Prova de fogo
Depois da bagunça na sala de estar, todos foram para a cama, mas, como já estava virando hábito, assim que parou de ouvir barulho nos quartos ao lado, Isabelle deixou seu quarto e voltou para o andar de baixo. Passou pela porta dupla no corredor sem olhar para ela; não havia voltado ao estúdio desde o dia em que Sirius a surpreendera lá dentro.
Dirigiu-se à cozinha, onde pegou tudo o que precisava para fazer brigadeiro e, após misturar todos os ingredientes, levou a panela ao fogo.
- Hmm... brigadeiro... – disse Sirius, entrando na cozinha.
- Atraído pelo cheiro, é? – perguntou Isabelle, divertida.
- Senti sua falta ontem. – disse ele, se aproximando.
Isabelle deixou a panela por um instante, e fitou-o com a sobrancelha erguida.
- Minha ou do brigadeiro, Sirius?
- Dos dois. – confessou ele.
- Pega as colheres? – pediu a garota.
Sirius assentiu e foi até a gaveta de talheres. Isabelle tirou a panela do fogo e, com um feitiço, esfriou-a um pouco. Os dois foram para a sala de estar, e se acomodaram no sofá.
- Posso fazer uma pergunta?
- Mesmo se eu disser que não, você provavelmente vai fazê-la, Sirius. – disse Isabelle, tirando uma colherada de doce.
- Você geralmente me chama de Black, – disse ele, ignorando o tom dela – mas quando estamos sozinhos, como agora, me chama pelo primeiro nome. Por quê?
A garota fitou-o, parecendo confusa. O fato de ele estar encarando intensamente não ajudava muito.
- Não sei... na verdade, não tinha reparado nisso. – disse ela, com sinceridade – Realmente não sei, Si... rius.
Ambos riram. Isabelle corou.
- Você se incomoda? – perguntou ela – Se... eu chamar você assim?
- Não! Claro que não. – respondeu ele – Era só curiosidade, mesmo.
Eles continuaram conversando, sobretudo sobre o castigo de Remo, por ter perdido o jogo do blefe. Tocar nesse assunto deu a Sirius uma idéia, mas ele decidiu pensar um pouco mais, antes de falar com Isabelle a respeito.
- De onde saiu aquela camisola? – perguntou Sirius.
- É minha. – respondeu Isabelle – Ganhei de uma tia... ou prima do meu pai, sei lá.
- Sério? – perguntou ele, meio rindo.
- Aham. Era, segundo ela, pro meu enxoval de casamento. – explicou a garota – Foi na época em que o meu pai veio com a história de me casar com o Rabastan.
- Hmm...
- Daí, como o casamento não saiu, a camisola ficou aí, guardada. – ela completou a explicação.
- Bem, ela teve uma ótima utilidade hoje, afinal. – comentou Sirius.
- É, teve sim. – Isabelle concordou.
Quando acabaram de comer o brigadeiro, voltaram à cozinha, onde Sirius limpou a panela e as colheres, e os dois foram dormir.
Apesar de terem ido dormir bastante tarde, Sirius e Isabelle foram os primeiros a acordar na manhã seguinte. Ela pensava no que ele havia dito na noite anterior, e ele tinha decidido algo, e precisava falar com ela a respeito. Quando Sirius chegou à cozinha, Isabelle tomava seu café, enquanto lia o jornal.
- Bom dia, Charmant. – cumprimentou ele, com um sorriso, fazendo questão de frisar o sobrenome para provocar a garota..
- Bom dia, Black. – ela fez o mesmo.
Isabelle não pôde deixar de reparar que Sirius ficava bonito, mesmo logo depois de acordar, e com cara de sono.
“Pensando besteiras de novo, Isabelle?” – pensou ela, sacudindo levemente a cabeça, e virando a página do jornal.
Sirius serviu seu café, e pegou uma torrada. Precisava falar agora, antes dos outros chegarem, pois não sabia qual seria a reação dela.
- Eu... já sei o que quero por ter ganhado o jogo. – disse ele, enquanto enchia a torrada de geléia.
- É? O que é? – perguntou Isabelle, desviando a atenção do jornal e fitando-o.
- Quero que você toque piano.
- O quê? – a xícara de café parou a meio caminho da boca.
- Eu quero que você toque. – repetiu ele.
- Não. – disse ela, deixando o jornal e a xícara sobre a mesa e levantando-se.
- Você concordou com o jogo. – disse ele, imitando o que ela dissera a Remo na véspera.
- Você não pode me obrigar. – a voz dela tremia.
- Posso sim. – disse ele, com uma calma que não tinha – Eu posso pedir o que eu quiser.
- Não isso. Qualquer coisa menos isso.
- Bom dia! – cumprimentou Lilian animada, ao chegar à cozinha. Porém seu sorriso murchou ao ver as expressões nos rostos dos amigos – O que houve?
- Bom dia, gente! – disse Remo, chegando também – Que caras são essas?
- Eu não vou fazer isso. – sibilou Isabelle para Sirius, deixando a cozinha em seguida.
- Isa! – chamou Lilian – Sirius, o que houve? – perguntou ela, novamente.
- Eu escolhi meu prêmio por ter ganhado o jogo. – respondeu o garoto, ainda olhando para a porta, por onde Isabelle saíra.
- O que é? – perguntou Remo.
- Quero que ela toque piano. – respondeu Sirius.
- Piano? – ecoou Lupin.
Lilian fitou-o, estupefata.
- Sirius, eu... não sei como você sabe do piano, mas... ela não vai tocar. – disse a ruiva – O estúdio tá trancado, e...
“Estúdio? Piano?” – Remo olhava de um para o outro, sem entender nada.
- Ela vai, sim. Ela mesma sugeriu o jogo, Lily.
- Sirius, não faz isso... – pediu a garota.
- Bom dia! – disse Tiago, chegando à cozinha e dando um beijo em Lilian – O que houve com a Charmant? Passou por mim feito um raio na escada, nem me deu bom dia.
- Bom dia, Tiago. – respondeu Lilian, voltando-se novamente para Sirius – Sirius...
- Fica fria, Lily. – disse o garoto – Eu sei o que eu tô fazendo.
- Será que alguém pode me explicar o que tá acontecendo? – perguntou Remo.
- A Isa tocava piano, ela é uma excelente pianista, e era uma coisa que ela amava fazer. – explicou a ruiva – Mas depois da morte da Sra. Charmant, ela não quis mais tocar.
- E por que cargas d'água o Sirius quer forçar ela a tocar? – perguntou Remo, em tom de desaprovação.
- Já disse que sei o que eu tô fazendo. – respondeu Sirius, um tanto irritado.
- Eu vou lá falar com ela. – disse Lilian, levantando-se.
- Não. – disse Sirius, segurando o braço da garota – Deixa que eu vou.
E sob os olhares intrigados, de Remo e Tiago, e preocupado, de Lilian, Sirius deixou a cozinha para ir falar com Isabelle. Ele subiu as escadas devagar, dirigiu-se ao quarto da garota e bateu à porta.
- Charmant?
Ela não respondeu. Ele então abriu uma fresta na porta, e enfiou a cabeça por ela.
- Posso entrar?
Como não recebeu resposta novamente, Sirius entrou no quarto. Isabelle estava diante da janela, de costas para a porta.
- Isabelle?
- Qualquer coisa, Sirius. – disse ela, sem se mover – Pede qualquer coisa, menos isso.
- Mas é isso que eu quero. – respondeu ele.
- Eu não vou tocar. – disse ela, virando-se para encará-lo.
- Vai, sim. – disse ele, em tom de fim de conversa.
- Por que você tá fazendo isso?
- Por que você quer tocar. – disse ele – Eu vi como você olha pro piano.
Ela se aproximou do garoto, os olhos rasos de lágrimas.
- Eu não posso, Sirius... por favor...
Ele afastou uma mecha de cabelo dos olhos dela. Sentia-se mal por fazer aquilo, mas também sentia que era necessário.
- Ela gostava que você tocasse, não gostava? – Isabelle assentiu – Acha mesmo que ela não gostaria que você continuasse tocando? – perguntou ele – Acha que ela ficaria feliz em ver você deixar algo que ama por causa dela?
Ela negou com a cabeça.
- Não é fraqueza ficar triste, ou chorar. Vamos lá, você sabe que precisa fazer isso. – disse ele – Toca só pra mim, só um pouquinho. Se não for por mim, faz isso por ela.
A garota se deixou conduzir do quarto até o aparador, de onde o próprio Sirius tirou as chaves do estúdio e do piano. Ele abriu o estúdio e os dois entraram. Isabelle sentou-se no banquinho, e Sirius entregou-lhe a chave menor.
- Lily. – disse ela, baixinho – Chama a Lily.
- Eu chamo. Agora abre o piano.
Sirius foi até a cozinha, onde os demais amigos ainda estavam, discutindo sua atitude e a de Isabelle no café da manhã.
- ... e eu não sei o que o Almofadinhas...
- Lily? – chamou Sirius à porta – Pode vir aqui um instante?
- Claro. – respondeu a ruiva, levantando-se.
- O que... – começou Tiago, mas foi interrompido por Sirius.
- Depois, Pontas. – disse o moreno – Depois.
Os dois foram até o estúdio, e após entrarem, Sirius fechou a porta.
- Isa? – chamou Lilian, aproximando-se da amiga.
- Fica aqui? – perguntou a morena.
- Claro que sim. – respondeu a ruiva – Quer uma partitura?
- Não. – disse Isabelle – Não precisa.
E então ela começou a tocar. Sirius, que esperava uma música lenta e triste, foi surpreendido pelos acordes rápidos e até mesmo alegres da melodia, que se tornaram depois suaves e lentos, para em seguida recomeçarem intensos e vibrantes. A Apassionata. As lágrimas escorriam silenciosamente pelo rosto delicado de Isabelle, que mantinha os olhos fechados, enquanto os dedos moviam-se agilmente pelas teclas, sem a necessidade de uma partitura. Ela tocou durante um longo tempo, como que para compensar todo o tempo que ficara longe do piano, e quando parou, foi imediatamente abraçada por Lilian.
- Eu sinto tanta falta dela... – agora ela já não continha mais o choro, e Lilian tinha também os olhos rasos de lágrimas. Sirius, embora mais contido, também estava bastante tocado pela situação – Ela era tudo o que eu tinha...
- Calma, Isa, tá tudo bem... – dizia Lilian, acariciando os cabelos da amiga.
- Ei, olha pra mim. – disse Sirius, quando a garota se soltou de Lilian, erguendo o rosto dela e fazendo-a encará-lo – Lembra do que eu disse pra você? Você tem a gente, e nós nunca, ouviu bem, nunca vamos deixar você sozinha.
Lilian fitava Sirius de boca aberta, completamente surpresa. Demorou um pouco até ela finalmente reagir.
- Vem, Isa, vamos subir. – chamou a ruiva, levantando-se – Você precisa descansar.
- O estúdio... – murmurou Isabelle.
- Eu fecho tudo, – disse Sirius – pode deixar.
As duas garotas saíram do estúdio e subiram a escada, indo para o quarto de Isabelle. Lilian deu a ela uma poção calmante, e lhe fez companhia até que ela adormecesse. Depois, deixou o quarto. Sirius a esperava ao pé da escada.
- Como ela está? – perguntou ele.
- Mais calma. – respondeu a ruiva – Está dormindo agora, vai se sentir melhor quando acordar. O que foi aquilo, Sirius? – perguntou ela, referindo-se às atitudes do amigo naquela manhã.
- Não sei, Lily. – respondeu o garoto, sinceramente – Juro que não sei.
Depois do ocorrido durante o café, o clima na casa ficou um tanto pesado. Durante o resto da manhã todos estiveram muito sérios e falando pouco, o que se repetiu na hora do almoço. Depois de comer e organizar as coisas na cozinha, os quatro foram para a sala de estar, cada qual concentrado em seus próprios pensamentos. Sirius pensava se não havia passado do limite ao forçar Isabelle a tocar; Lilian se preocupava com como a amiga estaria ao acordar, e Tiago e Remo ainda tentavam assimilar tudo o que havia acontecido. A ruiva não ficou por muito tempo na sala, pois estava com um pouco de dor de cabeça. Ela foi para o seu quarto, não sem antes dar uma espiada em Isabelle, que dormia profundamente, tomou uma poção para a dor e deitou-se um pouco. Na sala, Tiago não agüentou ficar parado, vendo as caras desanimadas dos dois amigos, e propôs que eles fizessem alguma coisa, para desanuviar o ambiente.
- Ah, por Merlin! – disse Tiago – Eu não agüento mais ficar aqui vendo você com essas caras de velório!
- Então vai pra biblioteca, ora! – retrucou Sirius.
- Eu não vou nem responder, Almofadinhas. – rebateu o outro, fazendo uma careta – vamos lá, Marotos, melhorem essas caras! Vamos fazer alguma coisa.
- Não tô muito afim, Pontas. – disse Sirius, sem alterar a expressão do rosto.
- Além disso, fazer o quê? – perguntou Remo.
- Sei lá, qualquer coisa. – respondeu Tiago.
- Ah, ótima sugestão, Pontas. – disse Sirius, sarcástico – Quer saber? Na falta de uma idéia melhor, eu vou ficar por aqui mesmo.
- Ah, então fiquem os dois aí. – retrucou Tiago – Eu vou ver se acho alguma coisa doce lá na cozinha.
- É, vai lá. – disse Sirius – Se não achar nada, come uma colherada de açúcar.
- Ha, ha. Como você é engraçado, Almofadinhas. – disse Tiago, saindo da sala.
Isabelle dormiu praticamente o dia todo; quando acordou já estava anoitecendo. Ela levantou, tomou banho, vestiu-se e após prender os longos cabelos em uma trança frouxa, desceu. Os amigos estavam na sala de estar, Sirius assistindo televisão, Lilian e Tiago, namorando, e Remo, lendo um livro.
- Isa! – exclamou Lilian, ao vê-la chegar – Nem vi você chegar! Como se sente?
- Eu tô bem. – respondeu a morena, encarando Sirius, e depois fitando a amiga – Obrigada, Lil.
- Você deve estar com fome, dormiu o dia todo. – disse a ruiva – Como está sua cabeça?
- Dor sob controle. Sem febre. – respondeu a morena.
- Ótimo. Vem, vamos preparar alguma coisa pra comer. – disse Lilian, levando Isabelle pela mão na direção da cozinha
Sirius apenas observou-as conversando, e depois indo para a cozinha. As duas prepararam um jantar rápido, e quando Isabelle foi colocar a mesa, ele se aproximou.
- Você tá legal?
- Aham. – respondeu ela, concentrada em colocar os talheres.
- Ahn... desculpa o jeito como eu falei e agi, eu... – disse ele, muito rápido, fazendo com que ela erguesse o rosto e o fitasse, percebendo então que ele também não a encarava.
- Sirius? – chamou ela.
- ... acho que fui duro demais, e...
- Sirius!? – chamou ela, novamente, elevando o tom de voz.
- Hã? – ele parou de falar, aturdido, e a encarou.
- Tudo bem. Era o único método que ia funcionar comigo. – disse ela com um sorriso fraco. Ele sorriu de volta.
- Tem certeza?
Ela assentiu com a cabeça.
- Tenho. Tá tudo bem.
- Então... qual o problema com a sua cabeça? – perguntou Sirius, mais tranqüilo.
- Hã? – Isabelle fitou-o sem entender.
- Eu ouvi a Lily perguntando sobre a sua cabeça, logo que você acordou. – explicou ele.
- Ah, sim. – ela sorriu.
- Então? – insistiu ele – Ela me parece estar no mesmo lugar de sempre.
Isabelle riu.
- Sim, ela definitivamente está no lugar. – disse ela – O problema é interno, não externo.
- Como assim?
- Bom, é que... às vezes, quando eu fico muito nervosa, como hoje mais cedo, acontece de eu ter dores fortes de cabeça, – explicou ela – freqüentemente acompanhadas de febre alta.
- Ah... mas... você tá ok? – perguntou Sirius, preocupado.
- Aham. – assentiu Isabelle – Lily me deu um sossega leão bem rápido, então não deu tempo da crise começar. É que a última vez que eu tive uma crise de verdade, foi quando... minha mãe morreu, – explicou ela – daí como o que aconteceu hoje estava relacionado com ela, a Lily ficou com medo que acontecesse de novo.
- Ahn...
- Mas já passou, e está tudo bem. Vamos esquecer isso. – disse ela, sorrindo.
- É, acho que você tá certa. – concordou Sirius, devolvendo o sorriso – Como sempre.
- Nem sempre. – disse ela, e Sirius fitou-a, curioso – Acho que me enganei sobre você por muito tempo. Você é bem diferente de como eu o pintava.
- Você também é bem diferente do que eu pensava. Nós dois nos enganamos. Estamos quites. – disse ele, sorrindo novamente.
Os dois ouviram Lilian indo chamar Remo e Tiago na sala. Eles jantaram e depois voltaram para a sala, onde ficaram assistindo televisão. Lilian estava recostada no peito de Tiago, que lhe acariciava os cabelos, e foi a primeira a dormir. O garoto, então, pegou-a no colo delicadamente para levá-la até o quarto, mas no meio da escada a ruiva acordou.
- Hmm... hã? Tiago? O que você tá fazendo? – perguntou ela, confusa.
- Você pegou no sono, eu ia te pôr na cama. – explicou ele.
- Você podia ter me acordado, não precisava me carregar. – disse ela, encabulada.
- Ah, Lily, não estraga o momento! – disse Tiago, fingindo estar zangado – Eu tô tentando ser romântico.
- Tá bem, tá bem, meu cavalheiro. – disse ela, rindo e recostando-se novamente no peito do garoto.
Ele a levou até o quarto, e a colocou sobre a cama.
- Pronto! – disse ele, cobrindo-a – Agora um beijinho de boa noite – deu um selinho na ruiva – e pode ir dormir.
- Dormir aqui sozinha, e sem cafuné? – perguntou ela – Ah, não! Fica um pouquinho só aqui comigo.
- Quem é você e o que fez com a minha Lilian? – perguntou ele, brincalhão.
- Pára, Tiago! – disse ela, corando.
- Tá bem, mas só um pouquinho, hein? – disse ele, deitando junto com ela.
- Aham... – resmungou a ruiva, aninhando-se no peito dele novamente.
No andar de baixo, Remo, Sirius e Isabelle ainda assistiam televisão. Passavam notícias de acidentes sem explicação, e destruição em grandes áreas habitadas por trouxas.
- Que coisa horrível! – disse Isabelle.
- Isso com certeza foi causado por magia. – comentou Lupin.
- Talvez apareça alguma coisa no Profeta amanhã.
Algum tempo depois, os três também foram dormir, e surpreenderam-se ao ver Lilian e Tiago dormindo abraçados na cama da ruiva, ambos sorrindo. Isabelle foi para o seu quarto e, olhando pela janela, esperou. Ouviu Remo e Sirius conversando, depois as portas batendo. Após alguns minutos, saiu do quarto e foi até a cozinha. Antes, porém, pegou no aparador a chave do estúdio e abriu-o, depois guardou a chave novamente. Agora a porta dupla poderia voltar a ficar aberta.
Em seu quarto, Sirius decidia se iria ou não ao encontro de Isabelle na sala. Apesar do que ela dissera, ele ainda se sentia estranho em relação aos acontecimentos do dia. Não sabia por quê fizera aquilo. Apenas fez.
- Ah, dane-se. – disse para si mesmo – Eu adoro brigadeiro.
Ele desceu a escada, e viu que não havia luz na cozinha. Também percebeu que a porta do estúdio estava aberta; espiou lá dentro e ao ver que estava vazio, dirigiu-se à sala.
- Mais um minuto e eu ia começar a comer sozinha. – disse Isabelle ao vê-lo chegar.
- Cheguei bem na hora, então. – disse ele, pegando a colher que ela estendia em sua direção, e sentando-se.
- Posso perguntar uma coisa? – perguntou Isabelle.
Sirius deu de ombros, tirando uma grande colherada de brigadeiro da panela.
- Por que está aqui?
- Pra você não passar os feriados sozinha? – ele respondeu, displicente.
- Você entendeu, Sirius. – disse ela, encarando-o.
- Pela mesma razão que você me chama de Sirius quando estamos sozinhos. – respondeu ele, calmamente, encarando-a de volta.
Isabelle suspirou. Eles ficaram comendo em silêncio durante algum tempo, e então Sirius falou novamente.
- Talvez por que sejamos parecidos. Ovelhas brancas. – disse ele – É bom poder conversar com alguém que possa compreender o que eu sinto.
- Os Marotos não o compreendem? – perguntou ela.
- É diferente. Não costumo falar dessas coisas com eles, são minhas. – explicou o garoto – E eu... não sei explicar, mas você... – ele hesitou – me passa confiança.
- Difícil de admitir, hein? – perguntou ela, com um sorriso – Mas sou obrigada a dizer o mesmo. Não sei como, ou porquê, mas você me passa confiança também.
- É difícil admitir, realmente. – disse Sirius, com um sorriso fraco – Eu ainda sou um Black, não?
Isabelle fechou a cara e bufou.
- Pode ser um Black, mas não é como eles. – disse ela, para surpresa do garoto – Ovelha branca, lembra?
- Não sei. Às vezes tenho medo de, no fundo, ser mais parecido com eles do que gostaria... – retrucou ele, pensando no que havia acontecido pela manhã.
- Não é. Você já deu provas de que não é. – disse ela, com convicção – Eu sei que você não é.
- Como pode dizer isso? – perguntou ele – Como pode ter tanta certeza?
- Não sei. Mas tenho.
Um novo silêncio tomou conta da sala. Após aquela discussão, nenhum dos dois se atrevia a dizer nada, então, Isabelle levantou-se.
- É melhor irmos dormir. – disse ela – Amanhã voltamos pra escola, e temos que acordar cedo, senão vai ser aquela correria.
Com um “Evanesco!” ela despachou a louça suja para a cozinha.
- É, você tá certa. – disse Sirius, levantando-se também – Boa noite.
- Boa noite.
N/A: Autora deprimida, sem comentários por hoje. Fui!!!
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