiro sem um pouco de sexo e sensualidade. Será não tão explícito, não quero traumatizar ninguém, mas será o suficiente para classificá-la como "maiores de 18".

Não será em todos os capítulos, mas será encarada como presente. Os trechos que tiverem a classificação receberão avisos, e se você não quiser ler esses pontos, estará livre para acompanhar a Fic sem problemas de não ter lido.

Mas é bom avisar.


Agradeço à todos que comentaram, e pediram o capítulo. A Fic logo acaba, e essa nota está ficando maior que o capítulo acima. Então, até o próximo.


Obrigado, e COMENTEM!

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.