Pequenos espiões
Capítulo XIX: Pequenos espiões
Lucas não parava de balançar a cabeça enquanto andava. Seu amigo era mesmo louco, inventava cada idéia... E claro, agora ele era obrigado a tomar parte nisso tudo. Será que ele estava certo? Será que os três poderiam mesmo descobrir alguma coisa? Não imaginava como...
- Ei, você está bem? - Lucas ouviu a voz meio áspera do Profº Zabini, não tinha nem notado a presença dele.
- Ah, estou bem sim, professor, obrigada.
Zabini o olhou desconfiado.
- Certo. Cuidado por onde anda.
Lucas pensou rápido. Antes que Blaize se afastasse, ele o chamou de volta.
- Eh... professor?
Blaize parou.
- sim?
- O senhor sabe onde eu posso... onde eu posso arrumar uma máquina fotográfica?
Zabini franziu as sobrancelhas.
- Máquina fotográfica? Ah, sim... deve estar me perguntando por ter me visto com uma há algum tempo atrás? Mas não era minha. É de Ed, porque você não pede pra ela? Ela emprestará pra você.
- Hum... certo. Obrigado, professor. Eu vou fazer isso.
Lucas continuou seu caminho, dessa vez tomando a direção da enfermaria. Quando chegou lá, quase voltou para trás. Havia uma discussão na porta e ele odiava presenciar essas cenas.
- Eu não sei o que você ainda faz aqui. Tenho certeza de que tudo isso que está no jornal veio de você. Deviam impedir a sua entrada neste castelo! - Edilaine sussuva para não acordar os pacientes, mas parecia descontrolada.
- Eu sou contratado deste castelo. - Collin Creevey retrucava. - E eu não tenho nada a ver com esse jornal. Meu trabalho aqui é outro!
- O seu trabalho deveria ser...
- Hum-hum - Lucas pigarreou, para que percebessem a sua presença.
Os dois pararam de discutir no mesmo instante, olhando assustados para Lucas.
- Ah... Edilaine... O professor Zabini disse que você tinha uma máquina fotográfica pra me emprestar... Eu estou precisando de uma.
- Máquina? - disse Ed, ainda parecendo se recuperar de ser encontrada em meio a uma discussão. - Máquina fotográfica? Não, não... Eu não tenho mais, lamento, mas não posso ajudar.
- Eu posso - Collin se intrometeu, lançando um olhar de triunfo para Ed que girou os olhos. - Olha, eu sempre carrego uma máquina extra comigo... Ela era profissional, mas infelizmente se quebrou. Tenho essa aqui que não é grande coisa, mas pode servir.
Collin tirou uma máquina pequena da mochila, preta com detalhes prateados, realmente muito bonita, e entregou-a para Lucas.
- Ufa, obrigada - o garoto agradeceu, realmente aliviado. - Amanhã eu devolvo, pode ser?
- Pode, claro.
Sorrindo, Lucas se virou para Edilaine, pretendendo perguntar se ela o deixaria visitar Maggie por alguns minutos, mas se calou quando notou o olhar da enfermeira sobre Collin.
- Máquina nova, Collin? - perguntou e havia algo de estranho em sua voz. - Como quebrou a que tinha antes?
- Ah, um acidente, nada demais - Collin também a olhou estranho. - Porque está perguntando? Gostou da minha máquina nova? É um modelo diferente, não se acha em qualquer lugar, mas eu posso te indicar o lugar onde eu a arrajei, quem sabe você não encontra uma igual?
Pela expressão de Edilaine, Lucas imaginou que ela lhe daria uma bela de uma resposta afiada. Mas se enganou. A única coisa que ela fez, foi bater a porta da enfermaria na cara do jornalista. E logo, dele também.
Collin girou os olhos, virou-se e com a mão no ombro de Lucas, obrigando-o a andar na mesma direção que ele.
- Essa mulher é muito estranha não acha? - sussurrou, como quem compartilha um segredo.
Lucas teve que assumir que sim, fazendo Collin sorrir.
- Pois é... ela deu pra pegar no meu pé ultimamente... Ainda quero descobrir porquê. - Ele suspirou. - Bem, aproveite bem a máquina, só me devolva inteira, ok? Essas máquinas quando quebram... São peças demais, você não faz idéia...
Com um aperto mais firme no ombro de Lucas, Collin o deixou sozinho, mudando seu caminho.
Enquanto ele se afastava e Lucas olhava as direções para saber por onde começava, pensava que na verdade todos eles eram estranhos. Estranhos até demais.
Com um espírito jornalista que ele não conhecia, Lucas tirou um caderninho da bolsa e fez sua primeira anotação do dia.
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Sírius caminhou até a sala do pai com uma animação que não possuía há muito tempo. Era gostoso essa adrenalina de fazer algo embaixo dos panos. Esse mistério todo... Sírius gostava disso. Desconfiava que seguiria a profissão do pai, se tivesse sucesso nessa experiência.
Quando chegou na porta, bateu e ouviu seu pai murmurar um "entre" apressado, aparecendo na porta antes que Sírius pudesse girar a maçaneta.
- Ah, filho, entre... Depressa, eu estou um pouco ocupado.
Sírius entrou, praticamente empurrado para dentro.
- Espere um pouco aqui que eu já volto, preciso terminar uma conversa.
E antes que Sírius tivesse a chance de dizer qualquer coisa, ele foi obrigado a esperar enquanto o pai se trancava em outra porta.
- Aff... - ele resmungou. - Grande começo de carreira. Ser deixado sozinho numa sala empoeirada!
Mas sírius não estava em condições de ser deixando sozinho numa sala empoeirada, de braços cruzados, quando seu senso de espião falava mais alto. Bastou apenas um olhar para a direita onde havia uma mesinha com uma plaquinha "Confiscado" para que ele se levantasse depressa e fosse até lá. Com certeza haveria algo que o ajudaria...
- Aqui! - Sírius exclamou com um sorriso ao encontrar uma versão atual das "Orelhas extensíveis" de Fred e Jorge. Era bem menor e bastava um pequeno ajuste para que sua extremidade se tornasse invisível. - Perfeito!
Com o coração batendo forte no peito ele foi até a porta de madeira fechada, colocou o objeto no ouvido e o ajustou corretamente, lançando a ponta para dentro do outro cômodo.
- ... é impossível - Era a voz de seu pai. - Tem certeza de que foi isso mesmo o que ele disse?
- Absoluta, Harry, e você já me perguntou isso. - Conhecia aquela voz cansada... Era... tio Ronald? - Eu o interroguei com veritasserum e total autorização dele e sua esposa. Ele não mentiu, há mais alguém em nosso meio passando informações a Lucius. E a pessoa parece ser bem influente.
O barulho abafado de um punho se chocando contra alguma coisa dura fez Sírius imaginar que seu pai estaria irritado.
- Droga... Eu não consigo imaginar que alguém aqui esteja nos traindo! Isso é muito deprimente, Rony! A menos que seja...
- Imperius também? Não, não creio, e Clark concorda comigo, ele disse que a pessoa parecia sempre muito consciente do que fazia.
Uma pequena pausa.
- Será que não há chances...
- Harry, você sabe que não! Ele não vai reconhecê-lo, já afirmei isso.
Um suspiro.
- E o que vamos fazer?
Silêncio.
- Obrigado, Ronym por ter vindo me informar, não se preocupe com isso que eu me encarrego de tudo. Pode voltar e ficar com Mione e sua filha.
- Harry?
- O quê?
- Sei que parece egoísmo jogar nas suas costas... Você já salvou o mundo bruxo uma vez... Por favor, faça o que puder para que isso acabe logo... Se você não puder, nenhum de nós pode.
No silêncio que se seguiu, Sírius rapidamente recolheu a orelha extensível e se sentou bem na hora em que Harry abria a porta.
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Harry tentava comer alguma coisa na hora do jantar, mas seu estômago parecia que se recusava a aceitar qualquer tipo de alimento. Nem as saborosas tortas de caramelo lhe pareciam convidativas dessa vez. Entediado e aborrecido ele passou os olhos pelos colegas na mesa. Poucos eram os que haviam aparecido no Salão principal naquele dia, cheios de trabalho e humilhação para enxer a cabeça.
Ele soltou um suspiro, olhando desanimado para os pedaços de torta que não conseguia comer, não adiantava tentar enfiar goela abaixo, quando não dava, não dava.
Jogando o prato para longe de si, Harry ergueu os olhos para os alunos que jantavam. Praticamente todos ainda estavam ali, havia os lugares vagos daqueles - o coração de Harry se comprimiu - que estavamo inconscientes na enfermaria. E reparando bem, Sírius não estava lá... Nem Sarah.
Nem Lucas.
- Isso me soa como confusão. - ele pensou.
Suspirando profundamente dessa vez, Harry resolveu se levantar e procurar pelo filho, para ver o que ele estava tramando. Sírius andava meio estranho, aparecera em seu escritório pela manhã e lhe fez um monte de perguntas... Harry entendia a preocupação do filho e seu interesse pelas precauções tomadas, afinal, Maggie sempre tão próxima da família fora uma das infeliz vítimas. Porém, ele se lembrava muito bem da sua vida em Hogwarts para não temer que o filho e seus amigos se metessem em encrencas irremediáveis.
Ninguém perguntou a onde ele ia. Na verdade, poucos notaram que Harry Potter estava saindo dali, estavam distraídos demais com prováveis soluções para suas próprias obrigações. Então Harry tomou o seu caminho sem olhar para trás, perdido em seus próprios receios de não encontrar uma solução para o que lhe tirava o sono.
- Um novo espião... - pensava ele inadivelmente. - Foi o que Rony disse via Flú... Clark contou para ele após ter se recuperado parcialmente da maldição... Mas será que essa não é a vontade de Lucius? Apenas causar uma intriga entre todos nós, deixar-nos ocupados procurando um inexistente espião enquanto ele providencia novas maldades? Mas espere... Lucius sabia da profecia... Não desconfiei desde o começo que alguém ouvira minha conversa com Trelawney a mais de quinze anos atrás? E quem estava faltando na mesa? Blaize Zabini e a namorada. Mas seria impossível... Ed se mostrara uma excelente profissional, será que os dois... E a probabilidade de ser uma terceira pessoa? Faltava mais alguém na mesa?
Harry forçou a memória para se lembrar daquela noite, os pés já andando automaticamente para qualquer direção.
Não... todos estavam lá com excessão das crianças... Não havia ninguém a mais na casa... a menos que tivesse invadido quando não havia ninguém ainda... Mas isso era impossível... Arthur e Molly tinham feitiços de proteção... não tinham? Mas essa hipótese era impossível... Como alguém saberia que aconteceria dentro daquela casa uma profecia que poderia mudar a história do mundo bruxo?
Tudo estava muito confuso. Muito mesmo. Tudo apontava para Zabini, mas ele não queria mais desconfiar do ex sonserino desta forma... Tudo bem que não ia com a cara dele... Mas por isso mesmo... Não podia julgar uma pessoa por causa de um passado pessoal mal resolvido...
- Cansei! Isso é o que está havendo, Blaize!
Harry parou, acordando do torpor que parecia ter se enfiado. Vozes exaltadas vinham de algum lugar próximo.
- Não adianta me fazer psiu! Tudo isso é culpa sua! Essa vida é culpa sua! Eu não aguento mais essa mentira, Blaize.
Ao encontrar a porta de onde vinha o barulho Harry se apressou em encostar o ouvido nela e prestar atenção.
- Não é bem assim, Ed... Não é uma mentira... É só... Bem, você sabe que ninguém pode saber....
Harry colou ainda mais o ouvido na porta. Será que enfim descobrira o mistério?
- Não! Não e não! Para mim já chega dessa farça! Vamos contar toda a verdade pra eles!
- Mas Ed...
- Sem mas! Eu não quero mais saber, Blaize! Você pode saber fingir muito bem, porém, eu não! Cansei dessa história, você não está sendo justo comigo nem com eles! Conte ou nunca mais vai me ver! Adeus!
Ao som de passos se aproximando, Harry correu para se esconder. Edlaine saiu aos tropeços da sala, descabelada e vermelha de raiva, mas Blaize Zabini não deu as caras. Aparentemente a chantagem da namorada não fora o suficiente para contar o que quer que ele estivesse escondendo.
- Isso foi muito... interessante... - Harry falou para si mesmo, a mente trabalhando a mil por hora.
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A expressão de Sírius, enquanto batucava com os dedos na carteira de madeira onde estava rigidamente sentado parecia a de um agente do FBI, furiosamente impaciente, enquanto esperava que seus subordinados apresentassem os resultados de suas investigações.
- Pois bem. Sarah? Lucas ainda não chegou então somos apenas eu e você. As damas primeiro, então, você começa. Quais as novidades que recolheu para nós?
Sarah girou os olhos diante do tom pomposo do amigo.
- Oh, por Deus, poupe-nos dessa sua encenação ridícula, Sírius! Você está fazendo eu me sentir como uma dessas personagens de filmes policiais trouxas que seu avô nos fez assistir uma vez! Ou você para com isso, ou eu vou embora agora sem lhe passar uma única informação!
A máscara de Sírius ainda durou por algum tempo, até que ele desistiu e relaxou o corpo como o verdadeiro adolescente que era.
- Você é muito estraga prazeres, Sarah. – reclamou, frustrado. – Desembucha logo, então! O que você descobriu?
Ela lhe deu um de seus melhores sorrisos, o que fez com que ele recuasse, engolindo em seco.
- Assim está bem melhor – comentou sorridente. Então seus olhos se tornaram sombrios. – Infelizmente, as notícias não são muito boas. Como todos suspeitaram, o que contaminou Maggie e os outros foi uma poção venenosa que só atinge os trouxas e mestiços. É uma poção antiga e fatal, porque inclui um ingrediente proibido e puro. Papai mencionou algo a respeito de Unicórnios, mas eu não tenho certeza.
- Espera – Sírius a interrompeu, sem nenhuma cor no rosto. – Você disse faltal?
- Sim, Sírius, a poção é fatal. Mas me deixe terminar sim? – A paciência de Sarah não parecia muito extensa nessa noite.
- Vá lá! – Sírius fez um gesto irritado com a mão.
- A poção, ou ao menos sua receita inicial é fatal. Contra ela os mestiços não teriam qualquer chance. Mas aparentemente L... Lucius, que claramente é o responsável por isso, não conseguiu esse ingrediente, usando a poção incompleta. Essa nova receita faz com que todos entrem nesse estado de coma, mas não morrem.
- Então ele não foi muito inteligente, não é? – Sírius parecia incapaz de permanecer calado. – Será que ele não pensou que nós poderíamos simplesmente manter todas as vítimas em segurança até que o antídoto fosse concluído? – Ele pareceu não entender o olhar de Sarah. – O quê? Seu pai ainda não conseguiu descobrir o antídoto?
- Não há antídoto, Sírius – ela falou, com dor. – é simplesmente impossível fazer um antídoto, quem quer que tenha feito essa poção - que de acordo com meu pai é impossível que seja Lucius porque ele nunca teve a perspicácia necessária – elaborou um plano muito bem elaborado. Eu não entendi direito os termos que ele usou enquanto falava sobre isso com aquele velho esquisito, mas parece que incluíram o antídoto na poção, fazendo com que ele não reagisse da forma esperada.
- Então simplesmente não há antídoto?
Sírius e Sarah se viraram para a porta, onde não tinham reparado que Lucas aparecera, uma mão ainda na maçaneta da porta e a outra carregando um bloco de notas. A expressão de choque congelava sua face bonita, um sinal de fúria contida evidenciando o monstro que ele se transformava uma vez por mês.
- Sente-se Lucas – Sarah exigiu, não se deixando intimidar. – Não há antídoto, mas nem tudo está perdido. Ouvi papai revelar que isso apenas dificultou as coisas, não tornou-as impossível. Ele diz que sempre há dois antídotos para um veneno, um deles baseado em seu próprio conteúdo. O outro... bem, o outro ele não disse. Disse apenas que apenas um mestre formado entenderia isso, e ele está certo de que Lucius não entende e que dúvida que ele tenha pensado nisso.
- E se ele pensou? – Lucas teimou.
- Lucas – Sarah tornou a usar aquele tom imperioso. – Sente-se agora ou não diremos mais uma única palavra.
Isso pareceu convencê-lo.
- Bem... mas alguma coisa Sarah?
A garota sacudiu a cabeça em sinal negativo, fazendo uma cascata de fios dourados flutuarem por seus ombros. Demorou um pouco para que Sírius recuperasse a fala.
- Bem... ahh... Lucas? Você quer começar ou prefere que eu comece?
Lucas murmurou que para ele não fazia diferença.
- Bom, então eu vou na frente – E contou a eles tudo o que ouviu de seu pai.
- E então – ele continuou tomando fôlego – é isso. Tem alguém aqui dentro que está diretamente ligado ao avô... – Ele se interrompeu com o olhar de Sarah. – ahh... com Lucius Malfoy. E está sendo um espião duplo. Nós só temos que descobrir quem é! – acrescentou triunfante, como se essa fosse a parte mais fácil.
- Excelente – Sarah elogiou. – Isso definitivamente foi um progresso. Uau... Acho que essa história de espiões está funcionando mais do que eu pensava. Estamos descobrindo bastante coisa!
Sírius parecia cheio de si, como se elogio de Sarah fosse diretamente para ele e a sua capacidade brilhante de ter idéias.
- Eu sei disso – comentou com um sorriso para Sarah, então, lembrando-se que havia mais alguém na sala imediatamente ele se virou para Lucas. – Ei, Lucas, você conseguiu descobrir alguma coisa como nós?
Os olhos da cor do mel do lobisomem se levantaram do seu bloco de notas e encaram seu amigo. A resposta estava na ponta de sua língua, mas uma olhada para a loira ao seu lado fez despertar um sentimento de precaução estranho em seu coração. Então, ele sorriu.
- Não fiz tanto progresso quanto vocês. Acho que vou precisar de mais um tempo.
Sírius parecia satisfeito com todas as informações que tivera naquele dia, então nem se importou.
- Ótimo. Se descobrir alguma coisa venha nos dizer. Agora é melhor voltar para o salão comunal. Vamos?
Devagar, sem uma palavra a mais, Lucas os seguiu. Ignorou propositadamente o olhar de Sarah. Fizera o certo, pensava, era melhor ter provas antes de... bem...
Antes de revelar que, a menos que estivesse muitíssimo enganado, sabia quem era o espião.
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