Amizades em risco
Os dias iam passando devagar, e na medida em que isso acontecia, Sirius e Isabelle se tornavam cada vez mais amigos, e podiam ser vistos juntos com bastante freqüência. Com a ajuda do garoto, Isabelle já dominava sua transformação em animal quase perfeitamente, e ela era a única a conseguir convencer Sirius a estudar de verdade.
- Isa! – chamou Lilian – Você também vai pra biblioteca, estudar DCAT com a gente?
- Ah, não, Lil, desculpa. – respondeu a morena, com ar culpado – Combinei de estudar Poções com o Sirius lá fora, nos jardins, já que nem eu consigo convencer ele a ficar muito tempo na biblioteca.
- Ah... tá bom, então. – disse Lilian, com um ar meio pensativo.
- Mas se der tempo, dou uma passada por lá, mais tarde. – disse Isabelle, tentando se redimir.
- Tá. – concordou a ruiva – Ahn... Isa?
- Hã?
- Nada. – disse Lilian, desistindo do que ia dizer – Deixa pra lá.
Lilian, Tiago, Pedro, Emmeline e Alice iam para a biblioteca estudar, e Remo os estava acompanhando até parte do caminho. Ele não iria com os demais para a bilblioteca, pois tinha relatórios atrasados da monitoria para fazer. Os seis andavam calmamente pelos corredores, conversando e rindo, quando ouviram alguém chamar pelo nome de Remo, e pararam para ver de quem se tratava.
- Remo! – gritava a garota, correndo atrás deles – Remo!
- Hã? – Remo e os demais voltaram-se para trás para ver quem era – Ah, oi!
- Oi! – disse Bárbara ao alcançá-lo, arfando – Oi.
- Queria falar comigo? – perguntou Lupin.
- Aham. Eu só queria... agradecer... pela ajuda com a redação. – respondeu a garota – Minha nota foi a mais alta da classe.
- Imagina, não foi nada. – disse Remo, meio encabulado.
- Foi sim, você me salvou de uma boa. – argumentou a garota, sorrindo.
- Hum, hum. – pigarreou Tiago – Onde está a sua educação, Aluado? Não vai apresentar a sua amiga pra gente?
- Ah, é, claro! – disse Remo, batendo na testa – Gente, essa é Bárbara Takemi, Corvinal. Bárbara, esses são Tiago, Pedro, Lilian, Alice e Emmeline.
- Oi. – disse a corvinal – Muito prazer.
- O prazer é nosso. – disse Alice, sorrindo, e os demais concordaram.
- Bom, gente, eu vou nessa. – disse Remo aos amigos – Vou pegar uma carona com a Bárbara.
- Tá bom, até mais tarde, Remo. – disse Lilian.
- É, até mais, Aluado. – disse Tiago – Comporte-se! – gritou ele, quando o amigo já ia longe e não poderia responder como gostaria.
Conforme o combinado, enquanto os demais colegas estudavam no interior do castelo, Sirius e Isabelle faziam o mesmo no jardim, à beira do lago.
- Apesar de ser uma poção muito poderosa, o Veritasserum é falível, e por isso...
- Bell, me explica de novo. – interrompeu Sirius, que estava deitado, com a cabeça no colo de Isabelle – Por que é mesmo que estamos aqui estudando tudo isso?
- Porque temos que nos sair muito bem nos N.I.E.M.’s se quisermos entrar pra Academia de Aurores. – respondeu a garota, desviando o olhar do caderno em suas mãos e fitando o amigo.
- Ah, é. – disse Sirius – Obrigado.
- De nada. – respondeu Isabelle – Podemos continuar agora?
- Ah, chega por hoje, Bell! – pediu ele, sentando-se – A gente passou quase a tarde toda aqui!
- Tá bom, não precisa fazer essa cara de cachorro que caiu da mudança. – disse a morena, ao que Sirius fez uma careta – Encerramos por hoje.
- Viva! Obrigado!
- Seu bobo.
Os dois ficaram alguns instantes em silêncio, enquanto Sirius observava os jardins e Isabelle guardava seu material na mochila. O garoto então fitou-a por um momento.
- Você tá com aquela cara de novo. – disse ele.
- Que cara? – perguntou Isabelle, fingindo inocência.
- Cara de quem quer alguma coisa, que acha que eu não vou dar. – respondeu Sirius.
- Que bobagem, Sirius!
Ele bufou e não disse mais nada, voltando a observar o movimento nos jardins. Na verdade, Sirius estava certo em suas suposições. Isabelle de fato queria pedir algo a ele, mas não sabia como exatamente iria fazê-lo. Decidiu por fim, falar de uma vez e ver o que iria acontecer.
- Sirius? – chamou Isabelle.
- Hum?
- Amanhã começa a lua cheia. – comentou ela.
- É. – concordou Sirius.
- Eu queria ir com vocês... – disse ela, devagar.
- O quê? – perguntou o garoto, voltando-se imediatamente para ela.
- Eu. Queria ir com vocês encontrar o Remo, amanhã à noite. – repetiu ela.
- Não. – respondeu Sirius, simplesmente.
- Mas, Sirius... – ela tentou argumentar.
- Não, Bell. – cortou ele – Nem pensar.
- Por quê?
- Ficou maluca? É perigoso demais. – disse Sirius, sério – Não vou deixar você se arriscar desse jeito.
- Mas vocês vão com ele desde o quinto ano! – reclamou a garota – Eu sou amiga dele tanto quanto vocês. E também, eu sou uma animaga, ele não vai me atacar na forma animal.
- Sabia que não devia ter ensinado Animagia pra você. – disse Sirius, levantando-se – Foi por isso que quis aprender, não é?
- Foi. – confessou Isabelle.
- E não me falou nada... – disse ele, meio bravo.
- Se eu tivesse dito, você não ia me ensinar. – retrucou a garota.
- Com certeza não. – confirmou Sirius.
- Foi por isso que eu não contei. Ah, vai, Sirius!? Me deixa ir! – pediu ela – Caso aconteça alguma coisa, você e o Tiago vão estar lá, eu vou estar bem protegida.
- Não, Bell. A resposta é e vai continuar sendo sempre não. – respondeu Sirius, em tom de quem não pretendia mudar de idéia.
- Mas, Sirius... – insistiu ela, fazendo sua cara mais pidona.
- Nem adianta fazer essa carinha. – disse ele, e ela ficou séria – Não vai funcionar dessa vez.
- Mas... – ela não queria desistir.
- Eu não vou mais discutir isso. Você não vai. – disse o Maroto, em tom de fim de conversa – Remo me mataria se eu deixasse você fazer isso. Não, você vai ficar quietinha no castelo. Eu vou dar uma volta por aí. – disse ele, observando uma sonserina ruiva que lhe sorria – A gente se vê depois, tá?
- Tá. – concordou Isabelle – Até depois.
E dando um beijo no topo da cabeça da garota, Sirius saiu em direção ao castelo, no rastro da sonserina, enquanto Isabelle também levantava do chão, jogando a mochila nos ombros.
- Humpf! – bufou ela – Sei bem a volta que você vai dar...
Ela seguiu o mesmo caminho que Sirius havia tomado, passando por ele, já aos beijos com a ruiva, logo depois de entrar no castelo. Sentiu seu estômago embrulhar ao assistir a cena.
“Mas que droga, Isabelle! O que está acontecendo com você?” – pensava ela, um tanto zangada, enquanto rumava para a torre da Grifinória.
Enquanto isso, na biblioteca, os demais também encerravam a jornada de estudos daquele dia.
- Ah, parei! – exclamou Alice, fechando seu caderno – Não agüento mais ler sobre maldições, amuletos...
- É, eu também tô cansadão. – disse Tiago, aproveitando a onda – Chega por hoje, né, ruivinha?
- Acho que sim. – concordou Lilian, fechando também seu caderno – Estudamos bastante por hoje.
- E no fim a Isa não apareceu por aqui... – comentou Emmeline, com uma pitada de malícia.
- Deve ter ido direto pra torre. – disse Lilian, defendendo a amiga.
- Que tal seguirmos o exemplo dela? – sugeriu Alice.
- Ótima idéia, Lice! – disse Emmeline, começando a juntar seu material.
No salão comunal da Grifinória, Remo, que acabara de chegar do salão dos monitores, onde colocara em dia seus relatórios, viu Isabelle chegar, bufando de raiva, e jogar-se em uma das poltronas, sob o olhar assustado de alguns primeiranistas que estudavam por ali.
- Ai, que raiva! – esbravejou ela – Bando de idiotas!
- O que houve, Isa? – perguntou Lupin.
- Umas garotas da Corvinal. – disse a garota – Vieram pra cima de mim, queriam me azarar.
- Por causa do Sirius, eu imagino. – disse Remo, e ela assentiu – Vocês estavam juntos, não? – perguntou ele, embora já soubesse a resposta.
- É. Bom, é essa história toda... – disse a morena – Desde o Dia dos Namorados tá todo mundo me olhando torto. – reclamou ela.
- É, eu sei. Mas na verdade você já devia saber que isso ia acontecer. – disse Remo, um tanto duro. A lua quase cheia começava a despontar no céu ainda um pouco claro.
- Eu sabia que ia ter uma reação desse tipo, – concordou a garota – na verdade, era esperado que tivesse. Só que eu não pensei que isso fosse durar tanto tempo.
- Mas não faz nada pra mudar a situação... – comentou Lupin, baixinho, porém Isabelle escutou.
- Como é? – perguntou ela.
- Você. – disse ele, mais alto – Tá colaborando pra isso acontecer.
- Por que você tá dizendo isso, Remo? – perguntou Isabelle, estranhando a atitude do amigo.
- Bom, você e o Sirius estão bem amiguinhos agora, não? – perguntou ele, com sarcasmo – Sempre juntos, de abraços e beijos...
- Eu não tô entendendo aonde você tá querendo chegar. – disse ela, começando a ficar nervosa.
- Você tá agindo como todas aquelas garotas com quem o Sirius fica! – acusou Remo.
- Não, eu não tô! – defendeu-se a garota, empertigando-se.
- Ah, não? – perguntou Remo – Somem os dois, e depois voltam correndo, rindo, ofegantes, às vezes meio desalinhados...
- E daí? – perguntou Isabelle, elevando o tom de voz.
- Daí que agora você é só mais uma da enorme lista das garotas que ele já pegou! – disse Lupin, em tom alto o suficiente para chamar a atenção de vários dos alunos que estavam no salão comunal.
- Não, eu não sou! – disse ela, levantando-se da poltrona – Do quê você tá falando? Eu e o Sirius nunca ficamos!
- Ah, é? E o que vocês fazem, então, nas horas em que somem? – perguntou ele, de forma acusadora – O passatempo preferido do Sirius é levar as garotas pros corredores vazios do castelo...
- O que você pensa que eu sou? – perguntou a garota, indignada – Uma garota qualquer, que basta um cara estalar os dedos e eu vou correndo atrás?
- Bom, é assim que funciona com o Sirius, não é? – disse Lupin, venenosamente – Ele chama, você vai.
- Eu não acredito que eu tô ouvindo isso... – disse Isabelle, parecendo ao mesmo tempo incrédula e magoada.
- E por acaso é mentira? – perguntou Remo. Foi a gota d’água.
Um sonoro tapa estalou na face do garoto, deixando uma marca vermelha na pele pálida. Os primeiranistas que assistiam à discussão soltaram algumas exclamações de espanto.
- Você é um idiota, Remo John Lupin! – gritou a garota, apanhando sua mochila e saindo do salão comunal, mais nervosa do que quando chegou.
Isabelle sequer viu os amigos que voltavam da biblioteca, quando passou por eles no corredor, e não ouviu quando Sirius chamou seu nome, enquanto se dirigia a passos largos ao local onde melhor se sentia em todo o castelo. Então, apenas alguns minutos depois de sua chegada intempestiva à Torre da Astronomia, ouviu a voz do moreno às suas costas.
- Bell? O que foi que houve? – perguntou Sirius, logo que chegou à torre – Você passou voando por mim, nem ouviu quando eu chamei.
- Não foi nada. – mentiu ela, sem se virar – Eu só queria ficar um pouco sozinha.
- Alguma coisa aconteceu. – disse ele, aproximando-se – Por nada você não ia ficar daquele jeito. Fala, o que houve?
- Por favor, Sirius... – pediu ela – Eu não quero falar sobre isso.
- Tá me deixando preocupado, Bell.
Ele a fez virar-se para encará-lo; a expressão magoada no rosto da garota, porém, o fez desistir de forçá-la a falar.
- Tá bom. – disse ele, abraçando-a – Tá tudo bem agora, eu tô aqui com você.
Ela respirava fundo, lutando contra as lágrimas que insistiam em encher seus olhos.
- Minha cabeça... – disse, baixinho – parece que vai explodir...
- Vem, – disse Sirius, afastando-se um pouco, pegando-a pela mão, e voltando-se para a porta – vamos pra torre eu...
- Não. – disse Isabelle, soltando a mão dele – Pra torre não.
- Mas... você precisa tomar alguma coisa pra dor... – argumentou Sirius.
- Pra torre não, Sirius. – insistiu a garota.
- Mas... – começou ele, mas um olhar dela o fez calar-se – Tá bom. Pra Sala Precisa, então?
Isabelle assentiu com a cabeça, e eles deixaram juntos a Torre da Astronomia, indo para a já conhecida sala no sétimo andar. Lá chegando, Sirius tentou voltar ao assunto.
- Bell, você não...
- Por favor, Sirius, nem começa. – pediu a garota – Eu não quero falar sobre isso.
- Mas até quando você vai ficar aqui? – perguntou ele – Já tá ficando tarde.
- Eu não vou pra torre. – disse Isabelle, esfregando as têmporas com a ponta dos dedos, e fazendo uma careta de dor.
- Você não pode dormir aqui. – ponderou Sirius.
- Não vou pra Grifinória. – ela fincou pé. Sirius suspirou.
- Não vai adiantar discutir com você, né? Mas eu não vou deixar você dormir aqui. – disse ele, decidido – Pelo visto, o problema é com alguém da Grifinória.
- Sirius...
- Calma, eu só tô pensando alto. – disse ele, interrompendo-a – Vamos fazer o seguinte, eu vou pra torre, e fico esperando o salão comunal esvaziar. – propôs ele – Daí depois eu venho buscar você aqui.
- Não vai adiantar discutir com você, né? – disse Isabelle, forçando um sorriso.
Sirius sorriu de volta, e, depois de dar um beijo no topo da cabeça dela, deixou a Sala Precisa, rumo ao salão comunal da Grifinória. Lá chegando, acomodou-se em uma das poltronas e, apreciando o movimento no ambiente, esperou pacientemente que o salão comunal esvaziasse, o que ainda demorou algum tempo. Depois de cerca de uma hora e meia, apenas ele e os Marotos ainda estavam no salão comunal. Lilian havia comentado sobre o sumiço de Isabelle, mas, vencida pelo cansaço, desistira de esperar pela amiga e subira também para o dormitório. Não muito tempo depois que a ruiva deixou o salão, os Marotos começaram a se retirar também.
- Cara, eu tô morto. – disse Tiago, levantando do sofá e espreguiçando-se – Até amanhã, Marotos.
- Eu também vou nessa. – disse Pedro, levantando-se também de sua poltrona – Boa noite.
- Boa noite. – respondeu Sirius aos amigos, que subiram para o dormitório, enquanto o moreno voltava à sua silenciosa contemplação do nada. Ficou alguns minutos dessa forma, e já ia levantar-se para ir buscar Isabelle na Sala Precisa, quando percebeu que nem todos haviam subido.
- Ué, Aluado, ainda aí? – perguntou ele ao ver Remo recostado no parapeito da janela, olhando para a rua.
- É. – respondeu Lupin, lacônico.
- Não vai subir? – perguntou Sirius.
- Você vai? – devolveu Remo.
- Ahn... não. Eu... tô esperando alguém. – mentiu o moreno.
- Eu também. – disse Lupin, surpreendendo o amigo.
- Quem?
- A Isa. Ela não voltou pra torre ainda. – disse o louro, fitando a entrada do salão.
- Tem certeza? Talvez ela já tenha subido. – sugeriu Sirius, tentando despistar o amigo.
- Não. A Lily também tava preocupada com o sumiço dela, disse que ela não tava no dormitório. – disse Remo – Além disso, eu tô aqui desde que... – ele hesitou – desde cedo, e ela não passou por aqui. Mas, e você?
- Eu o quê? – perguntou Sirius, pego de surpresa pela pergunta do outro.
- Tá esperando quem? – perguntou Remo – A Lene?
- Ahn... não, não. É... é uma garota aí. – mentiu o moreno – O que você quer com a Bell?
- Preciso falar com ela. – respondeu Lupin, ainda sem encarar o amigo.
- E não pode ser amanhã?
- Por que o interrogatório, Sirius? – perguntou Remo, finalmente fixando o olhar em Sirius – Ela contou pra você, não foi?
- Contou o quê? – perguntou Sirius, endireitando-se na poltrona.
- Nada. – respondeu Lupin, percebendo que falara demais.
- Contou o quê, Remo? – repetiu Sirius.
- Você viu ela? – perguntou Remo, ignorando o questionamento do amigo.
- Vi. – respondeu Sirius, contrariado – Ela não tava legal, parecia muito chateada com alguma coisa, e eu... espera aí! – interrompeu-se ele – Você por acaso sabe por que ela tava daquele jeito?
- Eu... sei. – respondeu Lupin, hesitante – É... é por minha causa.
- O quê? – perguntou Sirius, incrédulo – Como assim? Explica essa história direito, Remo.
- É por isso que eu tô aqui, – explicou Lupin – eu preciso me desculpar com a Isa. Eu... eu disse coisas horríveis pra ela, Sirius, não sei o que me deu, quando eu me dei conta, já tinha falado tudo, e...
- Tudo o quê? – perguntou Sirius, nervoso – O que você disse pra ela, Remo?
- Eu... eu acusei ela de um monte de coisas, por... por ela estar ficando com você, – confessou Remo – e... ah, sei lá! – exclamou ele, frustrado – Acho que... acho que tava com ciúme...
- Ciúme? – ecoou Sirius – Droga, Remo! Eu já disse pra você que eu e a Bell nunca ficamos de verdade. Droga, cara! – esbravejou ele, novamente – Você não viu como ela ficou! A Bell se faz de forte, mas não é. E o pior é que ela ainda tava protegendo você.
- Como assim? – perguntou Remo, sem entender.
- Ela não quis me dizer nada, claro, sabia que eu ia querer tirar satisfação com quem tivesse deixado ela daquele jeito. – contou Sirius.
- Onde ela tá, Sirius? – perguntou Lupin – Eu preciso falar com ela.
- Não. Hoje não. – disse Sirius – Vai dormir, vai, Aluado. Tenho que ir buscar ela, e eu prometi que não ia ter ninguém aqui.
- Mas... – Remo tentou contestar, mas foi logo interrompido.
- Amanhã, Aluado. – disse Sirius, severo – Se ela quiser falar com você, então vocês conversam. Mas amanhã.
Sem mais argumentos, Lupin aquiesceu, e subiu para o dormitório, enquanto Sirius voltava à Sala Precisa. Lá chegando, encontrou Isabelle dormindo a sono solto, em um pequeno sofá, no meio da sala. Mesmo com pena, aproximou-se devagar e chamou-a baixinho.
- Bell? Bell, acorda. – sussurrou ele – Já foi todo mundo dormir.
A garota abriu os olhos lentamente, acostumando-se com a claridade; ela parecia ter chorado antes de adormecer.
- Hmm... hã? Sirius... que horas são? – perguntou, sonolenta.
- Muitas. – respondeu o garoto – Tá tarde, e você tem que ir pro dormitório, senão a Lily acorda amanhã e não acha você... aí já viu.
- Aham. Ela é pior do que você. – disse ela, levantando-se devagar.
- É, pode ser. – concordou Sirius – Mas não pense que vai escapar. Amanhã nós vamos conversar.
No dia seguinte, Isabelle acordou cedo, e, aproveitando que as meninas ainda dormiam, dirigiu-se ao banheiro e tomou um demorado banho. Quando voltou ao quarto encontrou Lilian já acordada, sentada em sua cama.
- Bom dia, Lil. – cumprimentou ela.
- Bom dia. – respondeu a ruiva – Tá tudo bem com você?
- Tá. Por que não estaria? – perguntou Isabelle, já meio nervosa.
- Eu é que pergunto. – devolveu Lilian – Você passou por nós mais rápido que a vassoura do Tiago ontem e depois sumiu a noite toda! O que houve?
- Não foi nada, Lily. – mentiu a morena, indo até a cômoda para apanhar uma blusa.
- Não foi nada? – repetiu Lilian, sem acreditar na amiga – Ah, qual é, Isa?
- Eu... ah, tá bom, vai?! – rendeu-se a morena – Eu tive uma discussão feia com o Remo lá no salão comunal.
- Com o Remo? – perguntou Lilian, espantada – Mas por quê?
- Ele! Veio pra cima de mim, me enchendo de acusações, – contou a morena – falando absurdos sobre o Sirius e eu.
- Sobre... você e o Sirius? – repetiu Lilian, compreendendo o que havia acontecido.
- É! Ele me disse coisas horríveis, Lil, – disse Isabelle – coisas que eu jamais poderia imaginar que pudesse ouvir vindo dele.
- Ahn... e ele não... disse nada que pudesse justificar a atitude dele? – perguntou a ruiva – Nenhuma justificativa?
- Não. – respondeu Isabelle, franzindo o cenho – Por quê?
- Ahn... não, nada. – respondeu Lilian – “Se ele não falou nada, eu é que não vou falar...” – pensou a ruiva.
- Lily? Você sabe de alguma coisa que eu não sei? – perguntou Isabelle, desconfiada.
- Hã? Não, não, não sei de nada não. – negou Lilian, rapidamente – Ahn... vamos mudar de assunto?
- É, melhor mesmo. – concordou Isabelle – Não quero mesmo falar mais sobre isso.
Durante aquele dia inteiro Isabelle se manteve à maior distância possível de Remo, que na verdade, pouco ficou com os amigos, e sequer se atrevia a encarar a morena. Ela também evitou Sirius o máximo que pôde, tentando escapar, ou pelo menos adiar a conversa que ele prometera na noite anterior. Porém seu esforço não deu grande resultado. Depois de vê-la esquivar-se ao longo de todo o dia, o Maroto finalmente conseguiu encurralar a garota, no fim da última aula daquele dia, tirando-a do meio dos amigos e levando-a para conversarem.
- Bell? – chamou ele – Eu posso falar com você um instante?
- Ahn... tá. – concordou ela, meio contra a vontade – Tudo bem.
Os dois então deixaram os amigos para trás, e começaram a caminhar em direção a uma das saídas para os jardins.
- A gente precisa conversar sobre o que aconteceu ontem. – disse Sirius.
- Sirius, eu preferia não voltar a esse assunto. – disse Isabelle – Por favor.
- Eu já sei o que aconteceu. – disse ele, fazendo com que a garota parasse de andar abruptamente – O Remo me contou.
- Ele... contou? – perguntou ela, fitando-o, estupefata.
- Contou. Ele esperou por você até bem tarde no salão comunal ontem. – contou Sirius.
- Eu... não sei o que pensar, Sirius! – disse ela, chorosa – Ele me disse coisas horríveis.
- Eu sei. – concordou Sirius – Ele contou isso também.
- Eu pensei que ele fosse meu amigo... – disse a garota, chateada – Como ele pôde fazer aquilo comigo? Na frente de um monte de gente!
- Ele já tava nervoso, a lua começa hoje, você sabe. Além disso, ele... – ele então parou, como que medindo as palavras – ele também tava... ah, que coisa! Ele tava com ciúme.
- Ciúme? – ecoou Isabelle.
- Ah, Bell... o Remo gosta de você, – explicou Sirius – e não, não é só como amigo.
Isabelle abriu um sorriso nervoso.
- Não pode ser, Sirius. – disse ela, sem encarar o amigo – Você deve estar enganado.
- Não tô, não. – rebateu Sirius – Eu achei que você não ia acreditar, então trouxe isso. – disse ele, estendendo um pedaço de pergaminho para a garota.
- O que é isso? – perguntou Isabelle, olhando de Sirius para o pergaminho, e de volta para o amigo.
- Lê. – insistiu ele, colocando o papel na mão dela – Você vai entender.
“Eu não posso... eu não devo... mas sinto! Eu... eu acho que... estou apaixonado pela Isa. No início achei que estivesse confundindo sentimentos, gratidão com amor. Mas, pensando melhor... quando ela me toca, pra tratar dos meus ferimentos, é como se passasse uma corrente elétrica por todo o meu corpo. Tenho vontade de abraçá-la, de beijá-la, e dói ter que me conter.
Outro dia me peguei pensando que... que seria bom quando chegasse a lua cheia, pois ela iria pra Casa dos Gritos cuidar de mim, ficar comigo, só comigo. Não sei como pude pensar isso! Senti como se todo o meu sofrimento valesse a pena, somente porque depois ela estaria comigo. Estou perdido!
Não sei se me sinto triste ou aliviado por ela gostar do Sirius. Me dói pensar nela ao lado dele, dando os abraços e os beijos que eu desejo mas não ouso pedir. Mas, eu não seria capaz de pedir que ela ficasse ao meu lado, não do jeito que sou... Me odiaria para sempre se um dia viesse a machucá-la. Sangue maldito que corre nas minhas veias, que me impede de ter o amor dela...”
- Como você conseguiu isso? – perguntou a garota, ao terminar de ler o que Remo escrevera.
- Lembra daquela vez que você pegou um pergaminho que eu tava lendo... – perguntou Sirius – que nós saímos correndo, ou melhor, eu saí correndo castelo afora atrás de você...
- O dia das cócegas? – perguntou Isabelle.
- Isso. O dia das cócegas. – confirmou o garoto.
- Lembro, claro, eu quase morri. – lembrou a morena – Mas o que tem isso?
- Esse é o mesmo pergaminho. – explicou Sirius – Por isso você não podia ler.
- Você tá com esse pergaminho desde aquele dia? – perguntou Isabelle, espantada.
- Ahn... é. Eu... não consegui devolver. – disse Sirius, não muito convicto.
- Não conseguiu devolver? – perguntou a garota – Vocês dormem no mesmo dormitório, andam juntos o tempo todo e você não conseguiu devolver?
- Bem... não de uma forma que ele não soubesse que eu li. – respondeu Sirius.
- E por que você simplesmente não contou pra ele que leu?
- Ficou doida? – perguntou ele, como se ela houvesse dito algo absurdo – Ele ia me matar! Além disso...
- Além disso? – incentivou ela.
- Nada. – disse Sirius, já arrependido de ter começado a frase.
- Sirius...
- Ah, tá bom, vai?! Eu confesso. Tava guardando porque... porque pretendia fazer uma chantagem com ele. – confessou o moreno.
- Sirius! – exclamou Isabelle, exasperada.
- Era pro bem dele, Bell! – justificou Sirius – Se dependesse do Aluado, você nunca ia saber que ele gosta de você!
- Bem, ele... ele nunca disse nada, nem fez nada que me fizesse perceber alguma coisa. – admitiu a garota.
- Você nunca parou pra pensar em porquê ele não quis contar pra você quem era a “garota misteriosa”? – perguntou o moreno.
- Não, eu... não sei, Sirius! – respondeu Isabelle, nervosa. Ela não estava raciocinando muito bem, era muita informação pra uma conversa só – Pensei que talvez... talvez eu conhecesse a garota, e... ele podia ter medo de eu deixar escapar alguma coisa pra ela...
- Você sabe que o Remo confia totalmente em você, Bell. – retrucou Sirius.
- Eu... ah, Sirius! Vai saber? – disse a garota – Pessoas apaixonadas fazem coisas bem estúpidas às vezes.
- Bem... foi o que aconteceu ontem, não? – perguntou Sirius, uma sobrancelha erguida.
- É, acho que sim. – concordou Isabelle.
- Você sabe como ele é. – disse Sirius – Aquela história toda de “eu sou um monstro, ninguém pode me amar”. Eu sei, isso não justifica a atitude dele, ele agiu mal, mas já é uma explicação.
- É, deve ser. – concordou Isabelle, pensativa – Bom, vamos pra torre, o pessoal deve estar todo lá, e... eu também preciso de um favor seu.
- Qual?
- Quando a gente chegar eu explico. – disse ela, começando a andar em direção ao castelo.
Enquanto isso, na biblioteca, enquanto esperava pela hora de ir para a Casa dos Gritos, um amuado Remo olhava para o livro à sua frente, sem de fato ver as palavras nele escritas. Pensava em tudo o que havia acontecido na véspera e no que Sirius havia dito. Tinha feito uma grande besteira. Estava tão distraído que não percebeu Bárbara chegando à biblioteca e vindo em sua direção.
- Oi, Remo! – cumprimentou a garota, ao chegar.
- Hã? Ah, oi, Bárbara. – respondeu Remo, não muito animado.
- Tá tudo bem com você? – perguntou Bárbara, ao perceber a expressão desanimada do garoto.
- Tá, tá sim. Tudo bem. – mentiu Lupin.
- Não é o que parece... – comentou ela, fitando-o de cenho franzido.
- Ahn... são... são só uns problemas aí. – confessou ele.
- Posso ajudar? – ofereceu ela.
- Ah, não, não. Mas de toda forma, obrigado. – disse Lupin.
- Não há de quê. Eu... tô atrapalhando? – perguntou ela – Quer que eu vá embora?
- Não, pode ficar se quiser, e se não se incomodar com a minha cara. – respondeu Remo.
Bárbara então acomodou-se na cadeira do outro lado da mesa.
- Quer me contar o que houve? – perguntou ela – Às vezes desabafar faz bem.
- Eu... é que ontem eu briguei com uma pessoa... – contou Lupin – uma pessoa de quem gosto muito.
- Hmm... e agora está se sentindo mal por isso? – concluiu Bárbara, e ele assentiu.
- Bem... é. Foi estupidez minha, e agora... – ele suspirou – agora ela não quer falar comigo.
- Nossa! Isso é um problema. – comentou a corvinal.
- É, é um problema. – concordou Remo, tristemente.
- Eu... posso dar minha opinião? – perguntou a garota.
- Claro! – disse Remo.
- Por favor, não pense que eu sou uma intrometida, que fica dando palpite na vida dos outros, – pediu ela – mas é que eu fico triste em te ver assim. – Remo apenas assentiu com a cabeça – Eu acho que você tem que dar um tempo pra essa... pessoa, deixar a poeira abaixar. Daí depois procura ela pra conversar.
- Você acha? – perguntou Remo, em dúvida.
- Aham. Vocês ainda estão de cabeça quente, é melhor esperar um pouco, acalmar os ânimos. – aconselhou Bárbara – Aí depois vocês sentam, conversam, e se entendem.
- É, acho que você tem razão. – concordou Remo – Obrigado pelo conselho.
- De nada. Agora deixa eu ir nessa. – disse a garota, levantando-se – A gente se vê por aí!
- A gente se vê!
Na torre da Grifinória, após ir rapidamente até o dormitório, Isabelle voltou, carregando uma bolsa de pano. Sirius não a viu voltar, distraído em observar algo perto da lareira.
- Sirius? – chamou ela.
- Olha só aqueles dois. – comentou ele, apontando com a cabeça para Lilian e Tiago, que namoravam em um dos sofás do salão comunal. Os dois estavam no maior chamego, trocando beijos e pequenos carinhos – A ruiva pegou mesmo o Pontas de jeito.
- O que o amor não faz... – disse Isabelle, observando também o casal de amigos.
- Às vezes eu fico pensando... se se apaixonar é mesmo tão bom quanto dizem. – contou o Maroto.
- É bom se apaixonar por alguém – disse Isabelle, meio distraída – desde que esse alguém se apaixone pela gente também.
- Você já se apaixonou por alguém? – perguntou Sirius.
- Já. – respondeu a morena.
- E o que aconteceu?
- Nada. Foi uma paixonite boba. – contou Isabelle, obviamente omitindo o fato de que o objeto de tal paixonite fora o próprio Sirius – Eu gostava dele, ele não gostava de mim. Simples assim. – disse ela, dando de ombros.
- Eu nunca me apaixonei por ninguém. – disse Sirius.
- Talvez a pessoa certa não tenha aparecido. – sugeriu Isabelle.
- Talvez eu seja mesmo um Black e não saiba amar. – rebateu o garoto.
- Não é verdade, Sirius. – disse Isabelle, encarando-o – Acho que já discutimos sobre isso.
- É. Bom, o que você quer de mim? – perguntou ele mudando de assunto.
Isabelle entregou a Sirius a bolsa de pano, que retiniu quando ele a pegou das mãos da garota.
- O que tem aqui? – perguntou ele.
- São poções pros machucados do Remo. – respondeu Isabelle – Eu preciso que você vá lá no meu lugar amanhã.
- Apesar de tudo você ainda se preocupa com ele, né? – perguntou Sirius, esboçando um sorriso.
- Presta atenção, Sirius! – repreendeu ela – Essa esverdeada é pros cortes mais fundos; essa aqui é só para o rosto, ela faz as marcas sumirem.
- Ah, então é por isso que ele não tem ficado com tantas cicatrizes. – comentou Sirius.
- É, mas ela é difícil de preparar, e cada cozimento rende só um pouquinho. – disse a garota – Tá, continuando, e essa vermelhinha é pra ele tomar, antes de comer. É pra fortalecer. – terminou ela – Entendeu tudo?
- Aham. Verde pros cortes fundos, a pequena pro rosto e a vermelhinha é fortificante. – enumerou ele, e Isabelle assentiu.
- Isso. E não esquece de me trazer a bolsa e os frascos de volta. – recomendou ela.
- Tá bom. – disse o garoto, e quando ela voltou ao dormitório feminino, parou para pensar um instante.
“Bom, por um lado essa briga até veio a calhar. Pelo menos assim ela não vai com a gente hoje, e até a próxima lua já vai ter desistido dessa idéia maluca.”
N/A: Oi!!! Preciso dizer, pessoal do Clã Moriart, que comentou, MUITO OBRIGADA MESMO! Que bom que gostaram da fic. Eu tô começando a ler a "Amores" de vocês, e estou AMANDOOO!!! Eu estava pensando em deixar o FeB, mas o coment de vocês me deu novo fôlego. Valeu mesmo!
A todos, beijos, e até!
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