O tal Sleve (agora COMPLETO)



Capítulo XX: O tal Sleve

Depois de mais um encontro às escondidas com Collin, Sarah sentava pensativa na sala, um sorriso bobo nos lábios. Ficar com um homem mais velho não passava nem perto do que ela pensava que seria. Era muito mais excitante, muito mais surpreendente. Claro que era um pouco mais exigente também. Collin não parecia ser o tipo de homem que se contentava com beijinhos roubados numa sala vazia. A perspectiva de que em breve ele faria convites muito mais ousados não a assustava, ao menos não enquanto estava dentro desse corpo, influenciado por sua magia, com desejos muito mais amadurecidos do que sua verdadeira idade.

Collin não mais pareceu receoso com sua idade depois do feitiço. As vezes ele dizia que aquilo era loucura, mas Sarah sabia que frente ao seu corpo sensual de mulher, ele se agarrava à ilusão de que era uma mulher mais velha e experiente que tinha nos braços, não uma adolescente de 14 anos. Isso facilitava as coisas. E era por esse motivo que ele sempre lhe pedia que usasse o feitiço antes mesmo de lhe dar um beijo singelo.

Se bem, pensava ela com um sorriso ainda maior, que os beijos de Collin não tinham nada de singelos.

E foi com esse sorriso bobo no rosto que Sírius a encontrou quando entrou nervoso na sala depois de ter visto Collin saindo dali misteriosamente amassado. É claro que ele já imaginava, não era realmente tão tolo, mas quando ele olhou para o canto da sala e ao invés de sua amiga de sempre encontrou uma loira surpreendentemente sensual, com três botões estourados de um uniforme minúsculo, ele recuou vários passos e empalideceu.

- Sarah... – ele murmurou e não havia nada de admiração no olhar que ele lhe lançava. Estava mais para repulsa.

Ela também perdeu a cor. Aquele não era o momento... Não, não... aquilo era ridículo... Será que havia alguém lá em cima de sacanagem com ela?

- Si-rius…

Sírius fechou os olhos, respirando profundamente. Seu corpo todo parecia tenso enquanto suas mãos fechavam-se em punhos.

- Sarah, por favor – ele pediu, ainda de olhos fechados. – Me diga que você não está fazendo o que eu penso que está fazendo.

O que Sarah poderia dizer a respeito disso?

Ele abriu os olhos. Incapaz de encará-lo, Sarah baixou os seus.

- Você está... – Sírius não conseguia falar. A raiva contida em cada sílaba mal pronunciada parecia dilacerar o coração de Sarah.

- Não – ela disse depressa, entendendo o que ele pensava. – Não, eu não estou fazendo isso, Sírius... Eu e Collin apenas estamos... Nós ainda não...

Foi o errado a se dizer, aparentemente. O rosto já pálido de Sírius tornou-se lívido.

- Ainda? Sarah! O que você pensa que está fazendo?

Em qualquer outro momento Sarah teria se exaltado e respondido que aquilo não era da sua conta. Mas não nesse, em que uma necessidade estranha de se explicar parecia tomar conta dela.

- Olha, Sírius, eu sei que parece estranho, mas Collin gosta de mim e...

Um ruído estranho saiu da garganta de Sírius.

- Gosta? - repetiu com a voz estridente. – Collingosta de você? Não seja ridícula, Sarah, olha pra você! Você não é... Não é você mesma nesse... corpo! Se ele gostasse de você ele não iria querer nada além do que aquilo que você é! Não está vendo o que está fazendo? Está deixando que ele te use e está se convencendo de que é a você que ele deseja, mas não é! É uma camuflagem ridícula que os dois estão fantasiando... – Ele parou para respirar, já tendo ficado vermelho de tanto falar sem uma única pausa. – Ou vai me dizer que ele também... também beija você ou... ou faz qualquer outra coisa quando você está normal?

O silêncio de Sarah não se quebrou, o que quebrou foi alguma outra coisa dentro de si com as palavras cruéis e ao mesmo tempo tão significativas de Sírius.

- Eu não consigo olhar pra você – Ela pôde ouvi-lo murmurar num tom diferente de todos que ele usara até então. – Eu não consigo reconhecer você aí... Não sei o que aconteceu com você, Sarah, mas seja o que for, a Sarah que eu conheci e amava não parece mais existir.

E ela só ergueu os olhos quando escutou a porta bater. Ela deveria ir atrás e esfregar no nariz daquele moleque que não precisava da repulsa que ele sentia, nunca precisara da amizade e de mais nada que vinha dele. Porém, alguma coisa no fundo de seu coração mostrava que não era bem assim, e que Sírius estava certo. Ela só não sabia o que fazer...

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Harry tentava planejar sua próxima aula, mas não imaginava como faria isso, por duas razões. A primeira, ele não conseguia se concentrar em absolutamente nada. A segunda, mesmo que por um milagre oportuno ele conseguisse, como ele olharia para Zabini sem querer arrancar a cabeça dele fora e evidenciar que já sabia de tudo? Sim, porque ele já sabia de tudo. Era óbvio. Depois da conversa que ele ouvira entre os dois, Zabini e a namorada, não havia dúvidas. Afinal, o que mais aqueles dois poderiam estar discutindo naquela sala? Era uma conspiração, isso sim, os dois tramavam em suas costas quando uma oportunidade de ouro fora oferecida aos dois!

Depois de tudo o que houve, era de se esperar que confiança e sonserinos eram duas palavras que não podiam se encaixar na mesma frase. Claro. Mas Harry tinha que sempre abrir uma exceção! Estúpido! Poderia ter evitado tudo isso… Ou será que não?

Ah, pensar o que poderia ter sido diferente já não importava agora. O que importava é que ele tinha as chances de desmascará-los agora. E é o que ele faria.

Estava estendendo a mão para o pó-de-flú quando uma velha e cinzenta coruja voou para dentro de sua sala, pousando na sua frente com uma carta lacrada magicamente, endereçada a ele.

Harry franziu as sobrancelhas, tinha certeza de que conhecia a coruja e a caligrafia, mas porque o lacre? E qual seria a razão de não usar o Flú?

Ainda com aquela ruga de preocupação, Harry desfez o lacre e abriu o pergaminho para ler a curta mensagem.

Harry;

Corra até minha sala. É urgente.
NÃO diga para ninguém onde está indo e NÃO deixe ninguém te seguir.

Draco.


Mesmo preocupado e frustramente curioso, Harry seguiu imediatamente as indicações de Draco. Em menos de vinte minutos já havia atravessado o castelo e chegado até a porta nas masmorras, que se abriu assim que a primeira batida soou.

- Entre logo, Potter – Ele rosnou, mais pálido do que de costume.

Contudo, Harry não pôde obedecer, porque Draco pôs a mão em seu peito, se contradizendo ao barrá-lo, e olhou ansiosamente para os dois lados do corredor.

- Ninguém me seguiu – Harry garantiu, abrindo o casaco e mostrando um tecido brilhante descuidadamente dobrado. – Eu estava com a capa até agora.

- Ótimo. Entre.

Empurrado para dentro, Harry observou em silêncio enquanto Draco murmurava feitiços de privacidade em todos os lados.

- Draco, o que está havendo? – Ele soltou impaciente, quando dez longos minutos se passaram daquele jeito.

Dando-se por satisfeito aparentemente, Draco o encarou e fez um sinal para um canto da sala. Foi só nesse momento que Harry percebeu que não estavam sozinhos.

- Oh.

- Harry, a coisa é séria. – Draco falou.

- Você não precisava ter dito pra que eu adivinhasse.

- O espião…

- Eu sei, já estou providenciando pra que ele…

- Ele quer a minha filha, Harry. Não nós.

- Ele quer…? Você está querendo dizer que ele…? Oh!

Draco até podia ver a mente de Harry, processando todas as informações.

- Sarah está em perigo. – Draco voltou a falar, passando a mão nos fios platinados de seu cabelo e bagunçando-os num ato inconsciente. – Clark se lembrou de muitas coisas. Veja você mesmo com ele.

Hesitante, Harry se virou na direção do outro homem no canto da sala enquanto Draco se desmoronava numa poltrona perto da lareira.

- Clark?

- É tudo verdade, Harry. Seja qual fosse a missão que este espião tinha aqui, foi deixado de lado quando… quando eu estava aqui para fazer o serviço sujo. – O desgosto na voz de Clark podia ser compreendido melhor se comparado com a expressão de repulsa e arrependimento. – É claro que eu não havia entendido anestesiado pelo feitiço que me lançaram, mas agora eu entendo. A missão dele era ficar de olho na garota Malfoy e nos seus… hã… super poderes. Lucius queria saber o que ela era capaz de fazer e no que ela poderia ser útil.

- O que todos nós sabíamos que ele queria – Harry o cortou. – Mas Sarah está segura aqui e ela nunca nos trairia, eu não vejo como…

- Escute – Draco exigiu de sua poltrona, sem se virar.

Harry se voltou relutante para o outro homem mais uma vez.

- Lucius não vai forçá-la a ir a lugar algum. Ele tem um plano muito pior e muito mais inteligente. – Draco rosnou da poltrona ao ouvir a última palavra. – Ele pediu a Sleve – como o chamava – para… bem, para…

Clark não conseguiu terminar. Impaciente, Harry leu em sua mente o fim da frase e dessa vez foi ele quem rosnou.

Seduzi-la.

- Assim ela irá por vontade própria. – Clark completou em voz alta.

Então, pela primeira vez desde que entrara naquela sala, Harry sentiu necessidade de se sentar. Sentia-se excessivamente velho e cansado.

- Bem – ele disse, olhando de relance para Draco. – Pelo menos eu tenho uma… hã… boa notícia.

Draco desviou a atenção do fogo e o encarou.

- Eu tenho quase certeza de que sei quem é esse… traidor.

Harry experimentou olhar nos olhos impassíveis de Draco e suspirou.

- Acho que você vai gostar – disse sinceramente.

Antes que a compreensão se espalhasse pelo rosto de Draco, Harry contou a eles tudo o que ouvira. Estivera certo, Draco não gostou nem um pouco, os dois homens tiveram que, primeiramente, segurá-lo para que ele não fosse quebrar o pescoço de Zabini como prometera (dentre as coisas mais bonitas que dissera). Depois eles tiveram que lidar com a dor nos olhos dele por mais esse baque, por mais essa traição.

- Mas isso faz sentido – Ele dizia meia hora depois. – Sarah tem reclamado há muito tempo que Zabini e Edilaine a tem perseguido. Eu mesmo já assisti ele a seguindo diversas vezes, mas… - Draco socou uma mesa de vidro, por pouco não a estilhaçando. – Como fui tolo, eu jurava que ele só estava preocupado com ela! Ele a viu crescer! Isso é… repulsivo!

Harry concordava plenamente.

Então, surpreendendo tanto Harry quanto Clark, Draco sorriu.

- O quê?

- Se esse é o plano, está falhando. Sarah tem muito bom gosto, ela não vê nada de atrativo em Blaize. Caso contrário, não fugiria.

Foi a vez de Harry rir.

- Eu sei que ela tem bom gosto. Ela gosta do meu filho.

Draco olhou espantado para ele.

- Sírius!

- Ah, qual é, Draco! Vai dizer que você nunca reparou?

O lábio superior de Draco tremeu ligeiramente, em desgosto.

- Os Potter sempre chamaram a atenção dos meus filhos, eu sempre estive ciente desse pequeno distúrbio deles, Potter. Mas não é o que eu me referia.

- Não? – Harry estava divertido.

- Não. – Então a preocupação inicial estava novamente ali, estampada no rosto de Draco. – Estava pensando que talvez seu filho pudesse nos ajudar.

E quando Harry compreendeu, os dois trocaram um olhar bastante significativo.

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Lucas estava apreensivo. E Lucas não devia estar apreensivo porque ele nunca costuma estar. Normalmente ele é uma pessoa bem tranqüila.

Depois de ter uma conversa um pouco desagradável com Sírius e mal podendo consolá-lo adequadamente, ele jogou a mochila sobre o um ombro só, apressado, murmurou uma desculpa ridícula para o amigo infeliz e saiu, ainda sem rumo, precisando clarear os pensamentos.

E agora ali estava ele.

Apreensivo.

Alguma coisa muito séria estava acontecendo com seus amigos e ele tinha uma vaga impressão de que tinha a possibilidade de evitar uma tragédia. Mas como ele faria isso? Não tinha como confirmar nem as suas próprias suspeitas! Não tinha argumentos nem para convencer a si próprio, como ele convenceria alguém? Antes de sair por aí fazendo acusações, Lucas precisava de provas! E era atrás delas que ele estava indo agora.

Ele só não sabia onde procurá-las.

Vamos ver… Recapitulando… Ele tinha algumas anotações, algumas prováveis testemunhas, e alguns fatos estranhos que seus amigos não faziam idéia. Das testemunhas, uma estava descartável. Era um alvo, ao mesmo tempo, e era justamente uma das pessoas que precisavam ser convencidas. Suas anotações estavam confusas. E quanto aos fatos... Um deles, por exemplo, foi que antes de se juntar a eles naquela reunião esquisita Lucas escutou algo que lhe fez ficar com a pulga atrás da orelha.

E pulgas era geralmente um incômodo muito grande para lobisomens.

Lucas era responsável. Sempre foi. Nunca gostou de se atrasar para os compromissos porque para ele, deixar alguém esperando era mais do que falta de educação, era ofensivo. Ninguém merecia esperar por ninguém. Ninguém é maior ou mais importante que ninguém. Claro que seus amigos deveriam ter percebido isso, mas Lucas não os culpava, ambos estavam absortos demais na brincadeira de espiões mirins para notar o significativo atraso que dera naquela reunião, tornando as diversas desculpas esfarrapadas que ele planejara dar para justificá-lo, completamente dispensáveis.

Se soubesse não teria demorando tanto as elaborando.

Uma perda de tempo, puff.

O que ouvira fora algo realmente comprometedor. Ouvira uma conversa entre Zabini e Edilaine. Uma briga, para ser mais exato. E quando brigavam as pessoas geralmente diziam coisas que não deveriam dizer. Revelam coisas aos gritos que gostariam de guardar segredo.

Nessa, Lucas acabou entendendo tudinho, tudinho. E mais ainda, descobriu uma mania provavelmente genética que os Potter tinham de ouvir atrás da porta.

Um costume interessante de seu super herói da infância que não estava registrado em nenhum livro.

Claro que isso complicava as coisas, porque pela expressão de Harry, ele entendera coisas erradas demais. Mas é claro, ele não ouvira toda a conversa, como Lucas.

E agora Lucas precisava de provas ainda mais convincentes para desfazer essa impressão, e ele não tinha. O que nos leva ao início de novo.

E Lucas estava apreensivo por isso.

A melhor maneira de resolver isso era a que ele menos queria. Ir atrás... da enfermeira. Tentaria conversar, explicar, pôr os pingos nos is e os cortes nos tês… Se ela resolvesse colaborar, ótimo. Se não... bem... Lucas odiava essa parte, mas era o jeito. Ele a ameaçaria. Tinha todas as cartas necessárias para isso na manga.

Ele agora pensava… Será que ela se intimidaria por um adolescente de 14 anos só porque ele sabia de um segredo seu? O quanto ela gostaria de defender esse segredo? Será que… Lucas engoliu em seco, mas não evitou pensar se a sua vida valia para manter um segredo a salvo.

E antes que mudasse de idéia seus pés traidores já o levara até a enfermaria e ele se viu encarando os olhos da dita cuja antes que pudesse planejar o que falar.

- Posso ajudar você, Lucas? Veio ver Maggie de novo?

- Ah… não. – Como uma pessoa com aquele sorriso poderia ser capaz de lhe fazer algum mal? Ele duvidava.

Mais confiante, Lucas respirou fundo e endireitou as costas. Por Maggie.

- Eu preciso falar com você e é muito importante…

Edilaine abriu a boca para, provavelmente lamentar e negar, mas Lucas estava preparado e antes disso, soltou uma palavra, uma palavrinha só, um único nome com sete letrinhas, o suficiente para fazê-la derrubar o que tinha nas mãos com um barulho ensurdecedor e olhá-lo com olhos absolutamente perplexos.

- O que d-disse?

Lucas sorriu, longe de tentar parecer ameaçador e repetiu o nome.

Dessa vez, ela estava mais prevenida.

- O que tem ele? Ele não está aqui, querido. Aliás eu não sabia que você o conhecia, ele não veio muitas v…

- Por favor, não me enrole – Lucas pediu, de repente sério. Com a altura que tinha e a expressão assim, amadurecida, ele não aparentava a idade que tinha. – Eu já descobri tudo e pela sua própria boca. Não me olhe com essa cara, eu não fico ouvindo atrás de portas, vocês que não se preocuparam em manter a voz baixa. Eu só preciso da sua ajuda em uma coisa e o segredo de vocês vai continuar muito bem guardado… se você colaborar.

Lucas pensou que havia exagerado na ameaça da última frase, mas antes que pudesse retirar o que dissera, obteve o resultado que esperara.

- O que você quer de mim?

- A verdade, Ed. E não é exatamente algo que vai apenas me favorecer, eu tenho a impressão de que você tem a mesma suspeita que eu, mas ao contrário de mim, tem provas e eu preciso dessas provas.

A compreensão passou pelo rosto de Ed com um misto de desconfiança.

- Como exatamente uma criança sabe…

- Simplesmente sei. – Lucas a cortou novamente. E, zangado, acrescentou. – Não sou uma criança!

E, arrependido, percebeu tarde o quão infantil aquilo soou. Fechou a cada quando Edilaine se sentou e o encarou, sorrindo.

- Então me diga, Lucas, o que exatamente você quer saber e o que você quer que eu faça para não espalhar a verdade por aí.

Lucas sorriu também, entendendo uma coisa pela expressão dela que não havia entendido até então.

- Na verdade você gostaria que soubessem, não é? – Estava surpreso em como isso agora lhe parecia óbvio. – Não agüenta mais se esconder...

- Isso não vem ao caso – ela lhe cortou, fria outra vez. – Esse segredo não é só meu e eu não posso fazer nada em relação a ele. Diga logo o que você quer pra manter isso em sigilo. Só estou surpresa, Lucas, você nunca me pareceu o tipo de rapaz que faz ameaças.

- Eu não faço. Isso não é uma ameaça, desculpe se fiz parecer o contrário. – Ele estava sendo sincero agora. – Só não sabia como você reagiria e entrei na defensiva antes. Acredite, isso não me agrada, mas eu estou disposto a fazer qualquer coisa para salvar Maggie e sua ajuda é de vital importância aqui. Não vim ameaçá-la, mas não há mais segredo, eu não fui o único ouvir a briga de vocês. A diferença é que eu fui o único a entender. E esse mal entendido pode prejudicar vocês ainda mais do que a verdade.

Ed pareceu procurar em seus olhos a veracidade daquilo, assim como a sua própria honestidade por trás das palavras, aparentemente satisfeita, ela se levantou.

- Venha, vamos num lugar mais reservado. Eu te conto tudo o que sei, e você me conta tudo o que sabe, então estaremos quites. Você já me surpreendeu mesmo, Lucas, desculpe por tê-lo subestimado antes.

Ela abriu uma porta que Lucas conhecia bem. As lembranças do que passara ali sempre que voltava de suas transformações o fez hesitar na porta.

- O que foi? – ela perguntou, cética, entendendo sua hesitação como um medo de ficar sozinho com ela num lugar fechado e pequeno. – Tem medo que eu o ataque? Não se ofenda, mas você não faz o meu tipo. Eu não seduzo adolescentes, Lucas.

Lucas corou profundamente. Ainda mais quando ela sorriu, divertindo-se com o seu constrangimento.

- Não tem nada a ver – resmungou, entrando no pequeno quarto tão conhecido.

Ed o acompanhou e a porta se fechou atrás dela.

“Por Maggie”, ele pensou uma última vez, antes de se virar e encarar a única pessoa que poderia lhe ajudar naquele momento.


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Estava tudo resolvido, já tinham tudo pronto. Eles só precisavam armar uma armadilha para Blaise – o mais fraco do casal - e fazê-lo confessar tudo. Tinham um plano para isso, era simples, porém infalível. Precisava ser posto em prática imediatamente. Principalmente agora, depois de ter ouvido de Draco que o antídoto do veneno poderia ser recuperado com a ajuda de Sarah. Que ele descobrira que os poderes da filha seriam suficientes para fortalecer a recuperação dos inocentes. E assim, com as vítimas próximas da cura, o espião preso e Sarah novamente protegida, tudo voltaria a ficar bem.

Era extremamente necessário agir logo para acabar então, com a última ameaça que eles tinham. Pelo menos era isso o que os olhos prateados de Draco lhe transmitiam naquele momento, enquanto alguém batia na porta.

Harry congelou quando abriu a porta e viu Edilaine acompanhada por um dos melhores amigos de Sírius, Lucas. Ficou sem saber o que fazer ou qual postura assumir. Encarou-os, apenas.

- Ah – Lucas tomou a frente, claramente inseguro. – Professor… Nós precisamos conversar com o senhor, desfazer um mal entendido. É meio urgente.

Harry não se mexeu, ainda encarando ambos sem entender.

- Por favor – Lucas repetiu. – É importante... Nós podemos entrar? Se não houver nenhum problema, é claro – acrescentou rapidamente. Ao seu lado, Edilaine parecia ter dificuldades em não girar os olhos.

- Deixe-os entrar, Harry – A voz de Draco soou atrás de si. – Não custa nada, não é?

Harry o encarou para ver se falava sério. Quando viu que aparentemente falava, abriu passagem, hesitante.

Lucas permitiu que Edilaine passasse primeiro, num gesto automático de cavalheirismo, e a seguiu logo depois, ouvindo a porta se fechar atrás de si.

- Bem? – Harry ergueu uma sobrancelha, interrogativo. Os braços estavam firmemente cruzados no peito. Inflexível, Lucas reparou. Era melhor tirar o mal entendido do caminho antes de dizer o motivo mais importante que os levara até ali.

- Viemos desfazer um mal entendido - Lucas falou, notando desconfortável que tanto Draco quanto Harry olharam para ele surpreso. Era de Edilaine que eles esperavam uma explicação e não dele. Isso o incomodou. – É a respeito do que... Do que o senhor ouviu, professor.

Ele viu o espanto nos olhos de Harry, mas foi a voz de Draco que se pronunciou primeiro.

- O quanto está envolvido nisso, Lucas? – perguntou a preocupação com a segurança de seu pupilo evidente nas palavras.

- Bastante – Lucas de ombros, como quem pede desculpas. -Eu ouvi a briga dela e do Profº Zabini. Ouvi o começo da conversa que o senhor não ouviu, professor. – acrescentou, virando-se novamente para Harry. - Por isso imagino que tiraram uma conclusão precipitada… Pedi ajuda de Edilaine para vir até aqui desfazê-la.

A expressão de Harry passou de um misto de choque e confusão, para descrente, quase decepcionada.

- Você contou a ela, Lucas? Você foi falar com ela ao invés de vir falar conosco? Por quê? Será que você não percebe o que isso implica? Muita coisa está em jogo, Lucas, inclusive a vida de Maggie! Pensei que você se importasse com ela!

A cor sumiu totalmente da face de Lucas. Ela cambaleou para trás, momentaneamente desnorteado.

Edilaine que até o momento parecia entediada e encarava o teto, veio em seu socorro, apoiando uma mão em seu ombro e olhando furiosa para Harry.

- Como ousa, Potter? Insinuar uma coisa dessas sobre uma criança tão bondosa quanto ele? Ele tem um coração muito melhor do que o seu, se você quer saber! E mais sensatez, aparentemente! Se não fosse a coragem desse garoto de enfrentar os próprios receios e vir me procurar, além de me convencer a enfrentar os meus e ajudá-lo, vocês provavelmente cometeriam um erro absurdo, colocando em risco a vida de milhares de pessoas! Maggie? Tenho certeza de que foi a situação dela que o fez tomar coragem suficiente para chegar até aqui. É repugnante usar isso contra ele, Potter!

Antes mesmo de Edilaine começar a falar, Harry já estava arrependido de sua injustiça com o pobre garoto. O fato de que isso acabava com seus planos para pegar Zabini não era justificativa suficiente para que ele fosse tão impiedoso com ele. Era imperdoável.

- Perdão, Lucas – pediu, realmente arrependido enquanto encarava o garoto. – Vocês estão certos, foi um golpe baixo da minha parte citar o nome de Maggie, sei que você é um dos mais infelizes com a situação dela. Lamento.

Lucas ainda estava sem cor quando acenou com a cabeça e encarou o chão, antes de suspirar e continuar. Ele resumiu rapidamente o plano de Sírius sobre espionar e descobrir as novidades. Resumiu o que descobriram e por fim, chegou à sua vez.


- Eu achei muitas coisas estranhas e muitas delas envolviam Ed e Collin Creevey. Zabini também. Eu desconfiei bastante dele, achava estranha a maneira que ele tinha de tentar interceptar Sarah, mas não sei… Tudo fazia sentido pra mim e eu não sabia explicar o porquê. Porque parecia tão óbvio se eu não tinha nenhuma pista? Pelo menos nada que servisse de prova, nada concreto. Então me lembrei de que Edilaine não se dava bem com Creevey e tentei adivinhar se havia algo por trás dessa inimizade. Confiei que tinha, mas como falar com ela? Eu ainda não confiava o bastante nela para isso, havia muitos mistérios que a rodeavam e eu achava isso estranho demais. Razão suficiente para desconfiar. Então eu ouvi. Ouvi o mesmo que o senhor, professor, mas eu ouvi o começo da conversa, ouvi a razão da briga e então, entendi. Tudo fez sentido rapidamente e eu não tinha mais nenhum motivo para não confiar em Edilaine. Minhas suspeitas se confirmavam e tive a impressão de que era o único que podia fazer algo a respeito, porque… perdão, professor, mas eu sabia que ia tomar a decisão errada, porque o que você ouviu não era nada demais, mas podia ter um significado totalmente diferente se você estivesse... – Lucas hesitou. – Estivesse caçando um motivo para jogar a culpa em pessoas que nunca confiou e… provar para si mesmo que não era um preconceito bobo, que estava certo.

Harry não gostou de ver que ele estava certo. Por isso não falou nada, apenas pensou que era um bom momento para ser educado.

- Por favor, sentem-se. Começamos mal, mas vamos tentar melhorar isso agora. Sentem-se.

Todos se acomodaram e Lucas achou que deveria voltar a falar quando o encararam novamente.

- Bem… A partir daí vocês já sabem, eu procurei Edilaine e pedi que ela me ajudasse a provar que vocês estavam errados. Como pensei, ela realmente tinha provas que eu não tinha…

- Não provas – ela o corrigiu. – Provas eu nunca tive. Tenho apenas meu testemunho que pode não bastar pra vocês, foi por isso que nunca cheguei a dizer nada para ninguém, sempre soube da inimizade que a maioria aqui tem por Blaise e temi que pensassem que era um plano, não sei. Não acreditariam em mim, provavelmente.

Harry lançou-lhe um olhar hesitante. Mas foi Draco quem falou novamente.

- Honestamente, você sempre foi esquisita – ele falou, sem temer ofendê-la como Harry provavelmente temia. – Eu sempre te achei... o oposto de Blaise. Ele parece mais a mulher da relação do que você. E ele nunca gostou de mulheres mandonas, pelo que posso me lembrar da nossa época no colégio. – Draco franziu as sobrancelhas, a expressão distante como se de repente lembrasse de algo. – Na verdade… eu sempre achei que ele não gostava de mulheres de nenhum tipo.

Harry tentou repreendê-lo com o olhar, isso não era nada educado de se dizer sobre um amigo para a namorada dele. Era uma grosseria até mesmo para um Malfoy.

Virou-se para pedir desculpas, mas surpreendeu-se ao vê-la sorrindo.
- Tem razão, Blaise nunca gostou muito de mulheres – E então o humor desapareceu. – Só que ele é covarde demais para assumir isso.

O queixo de Draco caiu. Lucas observou atentamente a reação de Harry, que não demonstrava diferença nenhuma em sua expressão.

- Não entendo.

Lucas suspirou, Ed girou os olhos e Draco continuava com o queixo caído para poder dizer alguma coisa.

Então uma batida rude soou no aposento. Ainda parecendo meio confuso, Harry se levantou para abrir a porta.

Blaise Zabini lhe dispensou um breve olhar antes de perscrutar a sala rapidamente, parando com os olhos chocados na namorada. Sem convite, ele cruzou a entrada a passadas largas e encarou-a mais de perto.

- Francamente, Ed…! – Havia mais do que incredulidade em sua voz. Havia mágoa. Arrependimento, talvez. – Não pensei que você chegaria a tal ponto! Sei que peguei pesado com você, mas não precisava correr até aqui para contar pra eles! Pense no que está fazendo, sabe perfeitamente bem a que está nos expondo…

- Cale-se, Blaise. Não diga o que não sabe. Você está sendo precipitado.

Perplexo demais para continuar a falar, ele apenas a encarou.

- Temos que contar a verdade a eles – Ed continuou, olhando-o intensamente. – Estou aqui para fazer isso, mas não é apenas porque estou chateada com você ou porque não via a hora de fazer isso. Temos que contar porque esse nosso segredo já despertou a atenção de gente demais, e agora todos acham que nós temos alguma coisa a ver com o tal espião que tem passado informações para Lucius Malfoy.

Agora os olhos de Zabini mostravam um choque ainda maior ao disparar na direção de Harry mais uma vez. Este estreitou os olhos para mostrar que Ed falava sério, escondendo o divertimento quando imediatamente Zabini os desviou para se prender em Draco.

- Até mesmo você, Draco?

Draco não se desculpou, nunca se desculpava. Além disso, nada estava realmente claro pra ele para que pudesse se precipitar.

- Você não tem me deixado muita escolha, Blaize – falou. – Nem agora. Em quê, exatamente, você quer que eu acredite?

- Você devia confiar no seu amigo! – O ex sonserino soltou de repente, frustrado.

- E esse meu amigo confiou em mim? – Draco rebateu calmamente.

Um longo minuto silencioso se seguiu. Todos se encaravam, numa disputa muda de quem cederia primeiro.

Por fim, ao encarar o participante mais quieto daquela intrigante reunião, Blaize caiu na cadeira que outrora Harry se sentara.

- Até você está aqui? Uma criança? – Como ninguém lhe respondeu, ele achou melhor se dirigir a uma pessoa só. – Potter?

- Sim. Aparentemente é ele o mais informado de nós. Estava compartilhando suas suposições quando você chegou.

- Não – Draco cortou, de repente rindo. – Na verdade nós estávamos falando da preferência sexual de Blaize quando o próprio interrompeu.

Zabini corou, virando-se para a namorada com um olhar traído.

Ela deu de ombros.

- Não só a dele Draco, a minha também. – falou simplesmente.

Draco girou os olhos.

- Vai dizer que você também gosta de mulher...?

Ele parecia divertido, mas olhou-a fixamente, como se no fundo desconfiasse que pudesse ser verdade.

Zabini virou-se novamente na direção da namorada, dessa vez com tanta pressa que quase caiu da cadeira.

- Você gosta? – perguntou ansioso de repente.

Edilaine girou os olhos novamente.

- Não seja tolo.

- Esperem! – Harry parecia o único que estava frustrado demais para interromper a diversão de Draco. – Eu acho que estou velho demais para evasivas. Isto está uma confusão terrível. Zabini, você é gay. Certo. Entendi. Mas que droga isso tem a ver com o espião? O namoro de vocês é uma farsa, ou…? Que diabos está acontecendo? Tratem de explicar de uma vez antes que eu repense na idéia de dar uma chance para que expliquem. Tenho motivos suficientes para jogá-los na cadeia agora mesmo!

- Owwwwwww! – Draco exclamou ao fim do discurso muito longo de Harry. – Acho que você está ficando velho, Harry, é o único aqui que não parece ter entendido.

- Não entendido o quê? – ele explodiu novamente. – O que Edilaine…

- Acorda, Harry – Ainda era Draco quem discutia com ele. – Não existe nenhuma Edilaine aqui. Ao menos não nessa sala. Zabini é gay, ela… ele também. Eles têm nos enganado esse tempo todo. Você nunca se perguntou porque eles moram juntos há anos e nunca se casaram? Porque Edilaine diretamente se encontra com algum frasco na mão e porque as vezes ela desaparece do nada? Confesso que nunca tinha pensado nisso antes, mas agora faz todo o sentido.

Sem ligar para o assombro de Harry, Draco perguntou algo que ele provavelmente também gostaria de saber.

- Afinal de contas quem é você?

Foi Lucas quem respondeu.

- Eduardo Forrester.

Zabini se levantou.

- Acho que é você quem precisa se sentar agora, Potter. Anda, ninguém aqui quer carregar você se tiver um treco. Eu poderia esconder o seu corpo na floresta, mas seus filhos provavelmente sentiriam suas falta e eu tenho dó das pobres crianças. Então, por favor, contenha-se.

Harry sentou sem se opor, a boca aberta e pronta para soltar uma pergunta, que foi interrompida.

- Era por isso que eles estavam brigando. – Lucas continuou, já sabendo toda a história. - Há muito tempo Ed quer contar a verdade, mas... hum... Os dois discordavam quanto a isso... Aparecer de vez em quando como o terceiro dos irmãos Forrester era meio que uma saída para Ed se ver livre de sua camuflagem. Eu descobri ouvindo a conversa, e então vi que mais alguém estava ouvindo. Reconheci o professor Harry e lamentei que ele estivesse ouvindo uma parte comprometedora, que poderia ser mal interpretada. Mas como eu já sabia da verdade, resolvi ir atrás de Edil… desculpa, de Eduardo e, se preciso, ameaçá-lo para colaborar. É claro que não precisou, ele me contou a verdade assim que eu assumi que sabia de sua identidade e que não era o único que tinha ouvido a conversa.

- Okay – Harry voltou a falar, menos exasperado. – Vamos deixar essa… surpresa, mentira, ou seja lá como devo chamar isso, de lado agora, e vou perguntar qual é, afinal, essa tal verdade.

- Isso eu também quero saber – murmurou Zabini, curioso.

Ed suspirou. Era difícil para todos agora olhá-la como mulher e tentar se dirigir a ela como homem. Ninguém sabia exatamente ao certo como chamá-la.

- Pois bem. Se querem a verdade, a verdade é o que terão. Tudo começou quando eu resolvi abastecer o meu estoque de Poção Polissuco, não era sempre que Ponfrey aceitava ajudar, e fui até…

- Um momento – Harry pediu. – Você disse que ela ajuda vocês? Quem mais sabe disso?

- Bem, ela tinha que saber – Ed se desculpou. – Eu trabalhava com ela, não havia como esconder o tempo todo. E meu irmão, é claro. Ele sempre soube.

- Clark? – Agora sim Harry estava perplexo. – Clark sempre soube que você não era você, quer dizer…

- Sim, sim. – Edilaine parecia impaciente agora. – Ele sempre soube, quando disse que precisava da minha ajuda para vir para cá eu o informei da dificuldade e ele concordou em guardar o segredo. Foi ele quem persuadiu minha irmã, a verdadeira Edilaine que mora em New York, vocês sabem, a colaborar. Mas Potter, não temos muito tempo então sugiro que me deixe terminar.

- Oh… Tudo bem, desculpe.

- Então… Para adquirir os ingredientes que precisava e permanecer no anonimato para ninguém desconfiar, é claro, fui até o único lugar onde não corria o risco de encontrar nenhum de vocês, a Travessa do Tranco. Aproveitei também para levar uma máquina fotográfica que eu tinha para concertar, entendam, não era exatamente a primeira vez que eu ia até lá, conhecia uma pessoa que levava muito jeito para concertar peças tão pequenas quanto as que minha máquina possuía. Então eu fui atrás dela, numa das pensões abandonadas que há por lá, quase caindo aos pedaços e ainda sim custando três vezes mais do que custaria por aqui.

“Era logo no primeiro andar, na ultima porta do corredor, mas eu estava tão distraído com os horrores daquela cor avermelhada nas paredes que mais pareciam um cenário de filme de terror que subi até o segundo, sem perceber. Lá estava a última porta, totalmente solitária naquele andar. Ainda sem perceber nada, fui até lá e já estava quase batendo na porta quando um leve zumbido de vozes vindo de dentro chamou a minha atenção. Sempre fui muito curioso e este é um dos defeitos que mais me trouxeram problemas até hoje – Ela trocou um olhar com Zabini que parecia concordar plenamente – Então eu fiz tudo o que pude para ouvir.”

Eduardo – ainda no corpo de Edilaine – pausou por um minuto muito longo.

- Ouvi. E não gostei. Não, dizer que não gostei é muito pouco. Eu me choquei com o que ouvi. Isso foi quase fatal, porque no susto derrubei a máquina que ainda estava em minhas mãos. Com certeza as pessoas lá dentro teriam ouvido o barulho e eu estava, definitivamente, perdido.

- O que você fez? – perguntou Zabini, ao mesmo tempo em que Draco perguntava “O que você ouviu?”. As preocupações de ambos aparentemente iam para lado opostos.

- Eu fugi, é claro, mas deixei a máquina ainda mais quebrada onde caíra, o que era a minha menor preocupação naquele momento. O que eu ouvi? Acho que vocês já sabem. Eu ouvi o plano de seduzir Sarah para convencê-la a ajudá-los, já que forçá-la era algo que eles não sabiam se funcionaria graças aos seus poderes excepcionais.

- Você esteve há poucos metros de Lucius Malfoy e não me contou nada? – Zabini exclamou exasperado.

Todos ali pareciam concordar com ele, por motivos diferentes, é claro.

- Você sabia onde ele estava escondido e não informou nada a ninguém? – Era a reclamação de Draco.

- Tem idéia do perigo que você correu estando por uma porta, uma porta fora do alcance da maldade de Lucius Malfoy? – Essa era a de Harry.

Lucas era o único a permanecer quieto.

- Sosseguem os três! – Eduardo exclamou, claramente aborrecido. – Sei me cuidar, ok? E Draco, você não pode ser tolo o suficiente achando que Lucius moraria numa espelunca como aquela, pode? Aquele era só um lugar de encontro, nada mais, por isso não vinha ao caso. E eu já disse, vocês não acreditariam em mim. Não sabia que tipo de perigo estava correndo, era melhor não envolver mais ninguém a toa, já que nada podia ser feito.

- Nada podia ser feito? – Agora era a vez de Draco estar enfurecido. –Nada? Você esqueceu que minha filha é vítima aqui? Nós podíamos tê-la alertado! Protegido-a…

- Mais do que já protegem? – A voz de Ed agora estava tranquila, suave. – Vocês já fazem tudo o que podem por ela, Draco, infelizmente não pode decidir por quem ela se apaixona.

- Espere – Harry se remexeu inquieto na cadeira. – Você ouviu a conversa... e reconheceu a voz de Lucius, não foi? – Ele esperou que ela confirmasse. – Então você também reconheceu a voz que estava com ele… não reconheceu?

Lucas e Eduardo se entreolharam dessa vez. Todos esperaram num silêncio absoluto, até que, finalmente, ele fez um aceno positivo.

- Deixe-me adivinhar – Draco falou com a voz cortante. – Você não contou a ninguém porque não acreditaríamos em você?

Edilaine que já parecia mais Eduardo com o efeito da última poção polissuco acabando, deu um sorriso torto na direção de Draco.

- Tenho minhas dúvidas se vão acreditar agora.

Draco cruzou os braços.

- Desembucha.

- Bem… Lucas pode me ajudar nisso. Lucas?

Lucas tirou da bolsa que carregava uma bonita máquina fotográfica.

- Essa não é a sua máquina? – Zabini tinha os olhos arregalados.

- Você a reconhece? – Totalmente Eduardo agora, ele parecia satisfeito.

- É claro. A não ser que você tenha outra.

- Não, não tenho, essa é a minha máquina.

- E como você a recuperou então? – Harry perguntou. – Se você tinha deixado ela lá…
- Collin Creevey me emprestou – Lucas falou apenas.

Demorou um pouco para que a ficha caísse.

- Ah, não... – Harry murmurou, angustiado.

- Eu sabia! – Zabini exclamou irritado, continuando com uma série de nomes obscenos para o tal homem.

Draco apenas riu.

- Vocês estão loucos! Aquele paspalho? Impossível, só podem estar brincando!

- Não estamos – Lucas reafirmou. – Esses são os fatos, não há como negar.

Draco encarou-o, como se para garantir que ele falava sério. Parecia ser a única pessoa naquela sala que ele confiava o bastante para acreditar.

- Temos um problema maior. – continuou o Lobisomem, tentando não se intimidar com o olhar de Draco. Piscou e lentamente informou o professor: - Aparentemente Sarah está apaixonada. Ela tem se encontrado às escondidas com ele.

Meio segundo foi o bastante para que Draco assimilasse a verdade. Depois, houve uma confusão com a série de coisas que aconteceram rapidamente.

A cor já escassa na face de Draco sumira numa fração de segundo, e ele já estava de pé, tendo derrubado a cadeira e tropeçado na própria ao tentar chegar até a porta. Harry foi atrás, mais uma cadeira tombando no chão, e chegou até Draco antes que ele pudesse girar o trinco.

- Draco… o que… Por Merlim, o que está fazendo?

- Eu vou… - Ele tentava lutar contra as mãos fortes de Harry que o seguravam. – Eu vou atrás daquele… Daquele covarde… Minha filha, Harry! Ele está… Está se aproveitando dela! Uma criança! Eu tenho que ir, eu te juro que vou matá-lo, Harry…

- Draco, acalme-se! – Exclamou Harry exasperado. – Zabini, por favor!

Blaize se adiantou com a varinha, imobilizando-o. Sem poder mais se mexer, Draco olhou-o com olhos traídos.

- Sinto muito, Draco, mas você tem que se acalmar. Tenho certeza de que se estivesse na sua pele eu faria o mesmo, assim como você faria o que eu fiz se estivesse na minha. Você precisa se acalmar! Não vamos chegar a lugar algum assim.

- Ele está certo – Harry apoiou tentando não demonstrar sua própria vontade de acabar com o jornalista. – Indo até ele para matá-lo não é a coisa mais sensata para se fazer, embora todos nós aqui com certeza lhe compreenderíamos se o fizesse – deixou escapar. – Mas ele pode fugir, ele pode alertar Lucius, ele pode fazer algum mal a Sarah, Draco. Temos que tentar agir com frieza. Formar algum plano.

Os olhos prateados eram a única coisa que se mexiam, mas nesse momento estavam quietos, inexpressivos. Harry parecia estar esperando alguma resposta, mas se tocou de que não havia como recebê-la.

- Se desfizermos o feitiço, você promete sentar e ouvir?

Os olhos continuaram a lhe encarar.

- Feche os olhos se estiver concordando. – Harry instruiu.

Os olhos foram parar no tento num gesto bastante particular de Draco, antes de se fecharem por dois segundos e reabrirem.

- Ótimo. E se você tentar sair correndo, nós vamos estuporá-lo enquanto resolvemos isso e você ficará por fora de tudo. Ok?

Draco fechou os olhos mais uma vez. Zabini então desfez o feitiço.

- Você me paga por isso – ele ameaçou.

- Desculpe.

- Então? Qual é o plano? – Draco estava impaciente.

- O que já começamos – Harry respondeu prontamente. – Sírius. Ainda não vamos desistir dele, ele ficou de conversar com ela, se lembra?

Lucas se levantou de repente, assustando a todos.

- Sírius? – perguntou, pálido. – O que disse a ele?

Harry apertou os olhos.

- Nada demais. Disse apenas que havia uma pessoa muito perigosa que estava tentando se aproximar de Sarah e que ele podia impedir. Pedi que ele contasse a ela o que sentia por ela, o que nunca foi segredo pra ninguém. Como vê, não foi nada.

Mas Lucas estava outra vez sem cor. Enquanto tentava fazer as contas. Q que horas o deixara chorando por ter discutido com Sarah? Horas, provavelmente

- Quando foi isso?

- Meia, talvez uma hora antes de vocês chegarem. – Harry franziu ainda mais as sobrancelhas. – Por quê?

Se Sírius falara pro pai que faria o que ele pedira, provavelmente decidira deixar de lado o incidente anterior. Mas ele não era tolo. Lucas tinha certeza de que Sírius percebera na hora que Collin era o verdadeiro responsável. Quem mais ele conhecia que perseguia, Sarah? E quem mais havia de tão perigoso no castelo além do misterioso espião?

- Espero que ele tenha mesmo falado com Sarah – disse Lucas, preocupado. – Não ido atrás de Collin, porque tenho certeza que ele já sabe quem ele é.

Harry o encarou por um tempo muito longo.

- Você acha que ele faria algo assim?

Lucas deu de ombros.

- Sinceramente, não sei. Sírius pode ser imprevisível quando se trata de sentimentos.

- Entendo – Harry falou, virando-se para Draco. – O que você acha…?

Mas Harry pulou no lugar quando a porta foi espancada mais uma vez. Alguém estava com pressa para entrar.

- Papai! – A voz ofegante era de Sírius. Ansiosa. Urgente.

Em menos de um segundo Harry abriu a porta. Sírius estava parado ali, descabelado, transpirando e parecendo lutar para encontrar ar e respirar.

- Papai… Eu… falei com Sarah…

Ninguém conseguiu dizer uma palavra, olhando a figura descontrolada de Sírius e esperando que ele conseguisse falar.

- Ela pareceu se convencer, mas… depois… ele apareceu… Papai, ele a levou daqui… Ela, ela foi embora… com ele…

Harry e Draco ainda tiveram tempo de trocarem um olhar, antes de se dirigirem imediatamente até a porta.

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