Capítulo 4



Draco começou a cantar enquanto trabalhava, fazendo um dueto com Aretha Franklin. Atrás dele, a janela aberta revelava um belo dia ensolarado, vez por outra assaltado pela leve brisa fria de abril e permeado pelo inevitável ruído das ruas de Nova York.

No entanto, o sol do lado de fora não estava menos radiante do que o humor de Hermione. Virando-se para o espelho preso à parede, a seu lado esquerdo, tentou imitar uma expressão de espanto que pudesse ajudá-la na caracterização de sua personagem. Porém, tudo que conseguiu fazer foi sorrir. Sorrir com plena satisfação.

Já havia sido beijada antes, claro. E também fora envolvida pelos braços de um homem. Entretanto, todas as experiências que tivera se comparavam a um mero "incendiozinho" local, se comparadas à explosão vulcânica que fora se ver nos braços de Draco.

Na noite anterior permanecera com aquela deliciosa sensação de zonzeira durante horas. Adorara cada um dos momentos daquela espécie de arrebatamento de sensualidade feminina. Poderia haver algo mais incrível do que sentir-se vulnerável e forte, boba e sábia, confusa e esclarecida, tudo ao mesmo tempo?

E tudo que precisava fazer para sentir aquilo era fechar os olhos e deixar sua mente devanear, livre de qualquer censura. Imaginou o que ele estaria pensando, o que estaria sentindo. Ninguém conseguiria ficar indiferente a um experiência daquela... magnitude. Um homem não poderia beijar uma mulher daquela maneira e não sofrer... digamos... algum efeito colateral.

Sofrer até que era uma palavra adequada, concluiu ela, pensando nas conseqüências em seu próprio corpo. Riu, suspirou alto, então voltou a se concentrar no trabalho, cantando com Aretha Franklin as maravilhas de se sentir like a natural woman. Sim, estava mesmo se sentindo como uma mulher natural. Natural até demais. O beijo de Malfoy deixara um rastro de chama em seu corpo e, embora aquilo fosse delicioso, era também assustador ao mesmo tempo.

- Pelo amor de Deus, Mione, está muito frio aqui!

Hermione levantou a vista.

- Oi, Gina. Olá, meu amor! - acrescentou, olhando para Tiago

O bebê olhou para ela com um sorriso sonolento, enquanto Gina se aproximava da janela, mantendo-o apoiado sobre seu quadril.

- Está sentada diante de uma janela aberta, e a temperatura não deve estar mais do que quinze graus lá fora. - Gina fechou o vidro, com um arrepio de frio.

- Eu estava sentindo um pouco de calor - declarou Hermione, deixando o lápis de lado para apertar a bochecha rechonchuda de Tiago.

- É milagroso, não, que os homens se transformem dessa maneira? Nascem como bebês lindinhos assim e depois... Uau! Transformam-se naquilo tudo.

Gina franziu o cenho, olhando a amiga com ar de curiosidade.

- Está com uma expressão meio engraçada - disse ela. - Sente alguma dor? - Pousou a mão sobre a testa de Hermione, em uma atitude maternal.

- Não está com febre. Agora mostre a língua.

Hermione obedeceu, ficando vesga ao mesmo tempo só para fazer Tiago cair na gargalhada.

- Não estou doente. Estou é em estado de graça.

- Hum... - Gina apertou os lábios, não parecendo muito convencida. - Vou pôr Tiago em sua cama para tirar uma soneca. Ele está até zonzo de sono. Depois prepararei um café para nós duas e quero que me conte o que está acontecendo.

- Claro.

Voltando a adquirir o mesmo ar sonhador, Hermione pegou o lápis novamente e desenhou pequenos corações sobre o papel. Então se empolgou e começou a desenhar outros maiores, esboçando o rosto de Malfoy dentro de um deles.

Sim, ele tinha traços fortes e marcantes, mas que se amenizavam quando sorria. Ela adorava fazê-lo sorrir. Aliás, fazer as pessoas sorrirem era um de seus talentos.

Ficaria mais tranqüila quando conseguisse arranjar um emprego para ele. Depois providenciaria um sofá para aquela sala vazia, mas isso não seria difícil com seus contatos. Tinha muitos amigos que poderiam ajudá-la a encontrar móveis práticos e por um bom preço. Queria ver Malfoy instalado com mais conforto, só isso. Claro que não havia nenhum interesse de sua parte, afinal, faria isso por qualquer pessoa. Ainda mais por um vizinho maravilhoso que beijava como um deus saído diretamente do sonho de toda mulher.

Satisfeita com seus planos, cruzou as pernas sob si e voltou a se concentrar no trabalho.

Depois de deixar Tiago no quarto, dormindo feito um anjinho, Gina desceu para o andar de baixo e abaixou o volume do aparelho de som. Então, sentindo-se como se estivesse em sua própria casa, foi até a cozinha e preparou o café. Subiu a escada pouco depois, carregando uma bandeja com duas xícaras de café e alguns biscoitos. Aquele pequeno ritual matinal era um de seus momentos preferidos do dia.

Considerava Hermione como uma irmã e por isso fazia de tudo para vê-la feliz. De fato, não se dava tão bem nem com as próprias irmãs, que só sabiam viver reclamando da vida e dos maridos.

Deixando a bandeja sobre a mesa, entregou uma xícara de café a Hermione.

- Obrigada, Gina.

- Fez uma ótima tira esta manhã. Não acredito que Emily esteja disfarçada com um casaco e um chapéu, seguindo o sr. Misterioso por todo o distrito de SoHo. De onde ela tirou essa idéia?

- Você sabe que ela é uma criatura impulsiva e dramática. - Hermione provou um biscoito. Era comum as duas se referirem a Emily e aos outros personagens como se fossem pessoas de verdade.

- E abelhuda também. Ela simplesmente precisava saber.

- E quanto a você? Já descobriu alguma coisa sobre nosso sr. Misterioso?

- Sim - respondeu Hermione, com um suspiro. - O nome dele é Malfoy.

- Também ouvi dizer isso. - Instantaneamente alerta, Gina apontou o dedo para a amiga.

- Ei, você suspirou!

- Não, só respirei mais fundo.

- Não, você suspirou. E por qual motivo?

- Bem, na verdade... - Hermione estava morrendo de vontade de falar sobre aquilo.

- Nós... acabamos saindo ontem à noite.

- Vocês saíram? Como um casal? - Gina puxou a cadeira mais para perto da amiga no mesmo instante. - Onde? Como? Quando? Detalhes, Mione. Quero detalhes.

- Está bem, então. - Hermione virou mais a cadeira, até ficarem uma de frente para a outra. - Você sabe que a sra. Figg está sempre querendo que eu saia com o sobrinho dela, não é?

- Ah, de novo?! - Gina revirou os olhos. - Será possível que ela não vê que vocês não têm nada a ver um com o outro?

O imenso carinho que Hermione sentia pela amiga foi o que a impediu de dizer que aquilo também servia para ela e Frank.

- Bem, é que a sra. Figg adora o sobrinho. De qualquer modo, ela arranjou outro encontro entre nós ontem à noite, só que eu não estava com a mínima vontade de ir. Mas você terá de jurar que não vai dizer isso a ninguém.

- Exceto Harry.

- Tudo bem. Maridos estão excluídos do voto de silêncio nesse caso. Bem, o fato é que eu disse a ela que já tinha um encontro... com Malfoy.

- Você tinha um encontro com ele?

- Não, eu só disse isso porque fiquei desesperada. E você sabe como começo a gaguejar quando minto.

- Deveria praticar mais. - Gina comeu outro biscoito.

- Talvez. Mas assim que acabei de dizer isso, percebi que ela iria ficar olhando pela janela para se certificar de que eu ia mesmo sair com ele, por isso tive de apelar e fazer uma espécie de acordo com Malfoy. Dei cem dólares a ele e lhe paguei um jantar.

- Você pagou a ele?! - Gina arregalou os olhos, mas estreitou-os em seguida, com ar especulativo. - Mas isso é brilhante. Se eu houvesse tido essa idéia na época da faculdade, quando não estava namorando ninguém e nem tinha com quem sair, a história teria sido outra, minha amiga. Como se decidiu pela quantia de cem dólares?

- Achei que parecia justo. Ele não está trabalhando regularmente, e achei que ficaria agradecido pelo dinheiro e pela refeição. Até que nos divertimos - acrescentou, com um sorriso. – Foi realmente muito bom. Só espaguete e boa conversa. Bem, na verdade, o encontro tendeu mais para o monólogo, porque Malfoy não é muito de falar.

- Malfoy - Gina repetiu o nome devagar. - Ainda soa misterioso. Não sabe o primeiro nome dele?

- Ele não o disse em nenhum momento e nem me ocorreu perguntar. De qualquer maneira, é melhor assim. Acho que fui meio precipitada, Gina. Ele estava parecendo relaxado, quase amigável, então vi o carro de Johnny e entrei em pânico. Imaginei que a sra. Figg não iria me deixar em paz se eu não demonstrasse com clareza que estava interessada em outra pessoa. Então fiz outro acordo com Malfoy e ofereci a ele cinqüenta dólares por um beijo.

Gina apertou os lábios, antes de tomar outro gole de café.

- Deveria ter deixado claro que esse valor estava incluído nos cem dólares - disse ela.

- Não houve tempo - justificou Hermione. - Já havíamos definido o acordo e não havia mais tempo para renegociar. A sra. Figg estava nos espiando através da janela. Então ele me beijou bem ali, na calçada do prédio.

- Uau! - Gina comeu outro biscoito. - E qual movimento de impacto ele usou?

- Ele me puxou de uma vez e colou meu corpo ao dele.

- Minha nossa! A puxada súbita. Oh, adoro esse movimento.

- Então fiquei lá, em meio aos braços dele e mal conseguindo me equilibrar na ponta dos pés, porque ele é alto.

- Sim, ele é bem alto - anuiu Gina, ainda mastigando o biscoito. - E atlético também.

- Realmente atlético, minha amiga. Quero dizer, seus músculos parecem rocha.

- Oh, Deus. - Gina lambeu os dedos, sem desviar os olhos da amiga. - Então você estava lá, na ponta dos pés. E depois?

- Bem, ele... se inclinou.

- Ah, meu Deus... Uma puxada súbita com inclinação! - Em sua empolgação, Gina quase derrubou o outro biscoito que havia acabado de pegar. - Um movimento clássico. Quase nenhum homem utiliza isso hoje em dia, minha cara. Harry fez isso em nosso sexto encontro, e foi assim que terminamos no meu apartamento, experimentando a comida de um fast food chinês, na cama.

- Pois Malfoy agiu como um perito no assunto. Então, quando eu estava sentindo a cabeça girar, ele se afastou de repente e simplesmente olhou para mim.

- Homens - disse Gina, com ar de censura.

- E fez tudo novamente! - festejou Hermione.

- Um duplo?! Não acredito! - Gina segurou a mão da amiga, quase dando um-pulo de alegria. - Você recebeu um duplo, Mione! Há mulheres que passam a vida inteira sem sequer saber o que é isso! Sonham com isso, claro, mas nunca passam pela emoção de experimentar a puxada súbita com inclinação seguida de beijo, olhar intenso e beijo.

- Foi minha primeira vez - confessou Hermione. - E foi... maravilhoso!

- Tudo bem, tudo tem. Agora apenas a parte do beijo, certo? Apenas a parte dos lábios e das línguas. Que tal foi essa parte?

- Muito ardente.

- Ah, meu Deus! Acho que terei de abrir a janela de novo. Estou começando a suar.

Dizendo isso, levantou-se com um movimento súbito e abriu a janela, respirando fundo.

- Então foi ardente. Muito ardente. Continue.

- Foi como ser... Sei lá, devorada. Sabe quando seu corpo inteiro fica trêmulo, um calor gostoso se espalha por seu corpo e... - Hermione moveu as mãos, tentando encontrar as palavras certas para se expressar. - Não sei como descrever.

- Tem de se esforçar. - Aflita, Gina segurou-a pelos ombros. - Tente isso: na escala de um a dez, que nota você daria?

Hermione fechou os olhos.

- Não há escala...

- Sempre há uma escala - Gina a interrompeu. - Não é possível...

- Não, Gina, o que eu senti não se enquadra em nenhuma escala.

Gina deu um passo atrás.

- Deus meu... Preciso me sentar. - Gina sentou-se, passando a mão pela testa. - Você experimentou um beijo que não se enquadra em nenhuma escala. Acredito em você, Mione. Mas muita gente não acreditaria. Muitas pessoas poderiam até zombar dessa afirmação, mas eu acredito no que disse.

Hermione sorriu.

- Eu sabia que poderia contar com você.

- Sabe o que isso significa, não sabe? Significa que Malfoy arruinou sua vida. Agora, nem mesmo um beijo nota dez vai satisfazê-la. Você vai sempre procurar um que não se enquadre em nenhuma escala.

- Isso já me ocorreu. - Pensativa, Hermione pegou o lápis e começou a tamborilá-lo sobre a mesa.

- Mas creio que será possível levar uma vida tranqüila e feliz, alcançando com certa regularidade uma escala entre sete e dez, mesmo depois dessa experiência. O homem pode até ir à lua, Gina, viajar pelo espaço e se ver em outro mundo por algum tempo, mas tem de voltar para a terra e continuar vivendo.

- Puxa, isso foi sábio. - Gina tirou um lencinho de papel do bolso da calça. - Quase heróico.

- Obrigada - Hermione agradeceu e, com um de seus sorrisos marotos, acrescentou:

- Mas, enquanto isso, não fará nenhum mal bater à porta em frente de vez em quando, certo?

Hermione estava descendo para o andar de baixo, após uma manhã de intenso trabalho. Ao ouvir o familiar e agradável som do sax, pensou em bater à porta de seu vizinho para lhe oferecer um café, mas o som do interfone lhe interrompeu os pensamentos.

- Sim?

- Estou procurando o sr. Malfoy, do 3A - disse uma voz feminina.

- Não, ele está no apartamento 3B.

- Oh, droga, então por que ele não está respondendo?

- Provavelmente porque não ouviu o interfone, já que está tocando sax - explicou Hermione.

- Então poderia me anunciar, querida? Sou a empresária dele e já estou cansada de ficar aqui tocando esse interfone.

- Empresária dele? - Hermione repetiu.

Bem, se Malfoy tinha uma empresária, queria conhecê-la. Já havia pensado em indicá-lo a várias pessoas e talvez essa fosse sua chance de ajudá-lo de alguma maneira.

- Claro, pode subir - dizendo isso, acionou o botão que destravava o portão de entrada.

Em seguida, abriu a porta de seu apartamento e ficou esperando do lado de fora. A mulher que saiu do elevador parecia muito profissional e bem-sucedida, segundo Hermione notou com certo espanto. O tailleur vermelho lhe atribuía um ar de elegância e sofisticação, assim como a pasta executiva de modelo feminino.

Hermione franziu o cenho. Então por que o cliente dela parecia estar passando por dificuldades financeiras?

- Você é a moradora do 3A?

- Sim, meu nome é Hermione.

- Sou Luna Loveggod, mas pode me chamar apenas de Luna. Obrigada por haver aberto o portão para mim, Hermione. Nosso "garotão" aqui não está atendendo ao telefone e, pelo visto, esqueceu-se de que tínhamos uma reunião à uma hora, no Restaurante Four Seasons.

- O Four Seasons? - Hermione se surpreendeu. Aquele era um dos restaurantes mais caros da região. - No parque?

- Esse mesmo. - Com um sorriso, Luna apertou a campainha do apartamento 3B. - Draco é muito talentoso, mas temperamental demais de vez em quando.

- Draco? - Hermione levou um instante para entender sobre quem ela estava falando. - Ah, Draco Malfoy. - Com um suspiro de indignação, acrescentou: - O autor de Rede de Almas.

- Isso mesmo - confirmou Luna. - Vamos lá, Draco, abra logo esta porta... - falou ela, tamborilando os dedos sobre a madeira. - Quando ele decidiu passar alguns meses na cidade, pensei que conseguiria ter mais acesso a ele. Mas, pelo visto, eu me enganei mais uma vez. Ora, até que enfim.

Ambas ouviram o ruído das trancas sendo abertas com gestos súbitos e, aparentemente, mal-humorados. Então ele abriu a porta.

- O que diabos... Luna?

- Você perdeu o almoço - ironizou ela. - E não atendeu ao telefone.

- Eu me esqueci do almoço e o telefone não tocou.

- Você carregou a bateria?

- Provavelmente não. – Draco continuou no mesmo lugar, olhando para Hermione, logo atrás de Luna.

- Entre - disse à empresária. - Só me dê um minuto, sim?

- Eu já lhe dei uma hora - ironizou Luna, falando por sobre o ombro enquanto passava pela porta. - Obrigada mais uma vez, querida - ela agradeceu a Hermione.

- Não há de quê. - Hermione forçou um sorriso. Então fuzilou Draco com o olhar. - Canalha - disse ela por entre os dentes, antes de entrar em seu apartamento e bater a porta.

- Não há nenhum lugar para se sentar aqui? - protestou Luna, atrás dele.

- Não. Quer dizer, sim. No andar de cima - resmungou em resposta, tentando ignorar a onda de culpa que o atingiu. - Não costumo ficar muito neste andar.

- Estou vendo. Quem é a garota que mora em frente?

- O nome dela é Hermione Granger.

- Achei que ela me parecia familiar. É a criadora das tiras cômicas Amigos e Vizinhos, não é? Conheço o empresário dela. O homem é louco por ela. Vive dizendo que ela é sua única cliente à prova de ego e livre de neuroses. Nunca se queixa, não atrasa os prazos e está sempre lhe dando lucro com a venda de seus personagens em agendas, calendários e outras coisas do gênero.

Diante do silêncio de Draco, Luna acrescentou:

- Imagino como seria bom ter um cliente livre de neuroses, que se lembrasse dos almoços de negócios e que me mandasse presentes no meu aniversário.

- As neuroses fazem parte do pacote, mas sinto muito sobre o almoço.

O aborrecimento de Luna cedeu lugar à preocupação.

- O que aconteceu, Draco? Parece alterado por algum motivo. O roteiro não está indo bem?

- Não, ele está caminhando. E melhor do que eu esperava. O problema é que não tenho dormido muito bem ultimamente.

- Continua saindo para tocar seu sax até altas horas da noite?

- Não.

Estava era passando as noites em claro pensando em Hermione, Draco admitiu para si mesmo. Andando de um lado para outro e desejando tê-la em seus braços. Só que agora ela devia estar profundamente magoada com ele.

- Bem, já que não teremos mesmo o almoço, que tal me oferecer um café? - sugeriu Luna.

- Ainda há um pouco na garrafa - disse ele. - Estava fresco às seis horas da manhã.

- Então, deixe-me preparar outro.

Depois de preparar o café, com os ingredientes que já se encontravam sobre a pia, Luna abriu alguns armários, à procura de algo para comerem. Considerava o bem-estar de Draco como parte de seu trabalho.

- Meu Deus, Draco, por acaso está fazendo greve de fome? Não há mais nada aqui, além de restos de batatas fritas e do que um dia foi um pão francês, mas que agora só serve para experimento científico.

- Não fui ao supermercado ontem - explicou ele, sem conseguir deixar de pensar em Hermione. - Para jantar, geralmente faço um pedido a algum restaurante.

- Pelo mesmo telefone que você não atende?

- Eu vou recarregar a bateria, Luna.

- Espero que sim. Se pelo menos ele estivesse funcionando, agora estaríamos sentados a uma mesa do Four Seasons, tomando champanhe Cristal para comemorar. - Com um sorriso, acrescentou: - Fechei o contrato, Draco. Rede de Almas vai se transformar em um grande sucesso do cinema. Terá os produtores que quiser, o diretor que preferir e a opção de fazer o roteiro pessoalmente. Tudo isso regado a uma generosa quantia, claro.

- Não quero que estraguem o roteiro - foi a primeira reação dele.

- Isso só dependerá de você. - Luna suspirou. - Para não correr o risco de que algo não o agrade, faça você mesmo o roteiro.

Sem dizer nada, Draco se aproximou da janela, ainda tentando absorver a notícia. Um filme mudaria a perspectiva que a peça havia atingido no teatro, mas, por outro lado, geraria uma renda de milhões de dólares.

- Não quero me envolver demais nisso, Luna. Toda aquela loucura do cinema não me agrada.

Ela serviu duas xícaras de café e se aproximou da janela, entregando uma a ele.

- Então faça apenas o trabalho de supervisão. Ou de consultoria, se preferir.

- Sim, acho que isso será suficiente para mim. Providencie tudo, está bem?

- Pode deixar comigo. Agora, se você conseguir parar de dar pulos de alegria, poderemos conversar sobre seu trabalho atual.

Draco curvou os lábios, sem conter o sorriso.

Levado por impulso, deixou a xícara sobre o parapeito da janela e segurou o rosto de Luna entre as mãos.

- Você é a melhor e, com certeza, a mais paciente empresária desse ramo.

- Está absolutamente certo. Espero que esteja tão orgulhoso de você quanto eu estou. Vai dar a notícia à sua família?

- Deixe-me primeiro digerir a idéia por alguns dias.

- A notícia vai se espalhar logo, Draco. Não vai querer que eles a recebam por outros meios, não é?

- Tem razão - anuiu ele. - Vou ligar para eles. - Com um sorriso, completou: - Depois de recarregar a bateria do telefone, claro. Por que não saímos para comemorar, tomando champanhe?

- Pensando bem, por que não? Ah, só mais uma coisa - falou Luna, em um tom casual. - Não vai me dizer o que está havendo entre você e a bela garota do apartamento 3A?

- Não tenho certeza de que haja alguma coisa para dizer - respondeu Draco, em um resmungo.

Draco continuava a não ter certeza sobre aquilo quando bateu à porta de Hermione naquela mesma noite. Mas sabia que tinha de fazer alguma coisa a respeito daquela sombra de indignação e tristeza que vira nos olhos dela, horas antes.

Não que aquilo dissesse respeito a ela de alguma maneira, lembrou a si mesmo. Não pedira a ela que bisbilhotasse sua vida. De fato, fizera tudo para que ela se mantivesse afastada. Pelo menos até a noite anterior, concluiu ele, com um suspiro exasperado.

Sempre detestara agir por impulso, e fora justamente isso que fizera na noite anterior. Para começar, não deveria ter aceitado sair com ela. Ainda mais por um motivo tão idiota. E muito menos beijá-la, ainda que por um motivo louvável: puro desejo.

Quando Hermione abriu a porta, Draco estava mais do que pronto para um pedido de desculpas.

- Ouça, sinto muito - começou, com um certo tom de impaciência. - De qualquer maneira, isso não era da sua conta. Vamos apenas esclarecer as coisas.

Ele fez menção de entrar, mas parou de repente quando Hermione o deteve, levando a mão a seu peito.

- Não o quero na minha casa.

- Não diga tolices, Hermione, foi você quem começou. Talvez eu tenha deixado as coisas saírem um pouco do controle, mas...

- Comecei o quê?

- Isso!

Draco levantou as mãos, aborrecido pela falta de palavras e detestando ver aquela sombra de tristeza no olhar dela.

- Tudo bem, eu comecei - Hermione admitiu. - Nunca deveria ter levado biscoitos para você. Sim, foi pura idiotice da minha parte. Também não deveria ter me preocupado em arranjar um emprego para você e nem em lhe oferecer uma refeição decente, por pensar que você não tinha condições de pagar uma.

- Droga, Hermione...

- Você deixou que eu pensasse tudo isso! - ela o interrompeu, furiosa. - Deixou que eu acreditasse que estava passando por dificuldades, que era um músico desempregado, e aposto que deve ter rido muito disso. O brilhante e premiado roteirista Draco Malfoy, autor da magnífica peça Rede de Almas. Aposto que está surpreso por eu conhecer o seu trabalho. Uma idiota feito eu não anda por aí lendo críticas sobre peças de teatro.

Draco continuou em silêncio, e ela o fez dar um passo atrás.

- Não é mesmo, Draco? O que uma "desenhistazinha" de tiras cômicas de jornal iria entender de arte? Ainda mais sobre teatro, sobre literatura séria? Deve ter rido muito à minha custa, não? Seu arrogante elitista! - A voz de Hermione falhou, sendo que ela havia prometido a si mesma que isso não aconteceria. - Eu estava apenas tentando ajudá-lo.

- Mas eu não pedi sua ajuda. Eu não queria sua ajuda.

Draco notou que ela estava prestes a explodir em lágrimas. E quanto mais isso se evidenciava, mais furioso ele se sentia. Sabia muito bem como as mulheres usavam o choro para arrasar um homem, e não deixaria isso voltar a acontecer em sua vida.

- Meu trabalho diz respeito apenas a mim - acrescentou.

- Seu trabalho é produzido na Broadway e, se você não sabe, isso o torna público – retrucou Hermione. - Não tinha nada que andar por aí fingindo ser um saxofonista.

- Toco sax porque gosto de tocar, só isso. Não estava fingindo ser, alguma coisa, foi você quem deduziu isso.

- E você não fez a mínima questão de me esclarecer.

- E se eu tivesse feito isso? Eu me mudei para cá em busca de um pouco de paz e tranqüilidade. Queria ficar sozinho. Mas quando me dei conta, lá estava você me trazendo biscoitos, seguindo-me pela rua e me fazendo passar metade da noite em uma delegacia de polícia. Como se não bastasse, depois apareceu pedindo que eu saísse com você para se livrar do olhar bisbilhoteiro de uma mulher de setenta anos, só porque não tem coragem de dizer a ela para não se meter em sua vida pessoal. E quando pensei que já tinha visto tudo que poderia ver, qual não foi meu espanto ao receber a proposta de ganhar cinqüenta dólares por um beijo.

O sentimento de humilhação finalmente fez uma lágrima rolar pelo rosto de Hermione, enquanto uma espécie de nó se formava em sua garganta.

- Não comece com isso - disse Draco.

- Quer que eu não chore vendo-o me humilhar desse jeito? Vendo você me fazer sentir idiota, ridícula e envergonhada? - Hermione não se importou com as lágrimas que começaram a molhar seu rosto. Simplesmente continuou a encarar Draco com toda sua indignação. - Sinto muito, mas não sou tão fria assim. Ainda choro quando alguém me magoa.

- Foi você mesma quem pediu isso.

Draco tinha de dizer aquilo. De fato, ele estava desesperado para acreditar naquilo.

- Você conhece os fatos, Draco - disse ela, num fio de voz. - Tem todos eles à sua disposição, mas insiste em ocultar seus sentimentos por trás deles. Levei biscoitos para você porque pensei que poderia precisar de um amigo. Já me desculpei por havê-lo seguido, mas posso me desculpar novamente.

- Eu não quero...

- Ainda não terminei – Hermione falou com tanta dignidade que o fez sentir uma onda de culpa. - Levei-o para jantar porque não queria magoar uma senhora muito doce e por pensar que você poderia estar faminto. Gostei de sua companhia e senti algo diferente quando você me beijou. Na verdade, pensei que você também houvesse sentido. Portanto, você está certo - ela assentiu, enquanto outra lágrima rolava por seu rosto. - Fui eu mesma quem pediu isso. Suponho que guarde todas suas emoções para o seu trabalho e que por isso não encontre uma maneira de aplicá-las em sua vida. Sinto muito por você. E sinto muito por haver pisado em seu solo sagrado. Nunca mais farei isso.

Antes que Draco pudesse pensar em algo para responder, Hermione fechou a porta. Então ele ouviu as trancas sendo acionadas com fúria. Girando sobre os calcanhares, voltou para seu apartamento e seguiu o exemplo dela, também fechando as trancas da porta.

Finalmente tinha o que queria, disse a si mesmo. Solidão. Quietude. Hermione não voltaria a bater à sua porta, não o interromperia, não o distrairia e nem o envolveria em conversas das quais ele não queria participar. Não lhe traria sentimentos com os quais ele não sabia o que fazer.

De pé, na sala vazia, suspirou alto. Estava exausto daquilo tudo.

~~~ // ~~~

Aeee mais um cap maravilhoso né? *-*
levei só mais um pouquinho de tempo pra att... mas finalmente att! o/
(muita correria essa semana! ¬¬')

O sr misterioso, um famoso escritor? será?! 'Oo
yeeeah, that's right... o/
quem achou a empresaria dele, digamos que, legal? :D
pobre Mione, já fazendo planos pro Draco com as melhores da intenções, e de repente descobre que ele tem catiguria? (categoria) 'Oo
hasuahsuahsuahsaua

Omg.. os dois brigaram?! assim tão de repente?! snif.... :,(
e agora quem poderá ajuda-los á perceber que foram feitos um para o outro?
well, who knew! ¬¬'
mas esperamos então, o vovô mais que fofo da Mione entrar em ação, né?

:DD

Bom, chega de falasão né. :P
Vamos então para as repostas dos comments!! *-*


Cαяσℓiиα: 'Oo hold up, ninguém vai morrer, não! ¬¬' haushasuahsua Uma fã nova?! que honraaaaa honey! :DD uhuuul! fico feliz que a fic lhe agrada mto! *-* e como pedido cap postatinho! ;**

Imogen: Falou e disse! o/ haushausahsuahsua definitivamente mais um cap envolvente né? ;) bom, espero que tenha curtido mais esse cap! ;**

Lily Black. ♥ x)~ : Cap postadinho flor! ;) Aeee, que bom que esse cap tbm lhe agradou! o/ \o hasuahsuahsuahsua ain, tbm estou sem palavras... fico agradecida com seus comments, tipo assim... super empolgantes! :D Siiim, o avô da Mione ser mais que fofo né... e eu concordo plenamente; mas que vontade de apertar as bochechas dele! hahaha For sure, o Draco já está louco pela Mione e nem percebe né! :P agora tu falou e disse MESMO girl.. :D não há nada melhor do que sinceridade + bom-humor + educação.. né ;) sim, definitivamente um jantar perfect! *-* Pois é né, a Mione é tão bondosa, hilario mesmo, é ver ela já fazendo planos pra ele 'Oo haushasuasuahsaushau Uiii, sinceramente yees.. nossa mas que momento mais sensacional... um beijo sem escalas!!! a Mione deve estar mesmo no céu! haha então não estou sozinha nisso?! hasuahsuahsa quero dizer... errinhos sempre acontecem né... assim que eu vi esse errinho mais do que um pouco grande demais.. e tive mais do que depressa que concertar né.. afinal tenho q fazer os readers happy! *-* mais uma vez obrigada honey! bjooo ;**

Rhaissa.Black: Já que pedido é uma ordem, cap postadinho! uhuuul o/ Pois é menina, eles estão mesmo evoluindo... ain, e ainda com um beijo mais do que perfect né! *-* È, parece que a Mione ser irresistivel para o sr iresistivel.. hausahsuahsuahsa mas a Mione tem mesmo um avô fofuxo hein... o que será que aquele projeto de coelinho da páscoa está preparando para o dois? :P (nossa, sabe que é... coelinhos me lembram fofura... então pq o vovô da Mione não pode ser um coelhinho da páscoa né?!:D) hausahsuahsuahsua por precaução, abafe o caso! ¬¬' Espero que tenha gostado desse cap tbm! :D bjoooo ;**

Manu Malfoy: Cap postadinho honey! ;) Pois é né, só a Mione mesmo, onde já se viu dar uma festa no ap e não participar?! 'Oo mais em compensação ela deve ter criado mais uma tira e tanto né.... :DD o vovozinho da Mione ser uma raposa hein... ele já planejou tudo né? =O mas que casamenteiro incuravel... :P E com um Draco iresistivel e uma Mione com bom sendo de humor oq isso pode dar? talvez.. e provavelmente Dramione'loucuras? 'Oo ooookay, definitivamente acho que estou viajando na maionese DEMAIS! hausahsuahsuashaushausha ¬¬' o Draco está literalmente de joelhos pela Mione né... aaaha MAS ninguém pode negar que quem caiu de joelhos primeiro foi o marginal! hashsuahsuashaushausa Mas como vc disse: a Mione PODHI, for sure! :D siiim, o Draco já está sonhando com a Mione.... parece que a Mione pegou ele de jeito... ou será que foi ele que a pegou?! 'Oo whatever.. haha :P espero q este cap tbm tenha lhe agradado! ;) bjoos ;**


Eeeee mais uma vez comments respondidos com mto carinho! ♥

Agradeço a todos os comentários, que me fazem triiiiii feliz! *-*

Valeu mesmo amores do meu core! :D

See Ya!

Xoxo – Lay ~

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