Mais Buffy que Barbie
12. Mais Buffy que Barbie
Coisas a fazer:
1. Ver vídeos da Buffy para tomar nota das roupas.
2. Devolver o Vestido Infernal e trocá-lo por algo que a Buffster usaria.
3. Ir ao cinema com a nova roupa.
Funcionou.
- Lily, estás bestial – elogiou a Iz enquanto caminhávamos da paragem do autocarro para o Hollywood Bowl, na sexta-feira seguinte. – O teu cabelo está muito melhor agora do que quando o usavas solto e adoro essas calças.
A Lucy olhou-me de alto a baixo com aprovação. – Sim. E estou contente por ver que não estragaste o efeito escondendo-te numa camisola grande e larga. O top é giríssimo.
- Sim. Saquelicioso – concordou a Marlene.
Acho que isso significa que ela aprova.
Atravessámos o estacionamento até ao cinema e foi óptimo. Reparei nos grupos de rapazes que nos deitavam os olhos. E não só à Marlene desta vez, até eu recebi alguns olhares.
Quando chegámos as vestíbulo, a Izzie e a Lucy foram comprar os bilhetes enquanto a Marlene e eu subíamos as escadas e nos púnhamos na fila das pipocas. Nesse momento, reparei no Sirius, que se encontrava no cimo das escadas rolantes, sozinho. Estava sempre a olhar para o relógio e para baixo, para a entrada, como se estivesse à espera de alguém.
Depois de comprarmos as pipocas, o Sirius continuava sozinho pelo que nos encontrámos com a Lucy e a Izzie, dirigindo-nos depois para ele.
- Levaste uma tampa? – perguntou a Marlene.
A Lucy bateu-lhe no braço. – Marlene!
- O que é? – indagou a Marlene. – O que é?
- Na verdade – disse o Sirius, com a face iluminando-se imediatamente -, estava à tua espera.
- Querias – retorquiu a Marlene, atirando o cabelo para trás.
O Sirius olhou de novo para baixo e depois, vendo que ninguém subia, passou o braço pelo dela. – Parece que o meu amigo não pôde vir, por isso a honra de me fazer companhia é tua.
- Foi o amigo ou a namorada que não pôde vir? – perguntou a Marlene. – Confessa. Levaste uma tampa.
A Lucy bateu-lhe de novo. – Desculpa a minha amiga malcriada – disse a Sirius. – Não a deixamos sair muito à noite.
O Sirius sorriu abertamente. – Então, vens? – perguntou à Marlene antes de se virar para nós. – Lamento, meninas. Só tenho dinheiro para dois bilhetes.
A Marlene retirou o braço e juntou-se a nós.
- Na verdade – informou -, já tenho outros planos. Com pessoas que até se dão ao trabalho de aparecer. Venham, meninas. Vou à casa de banho.
O Sirius fez um ar surpreendido ao ver que nos afastávamos e o deixávamos ali sozinho. Ao olhar por cima do ombro, não pude deixar de sentir pena dele. Conheço-o suficientemente bem para reconhecer que aquilo que acabáramos de testemunhar fora um enorme acto de fanfarronice. Tudo o que o James me dissera no dia anterior me veio à mente. Como é difícil para os rapazes aceitar a rejeição mesmo que não o mostrem. De qualquer maneira, magoa. A sua namorada não aparecera e ainda por cima a Malene troçara dele.
Enquanto estávamos em frente dos espelhos a arrajar o cabelo, a pôr bâton e outras coisas assim, tomei uma decisão.
- Vou perguntar ao Sirius se gostaria que eu fosse com ele ver um filme.
- Não – exclamaram em coro a Izzie, a Lucy e a Marlene.
- Por que não? Sofreu uma desilusão. Sente-se provavelmente muito abatido.
- Quem? O Sirius? Ná, é muito seguro de si – contrapôs a Marlene. – Está convencido de que é uma dádiva de Deus e só lhe fará bem perder as peneiras.
- Não, lá no fundo ele é mesmo querido. É tudo a fingir – disse eu.
- Ah – suspirou a Lucy. – O amor é cego.
- Bem, não queiras ser demasiado fácil se gostas realmente dele – aconselhou a Iz. – Precisas de fazer-te cara. Os rapazes gostam da perseguição.
- Mas tenho pena dele – retorqui. – Vou perguntar-lhe.
- Como é que alguém com tantos miolos consegue ser tão estúpida? – perguntou a Marlene enquanto a Lucy suspirava, exasperada.
- Pensem o que quiserem – concluí enquanto dava uma última olhadela ao meu visual. – Mas conheço-o há mais tempo e tenho de fazer isto.
E, assim, virei-lhes costas. Enquanto a porta da casa de banho se fechava atrás de mim, consegui ouvir a Lucy a descompor a Marlene por ter sido insensível.
- Sim. Está bem, então – concordou o Sirius quando sugeri fazer-lhe companhia. – Mas não vou ver o mesmo filme que as tuas amigas.
- Mas a Izzie já comprou bilhete para mim.
- Não me sento ao pé daquela lésbica.
- Lésbica?
- A Marlene.
Ri-me. Azedo, pensei, mas não disse nada. Estava só a vingar-se, porque ela o humilhara em frente de todas nós.
Estavam em exibição cinco outros filmes no centro e, por isso, deixei-o escolher. Decidiu-se por um filme de ficção científica.
- Não gosto muito de ficção científica – comentei. – Tens a certeza de que não queres ver a nova comedia com a Júlia Roberts? Ouvi dizer que é muito divertida. E podemos sentar-nos longe das raparigas.
- Nem pensar – recusou o Sirius. – Ficção científica ou vou-me embora.
Por fim, cedi. Não me importava. O que realmente queria era uma oportunidade para passar algum tempo sozinha com o Sirius e ver o que acontecia.
O Sirius adorou o filme, mas eu não me consegui concentrar. Enquanto o ecrã se enchia de cenas loucas de guerras intergalácticas, eu estava apenas consciente da proximidade do Sirius. Os nossos joelhos e cotovelos tocaram-se algumas vezes e esperava que ele me pegasse na mão, mas limitou-se a encher-se de pipocas.
Talvez a vida real não seja como os filmes, pensei, enquanto outro alienígena ficava sem as suas três cabeças, esguichando sangue verde sobre o herói. Talvez na vida real o romance não seja belos pores do Sol e beijos suaves. Talvez na vida real o romance seja sentar-se às escuras pensando se o rapaz com que se está alguma vez irá fazer um movimento que não seja apenas mudar de posição no assento. Talvez o romance seja todo fantasia. Nos últimos dias, fora tudo o que fizera. Todas as noites antes de adormecer, imaginava o meu primeiro beijo com o Sirius. Primeiro, ele puxar-me-ia uma madeixa do cabelo para trás da orelha, depois olhar-me-ia profundamente, a seguir pressionaria suavemente os seus lábios contra os meus e…
Um som funt ao meu lado perturbou os meus pensamentos.
O Sirius descuidara-se.
- Oh! – exclamou com um sorriso. – Com cheiro a pipocas.
Depois do filme, voltámos ao vestíbulo e o Sirius seguia alguns passos à minha frente. De repente, avistou alguns amigos que tinham estado com ele em Hampstead no dia das fotografias.
Um deles aproximou-se.
- És a rapariga a quem estavam a tirar fotografias no outro dia, não és? – perguntou.
Assenti.
- Estavas mesmo bem.
- Obrigada.
De súbito, o Sirius pegou-me na mão.
- Sim, esta é a Lily – disse ele enquanto apresentava os rapazes do grupo.
A seguir, pôs o braço à minha volta. – Acabámos de ver Mutantes Alienígenas no Ciberespaço – comunicou, piscando-lhes o olho. – Porém, não demos muita atenção ao filme, não sei se me entendem…
Os rapazes riram-se à socapa com ar conhecedor.
- Bem, temos de ir andando – comunicou o Sirius, olhando-me ternamente. – A noite ainda é uma criança.
- Sim, é verdade – disse um dos rapazes enquanto o Sirius se afastava comigo.
Que se estava a passar?, pensei. Afinal ele gostava de mim e, como o James dissera, estivera a fingir-se desinteressado? Ou isto era tudo fingido para que os amigos pensassem que éramos namorados? Continuou a segurar-me a mão enquanto descíamos as escadas rolantes e saíamos do vestíbulo, mas, ao contrário daquele dia em Hampstead, não me estava a sentir toda trémula por dentro. Sentia-me confusa. Não queria tirar a mão, no entanto, pois recordava o que ele dissera sobre a noite ser ainda uma criança. As coisas s+o podiam melhorar.
Quando chegámos lá fora, sugeri que fôssemos beber um cappucino.
- Já não tenho dinheiro – respondeu.
- Não há problema. Ofereço eu.
O Sirius encolheu os ombros. – Está bem, então. E um cachorro-quente?
- Tudo bem – concordei.
- Com cebola.
- Tudo bem.
Durante a meia hora seguinte ele falou. Eu ouvi.
Ele falou.
Ele falou.
Eu ouvi.
Estava a rebentar por lhe contar o que se passara nas minhas últimas semanas. Os e-mails da Hannah e do Paul. A revista. As minhas novas amigas. Tanta coisa acontecera, mas não consegui meter uma palavra no meio. Ele falou, eu ouvi. Era assim e sempre o fora desde que o conhecera. Apenas nunca me aborrecera com isso antes. Enquanto tentava parecer interessada, pensei que até o Mojo estava mais interessado naquilo que eu tinha para dizer. E é um cão.
- Bem, chega de falar de mim. Então e tu? – perguntou, finalmente parando para respirar. – Que pensas de mim?
Então, riu-se como se tivesse dito a coisa mais engraçada do mundo.
Não pude deixar de pensar como fora fácil conversar com o James. Não nos calámos no outro dia no parque. Mas com ele fora igual para os dois. Ele falou, eu ouvi. Eu falei, ele ouviu. Mostrara-se interessado no que eu tinha para dizer e nas minhas opiniões.
Olhei longamente para o Sirius. Era semdúvida mucho giro. Uma boca encantadora e olhos azuis acinzentados. Mas, enquanto os fitava, pensei, Sirius Black, nunca me tinha apercebido disso mas és maçador. M.A.Ç.A.D.oooo.r
Tive uma vontade repentina de ir para casa, conversar com o Mojo, mandar um e-mail à Hannah e até talvez contactar o James. Prometera começar a trabalhar no seu artigo para a revista e podia telefonar-lhe para saber como ia.
Apanhámos o autocarro juntos e, quando chagamos às nossas casas, o Sirius olhou rapidamente para ambos os lados da rua e depois para as janelas. Quando me preparava para entrar, ele empurrou-me de repente contra o muro e, quando dei por mim, estava a ser beijada.
O meu primeiro beijo.
Ui. Ai, pensei enquanto a sua boca esmagava a minha. E, iaque, cebola. A boca dele tinha um sabor horrível. Foi um beijo realmente húmido e viscoso, nada como eu o imaginara.
Quando acabou de limpar-me os dentes com a língua, afastou-se, parecendo muito contente consigo próprio.
- Até depois – despediu-se, apontando-me o indicador. A seguir, virou-se e entrou em casa.
Não se te vir primeiro, pensei, enquanto limpava a boca ao braço.
Algumas horas depois; estava no meu quarto a trabalhar nalgumas ideias para a revista quando o telefone tocou.
- Lily, é a Marlene.
- Oh, olá… Marle…
- Ouve – interrompeu a Marlene. – Tenho de te dizer uma coisa e espero que não me leves a mal mas, bem, esse rapaz, o Sirius… não é para ti. Não me perguntes como sei, mas sei. Tem-se em grande conta e sei que os rapazes assim parecem giros, mas só se interessam por eles próprios. Mereces melhor. Não deves ser um capacho. Consegues melhor, acredita em mim. Estás a sofrer de baixa auto-estima, mas vai acabar por aparecer alguém com quem te divertirás mais. Que queira mesmo estar contigo. Porque és uma brasa. Com miolos. Uma combinação letal como já te disse. Sei que gostas do Sirius e agora, provavelmente, vais detestar-me e deixares de me falar, mas, como amiga, achei que te devia dizer. Lily, estás aí? Agora detestas-me? Por favor, diz alguma coisa. Oh, raios e coriscos. A Lucy disse que não te devia telefonar, mas a Izzie disse que sim. Lily, Lily…?
Não conseguia dizer nada, porque estava demasiado ocupada a rir e tapei o auscultados com a mão para ela não ouvir.
- Marlene, concordo contigo.
- O… o quê?
- Sim, tens razão. Sirius Black. Giro mas maçador. Maçador como uma máquina de lavar louça. E… beija mal.
- Ele beijou-te! – exclamou a Marlene. – Ó meu Deus! Conta-me os pormenores.
Passámos a meia hora seguinte tagarelando sobre beijos e a Marlene contou-me tudo sobre alguns dos seus primeiros desastres.
- Nem sempre é assim – comentou por fim.
- Uf – suspirei. – Então há esperança.
- Mucho mucho. Pode ser exactamente como imaginaste e ainda melhor.
Quando pousei o telefone, sentia-me mesmo feliz. Naquela noite, ao adormecer, um rapaz diferente parecia ter tomado o lugar do Sirius na minha fantasia do beijo.
De: Lily
Para: Marlene
Data: 29 de Junho
Assunto: novo e-mail
Notar novo e-mail. Queachas?
De: Marlene
Para: Lily
Data: 29 de Junho
Assunto: novo e-mail
Saquelicioso. Vemo-nos amanhã à tarde em casa da Lucy para a grande final da revista.
De: Paul
Para: Lily
Data: 29 de Junho
Assunto: férias
Olá Lily,
As ferias não estão realmente a correr como planeado. A monção atingiu a estancia. Uma chuva torrencial torna impossível dormir na praia. Estou enfiado numa cabana com outros quatro viajantes mas apanhei piolhos, porque pedi emprestado um saco-cama. Oh, e ainda por cima, a Saskia fugiu com o homem santo de Kilburn. Estou com diareia e mordidelas de mosquito tão grandes como bolas de golfe.
Espero que tudo termine bem.
Beijinhos
Paul
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