Sentimentos confusos



Agora que não precisava mais se esconder de Lilian, Isabelle deixou o castelo para ir à Casa dos Gritos com muito mais tranqüilidade, e teve a cobertura da ruiva e dos Marotos para ir ao encontro de Remo. Ao chegar, encontrou o amigo já vestido, mas faminto, e cheio de cortes e hematomas.
- Remo? – chamou ela, à porta do quarto.
- Isa! – disse Lupin, levantando-se rapidamente – Como você está?
- Eu tô bem. – respondeu a garota, um pouco nervosa – Ahn... senta, pra eu poder fazer os seus curativos. – pediu ela, e Lupin obedeceu. – Como você está?
- Inteiro. – espondeu Lupin – Isa... a gente... precisa conversar... – disse ele, hesitante – sobre o que aconteceu ontem.
- A gente fala sobre isso depois, Remo. – retrucou a garota, séria – Ahn... tira a camisa, por favor.
- Foi muito grave, Isa. – insistiu Lupin, enquanto abria os botões da camisa e a retirava. Os ferimentos dele eram bastante profundos.
- Eu sei. – concordou Isabelle, tirando da bolsa as poções para os curativos dele – Mas já passou, e não aconteceu nada de mais sério.
- Não aconteceu nada de mais sério? – repetiu Remo, nervoso – Isa, eu podia ter machucado você...
- Remo...
- ... eu podia ter matado você! – disse ele, exasperado.
- Mas não machucou, nem matou. – disse Isabelle, encarando-o – E além disso, a culpa foi minha, eu saí do castelo sabendo que você tava lá fora, transformado.
- Eu podia ter tornado você igual a mim. – disse Remo, sem olhar para Isabelle – Pensei nisso o tempo inteiro desde que o Rabicho contou o que tinha acontecido.
- Bom, você é a pessoa mais doce que eu conheço. – disse a garota.
- Você sabe do que eu tô falando, Isa. – retrucou Lupin, sério – Eu não ia me perdoar nunca se...
- Remo, chega! – pediu Isabelle – Eu sou dura na queda.
- Pára de brincar, Isa, isso é sério.
- Eu já disse que chega. Aconteceu, passou, acabou. – disse ela, decidida – Não quero mais falar sobre isso.
Os dois ficaram em silêncio durante alguns minutos, o único barulho dentro do quarto eram os resmungos de Remo a cada vez que Isabelle tocava um machucado mais dolorido. Ela tratou de todos os ferimentos do garoto, e depois guardou os frascos de poção, colocando-os na bolsa.
- Ahn... a gente... tem outro assunto pra falar... né? – disse a morena.
- É... sobre a carta? – perguntou Remo, e Isabelle assentiu – Você leu?
A garota assentiu novamente.
- Remo, eu não vou mentir, você me magoou muito. – disse a morena – O que você me disse foi...
- Horrível, eu sei. – cortou Remo.
- Eu queria entender o motivo. – disse ela, encarando-o – Por que aquelas palavras tão duras?
- Isa, eu... – começou Remo, sem olhar para Isabelle.
- Sirius me disse uma coisa, que eu quero que você confirme ou desminta. – disse ela, interrompendo-o, e Remo fitou-a – Ele disse que você... gosta de mim, mais do que apenas como amiga.
Remo desviou seu olhar do dela, e ficou em silêncio por um instante. Isabelle continuou fitando-o, esperando pela resposta, enquanto sentia seu coração bater acelerado.
- É verdade. – confirmou o garoto, finalmente.
- E por que você nunca disse nada? – perguntou a garota.
- Porque eu não me julgava digno do seu amor. – confessou Lupin – Porque eu não posso esperar que você me ame, sendo o que eu sou.
- Eu já falei, e vou repetir mais uma vez: – disse Isabelle, muito séria – você é tão digno de ser amado quanto qualquer outra pessoa, Remo.
- Eu sou um monstro, Isa, eu... – Isabelle cobriu a boca dele com a mão.
- Não. Eu não admito que você diga isso. – disse ela – Você é o cara mais doce, mais meigo que eu conheço. E eu amo você. Só que como amigo. Esse é o único amor que eu posso oferecer, Remo. Espero que seja o suficiente.
- É. É mais do que suficiente. – disse Lupin, rapidamente – Eu tenho muito que agradecer por você ser minha amiga, estar sempre por perto. E por isso mesmo me sinto pior pelo que eu fiz.
- Não fica assim. Foi por isso que eu vim falar com você. – disse a garota – Pra dizer que aceito o seu pedido de desculpas.
- É sério? – perguntou ele, ao mesmo tempo incrédulo e feliz.
- É sério. – confirmou a garota – Mas tem uma condição.
- O que você quiser. – disse Remo, sem pestanejar.
- Essa briga... ela vai ser esquecida. – exigiu ela – Nossa amizade vai continuar como sempre foi.
- Combinado. Obrigado, Isa. – agradeceu o garoto.
- Não tem o que agradecer. Agora, que tal tomar café? – convidou ela – Você deve estar morrendo de fome.
Isabelle ainda ficou com Remo por algum tempo na Casa dos Gritos. Ela contou a ele sobre o que ela e os demais haviam descoberto sobre Snape e o ataque da véspera, e, como haviam feito com os outros Marotos, o fez prometer que não faria nada contra o sonserino. Depois, voltou para o castelo, e ficou nos jardins, curtindo o sol junto com os amigos.
Para o alívio das meninas, os garotos cumpriram sua palavra, e não elaboraram nenhum plano para vingar-se de Snape. No entanto, não souberam explicar a elas a série de pequenos acidentes sofridos pelo sonserino ao longo da semana que se seguiu, acidentes que o levaram à Ala Hospitalar por pelo menos três vezes, e renderam a ele um pulso distendido, três costelas quebradas, um olho roxo, dois galos e diversos outros hematomas.
Aquela semana passou rápido, e a notícia da festa de aniversário de Tiago se espalhou pelo castelo como um rastilho de pólvora. Logo era o assunto dominante na maior parte das rodinhas de conversa pela escola, sobretudo entre aqueles que haviam sido convidados, e que agora se preocupavam principalmente com as fantasias a serem usadas na festa.
- Já pedi pra minha mãe comprar a minha fantasia. – dizia uma lufa a uma amiga, na entrada do Salão Principal.
- Eu também. – disse a outra – Quero estar linda nessa festa.
Entre os organizadores da festa, o assunto também era tópico importante nas conversas.
- Mamãe já comprou nossas fantasias, Almofadinhas. – dizia Tiago, deitado com a cabeça no colo de Lilian – Ah, e uma pra você também, Aluado.
- Hã? – fez Lupin, confuso.
- Não me pergunta. – disse Tiago, dando de ombros – Ela disse que viu uma fantasia que era a sua cara e que ia comprar pra você.
- Ah, nossa... – disse Remo, ainda surpreso, e um tanto envergonhado – agradece a ela por mim Pontas.
- Sua mãe parece ser mesmo muito legal, Tiago. – comentou Lilian.
- Ela é sim, ruiva. – disse Sirius – Você vai adorar a sua sogrinha.
Tiago apenas concordou com a cabeça.
- Ei, Pontas! – chamou Sirius – Você convidou a D’Argento, né?
- Ainda não desistiu, Almofadinhas? – perguntou Pedro.
- Nunca. – disse Sirius, fazendo pose.
- Não se preocupa, Almofadinhas, eu chamei a D’Argento. – respondeu Tiago – Aliás, chamei ela e a Takemi, também. – acrescentou ele, em tom levemente malicioso.
- Não entendi o seu comentário, Pontas. – disse Remo, fingindo-se de desentendido.
- Pela sua reação, acho que entendeu sim, Aluado. – comentou Sirius.
- Tudo bem, achei legal você ter convidado a Bárbara, mas não entendi porque esse tom pra anunciar isso. – disse o louro, no mesmo tom de antes.
- Ah, não, Aluado? – perguntou Tiago, virando o rosto para encará-lo – Tem certeza?
- Absoluta. – respondeu Remo.
- Ah, deixa ele, Pontas. O Aluado é muito inocente... – disse Sirius, debochado.
- Ah, cala a boca, Almofadinhas! – retrucou Remo, jogando uma almofada no rosto de Sirius.
O retrato na entrada do salão comunal se abriu, revelando Isabelle que, com dificuldade, passou pela porta, carregando duas enormes caixas.
- Ei! Será que alguém pode me dar uma mão aqui? – perguntou ela.
Remo prontamente levantou-se e foi até a garota, para ajudá-la, pegando uma das caixas.
- Obrigada, Remo. – agradeceu ela, quando eles alcançaram os sofás e largaram as caixas.
- O que tem aí, Isa? – perguntou Lilian.
- As nossas fantasias. – respondeu a morena.
- Já? – perguntou a outra, surpresa.
- Já. – disse Isabelle, dando um tapa na mão de Sirius, quando ele tentou abrir uma caixa.
- Ai, Bell! – resmungou o garoto.
- Vem, Lil, vamos subir logo. – chamou a morena, levantando-se – Quero ver o que você acha.
- E nós, não vamos ver também? – perguntou Tiago, e os outros três Marotos concordaram com a cabeça.
- Vão, mas só no dia da festa. – respondeu Isabelle, apanhando uma das caixas e rumando, para a escada do dormitório feminino, seguida de perto por Lilian, também com uma caixa nos braços.
Mais tarde, enquanto esperava pelo toque de recolher para começar a fazer a ronda, Remo caminhava tranqüilamente com Bárbara, acompanhando-a até a entrada do salão comunal dela, conversando sobre a festa do fim de semana.
- Achei bem legal o seu amigo ter me convidado. – comentou a garota.
- É, a turma toda gostou de você. – disse Remo.
- E eu deles. – disse Bárbara, sorrindo.
- Só deles? – perguntou Remo, brincando.
- De você muito mais – respondeu ela, alargando mais o sorriso, e Remo riu também – Mas você ainda não me contou qual é a sua fantasia.
- Surpresa. – respondeu Remo.
- Ah, não! Não é justo, você sabe qual é a minha. – reclamou Bárbara.
- A vida nem sempre é justa. – disse Lupin, com um sorriso maroto.
- Remo! – exclamou a corvinal, colocando as duas mãos na cintura.
- Tá bom, eu tô só brincando. – disse Remo, rindo – Na verdade, nem eu sei qual vai ser a minha fantasia.
- Como assim? – perguntou Bárbara.
- É que a mãe do Pontas, – Bárbara fitou-o, confusa – do Tiago, – esclareceu Remo – comprou uma fantasia pra mim. Ela disse que tinha achado a minha cara, mas não disse que fantasia era.
- Ah...
- Bom, estamos quase chegando ao seu salão comunal. – anunciou Remo – Aqui eu deixo você, tá quase na hora da minha ronda.
- Tá, boa noite. – despediu-se ela, dando um beijo na bochecha, mas muito perto da boca do Maroto.
- Boa noite. – respondeu Remo, um tanto surpreso.
Ele então esperou que a garota alcançasse a escada que levava ao salão comunal da Corvinal, indo depois fazer a sua ronda pelos corredores.
No sábado à noite, Isabelle encontrava-se sozinha na Sala Precisa. Ela estava com fome e entediada ao extremo, pois já era quase hora do jantar, e ela não tinha nada para fazer enquanto esperava pela chegada de Sirius, com quem combinara de se encontrar. Nos últimos minutos observava a bolinha de valeriana que o amigo lhe dera flutuando de um lado para o outro na Sala Precisa. Já estava ali há mais ou menos uma hora, e não havia tido nenhum sinal do garoto.
Em outro corredor, alguns andares abaixo, Sirius estava em uma situação totalmente oposta. Tédio era algo que ele não sentia quando estava com Marlene McKinnon. As mãos de ambos deslizavam aqui e ali, e os beijos eram quentes.
- Acho que... podíamos ir... pra um lugar mais... reservado... – disse ela, entre um beijo e outro.
- Hmm... acho que conheço o lugar ideal... – disse Sirius, com um sorriso malicioso.
Com Marlene agarrada a um dos braços, Sirius se dirigiu ao tão conhecido corredor do sétimo andar. Parou diante da parede nua, concentrando-se para pôr em funcionamento a magia da sala.
“Preciso de um lugar onde não nos encontrem, e que seja... confortável...” – pensou ele, abrindo um sorriso – “bem confortável...”
Porém para sua frustração, a parede continuava ali, igual. Não havia nem sinal da porta.
- Droga! Qual é o problema com a sala? – perguntou, nervoso.
- Acho que tem alguém lá dentro. – disse Marlene, calmamente – Escuta.
Os dois ficaram então em silêncio por um instante. O som abafado, porém nítido de um piano parecia vir de dentro da parede.
- Ah, droga! – esbravejou Sirius.
- O que foi, Sirius? – perguntou a loura, vendo a expressão no rosto dele – Ah, deixa pra lá, vai?! O que não falta nesse castelo é sala vazia... – disse ela, provocante.
Mesmo sabendo que Isabelle estava dentro da Sala, e esperando por ele, Sirius acabou se deixando conduzir por Marlene até outra sala. Porém, apesar de apreciar os beijos e outros dotes da garota, não conseguiu ficar lá por muito tempo, pois não parava de pensar em Isabelle, na sala do sétimo andar. Ele disse a Marlene que havia esquecido-se de fazer algo muito importante, e que precisava ir embora.
- Mas, Sirius, isso não pode esperar nem um pouquinho? – perguntou ela, manhosa.
- Não, não dá. – disse ele, fechando a camisa – Desculpa aí, McKinnon.
E deixando-a para trás, voltou correndo até a Sala Precisa. Mas a Sala estava vazia. Àquela altura todos já deviam estar no Grande Salão, jantando, e foi para lá que ele se dirigiu. Porém, já no meio do caminho até lá encontrou o que procurava, ou melhor, quem procurava.
- Bell! – chamou ele.
Isabelle não olhou para trás, sabia perfeitamente a quem pertencia aquela voz, além do que, ninguém mais a chamava daquela forma. Mas ela não estava nem um pouco disposta a falar com ele naquele momento.
- Bell, espera! – gritou Sirius, mais alto.
A garota ouviu passos apressados atrás dela, mas continuou andando, como se não houvesse escutado o chamado do moreno.
- Droga, Isabelle, dá pra esperar um minuto?
Finalmente Isabelle parou de andar, e virou-se na direção de onde vinha a voz do garoto, que a alcançou arfando. Ela correu o olhar do rosto dele, para a gola desarrumada da camisa, e para a gravata em sua mão.
- Sabe que eu não gosto que me chamem assim. – disse, irritada.
- Era o único jeito de fazer você parar. – disse Sirius – Além disso, é o seu nome.
- Eu ainda sei como me chamo, Black, obrigada. – disse a garota, em tom seco.
- Black?! – perguntou Sirius, fitando-a, surpreso – Você não me chama assim há meses!
- Fala logo o que você quer. – disse ela, cruzando os braços – Eu tô com fome, quero ir logo jantar.
- Tá brava comigo, né? – perguntou Sirius.
- Eu? Por que estaria? – perguntou a garota, irônica – Só porque você me deixou esperando feito uma idiota por uma hora?
- Foi mal, Bell. – disse Sirius – Eu... perdi a hora.
Ela o mirou nos olhos; depois, correu o olhar pelas roupas em desalinho, a camisa fechada às pressas, com alguns botões nos furos errados. Sentiu a raiva aumentar ainda mais.
- Numa boa? Não é problema meu se você fica se enroscando com quem quer que seja pelos corredores. – disse ela, dura – Só, da próxima vez que for estar... ocupado, me avisa, pra eu não perder meu tempo esperando por você.
- Bell... – Sirius fitava Isabelle, espantado com a reação dela.
- Olha, eu tô de péssimo humor agora. – disse Isabelle, sem encará-lo – Volta pra... seja lá quem for que você tava dessa vez e me deixa quieta, tá?!
E dizendo isso, Isabelle deu as costas a um Sirius embasbacado, e, sem olhar para trás, seguiu seu caminho para o Salão Principal para ir jantar. Ela entrou no Grande Salão, procurando com os olhos o lugar onde estavam Lilian e as meninas, dirigindo-se até lá quando finalmente as localizou.
- Isa, tudo bem? – perguntou Lilian, ao ver a amiga chegar com uma expressão que misturava tristeza e raiva.
- Hã? Ah, tá, tá tudo bem, Lil. – respondeu a morena, sentando-se à mesa.
Instantes depois de acomodar-se em seu lugar habitual, ao lado de Lilian, Isabelle viu Sirius chegar ao Salão e, sem tirar os olhos dela, sentar-se em um lugar um pouco distante. A morena foi trazida de volta de sua distração pela voz excitada de Emmeline, que incitava Marlene a dizer algo.
- Fala logo, Lene! – pedia ela – O que foi que aconteceu?
- Vocês não adivinham com quem eu estava até agorinha pouco, antes do jantar... – disse a loura, fitando as amigas, uma a uma.
- Com quem? – perguntou Alice, os olhos brilhando de curiosidade.
- Ninguém mais, ninguém menos que... Sirius Black.
Ao ouvir aquele nome ser citado, Isabelle sentiu o ar deixando seus pulmões todo de uma só vez. Ela ergueu os olhos do prato, para fitar a colega que observava a todas com um leve sorriso. Os encontros de Sirius e Marlene não eram novidade, mas o que rolava neles era um prato cheio para a curiosidade de Emmeline e Alice, além do que, Marlene adorava gabar-se de seus encontros.
- E aí, Lene? – perguntou Emmeline, inclinando-se sobre a mesa na direção da amiga.
- Ah, meninas! A gente tava no maior amasso... – disse a loura, sorrindo. Isabelle sentiu seu coração encolher um pouco, de forma dolorosa – Aí ele sugeriu que nós fossemos pra um lugar mais... tranqüilo.
- Marlene McKinnon! – exclamou Lilian – Você... vocês...
- Shhh... Lily! – repreendeu Marlene, com o indicador sobre os lábios.
- Desculpa. – pediu a ruiva, corando – Mas não me diga que vocês...
- Ah, não! – negou a outra – Mas foi por pouco. – acrescentou ela – Ele disse que tinha esquecido-se de fazer alguma coisa, e não deu pra continuar.
- Talvez a Isa saiba o que era, afinal, eles são tão amigos, e chegaram praticamente juntos... – comentou Emmeline, fazendo com que todos os olhares se voltassem para Isabelle. Marlene, porém, viu Isabelle sob um novo ângulo. As palavras de Emmeline a fizeram perceber algo que não havia pensado antes. Ela olhou para Sirius, e seguiu o olhar dele até o ponto da mesa onde estava Isabelle.
“Não... não pode ser...” – pensava ela. Não podia acreditar que suas suspeitas pudessem ser verdadeiras.
Isabelle, nervosa com os olhares das meninas sobre si, não tardou a responder ao comentário de Emmeline, tentando tirar a atenção das meninas, e sobretudo as de Marlene e Lilian, de cima dela.
- Ah, não, eu... não sei. Não o vi desde o fim da última aula. – mentiu ela, com o rosto impassível, embora por dentro não estivesse assim tão firme.
“Decididamente, a convivência com o Sirius já tá fazendo estrago...” – ela não pôde deixar de pensar – “Estou virando uma mentirosa compulsiva.”
- Bem, então eu não sei. – disse Marlene, disfarçando sua irritação.
A atenção das meninas se desviou novamente para a loura, que voltou a falar sobre os detalhes de seu encontro com Sirius, sempre prestando atenção às reações de Isabelle, porém, a morena já não a estava mais escutando. Isabelle empurrou o prato e levantou-se da mesa.
- Isa, aonde você vai? – perguntou Lilian.
As meninas voltaram a prestar atenção na morena, sobretudo Marlene.
- Eu... vou pra torre. – mentiu Isabelle – Tô com dor de cabeça.
- Mas você nem comeu nada! – disse a ruiva, olhando para o prato quase intocado da amiga.
- Perdi a fome. – disse a morena – Boa noite.
Ela então deu as costas à amiga, e começando a andar, a passos largos, em direção à saída do Salão.
- Isa, espera! – disse Lilian, indo atrás dela, e a alcançando logo após saírem do Salão Principal – Esse não é o caminho pra torre.
- Volta pro Salão, Lil. – pediu a morena, sem olhar para a amiga – Eu não quero conversar agora.
- Mas por quê? – insistiu Lilian – O que foi que houve?
- Lily, me deixa! – disse Isabelle, um tanto irritada, levando logo a mão à testa – Eu quero ficar sozinha, será que dá pra entender?
E com isso, deu novamente as costas à ruiva, seguindo por um dos corredores laterais. Lilian ficou parada, observando-a caminhar devagar para longe. Havia algo muito errado ali; Isabelle nunca havia falado com ela daquele jeito.
- O que foi que houve, Lírio? – perguntou Tiago, que viera atrás dela.
- Nada. – mentiu a ruiva, beijando-o – Nada não.
Decidida em não ir para a torre da Grifinória, pensou em se dirigir à Torre da Astronomia, mas temendo que Sirius, sabendo desse costume, fosse até lá procurá-la, acabou desistindo. Assim, passou direto pela escadaria que a levaria à Torre, indo na direção da saída mais próxima. Correu pelos jardins, até alcançar o carvalho onde ela e Lilian costumavam ficar, sentando-se no chão, recostada no tronco da árvore, de forma que, do castelo, não pudesse ser avistada por ninguém.
“O que tá acontecendo comigo? Por que o que aconteceu me incomodou tanto?”
Ela olhava o céu nublado, a noite triste e escura, assim como sua alma. Não conseguia compreender o que estava acontecendo.
- Silencio. – ela disse, apontando a varinha para si mesma.
Respirou fundo e, olhando para a escuridão do lago, gritou silenciosamente por um longo tempo, até que sua garganta estivesse dolorida demais para continuar.
Na saída do Grande Salão, quando se encaminhava para a torre da Grifinória, ainda pensando em Isabelle, Sirius foi puxado de mau jeito para dentro de uma sala de aula vazia, e se viu diante de uma Marlene nada contente.
- Era a Charmant, não era? – era mais uma acusação do que uma pergunta.
- O quê? – perguntou Sirius, sem entender.
- A Charmant era o "algo muito importante que não podia esperar", não era? – perguntou ela, no mesmo tom da primeira vez – Por causa dela você me deixou sozinha naquela sala.
- McKinnon, eu não sei... – começou Sirius.
- Não nega, Sirius, eu sei que é verdade. – cortou ela – Ela reagiu quando eu disse que estava com você.
- Quando você fez o quê?
- Eu comentei, casualmente, durante o jantar que nós estávamos juntos – explicou a loura – e ela não pareceu receber bem a notícia.
- Como assim, não recebeu bem a notícia? – perguntou Sirius.
- Bom, você deve ter visto ela sair, ou melhor, fugir do Grande Salão, com a Lily nos calcanhares. – respondeu ela, com um leve tom de sarcasmo.
- Droga! – esbravejou o Maroto, deixando a sala logo em seguida, sob o olhar estupefato de Marlene. Como Isabelle previra, ele foi até a Torre da Astronomia procurá-la, mas encontrou a torre vazia. Falou com Lilian, mas a ruiva também não soube lhe dizer onde a amiga havia ido. Depois de esperar durante um longo tempo pelo retorno da garota no salão comunal, ele finalmente desistiu de falar com ela naquela noite e foi para o seu dormitório.
Isabelle voltou ao castelo bem mais tarde e chegou ao salão comunal da Grifinória, dando graças a Merlin por não ter sido pega por Filch ou um dos professores no meio do caminho. Foi surpreendida pela voz de uma certa ruiva, vinda de uma das poltronas.
- Isa?
- Lily? – perguntou Isabelle, surpresa, ao ver a ruiva levantar da poltrona e vir em sua direção – O que você tá fazendo acordada?
- Tava esperando você. – respondeu Lilian – Voltei da ronda e não encontrei você. Resolvi ficar aqui, esperando você chegar.
- Eu nem lembrava que você tinha ronda hoje. – disse Isabelle.
- Isa, o que aconteceu? – perguntou Lilian.
- Nada. – mentiu a morena, indo até a janela e recostando-se no parapeito.
- Alguma coisa aconteceu, Isa. – insistiu Lilian – Você não ia ficar daquele jeito por nada. Alguma coisa aconteceu e eu quero saber o que foi.
- Lily, por favor... – pediu Isabelle.
- Isa, olha pra mim, me diz o que houve! – pediu a ruiva, exasperada.
- Eu não quero falar sobre isso, Lily. – disse Isabelle – Minha cabeça tá me matando.
- Tá bom, vamos dormir. – disse Lilian – Mas eu ainda não desisti dessa conversa, viu?
Quando acordou, na manhã seguinte, Isabelle não encontrou Lilian no dormitório. Após tomar banho e se vestir, deixou a torre, indo ao Salão Principal para o café da manhã. Lilian estava lá, sentada sozinha em seu lugar habitual.
- Lily? – chamou a morena, a voz rouca pelos gritos – mudos – da noite anterior.
- Tava esperando você chegar pra tomarmos café. – disse a ruiva.
- Eu... quero me desculpar, por ontem. – disse Isabelle, timidamente – Não devia ter falado com você daquele jeito.
- Tudo bem, Isa. – disse Lilian – Você tava zangada, explodiu comigo porque eu fui a primeira que apareceu na sua frente.
- É. – concordou Isabelle.
- Quer me contar o que houve? – perguntou a ruiva.
- Não.
- Tudo bem. Só me diz uma coisa, – disse Lilian, olhando Isabelle bem nos olhos – tem a ver com o Sirius, não tem?
- Não. Claro que não. – respondeu Isabelle, nervosa, desviando o olhar – De onde você tirou essa idéia maluca?
- Ontem à noite, no jantar, vocês sequer se olhavam, e eu não sei quem tava com a cara pior. – disse a ruiva.
- Não tem nada a ver, Lily. – mentiu Isabelle, ainda sem olhar para a amiga.
- Não foi o que ele me disse. – prosseguiu Lilian – Ele disse que vocês brigaram ontem.
Isabelle fitou a ruiva, chocada, por um instante. Depois recobrou-se da surpresa, voltando a fugir do assunto.
- Vamos mudar de assunto? – pediu ela – A gente tem muito com o que se ocupar hoje, com a festa.
- Tá bom. Então esquecemos o que aconteceu. – disse Lilian, resignada – Temos mesmo muito que fazer, a Sala Precisa nos espera.
- É. Vamos tomar o nosso café logo, então, que é pra dar tempo de fazer tudo. – disse Isabelle, visivelmente aliviada com a mudança de assunto.
- É, mas, Isa? – chamou Lilian.
- O quê? – perguntou Isabelle, tensa novamente.
- Se mudar de idéia, e quiser falar, eu estou aqui. – disse a ruiva, encarando a amiga.
- Tá. Valeu, Lily. – disse Isabelle, voltando a tomar seu café.
O dia foi bastante movimentado, e com toda a agitação, o assunto do café da manhã foi esquecido. As meninas foram todas para a Sala Precisa, fazer a decoração para a festa de Tiago. Além de Alice, Emmeline e Marlene, Bárbara também fora para lá, para ajudar as meninas com a arrumação da Sala, e a cada vez que Remo chegava, carregando uma caixa de bebidas ou salgadinhos, abria um enorme sorriso.
- Ih... essa aí tá caidinha pelo Remo... – comentou Lilian, na última vez em que Lupin chegou à Sala.
- Aham. – concordou Isabelle – Seria bem legal se eles ficassem juntos, né?
- É, seria sim.
Elas puseram uma infinidade de balões e fitas, e arrumaram uma bonita mesa para o bolo, encomendado previamente na Dedosdemel. Os meninos, utilizando as passagens secretas para Hogsmeade, iam e vinham do vilarejo, carregando caixas e mais caixas de salgados, doces e bebidas. Eles também conseguiram um enorme rádio, com várias caixas de som maiores ainda.
Durante esse tempo, Sirius e Isabelle não se falaram, e a morena evitava até mesmo olhar para o amigo, temendo a reação dele e a sua própria. Marlene observava cada movimento dos dois com atenção, os olhos chispando de raiva cada vez que pousavam em Isabelle.
Depois de darem os últimos retoques na arrumação da Sala, e lançarem vários feitiços para deixá-la imperturbável, o grupo dirigiu-se à torre da Grifinória para também aprontarem-se para a festa.
- A tatuagem vai aparecer, Isa. – avisou Lilian, ao ver a amiga já com a fantasia – O vestido é bem aberto atrás.
- Não vai, não. – disse Isabelle – Pra isso servem feitiços de ilusão. Vai, esconde ela pra mim. – pediu ela.
- Você é estranha, sabia? – comentou a ruiva – Fez a tatuagem e não quer que ninguém veja.
- Vão ver. – retrucou Isabelle – Mas não hoje. Vai, faz logo o feitiço, ou vamos nos atrasar ainda mais.
Enquanto isso, na Sala Precisa, Tiago andava de um lado para o outro, olhando para o relógio, para a porta, e de volta para o relógio. A cada vez que alguém entrava na sala, o garoto se voltava mais do que depressa para a porta, mas logo desanimava novamente ao ver que não era Lilian.
- Ah! Elas estão demorando! – reclamava ele, enquanto mais convidados chegavam.
- E lá vamos nós, outra vez! – disse Remo, rindo.
- Fica frio, Pontas. Já, já elas chegam. – disse Sirius, que também observava a porta, ansioso – Vamos, tem mais gente chegando. Você tem que receber seus convidados.
Remo foi para perto dos controles de som, pelos quais havia ficado responsável, enquanto Tiago, junto com Sirius, aproximou-se da porta para receber os cumprimentos de algumas garotas que acabavam de chegar.
- Parabéns, Tiago! – disse uma delas, sorrindo, e dando um abraço no Maroto.
- É, parabéns! – disse a outra, dando um beijo perigosamente próximo à boca dele.
- E... cadê a Evans? – perguntou a primeira, de forma maldosa – Deixou você aqui sozinho?
- Ela já vem... – disse Tiago, mais para si mesmo – já vem...
E então, Lilian chegou, e ele já não ouvia mais o que as duas garotas lhe diziam, entre risadinhas. A ruiva estava linda, com uma fantasia de bailarina, rosa clara, muito delicada, os cabelos presos em um coque bem apertado, e uma maquiagem leve, com discretos brilhos. Ela veio ao encontro do namorado, e deu-lhe um beijo, fazendo-o despertar do transe em que ficara quando a vira chegar.
- Demorei muito? – perguntou ela, sorrindo.
- Sim... não! – dizia Tiago, meio abobado – Quer dizer... um pouco. – ele a fitava, admirado – Você tá linda.
- Obrigada. Você também está. – disse ela, olhando de cima a baixo a fantasia de detetive dele.
- Elementar, minha cara ruivinha. – brincou Tiago, soprando bolhas em seu cachimbo de bolhas de sabão – Eu tinha que estar à sua altura.
Sirius, ao lado deles, apenas revirava os olhos, sorrindo.
- Seu bobo! – disse Lilian, corando um pouco – Não sabia que conhecia Sherlock Holmes, é literatura trouxa.
- Remo me emprestou um livro uma vez, e eu gostei tanto que até comprei outros depois. – explicou Tiago – Quer beber alguma coisa?
- Ah, quero sim. – respondeu Lilian – Tô morrendo de sede.
- Almofadinhas? – disse Tiago.
- Pode deixar, eu fico aqui. – disse Sirius – Ahn... Lily?
- Oi? – perguntou a ruiva, voltando-se para o amigo.
- E a Bell? – perguntou o Maroto.
- Já tá vindo. – respondeu Lilian.
E deixando Sirius à porta para recepcionar os convidados, Tiago saiu em direção à mesa das bebidas, todo contente, de mãos dadas com Lilian. O outro Maroto então ficou ali, cumprindo sua tarefa de receber os convidados enquanto o amigo não voltava. Cerca de vinte minutos depois, distraído com o grupinho de meninas que acabava de chegar, Sirius não percebeu uma morena de olhos estranhamente negros que, aproveitando o fato de que ele não a vira, entrou sorrateiramente e se misturou logo aos demais convidados. Após o pequeno momento de distração, Sirius voltou a prestar atenção na porta, e a todos os que chegavam à Sala, percorrendo, por vezes, o olhar pela Sala, cheia de gente.
“Mas cadê essa garota?” – pensava ele, olhando para a porta, e em seguida para a enorme quantidade de jovens dançando pela Sala Precisa – “Se ela tivesse entrado eu teria visto. Ou não?”
Sirius começou a circular pela Sala, sendo parado, vez ou outra, por alguma garota, mas logo dispensando-a e recomeçando a andar. Viu Remo, vestido de Chaplin, e que, como não gostava de dançar, controlava a música. Ao lado dele estava Bárbara, que, por sugestão do garoto, viera com uma fantasia de fada, verde bem clarinha, com asas brilhantes e o cabelo solto pelas costas, entremeado com fitas da mesma cor da roupa. Os dois conversavam sem parar sobre o que acontecia pela sala, pois do local onde estavam, tinham uma visão privilegiada, e riam muito.
- Olha lá o Rabicho. – dizia Remo, apontando a mesa dos doces – Agora ninguém mais tira ele dali. – comentou ele, fazendo Bárbara voltar a rir.
- Olha, que linda tá a Anne! – disse Bárbara, apontando uma garota negra, muito bonita, vestida de cigana.
- Ih... hoje o Almofadinhas pira de vez. – disse Lupin, e os dois voltaram a rir.
Sirius também viu Pedro, vestido de vampiro, os caninos transfigurados em longas presas, se empanturrando de docinhos, e Lilian e Tiago namorando a um canto. Mas não havia sinal de Isabelle.
- Sabia que você tá muito linda? – dizia Tiago – Que você é muito linda?
- Pára, Tiago! – disse a ruiva, abaixando o rosto, encabulada.
- É sério! – disse o garoto, sorrindo – Você é a garota mais linda da festa, não, do mundo!
Lilian, riu, anda mais envergonhada. Tiago deu um beijo leve nos lábios dela.
- Eu amo você, sabia? – perguntou ele – E o melhor presente que eu ganhei hoje foi poder passar meu último aniversário aqui em Hogwarts tendo você comigo.
- Você é tão lindo... tão perfeito pra mim... – disse Lilian, acariciando o rosto dele – Eu também estou muito feliz em estar aqui com você hoje.
Os dois se beijaram, e então correram o olhar pela Sala, observando os amigos que dançavam.
- Nossa! Quanta gente! – exclamou Lilian.
- É, a Sala tá cheia. – comentou Tiago, e então viu Sirius andando pela Sala – O que o Almofadinhas tá fazendo?
- Sei lá, parece que tá procurando por alguém. – disse a ruiva.
- Deve estar atrás da D'Argento. – disse o Maroto, dando de ombros.
Em outro ponto da Sala, Sirius avistou a rodinha das meninas, que dançavam animadas; Alice, sempre delicada, vestida de boneca, Emmeline, uma hippie, e Marlene, mais loura do que nunca, vestida de Marilyn Monroe. Junto com elas, haviam também algumas garotas da Corvinal e da Lufa-Lufa. Então ele viu na rodinha uma pessoa que não vira chegar enquanto estivera à porta. Ela dançava de costas para ele, os longos cabelos escuros presos em um coque alto, enfeitado com uma rosa vermelha, e o vestido que parecia com o de uma dançarina de flamenco espanhola.

It's gettin late
I'm making my way over to my favorite place
I gotta get my body moving shake the stress away
I wasn't looking for nobody when you looked my way
Possible candidate (yeah)
Who knew
That you'd be up in here lookin like you do
You're makin' stayin' over here impossible
Baby I must say your aura is incredible
If you dont have to go don't


Isabelle dançava, de olhos fechados, sentindo cada batida da música; queria esquecer a briga com Sirius, esquecer a confusão de seus sentimentos... Simplesmente não iria pensar naquilo, ela ia se divertir naquela festa. Ou ao menos era o que pretendia.
Sirius continuava dando a volta na sala, sem tirar os olhos da dançarina de flamenco; viu-a rir de algo dito por Emmeline, sempre de olhos fechados. Então, quando estava de frente para ela, parou.

I wanna take you away
Lets escape into the music
DJ let it play
I just can't refuse it
Like the way you do this
Keep on rockin to it
Please don't stop the
Please don't stop the
Please don't stop the music


Emmeline comentou, perto do ouvido de Isabelle, algo sobre os dotes físicos de um sonserino louro que dançava perto delas, e a morena riu.
- Ah, Line! Você não tem jeito, mesmo! – disse ela – E o Roger?
- Bem... ele não pôde vir, tinha monitoria hoje. – contou a outra – E afinal... o que ele não vê, ele não sente. – disse ela, dando de ombros – Espia só, e me diz se eu tô errada.
Ainda rindo, Isabelle abriu os olhos para espiar o tal sonserino, mas alguém, parado à sua frente e a encarando intensamente acabou desviando sua atenção. Os olhares se encontraram, negros contra negros – Isabelle transfigurara a cor de seus olhos – e nenhum dos dois ousava desviar. Sirius começou a se aproximar, ao mesmo tempo em que uma música lenta começava a tocar. Marlene sorriu ao ver Sirius começar a andar em direção à rodinha, porém seu sorriso murchou ao ver que era para Isabelle que ele olhava, e era para ela que ele estendia a mão, convidando a dançar.

One shot to your heart without breaking your skin
No one has the power to hurt you like your kin
Kept it inside, didn't tell no one else
Didn't even wanna admit it to yourself
And now your chest burns and your back aches
From 15 years of holding the pain
And now you only have yourself to blame
If you continue to live this way


- Posso? – perguntou ele, ajeitando o chapéu, que lhe cobria parcialmente um dos olhos, e estendendo a mão para a morena, que a aceitou, hesitante, sob o olhar das demais meninas da rodinha. Ela enlaçou o pescoço do garoto, arrepiando-se ao sentir a mão dele em sua cintura. Marlene fitava os dois, incrédula.
- Você tá linda. – comentou Sirius.
- Obrigada. – agradeceu a garota – Você também.
- Os olhos estão incríveis. – disse ele.
Isabelle riu.
- Convencido. – disse Isabelle – Estão iguais aos seus.
Foi a vez de Sirius rir.
- Achei que iam combinar melhor com a fantasia do que os meus, azuis. – explicou a morena – Além do mais, aulas de Transfiguração tem que servir pra alguma coisa.
- Ficou muito bom. – disse o garoto.
- Obrigada. Mas eu tenho certeza que não foi pra falar dos meus olhos que você me tirou pra dançar. – retrucou a morena astutamente.
- É, sobre o que aconteceu ontem, Bell, eu...
- Eu queria me desculpar. – ela disse, interrompendo-o – Tava zangada, exagerei na dose.
- É, mas você tinha razão em estar zangada. – retrucou Sirius. Isabelle ergueu o rosto para fitá-lo.
- Tudo bem, Sirius. – disse ela – Você esqueceu, paciência.
- Me desculpa também. – pediu ele, afastando uma mecha rebelde de cabelo do rosto dela.
- Estamos bem? – perguntou Isabelle, encarando-o.
- Estamos bem. – respondeu ele, abraçando-a mais forte, e continuando a dançar.

Get it together
You wanna heal your body
You have to heal your heart
Whatsoever you sow you will reap
Get it together


- Então... você é um gângster. – disse Isabelle.
- É. O que achou? – perguntou Sirius.
- Ficou bem legal.
- Legal? – perguntou ele, fingindo indignação – Eu tava esperando algo como... incrivelmente sedutor.
Isabelle riu.
- É, isso também. – disse ela, ainda rindo.
- Obrigado. – disse ele, fazendo pose – Eu sabia.
A garota apenas revirou os olhos, sorrindo, e voltou a recostar-se no peito do amigo.
- Você não tem jeito mesmo. – comentou ela.
- Mas você me ama mesmo assim. – retrucou Sirius.
- É. Amo sim.
- É bom ter você de volta. – disse Sirius, apertando o abraço, ao que Isabelle retribuiu, abraçando-o mais forte também.
A música acabou, sendo imediatamente substituída por outra, um pouco mais agitada. Marlene se aproximou deles, sorrindo.
- Sirius! Vem, dança essa comigo! – disse ela, tirando o chapéu da cabeça do garoto, e colocando-o na própria cabeça, e o puxando pela mão.
- McKinnon... – começou Sirius, hesitante. Ele não sabia o que fazer, e olhava para Isabelle, como que pedindo por uma solução.
- Vai, Sirius. – disse a morena – Eu vou estar aqui.
Ele assentiu com a cabeça, e então seguiu com Marlene.
“Eu sempre estou.” – pensou Isabelle, vendo-o se afastar. Mas Sirius parou, após apenas alguns passos.
- O que foi, Sirius? – perguntou Marlene, parando também.
- Só um segundo. – disse ele, voltando até onde estava Isabelle, e parando diante da morena, que o fitava, confusa. Ele voltou a ajeitar a mecha rebelde do cabelo dela, olhando bem no fundo daqueles olhos, no momento tão iguais aos seus.
- Você é muito importante pra mim. – ele disse, segurando o rosto dela com as duas mãos – Não duvida nunca disso, tá?
Isabelle, incapaz de dizer o que quer que fosse, apenas concordou com a cabeça. Sirius sorriu, e deu um beijo na testa da garota, indo em seguida na direção de onde Marlene o esperava. No entanto, ele voltou a parar, antes de alcançar a loura, e voltou-se mais uma vez para Isabelle.
- Bell! – chamou – Ouve essa música!
A morena voltou a assentir com a cabeça, e o garoto então foi, finalmente, dançar com Marlene. Isabelle reconheceu a música imediatamente.

When you're sad,
When you're feeling low
When you're hurt and don't
know where to go.
Think of me-
There I'll be,
Anytime you need a friend.


Os olhos da garota encheram-se de lágrimas, e então, correndo, ela deixou a Sala Precisa, rumo à torre da Grifinória. Um soluço subiu-lhe à garganta, um grito que ela mesma não suportou escutar. Mas sentia também que se não o soltasse, não conseguiria mais respirar e seu corpo explodiria de tanta dor.
- Pensei que estivesse brava comigo, McKinnon. – comentou Sirius, enquanto dançava com Marlene.
- Eu estava. Mas minha raiva por você nunca dura muito tempo. – respondeu Marlene – Apesar de ter sido trocada pela Charmant...
- Não tem nada a ver. – retrucou Sirius – Meu lance com a Bell é bem diferente.
- Será mesmo? – duvidou a loura.
- Eu e a Bell somos... – ele parou de falar ao correr o olhar pela Sala e não encontrar Isabelle.
- Vocês são o quê, Sirius? – perguntou Marlene.
- Hã? – perguntou ele, meio confuso – Ah, nada, deixa isso pra lá, vai?!

When you're scared,
I will stay with you,
When you feel you're falling,
I'll lift you.
When you're heart breaks,
I'll ease your aches,
Whatever it takes, I'm in-
Anytime you need a friend.


Isabelle correu até alcançar a entrada do salão comunal da Grifinória. Parou diante da Mulher Gorda, com as sandálias na mão e a maquiagem borrada pelas lágrimas, os cabelos soltos pelas costas, já sem a rosa, perdida pelo caminho.
- Crina de unicórnio. – disse ela.
- Pois s... – começou a Mulher Gorda, e então fitou Isabelle – mas você está chorando!
- Crina de unicórnio! – repetiu a garota, quase gritando, e então o retrato se abriu, dando passagem a ela, que passou direto pelo salão comunal, já quase vazio, subindo a escada para o dormitório feminino.
Ao chegar, simplesmente jogou-se na cama, às lágrimas, fechou o cortinado, lançando um feitiço que impedia que alguém o abrisse pelo lado de fora, e depois de lançar um feitiço silenciador em si mesma, gritou silenciosamente até que sua garganta doesse, e afundando o rosto no travesseiro, deixou as lágrimas rolarem, manchando a fronha imaculadamente branca.
Na Sala Precisa, uma música lenta tocava. Sirius estava dançando com Annelise D’Argento, a corvinal com quem vinha flertando já há algum tempo. Diferentemente das demais garotas da escola, Annelise não se deixava convencer pelas cantadas do Maroto.
- Não pense que me leva na lábia como faz com as outras garotas, Sr. Black. – disse ela, com um leve sorriso.
- Eu jamais pensaria nisso. – rebateu Sirius, com sua cara mais inocente.
- Aham. – fez a garota, sorrindo novamente – Sei.
Em outro ponto da Sala, meio que escondido, Remo e Bárbara dançavam também. Depois de muito insistir, a corvinal conseguira convencer Lupin a dançar uma música com ela.
- Não sei por que você não gosta de dançar. – comentou ela – Dança tão direitinho...
- Bondade sua, né, Bárbara? – rebateu Remo – Acho que já pisei no seu pé pelo menos umas três vezes.
- Uma só. – corrigiu Bárbara – E foi uma pisadinha de nada.
Lupin sacudiu a cabeça, e os dois riram. Bárbara ergueu o rosto para encarar o Maroto, e foi aproximando seu rosto do dele. Porém, quando a garota ia beijá-lo, Remo parou de dançar, afastando-se dela.
- Que foi? – perguntou ela confusa.
- Bárbara... – disse ele, meio hesitante – é melhor não fazer isso.
- Por que não? – perguntou a garota.
- Desculpe. – pediu Remo – Eu realmente não posso fazer isso.
- Mas, Remo... – Bárbara não estava entendendo a atitude dele.
- Desculpe. – pediu Lupin, novamente, afastando-se dela, e seguindo de volta para perto dos controles de som.



N/A: de novo, mais à frente. Pra vocês saberem, as músicas que rolaram na festa:

Está ficando tarde
Estou indo para o meu lugar preferido
Tenho que mexer meu corpo, afastar o estresse
Eu não estava procurando por ninguém quando você
olhou pra mim
Possível pretendente... É
Quem diria que você estaria aqui me olhando
desse jeito?
Você está fazendo ficar impossível permanecer aqui
Baby, eu devo dizer que sua aura é incrível
Se você não tem que ir, não vá!

Eu quero te levar embora
Vamos escapar na música,
DJ, deixe tocar
Eu não posso recusar
Do jeito que você faz isso
Continue agitando,
Por favor, não pare a...
Por favor, não pare a...
Por favor, não pare a música


A segunda, “Get it together” , India Arie:

Um tiro no seu coração sem quebrar sua pele.
Ninguém tem o poder de te machucar como sua pele.
Guarde isso aí dentro, não fale para ninguém mais,
Nunca admita isso para você mesmo.
Agora seu peito queima e suas costas doem,
Por 15 anos segurando a dor.
Agora você só tem a si mesmo para culpar,
Se você continuar vivendo assim.

Deixe junto,
Você quer curar seu corpo,
Você tem que curar seu coração.
Você vai colher o que plantou,
Deixe junto.


E a última, “Anytime you need afriend”, Beau Sisters :

Quando você estiver triste
Quando você se sentir fraco
Quando você estiver magoado e não souber pra onde ir
Pense em mim
Eu estarei lá
Toda a vez que você precisar de um amigo

Quando você estiver com medo
eu ficarei com você
Quando você sentir que está caindo
Eu levantarei você
Quando seu coração partir
Eu apagarei as rachaduras
Seja o que for eu farei
Toda vez que você precisar de um amigo


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