AULAS E PRECONCEITOS
– Aulas e Preconceitos –
A luz do sol entrou como uma onda no quarto. As cortinas foram iluminadas e as camas inundadas com a luz dourada. Harry meteu a cabeça embaixo do travesseiro de penas de ganso e contou longamente até dez. Lentamente puxou a cabeça de baixo do travesseiro e cambaleou até o banheiro. Sua higiene matinal o despertou completamente. O banho havia lhe devolvido as energias que a preguiça roubara e ele estava novamente desperto. Voltou para o quarto e viu os outros disputarem a vez no banheiro. Com algum esforço, Rony se esgueirou para dentro levando seu roupão e a escova de dentes. Harry trocou-se rapidamente e ajeitou o uniforme.
Este era formado por calças e uma camisa, pretas, e uma capa, preta também, com o escudo da grifinória estampado no peito da camiseta. Todas as roupas estranhamente adquiriram o símbolo de sua casa, da noite para o dia. O Vampiro abriu a janela do quarto e Edwiges entrou feliz. Havia caçado algo satisfatório, por sua expressão. Harry acariciou as penas brancas e deixou a ave ir pousar no topo de sua gaiola. Os outros companheiros de quarto já haviam se acostumado com Edwiges e ela com eles. Normalmente Rony ou Neville deixavam a janela do quarto aberta, para que ela pudesse ir e vir quando quisesse. Harry e Rony haviam montado uma forte amizade naquela semana, assim como Neville se reunira a eles, mas de forma mais moderada. O grande amigo de Neville era, na verdade, um garoto da Lufa-Lufa, chamado Ernest.
Harry colocou o material na bolsa e suspirou, o dia começava.
O Salão Principal se enchia rapidamente, os garotos tiveram de disputar um lugar para se sentarem. Ficaram perto dos gêmeos e do amigo deles, Lino Jordan, um garoto alto e negro, de cabelos rastafári. Logo que comeram eles dispararam pelos corredores, em busca da sala de Transfiguração.
O problema, Harry descobrira, é que ser um Vampiro era muito mais que morder pescoços. Eles estudavam diversas artes arcanas, como poções, transfiguração, magia, astronomia. E tinham também aulas de Defesa Contra Artes das Trevas, vôo e outras aulas realmente interessantes.
E Harry também descobrira que Hogwarts era muito mais que uma escola. Havia portas de todos os tipos, portas mágicas ou normais, portas falsas. Havia salas de todos os tamanhos e funções, inclusive salas minúsculas que não tinham função alguma. E as escadas se moviam em todas as direções, e era necessário tomar cuidado para não se pegar uma escada errada que te levasse pra longe de seu objetivo. E havia fantasmas que queriam ajudar, e Pirraça, um estranho ser que se parecia com um homenzinho baixo e adorava arrumar confusões. Havia também aulas e seus professores, e horários complicados. Hoje a aula era de Transfiguração, e eles estavam atrasados.
A porta da sala se abriu de supetão e Harry e Rony correram para dentro. Na sala lotada havia apenas um gatinho sobre a mesa, nem sinal da professora!
Sentaram-se e suspiraram. Então o gato miou e pulou da mesa, nesse instante ele se transformou em uma irritada Minerva McGonagall.
– Sr Potter! Sr Weasley! Atrasados!
– Er, bem, professora – Gaguejou Harry. – Nós nos perdemos...
– Então eu deveria transformá-los num mapa! Abram seus livros e que isso não se repita!
Eles abriram o livro num diagrama complicado e cercado de símbolos. A professora então voltou para frente da classe e deu início à aula.
– Hoje vamos tentar uma transfiguração simples, apenas um fósforo numa agulha. Abram os livros nessa lição e tentem acompanhar o esquema. Vocês sabem as palavras e os movimentos. Trabalhando!
Os alunos receberam um fósforo e tentaram, a maioria sem sucesso, entender o conjunto de símbolos e linhas do livro.
Harry focalizou o esquema e se concentrou. Conhecia os símbolos, anotara todos eles num pergaminho na primeira aula, na segunda feira. Procurou-o e o abriu, checou os símbolos.
Agora era uma questão simples: deveria falar a palavra em voz alta, que transformaria o fósforo, ao mesmo tempo em que movimentava a mão para a direita, num gesto calmo. Segurou o fósforo com força e se concentrou. Deixou a energia mágica que recentemente descobrira possuir e focalizou-a para a mão direita.
– Feraverto! – Disse em voz baixa enquanto movimentava a mão.
– Olhem! Parece que a Srta. Granger conseguiu de primeira. Cinco pontos para a Grifinória! – Exclamou a professora. – Vej...
Harry esticou a mão e a abriu. Na palma dela caiu uma agulha perfeita, brilhante como o aço que a formava, dura como uma agulha comum, pontuda e fina como uma agulha comum. A professora o encarou, surpresa. Na verdade, todos o encararam, surpresos. Hermione tinha todas as respostas na ponta da língua, ninguém mais se surpreendia com isso, nem com o fato que ela conseguira acertar o exercício de primeira. Mas parecia que, finalmente, alguns perceberam que havia mais Harry Potter ali do que apenas uma cicatriz famosa.
– E parece que o Sr. Potter também conseguiu de primeira – Concluiu a Professora. – Mais cinco pontos para a Grifinória.
Ela apanhou as agulhas de Harry e Hermione e as comparou, em frente à classe. Eram exatamente iguais, perfeitas. Alguns alunos exclamaram surpresos, outros olharam desalentados para seus fósforos. Rony tentou novamente, mas apenas conseguiu um fósforo pontudo, o que era o esperado pela professora para a primeira vez que utilizassem a Transfiguração.
– Bem, continuem.
Logo havia uma pilha de agulhas brilhantes na mesa de Harry e na mesa de Hermione. Eles quase disputavam, ou melhor, Hermione disputava. Ela parecia ficar cada vez mais tensa enquanto Harry fabricava agulhas cada vez mais rápido. Mas o Vampiro não parecia se importar com isso, apenas continuava a trabalhar, tentando silenciosamente gastar menos energia para fazer as agulhas. Ele descobrira que a prática o fazia mais rápido e gastava menos força, logo ele poderia fazer uma agulha sem nem olhar para ela. Os movimentos também eram menores, e o feitiço cada vez mais baixo. Hermione engoliu em seco. O garoto era realmente poderoso, e sabia, por instinto talvez, o que estava fazendo.
Rony se concentrou também e deixou cair na mesa uma agulha completa, também. Harry e Neville bateram em suas costas e ele sorriu, feliz com o feito. Hermione praticamente se desesperava, mas tentava permanecer com o coração calmo, sem alarde para os Vampiros que a cercavam. Ela tentara ser a melhor, decorar todos os livros em que pusera as mãos e mesmo assim aqueles garotos, só por serem Vampiros Completos, eram mais poderosos que ela! Sentia a decepção consigo mesma, a raiva, a dor entalarem em sua garganta. Não passava de uma Meio-Vampira, seus poderes eram iguais, mas não podia beber sangue, não podia morder. Seus dentes eram normais, no fundo era apenas uma humana que estava no lugar errado. Baixou os olhos e os grudou na pilha de agulhas que produzira. Talvez ali não fosse seu lugar.
Sentiu então uma mão forte em seu ombro. Ergueu os olhos e deu de cara com a Professora, com um sorriso minúsculo nos lábios. A mulher a encarava com olhos castanhos cheios de inteligência e poder.
– É preciso ser realmente poderoso para se transfigurar algo sem nunca ter feito algo do tipo antes. Não importa o quanto se sabe, sem o poder um Vampiro nunca conseguiria acertar de primeira. Lembre-se disso, Srta. Granger!
Então ela se afastou, para ralhar com Simas que aparentemente incendiara seu fósforo.
Hermione deu um pequeno sorriso para a mesa apinhada de agulhas de aço brilhante. Ela tinha alguém ali naquele lugar. Alguém.
– Sinceramente, gostaria que eles fossem claros nesses horários – Reclamou Harry. – “Elementos”, que diabos é isso?
Rony riu enquanto enchia a boca de comida, provocando um efeito ao mesmo tempo cômico e nojento. O garoto tomou um longo gole de suco antes de responder.
– Cada Vampiro tem um “elemento”. A maior parte de nós controla os de “baixo nível”, que são Fogo, Terra, Ar e Água. Outros controlam os elementos de “Alto Nível”, mas nunca ouvi falar quais são estes. Durante todos os sete anos aqui nós iremos treinar esse elemento que controlamos, e dependendo da sua profissão terá de treinar muito mais!
Harry enfiou uma garfada de frango na boca e mastigou lentamente. Que elemento ele seria? Foi seu primeiro pensamento.
– Ei! Você é o Harry Potter, não é?
Essa frase estava se tornando cada vez mais comum. Na aula de magia o professor Flitwick, que mais parecia um anão, quase caiu da pilha de livros que usava para poder enxergar acima da mesa, quando chegara em “Harry Potter” na chamada. A Professora Minerva o cumprimentara com a cabeça no primeiro dia de aula, a professora de Herbologia, uma Vampira muito jovem e bonita, apertara sua mão. Até aquele dia eles só tiveram aquelas aulas, mas como era uma quarta-feira logo teriam Astronomia, com a Professora Sinistra, à Meia-Noite.
– Sim, sou eu – Respondeu Harry, virando-se enquanto Rony, Neville, Hermione e outra grifinória paravam para ver.
Harry deu de cara com o garoto loiro que encontrara no Madame Malkin.
– Eu sou Draco Malfoy – Apresentou-se o loiro. – Nós nos encontramos no Beco Diagonal, mas você não disse o seu nome...
Rony tossiu enquanto engasgava uma risada diante do nome do loiro sonserino.
– Acha meu nome engraçado? – Desdenhou Malfoy. – Pois eu nem preciso perguntar o seu. Ruivo, sardas, vestes de segunda mão. Você é um Weasley.
Rony fechou a cara imediatamente.
– E – Continuou Malfoy, agora olhando para Hermione. – Você é uma Meio-Vampira, uma humana. Além disso temos o Longbotton aqui que não parece ter cérebro o suficiente para encher um copo.
Hermione abaixou a cabeça, fixando o olhar no chão. No fim das contas as palavras da Professora Minerva de nada valiam, ela ainda era apenas uma Meio-Vampira.
Draco encarou Harry.
– Se você vier comigo posso te apresentar pessoas muito melhores que esses aí.
Ele estendeu a mão para que Harry a apertasse, mas o moreno apenas sorriu.
– Eu sei muito bem descobrir quais pessoas são melhores ou piores, Malfoy. Obrigado pela oferta, mesmo assim.
Então Harry deu as costas para o loiro. Uma mão apertou seu ombro e girou o corpo do garoto. Era o outro Vampiro que fora com eles no barco. Era ruivo e alto, com os cabelos compridos amarrados num rabo de cavalo. Também era Sonserino.
– É melhor nunca dar às costas pra mim, Potter. Eu sou Jack Blaze, e posso garantir que você nunca vai encontrar alguém como eu por aqui.
Harry o olhou de cima a baixo. Jack era maior que ele, e mais forte, mas o olhar de Harry foi de desprezo.
– Sim, nunca vou encontrar alguém assim como você – Falou sarcasticamente. – Agora tenho uma aula para assistir.
Ele se desvencilhou do aperto com apenas um movimento e seguiu em frente, logo os outros também foram com ele. O garoto se aproximou de Hermione que seguia de cabeça baixa.
– Nunca abaixe a cabeça. Não seja fraca, pois é isso que eles querem. Você não é uma Meio-Vampira.
Hermione o encarou.
– Sim, eu sou.
– Posso não ter decorado meus livros como você, mas sei que só se é um Meio-Vampiro até ser mordido por um Vampiro Completo – Disse Harry, se lembrando do que lera nos livros comprados no Beco.
– Ninguém vai me morder – Suspirou a garota.
– Nunca se sabe...
Harry não sabia por que dissera isso, mas sabia que era o certo. Hermione se endireitou e empinou o nariz novamente, voltando a ser a metida de sempre. Ela se afastou sem nada dizer ou agradecer.
Harry teve a certeza que ela era uma idiota.
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Capítulo especialmente dedicado à: Black Wolf; iagoooo; Felipe e Súh, mesmo que a última não tenha comentado.
Obrigado por suas opiniões e espero que este capítulo agrade.
Até o próximo! Comentem, tá?
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