Planos frustrados



Na medida em que os dias iam passando, a preocupação com os exames ia aumentando. Os quintanistas estudavam desesperadamente para os N.O.M.’s, e os setimanistas se preparavam para enfrentar os N.I.E.M.’s. Lilian, Isabelle, Alice, Remo e Emmeline podiam ser encontrados freqüentemente estudando juntos na biblioteca, e carregavam livros aonde quer que fossem. Até mesmo Sirius e Tiago, que todos sabiam odiar estudar, podiam ser flagrados, ocasionalmente, concentrados na leitura de livros ou anotações de aula.
- Oi, minha ruivinha! – cumprimentou Tiago, chegando à mesa de estudos na biblioteca onde Lilian, Isabelle e Remo estudavam DCAT.
- Oi, meu amor! – respondeu Lilian, dando um beijo no namorado – Veio estudar comigo?
- Não. Vim te roubar um pouquinho. – respondeu ele, puxando uma cadeira e sentando ao lado da garota.
- Mas, Ti, eu tenho que revisar essas anotações e... – ela se interrompeu ao ver a expressão no rosto do garoto – ah, não faz essa cara de cachorro abandonado, Tiago!
- Ele anda demais com o Sirius. – brincou Isabelle.
- Eu não! Ultimamente você anda monopolizando o tempo livre do Almofadinhas. – rebateu Tiago, fazendo a morena corar.
- Parem de brigar, vocês dois! – repreendeu Lilian de brincadeira – Que coisa!
- Eu tô carente! – disse Tiago – Minha namorada malvada me trocou pelos livros. E eu também tô ansioso por causa do jogo!
- Ah, olha só a carinha dele... – disse a ruiva, rindo – Vem cá, eu dou um pouco de carinho pra você. – disse ela, se aproximando mais do namorado.
- Eu não posso, – disse Tiago, fingindo seriedade – minha namorada é muito ciumenta, sabe?
- Deixa que eu me entendo com ela depois. – retrucou Lilian, beijando-o de leve – Ahn... a gente estuda mais amanhã, pode ser? – perguntou ela para os demais, que concordaram.
A ruiva foi até a mesa de Madame Pince, registrar a retirada de um livro que iria levar para a torre, e Tiago ficou com os demais amigos na mesa de estudos.
- Pensei que você preferisse ficar sozinho antes do jogo, Tiago. – comentou Isabelle.
- Não. Às vezes, depois do jogo, eu costumo ficar um pouco no vestiário, esperar a adrenalina baixar. – explicou o Maroto – Mas antes não. Ficar sozinho me deixa ainda mais nervoso, preciso me distrair, pensar em outras coisas.
- Hmm...
- Pronto, voltei – anunciou Lilian, ao retornar até onde os amigos e o namorado estavam.
- Vamos, então? – convidou Tiago.
- Vamos. – respondeu ela – Vocês vão continuar, gente?
- Não sei... – disse Remo.
- Eu... – começou Isabelle, mas se interrompeu ao ver Sirius acenar-lhe da entrada da biblioteca – acho que não.
Ela foi junto com Tiago e Lilian até a porta, parando para falar com Sirius, enquanto o casal deixava a biblioteca. Da mesa, Remo observava os dois conversando.
- E aí, tá livre agora? – perguntou Sirius.
- Depende. – disse a morena – Por quê?
- Podemos ir treinar mais um pouco, já que mais tarde tem o jogo, e depois a festa... – disse ele.
- Se nós ganharmos, né? – disse Isabelle.
- Nós vamos ganhar. – retrucou Sirius, convicto – E então?
- Tá. – concordou a morena – Deixa eu só pegar minhas coisas. – disse ela, voltando à mesa de estudos e começando a juntar seu material.
Snape estivera observando Lilian estudar com os amigos, meio escondido entre as inúmeras estantes de livros da biblioteca, e dali assistiu todo o desenrolar da cena. Com uma expressão de desagrado, viu Tiago chegar à biblioteca, dirigir-se à mesa onde a ruiva estava e beijá-la, e depois de alguns minutos de conversa, tornar a sair, acompanhado pela garota.
O sonserino também ouviu alguma coisa do que foi dito pelos ocupantes da mesa, sobre o ciúme de Lilian, algo que ele já sabia, e também sobre o comportamento de Tiago em relação ao jogo. Ele continuou oculto entre as estantes ainda por alguns minutos, enquanto processava rapidamente o que havia escutado, e não muito depois que o casal de namorados e Isabelle haviam saído, deixou também a biblioteca.
A conversa do grupo de amigos, enquanto Lilian fora registrar seu livro, dera a ele a idéia perfeita de como vingar-se de Tiago, e se tudo corresse bem, livraria-se dele definitivamente. Tinha certeza de que Lilian não perdoaria uma traição vinda de Tiago. Se tudo desse certo, ele não apenas vingaria-se do Maroto, mas também o tiraria da vida de Lilian, e do seu caminho rumo ao coração da ruiva.
- Potter, Potter... vou matar dois pufosos com um feitiço só.
Agora ele precisava de alguém que lhe ajudasse a colocar o plano em prática, alguém que fizesse o trabalho sujo. Pensava nisso enquanto andava a passos largos pelos corredores da escola, até que lembrou de alguém que serviria perfeitamente para suas intenções. Julie lhe devia um favor, e chegara a hora de cobrar. Precisava encontrá-la, e rápido, pois estava quase na hora do jogo.
Enquanto Snape começava a pôr em prática seu pequeno plano de vingança, Lilian e Tiago, sem desconfiar do que lhes aguardava, namoravam um pouco, debaixo do carvalho, à beira do lago.
- Tá muito nervoso, amor? – perguntou a ruiva.
- Um pouco. – respondeu Tiago – O time da Corvinal tem treinado duro nos últimos dias, pelo que eu soube. – comentou ele.
- Mas vocês também têm, Tiago. – disse Lilian, tentando acalmá-lo – Fica tranqüilo, nós vamos ganhar.
- Talvez eu me acalme um pouco se ganhar um beijinho... – disse ele, maroto.
- Hmm... vai ganhar muitos, muitos beijinhos. – disse a ruiva, sorrindo e beijando o namorado.
Mesmo depois que os amigos deixaram a biblioteca, Remo continuou ainda sentado à mesa de estudos, com o olhar perdido ao longe. Assustou-se ao ouvir alguém falar, bem próximo a ele.
- Oi?!
Remo ergueu os olhos para encarar a garota morena, de traços orientais, que o fitava de volta com um sorriso tímido, parada ao lado da mesa.
- Oi.
- Você... se importa se eu me sentar aqui? – perguntou ela – As outras mesas estão cheias.
- Não, pode sentar. – disse Lupin, após percorrer o salão repleto de estudantes com o olhar – Parece que todos resolveram vir à biblioteca hoje. – comentou ele.
- É. – concordou a garota, largando sobre a mesa um enorme livro, pergaminho, pena e tinteiro – Bárbara Takemi, Corvinal. – disse ela, estendendo a mão para Remo.
- Muito prazer. – respondeu o garoto, apertando a mão dela – Remo Lupin, Grifinória.
- Eu sei. – disse Bárbara, esboçando um sorriso. Remo fitou-a por um instante, curioso. – Maroto. – explicou ela, e foi a vez dele sorrir.
Durante algum tempo, os dois dividiram a mesa em silêncio. Bárbara esteve bastante concentrada transcrevendo trechos do livro à sua frente para o pergaminho, enquanto Remo dedicava-se à leitura de um grosso livro de Transfiguração. Ele não percebeu a garota parar de escrever, olhar pensativa para os lados, suspirar e então voltar novamente sua atenção para o pergaminho. Mas ela logo parou de escrever, repetindo os mesmos gestos, antes de fitar o garoto com uma expressão de dúvida e, timidamente, chamar a atenção dele.
- Você é do último ano, certo? – perguntou Bárbara, fazendo Remo desviar o olhar do livro para fitá-la.
- Aham.
- Desculpe, sei que já vou estar abusando, mas... será que... será que você pode me ajudar numa coisa? – pediu ela, tímida.
- Se eu puder... – respondeu Remo.
- É que eu tenho que fazer uma redação de cinqüenta centímetros sobre lobisomens, mas até agora só consegui trinta, e já não sei mais o que escrever! – disse ela – Como você já deve ter estudado sobre isso, pensei que talvez... talvez pudesse me ajudar.
- Claro! Esse é um assunto que eu entendo bastante. – disse Lupin, tentando não soar muito amargo – Me deixa ver o que você já escreveu aí. – disse ele, pegando o pergaminho onde a garota estava escrevendo e começando a lê-lo.
Em outra parte do castelo, mais exatamente na Sala Precisa, Sirius e Isabelle estavam concentrados na Animagia.
- Ok, vamos tentar. – disse Sirius – Se concentra agora...
- Eu não sei se consigo, Sirius. – disse a garota, receosa.
- Claro que consegue! – incentivou ele – Não fica com medo, e tenta não se distrair. Só se concentra no que você tá fazendo. – instruiu.
- Tá.
Isabelle fechou os olhos, concentrando-se na transformação, os punhos cerrados. Ela então sentiu uma leve sensação de formigamento percorrendo todo seu corpo.
- Você conseguiu! – disse Sirius – Abre os olhos, Bell! Você conseguiu!
A garota abriu os olhos, mirando o enorme espelho que estava à sua frente, e se viu em um corpo que, ao mesmo tempo, era e não era o seu. O reflexo mostrava um gato negro, que a encarava de volta com um par de olhos muito azuis. A transformação, no entanto, durou pouco tempo.
- Ótimo, Bell! – disse Sirius, quando ela voltou à forma humana – Nada mau pra primeira tentativa.
- Eu consegui! – disse ela, sorrindo contente – Eu consegui!
- É, eu não disse que você conseguia? – disse Sirius, sorrindo também.
- Eu nem acredito que consegui! – disse a garota – Mas não deu pra manter por mais tempo...
- É, durou pouco porque você ainda não domina muito bem, – ele explicou – mas aos poucos vai melhorar. É só questão de um pouco de treino. Mas você se saiu muito bem.
- Obrigada. – disse Isabelle, corando um pouco – Ai, que fome!
- É normal, no início você se esforça muito, e gasta muita energia. – explicou Sirius – Isso também melhora com o tempo. Mas agora vamos indo? – convidou ele – Tá quase na hora do jogo, e nós ainda temos que pegar alguma coisa pra você comer.
- Vamos sim. – concordou Isabelle – Aposto que chego primeiro que você. – disse a garota, andando rápido em direção à porta.
- Ah, mas não chega mesmo! – ele respondeu, aceitando a provocação e indo atrás dela.
Os dois saíram correndo da sala, como sempre, desviando de alunos e fantasmas, e pegando atalhos para chegarem mais rápido à cozinha. Depois de pegarem alguns bolos de caldeirão com os elfos, rumaram, novamente correndo, para o campo de Quadribol, para torcer pelo time da Grifinória. Porém, no meio do caminho, Isabelle parou de correr, fazendo uma expressão de dor.
- Ai! – Isabelle parou de correr – Sirius, espera, ai!
- O que foi? – perguntou ele, voltando atrás.
- Meu pé. Não consigo apoiar no chão.
- Tá doendo muito? – perguntou ele, preocupado.
- Tá. Acho que torci. – disse ela, fazendo uma careta – Ai, droga!
- Vem, vou te levar até a Ala Hospitalar. – disse Sirius, aproximando-se.
- Ah, não! Você não vai usar aquele feitiço Mobilicorpus em mim. – disse ela, pulando para longe dele, em um pé só.
- Quem disse que era assim que eu ia levar você? – perguntou ele, e num movimento rápido, pegou-a no colo.
- Sirius Black, me põe no chão imediatamente! – disse Isabelle.
- Nem pensar, Isabelle Charmant. – respondeu ele, no mesmo tom – Só quando chegarmos à Ala Hospitalar.
Isabelle se debateu nos braços do garoto, mas foi em vão; Sirius era, obviamente, bem mais forte que ela. Assim, foi obrigada a se deixar carregar no colo até a Ala Hospitalar.
- Você é maluco! – disse ela, depois de desistir de se soltar.
- Fica quieta, senão eu me desconcentro e deixo você cair. – ameaçou ele.
- Tá, tá. Eu vou ficar bem quietinha.
Os dois seguiram, achando muita graça nas caras de espanto e raiva das diversas garotas que os viam passar pelos corredores.
- Rápido! – sibilou Sirius – Faz algum carinho em mim.
- O quê? – perguntou ela, confusa.
- Agora! – mandou ele.
Isabelle usou sua mão livre – a outra estava ao redor do pescoço de Sirius – para afastar uma mecha rebelde de cabelo que caíra no rosto dele. Sirius então falou baixinho para que somente ela ouvisse:
- Daqui a dez passos faz algum comentário que pareça mesmo coisa de namorados.
- Mas, Sirius... – tentou ela.
- Depois eu explico, Bell. Por favor! – pediu ele.
Isabelle então fez o que o amigo pedia. Ao passarem por um grupinho de meninas que os olhavam, indignadas, ela voltou a mexer nos cabelos dele e disse:
- Sirius, você podia cortar um pouco o seu cabelo. Fica caindo o tempo todo no seu rosto.
- Você sabe que eu gosto assim, Bell. – retrucou Sirius.
- Mas seria só um pouquinho! – insistiu Isabelle – Aí eu poderia ver melhor os seus olhos.
- Ver os meus olhos? – perguntou Sirius – A gente tem coisa bem melhor pra fazer quando tá junto... – disse ele, num tom malicioso.
- Pára, Sirius! Alguém pode ouvir... – ele beijou levemente os lábios dela, que conteve a surpresa e sorriu. Ao dobrar em outro corredor, saindo do campo de visão das garotas, os dois se encararam e caíram na risada. Sirius precisou colocar Isabelle no chão, ou a teria derrubado, de tanto que os dois riam.
- Tá. Agora dá pra me explicar o que foi aquilo? – perguntou Isabelle, depois que eles conseguiram parar de rir.
- Ahn... bom... – Sirius hesitou. Isabelle franziu o cenho – promete que não vai pirar comigo?
- Por quê? – perguntou ela, desconfiada – Sirius, o que tá acontecendo?
- Promete? – insistiu ele.
- Tá. Prometo. – disse ela, já meio nervosa – Mas fala logo.
- Você viu a ruiva, com cara de brava? – perguntou ele.
- Vi. – respondeu Isabelle – O que tem ela?
- Eu... disse pra ela que a gente tava junto. – ele falou tudo de uma só vez. Isabelle piscou, atordoada por um instante.
- Você fez o quê? – perguntou ela, depois que assimilou a informação.
- Você disse que não ia pirar... – disse ele, dando um passo para trás.
- Você ficou maluco, Sirius? – perguntou Isabelle.
- Ah, Isa, não é assim tão ruim, vai?! – disse ele, tentando acalmá-la. Não funcionou muito – Metade da escola já pensa isso mesmo. Só acham que o nosso relacionamento é um pouco... liberal.
- Eu não acredito que eu tô ouvindo isso. – disse ela, exasperada – Sirius, você tem idéia... eu levei séculos desmentindo essa história toda, e agora você vai lá e diz pra ela que nós estamos namorando? – ela suspirou e passou a mão pelos cabelos – Ah, Merlin... eu ainda mato você!
Depois da bronca, Sirius ainda carregou a garota até a Ala Hospitalar, onde rapidamente Madame Pomfrey “consertou” o tornozelo torcido dela em um piscar de olhos, e os dois foram então para o campo assistir ao jogo.
- Você tava falando sério, lá no corredor? – perguntou Sirius, enquanto os dois caminhavam em direção ao campo.
- Sobre o quê? – perguntou Isabelle, sem entender.
- Sobre o meu cabelo. – respondeu ele.
- Não. – disse a garota – Eu gosto assim.
- Mas não dá pra ver os meus olhos direito... – disse ele, imitando a voz da garota.
- Ah, cala a boca, Sirius! – repreendeu ela – E dá pra ver seus olhos muito bem. Eu consigo, pelo menos. – disse ela, dando de ombros, e os dois seguiram conversando e rindo até chegarem às arquibancadas.
Como Tiago havia previsto, o jogo realmente foi bastante complicado. O time da Corvinal estava perfeitamente entrosado e, na verdade, ficou à frente no placar durante boa parte do jogo, para o desespero de Tiago e dos demais grifinórios na arquibancada.
A situação se tornou crítica quando a Grifinória perdeu um de seus artilheiros, atingido por um balaço, e a Corvinal abriu cinqüenta pontos de vantagem. Como se isso não bastasse, o pomo parecia ter simplesmente desaparecido no ar. Mas então Tiago o viu, reluzindo, dourado, próximo ao aro esquerdo da Corvinal. Impulsionou velozmente sua vassoura na direção dos aros, apavorando o goleiro corvinal, e antes que o apanhador adversário se desse conta do que havia acontecido, o grifinório já estava com a pequena bolinha bem segura na mão direita, dando a vitória aos leões.
Seguindo as instruções de Snape, assim que o jogo acabou, a sonserina Julie Flanders se instalou num ponto bem próximo à entrada do vestiário da Grifinória, e quando viu o time deixando o lugar sem o apanhador, ela esgueirou-se para dentro. Tiago estava deitado em um dos longos bancos de madeira, de olhos fechados, e estava vestido apenas com uma calça de moletom escuro.
“Pensando bem, acho que não é assim tão ruim dever favores ao Snape, se eu puder pagá-los sempre assim...” – pensou a sonserina, maliciosa, fitando o peito nu do garoto.
- Belo jogo, Potter. – disse ela, finalmente.
Ao ouvir a voz da garota, Tiago levantou-se rapidamente, e fitou-a de cenho franzido.
- O que está fazendo aqui, Flanders? – perguntou ele, apanhando uma camiseta e vestindo-a.
- Ora, eu vim dar os parabéns pelo jogo. – disse ela, aproximando-se – Um passarinho me contou que você estaria aqui, sozinho...
Enquanto isso, no campo, perto das arquibancadas, Lilian procurava Tiago entre os jogadores que retornavam do vestiário.
- Ué, cadê o Tiago?
- No vestiário. – respondeu Sirius – Ele sempre fica um pouco lá, depois do jogo.
- Ai, droga! – resmungou Isabelle.
- O que foi, Isa? – perguntou Lilian, virando-se para a amiga.
- Esqueci minhas luvas na arquibancada. – respondeu a morena.
- Vamos voltar lá pra buscar. – disse Sirius – Vai lá no vestiário, Lily. Tenho certeza que o Tiago vai gostar de ver você.
- Tá. – concordou a ruiva – Até mais.
Lilian foi caminhando calmamente na direção do vestiário, para assegurar-se de que não seria surpreendida por uma visão indecente do namorado. Porém, chegando ao seu destino, ela teve uma surpresa muito pior. Quando alcançou a porta do vestiário, ouviu a voz de Tiago falando com alguém, mas não entendeu o que ele disse. Mas ao ouvir a pessoa responder, ela soube de uma coisa: havia uma garota com ele, dentro do vestiário. Escondido, Snape observava Lilian atentamente, e tinha um sorriso satisfeito nos lábios. No fim das contas, não precisara fazer nada para atrair a ruiva até o vestiário, ela fora até lá por conta própria.
Ora... – disse Julie, dentro do vestiário, aproximando-se ainda mais de Tiago – O que a Evans não vir não vai machucar...
Lilian entrou no vestiário furiosa, pronta para dar uma bela resposta para a sonserina, no mesmo instante em que a garota lascava um beijo em Tiago que, surpreso, não reagiu. A ruiva ficou paralisada por um instante, vendo a cena que se desenrolava à sua frente, e quando Tiago conseguiu se desvencilhar de Julie, pôde ver apenas um relance dos cabelos vermelhos de Lilian, antes que ela saísse correndo.
- Lily! – gritou ele – LILY!
Tiago desviou de Julie, que o fitava com um sorriso cínico, e saiu correndo atrás da ruiva, que ia na direção do castelo.
- Lily! – chamou ele, novamente – Lily, espera!
- Me deixa em paz! – gritou ela de volta.
- Lily, pára! Me escuta! – disse ele, parando diante dela, e impedindo-a de continuar.
- Não precisa me dizer nada, eu vi! – disse ela, tentando desviar dele. As lágrimas banhavam seu rosto.
- Mas você não sabe o que aconteceu! – Tiago se moveu para o lado, voltando a bloquear o caminho dela.
- Aconteceu que você beijou a Flanders! – gritou Lilian.
- Não! Ela me beijou! – defendeu-se ele.
- Ah, claro, e você, o pobre garotinho indefeso não conseguiu impedi-la. – retrucou a ruiva, sarcástica – Ah, por favor!
- Lily, por Merlin, eu não faria isso com você! – disse Tiago, exasperado – Eu amo você, droga!
- Pára! – disse ela, cobrindo as orelhas com as mãos – Eu não quero ouvir mais nada!
Enquanto os dois discutiam, Julie, que deixara o vestiário tão logo Tiago saíra correndo atrás de Lilian, se escondeu atrás de uma árvore, para assistir à briga junto com Snape, que tinha os olhos cravados no casal que discutia.
- Ah, você vai me ouvir sim! – disse Tiago, segurando o braço da ruiva quando ela tentou escapar novamente – Ainda que eu fosse um cretino, um cafajeste como você tá achando, você acredita mesmo que eu seria idiota a ponto de trair você ali, no vestiário, onde eu podia ser pego a qualquer momento? – perguntou ele, apelando para a famosa racionalidade da ruiva – Pensa, Lily!
A ruiva ficou parada, fitando-o em silêncio, como se estivesse processando o que ele havia dito. Então baixou o rosto, e respondeu em voz baixa.
- Não.
Tiago se aproximou mais dela, e ergueu seu rosto, fazendo-a encará-lo.
- Eu nunca faria isso com você, Lily. – ele respirava de forma irregular, buscando acalmar-se – Nunca.
- Jura? – perguntou Lilian com voz chorosa, fitando-o intensamente.
- Juro. Juro quantas vezes você quiser. – disse ele, encarando-a – Você é a única garota que eu quero.
- Me desculpa! – disse ela, encostando a testa no peito de Tiago, que a abraçou – Eu... eu não pensei, eu só... vocês estavam lá se beijando, e... – ela não conseguiu terminar, as lágrimas escorrendo pelo rosto delicado.
- Shhh... tudo bem. – disse Tiago, afagando os cabelos dela – Você tinha razão em ficar zangada, parecia mesmo que... bem, parecia verdade. Mas não é. Eu amo você. Só você.
- Eu também amo você... – disse ela, abraçando-o com força – Amo tanto você...
- Shhh... então pronto. Vem cá, limpa essas lágrimas, não gosto de ver você triste. – disse ele, secando as lágrimas do rosto da garota, e beijando-a de leve – Além disso, nós temos uma festa nos esperando. Vamos?
- Vamos. – respondeu ela, esboçando um sorriso.
E os dois saíram então, abraçados, em direção ao castelo, sob o olhar do casal de sonserinos ainda escondidos atrás da árvore.
- Inferno! – esbravejou Snape, furioso.
Enquanto isso, Isabelle e Sirius voltavam do campo de Quadribol, conversando e rindo.
- Caramba! Essa correria toda me deixou cansada! – reclamou a garota.
- Você tá muito mole! – provocou Sirius – Vou ter que aprontar com você mais vezes.
- Você que se atreva! Eu... – ela parou de falar ao ouvir uma voz zangada, vinda de algum lugar próximo a eles.
- Cala a boca, Flanders!
- Você ouviu? – perguntou Sirius.
- Ouvi. – confirmou Isabelle – Veio desse lado. – disse ela, começando a andar em direção às árvores à sua direita.
Os dois andaram apenas alguns metros, e avistaram Snape andando de um lado para o outro, parecendo muito irritado, enquanto Julie, encostada em uma das árvores, apenas fitava o colega com uma expressão de desdém.
- Calma, Snape! – dizia a sonserina, em tom levemente debochado – Só por que o seu plano brilhante falhou...
- Cala. A. boca. – rosnou o garoto, entredentes.
Snape estava simplesmente furioso. Seu plano que tinha tudo para dar certo acabara falhando, e Lilian continuava ao lado de Tiago. Precisava pensar mais da próxima vez.
“Maldito Potter! Ele é bom de lábia, só por isso se safou.” – pensava ele.
- Aquele idiota deu sorte dessa vez, mas a sorte pode virar. – disse Snape, enigmático, virando-se e começando a andar em direção ao castelo, com Julie em seu encalço.
- Ei, espera por mim! – gritou a garota, indo atrás do colega.
Sirius puxou Isabelle mais para perto de uma árvore, evitando que os dois fossem vistos pelo casal de sonserinos que se afastava andando rápido.
- Mas do que é que eles estavam falando? – perguntou Isabelle.
- Não faço idéia. – respondeu Sirius – Mas tenho certeza que coisa boa não é.
- Disso eu não tenho dúvida. – concordou a garota.
- Mas a gente pensa nisso depois. – disse Sirius, saindo de trás da árvore – A festa já deve ter começado.
- É, vamos nessa.

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