HG voltou!
– Oi, oi, oi – cacarejou a mãe de Gina, beijando as bochechas macias e encovadas de cada Granger.
Beijo, beijo, beijo, beijo, beijo!
- Eu sabia que você não estava esperando Hermione, querida – sussurrou a sra. Granger num tom confidencial e preocupado. – Espero que esteja tudo bem.
– É claro que sim. Sim, tudo ótimo – disse a sra. Weasley. – Veio passar o fim de semana em casa, Hermone?
Hermione Granger sacudiu a cabeça e entregou seu casaco fashion Burberry para Esther, a empregada. Empurrou uma mecha castanha para trás da orelha e sorriu para a anfitriã.
Quando Hermone sorria, ela usava os olhos – aqueles olhos escuros, quase pretos. Era o tipo de sorriso que você podia tentar imitar, postando-se diante do espelho do banheiro feito uma idiota. O sorriso magnético e delicioso “dá pra parar de olhar pra mim, por favor” que as supermodelos passavam anos aperfeiçoando. Bem, Hermione sorria desse jeito sem precisar se esforçar.
– Não, eu estou aqui para... – começou Hermione.
A mãe de Hermione a interrompeu rapidamente.
– Hermione chegou à conclusão de que o internato não serve para ela – anunciou, ajeitando o cabelo casualmente, como se não fosse uma grande coisa. Ela era a versão meia-idade do cool total.
Toda a família Granger era assim. Todos eram altos, morenos, magros e super equilibrados, e nunca faziam nada – jogar tênis, chamar um táxi, comer espaguete, ir ao banheiro – sem perder a classe. Especialmente Hermione. Ela era dotada do tipo de classe que você nao tem como adquirir comprando a bolsa certa nem os jeans certos. Ela era a a garota que todo cara queria ter e toda garota queria ser.
– Hermione vai voltar para Constance amanhã – disse o sr. Granger, olhando a filha com os olhos azuis de aço e uma mistura meio coruja de orgulho e desaprovação que o deixavam mais assustador do que realmente era.
– Bem, Hermione. Você está adorável, querida. Gina ficará emocionada ao ver você – treinou a mãe de Gina.
- Olha quem fala. – Hermione abraçou-a. – Olha só como você está! E a casa está tão fantástica. Uau. Você tem obras de arte maravilhosas!
A Sra. Weasley sorriu, obviamente lisonjeada, e passou o braço pela cintura longa e delgada de Hermione.
- Querida, gostaria que você conhecesse meu amigo especial, Cyrus Rose – disse ela. – Cyrus, esta é Hermione.
- Fabulosa – retumbou Cyrus. Ele beijou Hermione no rosto e a abraçou um pouco apertado demais. – E ela abraça bem também – acrescentou Cyrus, dando tapinhas nos quadris de Hermione.
Hermione deu uma risadinha, mas não recuou. Tinha passado muito tempo na Europa nos últimos dois anos, e estava acostumada a ser abraçada por apalpadores europeus inofensivos e meio galinhas que a achavam completamente irresistível. Ela era um ímã total para apalpadores.
- Hermione e Gina são muito amigas, muito, muito amigas – explicou Molly Weasley a Cyrus. – Mas Hermione foi para Hanover Academy no inicio do segundo grau e passou o verão viajando. Foi tão difícil para a pobre Gina você ter ido embora naquele ano, Hermione – disse Molly, o olhar mais vago ainda. – Especialmente por causa do divórcio. Mas agora você voltou. Gina ficará tão satisfeita.
- Onde ela está? – perguntou Hermione ansiosa, sua pele clara e perfeita adquirindo um tom de rosa com a perspectiva de rever a velha amiga. Ela se ergueu na ponta dos pés e esticou o pescoço para procurar por Gina, mas logo se viu cercada pelos pais – os Malfoy, os Chang, os Bass e o sr. Lovegood – cada um deles beijando-a e desejando-lhe boas vindas.
Hermione abraçou-os rapidamente. Aquelas pessoas eram o lar para ela, que ficara fora por muito tempo. Mal podia esperar para sua vida voltar ao que era. Ela e Gina iriam a escola juntas, passariam na Double Photography do Sheep Meadow no Central Park, deitariam de costas, tirariam retratos dos pombos-correios e das nuvens, fumariam e beberiam Coca-Cola e se sentiriam artistas da resistência. Tomariam coquetéis no Star Lounge no Tribeca Star Hotel novamente, que sempre se transformavam em festinhas prolongadas, porque elas ficavam bêbadas demais para ir para casa, então passavam a noite no quarto que a família de Ronald Bass tinha ali. Elas se sentariam na cama de baldaquino de Gina e veriam filmes de Audrey Hupburn, usando lingeries finas e bebendo gim e suco de lima. Conversariam sobre as provas de latim como sempre fizeram – amo, amas, amat ainda estavam tatuadas na face interna do cotovelo de Hermione com marcador permanente (obrigada, meu Deus, pelas mangas três-quartos!). Elas iriam de carro a propriedade dos pais de Hermione em Ridgefield, Connecticut, na velha station waqgon Buick do zelador, cantando os hinos idiotas que repetiam na escola e agindo com damas loucas. Fariam xixi na escada de arenito da entrada da casa de seus colegas e depois tocariam a campainha e fugiriam correndo. Levariam o irmãozinho de Gina, Tyler, ao Lower East Side e o deixariam ali para ver quanto tempo ele levaria para achar o caminho de casa – na verdade, uma obra de caridade, porque Tyler agora era o garoto da St. George’s que mais conhecia as ruas. Sairiam para dançar com um grupo enorme e periam uns cinco quilos suando nas calças de couro. Como se precisassem perder peso.
Elas voltariam a ter a velha e fabulosa identidade normal, como sempre foi. Hermione mal podia esperar.
- Peguei uma bebida para você – disse Ronald Bass, abrindo caminho pelo grupo de pais a cotoveladas e estendendo um copo de uísque para Hermione. – Bem-vinda de volta – acrescentou ele, inclinando-se para beijar-lhe o rosto e errando de propósito para que seus lábios pousassem na boca de Hermione.
- Você não mudou nada. – Hermione aceitou a bebida. Ela tomou um longo gole. – E ai, sentiu minha falta?
- Sua falta? A pergunta é você sentiu a minha falta? Qual é, gata, fala ai. O que está fazendo de volta? O que aconteceu? Você tem namorado?
- Ih, sem essa, Rony – disse Hermione, apertando a mão dele. – Você sabe que eu voltei porque queria você desesperadamente. Eu sempre quis você.
Ronald deu um passo para trás de pigarreou, o rosto em brasa. Ela o pegou de guarda baixa, uma proeza rara.
- Bem, estou com a agenda lotada este mês, mas posso colocá-la na lista de espera – retrucou Ronald meio amuado, tentando recuperar a compostura.
Mas Hermione não o estava ouvindo mais. Seus olhos castanhos varriam a sala, procurando pelas duas pessoas que ela mais queria ver, Gina e Draco.
Finalmente Hermione os encontrou. Draco estava na soleira da porta do corredor e Gina parada bem atrás dele, a cabeça inclinada, remexendo os botões do seu cardigã preto. Draco olhava diretamente pra Hermione; quando seus olhares se encontraram, Draco mordeu o lábio inferior do jeito que sempre fazia quando ficava envergonhado. E depois sorriu.
Aquele sorriso. Aqueles olhos. Aquele rosto.
- Vem cá – gritou Hermione acenando. Seu coração se acelerou quando Draco começou a andar na direção dela. Ele estava melhor do que ela se lembrava, muito melhor.
O coração de Draco batia mais rápido do que o dela.
- Ei e ai – murmurou Hermione quando Draco a abraçou. O cheiro dele era como sempre foi. O cheiro do mais limpo, o mais delicioso garoto da face da Terra. Lágrimas vieram aos olhos de Hermione e ela apertou o rosto contra o peito de Draco. Agora ela realmente estava em casa.
As bochechas de Draco ficaram cor-de-rosa. Calma, disse a si mesmo. Mas não conseguia se acalmar. Queria pegá-la, girar com ela, beijar seu rosto repetidamente. “Eu te amo!”, ele queria gritar, mas não o fez. Não podia.
Draco era filho único de um capitão da marinha e de uma anfitriã da sociedade francesa. Seu pai era um velejador máster e era extremamente bonito, mas meio fraquinho no quesito abraços. A mãe era o posto completo, sempre adulando Draco, com uma tendência a ter crises emocionais durante as quais se trancava na cabine com uma garrafa de champanha e ligava para a irmã em Mônaco. O pobre do Draco estava sempre prestes a dizer como realmente se sentia, mas não queria fazer uma cena ou dizer alguma coisa de que pudesse se arrepender depois. Em vez disso, ele ficava em silêncio e deixava que outros tocassem o barco, enquanto se deitava e desfrutava o balançar estável das ondas.
Ele podia parecer meio galinha, mas na verdade era um banana.
- E ai, o que andou fazendo? – perguntou Draco, tentando respirar normalmente. – A gente sentiu saudades de você.
Notou que ele não teve coragem de dizer “Eu senti saudades de você”?
- O que eu andei fazendo? – repetiu Hermione. Ela deu uma risadinha. – Nem imagina Draco. Eu fui tão, tão má!
Draco cerrou os punhos involuntariamente. Ah, cara, como ele sentiu a falta dela. Ignorado como sempre, Ronald se esquivou de Draco e Hermione e cruzou a sala na direção de Gina, que mais uma vez estava de pé com Luna e Cho.
- Aposto mil pratas como ela foi expulsa - comentou Ronald. – Ela não parece ferrada? Acho que ela se ferrou totalmente. Vai ver tem alguma coisa de prostituição rolando por ai. A Alegre Madame de Hanover Academy – acrescentou ele, rindo de sua piada imbecil.
- Também acho que ela está meio chapada – disse Luna. – Talvez seja heroína.
- Ou algum remédio – sugeriu Cho. – Tipo Valium ou Prozac. Vai ver ela ficou totalmente biruta.
- Ela pode fazer seu próprio ecstasy – concordou Luna. – Ela sempre foi boa em ciências.
- Ouvi dizer que ela aiu a uma espécie de seita – sugeriu Ronald. – Tipo assim, ela levou uma lavagem cerebral e agora só consegue pensar em sexo, e ela gosta, faz isso o tempo todo.
Quando é que esse jantar vai ficar pronto?, perguntou-se Gina, desligando-se das especulações ridículas dos amigos.
Gina tinha se esquecido de como o cabelo de Hermione era bonito. Como a pele dela era perfeita. Como suas pernas eram longas e finas. Como os olhos de Draco ficavam quando olhavam para ela – como se não quisesse piscar nunca. Ele nunca olhou para Gina daquele jeito.
- Ei, Gina, Hermione deve ter contado a você que ela estava voltando – disse Ronald. – Diz ai, vai. Qual é a parada?
Gina o olhou confusa, sua carinha de raposa ficando rubra. A verdade era que ela não falava com Hermione havia mais de um ano. No começo quando Hermione tinha ido para o internato depois do primeiro ano, Gina realmente sentiu falta dela. Mas logo ficou evidente que era mais fácil brilhar sem Hermione por perto. De repente Gina era a mais bonita, a mais inteligente, a mais bacana, a mais espetacular da sala. Ela se tornou a garota que atría os olhares de todos. Então Gina parou de sentir muita falta de Hermione. Ela se sentia meio culpada por não manter contato, mas até isso passou quando ela recebeu e-mails rápidos e impessoais de Gina, descrevendo como estava se divertindo no internato.
"Fui de carona a Vermont para fazer snowboarding e passei a noite dançando com uns caras demais!"
"Uma noite doidaça a de ontem. Droga, minha cabeça está estourando!"
As últimas notícias de que Gina recebeu vieram num postal no verão passado:
"Gina: Dezessete anos no Dia da Bastilha. A França tá fervendo!!! Saudades!!! Beijos, Hermione" era tudo o que dizia.
Gina tinha enfiado o postal na velha caixa de sapatos Frandi com todas as outras lembranças de sua amizade. Uma amizade que ela teria acalentado para sempre, mas que agora achava que tinha acabado.
Hermione estava de volta. A tampa estava fora da caixa de sapatos, e tudo voltaria a ser como era antes de ela partir. Como sempre, seria Hermione e Gina, Gina e Hermione, com Gina fazendo o papel da melhor amiga mais baixa, mais gorda e menos espirituosa da über-gata morena Hermione Granger.
Ou não. Não se Gina pudesse evitar.
- Você deve estar tão empolgada com a Hermione aqui – piou Cho. Mas, quando vira a cara de Gina, mudou de tom. - É claro que a Constance vai aceitá-la de volta. É tão típico. Eles estão desesperados demais para per qualquer uma de nós. – Cho baixou o tom de voz. – Ouvi dizer que na primavera passada Hermione ficou com um universitário em New Hampshire. Ela fez um aborto – acrescentou ela.
- Aposto que não foi o primeiro – disse Ronald – Olha só pra ela.
E eles olharam. Os quatro olharam pra Hermione, que ainda estava conversando com Draco. Ronald viu a garota com quem ele queria dormir desde que se lembrava de querer dormir com garotas - na primeira série, talvez? Luna viu a garota que ela imitava desde que começou a comprar as próprias roupas - na terceira série? Cho viu a garota que conseguiu representar um anjo com asas de penas de verdade no presépio de Natal da igreja Heavenly Rest, enquanto Cho era um pastor humilde e teve de usar um saco de aniagem. De novo na terceira série. Mas Luna e Cho viram a garota que inevitavelmente roubaria Gina delas e as deixaria sozinhas uma com a outra, o que era deprimente demais até de se pensar. E Gina via Hermione, sua melhor amiga, a garota que sempre amou e odiou. A garota com quem nunca conseguiu se equiparar e a quem tentou tanto substituir. A garota que ela queria que todos esquecessem.
Por uns dez segundos Gina pensou em contar a verdade aos amigos: ela não sabia que Hermione estava voltando. Mas como ficaria? Achavam que Gina era antenada, e como é que ia parecer antenada se admitisse que não sabia de nada sobre a volta de Hemione, enquanto os amigos pareciam saber tanto? Gina não podia ficar parada ali, sem dizer nada. Isso seria óbvio demais. Ela sempre tinha algo a dizer. Além disso, quem é que vai querer ouvir a verdade quando a verdade era tão incrivelmente chata? Gina vivia para o drama. Esta era sua chance.
Gina limpou a garganta.
- Tudo aconteceu muito rápido... de repente - começou ela num tom enigmático.
Ela olhou para baixo e remexeu no pequeno anel de rubi no dedo médio da mão direita. O filme estava rodando e Gina estava esquentando.
- Acho que Hermione se atrapalhou toda. Mas prometi a ela que não contaria nada a ninguém - acrescentou ela.
Seus amigos assentiram como se entendessem totalmente. Parecia sério e picante e, o melhor de tudo, parecia que Hermione havia confidenciado tudo a Gina. Se Gina pudesse escrever o roteiro do resto do filme, ela certamente terminaria com o garoto. E Hermione podia fazer o papel da garota que cai do penhasco, arrebenta o crânio em uma pedra, é devorada viva por arbutres famintos e nunca mais é vista novamente.
- Abre o olho, Gina - alertou Ronald, apontando com a cabeça para Hermione e Draco, que ainda estavam conversando em voz baixa perto do bar, sem desviar os olhos um do outro.
- Parece que Hermione já achou a próxima vítima.
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