Vingança e obsessão
- Collin... para onde estamos indo?
Nervosa, Sarah olhou por cima do ombro mais uma vez, já perdera as contas de quantas vezes fizera isso nos últimos minutos.
- Por favor, Sarah, não pergunte… apenas confie em mim...
- Você sabe que eu confio – ela retrucou emburrada, olhando uma última vez para o castelo que desaparecia a distância. Confie em mim, era só o que Collin repetia desde que a encontrou no castelo pouco depois de ter se despedindo de Sírius e pedira com olhos urgentes para que o acompanhasse e não fizesse perguntas. Obedientemente, Sarah o seguira, com medo de que algo tivesse acontecido para que Collin agisse tão estranho. Então ele a levara para fora do castelo e agora, enquanto ele abria o grande portão negro, Sarah se sentia ainda mais nervosa.
- Collin...
Ele a virou de frente. Pronta para exigir uma explicação que morreu assim que ela viu as lágrimas nos olhos de Collin.
- Desculpe, Sarah... eu preciso fazer isso...
E antes que ela pudesse se dar conta dos gritos que chamavam por ela cada vez mais perto, e até mesmo perceber que algo estava realmente errado, Collin fez um movimento rápido com a varinha e ela sentiu sua consciência abandoná-la aos poucos.
Se seus olhos semi-conscientes pudessem expressar algo, eles expressariam o choque e o atordoamento enquanto ele a pegava no colo e rodopiava sob os clarões repentinos ainda distantes.
Ela caminhava, um pouco chateada com o andamento dos acontecimentos. Porque ela se sentia o centro de todas as coisas ruins? Isso era horrível. Além de ter os seus poderes desejados por um maníaco matador de trouxas que era seu próprio avô, ela agora era alvo de repulsa da pessoa que realmente amava. E estava saindo com um cara com idade para ser seu pai que parecia só se interessar por uma aparência física que nem era dela.
Aff... Que vida mais desgraçada.
E aqui estava ela, sofrendo como nunca enquanto andava sem direção para tentar clarear as idéias.
O que era meio impossível com o protagonista dessas idéias agarrando o seu braço e puxando com surpreende força para um garoto de 14 anos, dentro da primeira porta a vista: um quartinho de vassouras.
- Síx, o quê…
Sírius a silenciou, com a mão suavemente pressionada sobre sua boca e um olhar tão intenso que Sarah jurava nunca ter visto.
- Tenho uma coisa pra dizer pra você. É importante, então, por favor, apenas me escute antes que minha coragem desapareça e eu seja incapaz de levar isso adiante.
Ainda com a mão de Sírius a impedindo de dizer qualquer coisa, ela pôde apenas fazer um aceno afirmativo, intrigada.
Sírius respirou fundo. O cômodo era pequeno e escuro. Sírius estava tão perto dela que até esse pequeno movimento foi o suficiente para que os corpos se tocassem. Ela não pôde impedir o arrepio involuntário.
- Sarah, eu… - Não parecendo muito contente, o rapaz tirou a mão de sua boca e a colocou na parede ao lado de sua cabeça. Havia um nesgo de luz de um pequeno buraco na parede que iluminava com clareza um olho e uma parte dos lábios de Sírius, tornando possível que Sarah observasse o pequeno tremor no lábio inferior dele quando seu olhar desejoso desceu até onde estava sua mão segundos antes.
- Você... ? – Sarah o trouxe de volta, a voz, um murmúrio tão rouco que não parecia uma palavra a seus ouvidos. Isso, porém, foi o suficiente para que ele voltasse a olhá-la nos olhos.
- Eu vim pedir... Não, eu vim implorar para que você deixe aquele jornalista... Não me interrompa, Sarah, por favor! – ele pediu urgente quando ela ameaçou fazê-lo. – Você prometeu me escutar.
Contra a vontade, Sarah voltou a fechar a boca. Olhou-o com clara reprovação.
- Eu sei que fui rude – ele assumiu. – Talvez até cruel, quando conversamos na última vez. Eu estava chocado, decepcionado, e chateado, Sarah. Coloque-se no meu lugar, entenda isso e me perdoe, por favor.
Sarah sentiu que isso bastava, mesmo involuntariamente percebeu que seus olhos revelavam a verdade de seus sentimentos para Sírius, que um pouco mais confiante, continuou:
- Não estou interferindo na sua vida como você deve estar pensando. Não quero controlar você, nem nada assim. Eu só quero que você veja que você merece alguém... alguém que goste de você de verdade, sem precisar de nenhum feitiço pra isso... Alguém que ame você... Que queria te ver feliz a cima de tudo. E Creevey não é essa pessoa.
Sarah baixou os olhos. Esperou, mas Sírius não disse mais nada. Então ela voltou a erguê-los e encarou-o.
- Collin não é essa pessoa? – perguntou.
- Não, Sarah, não é.
- Você acha que ele não é capaz de me amar?
- Está claro que não...
- Claro. Porque ele não se interessaria por mim, não é?Você julga difícil alguém se apaixonar de verdade por mim. O quê? Você acha que eu não sou capaz de despertar esse tipo de sentimento em alguém?
A expressão de Sírius era quase torturante. Estava transfigurada pelo pânico e pela dor. Sarah não conseguiu continuar olhando-o e desviou o corpo na direção da porta, ameaçando ir embora.
- Não.
Sírius a segurou pela cintura antes que ela pudesse abrir a única porta do tão pequeno cômodo e a colocou de volta nos poucos centímetros que ela se afastara para sair. Dessa vez, talvez inconsciente ou propositalmente, Sarah não sabia, ele se aproximou o suficiente para mantê-la no lugar, com seu próprio corpo. Os dois estavam tão perto que ela podia sentir o coração acelerado dele contra seu peito, e o seu contra o dele.
Por um momento, os dois se perderam no movimento de seus corações que pareciam bater em compasso em ambos os lados de seus corpos, quase como se fossem um único e grande coração, batendo sozinho enquanto bombeava vida para os dois. Então Sarah sentiu a mão que Sírius outrora segurara a parede acariciando a lateral de seu rosto como se ele fosse feito da mais delicada e quebrável porcelana.
Collin nunca a tocara com essa reverência...
- Você entendeu tudo errado... Você precisa de alguém que ame você mais do que tudo. Alguém que só queria te fazer feliz. Alguém que queira estar ao seu lado sempre... E você tem toda a liberdade que alguém teria para escolher... Mas eu gostaria que você pensasse em mim quando fizesse esta escolha.
- Pensasse em você? – Sarah sussurrou, tão baixo que se ele não estivesse tão perto não teria ouvido.
- Pensasse em mim – ele concordou no mesmo tom.
Os olhos se uniram por uma fração de segundo antes que Sírius inclinasse sua cabeça e tocasse seus lábios. No movimento único do único e grande coração, Sírius e Sarah o sentiram acelerar, mas não lhe dedicaram uma segunda atenção.
Inclinando mais uma vez a cabeça, dessa vez para o lado, Sírius a beijou com mais força. Soltaram um suspiro ao mesmo tempo quando Sarah entreabriu os lábios e Sírius timidamente penetrou sua língua na cavidade úmida e quente. O beijo começou. Tão perfeito quanto o momento podia exigir.
E os minutos se passaram. Os braços encontraram um pedaço do corpo para agarrar enquanto o coração que tinham em comum batia cada vez mais rápido, as peles se aqueciam mais ao procurar uma parte onde pudessem se encostar e os lábios pareciam cada vez mais unidos.
Sarah, naquele momento soube o que deveria fazer. Deveria encontrar Collin, deveria conversar com ele e pedir para que esquecessem tudo o que acontecera e continuassem amigos. Porque tudo agora parecia claro para ela. Tudo agora fazia sentido.
E era por isso que ela aceitara segui-lo quando o encontrou logo depois. Pretendia conversar. Pretendia abrir o jogo. Mas então ele a levara para fora do castelo e algo na situação lhe mostrara que algo estava errado... A única coisa que podia desejar antes de sentir o ar mudar ao seu lado e a aparatação de Collin fazer com que sua consciência fosse embora de vez, era que ainda não fosse tarde demais...
- Eu espero profusamente que você tenha me chamado aqui com um objetivo e que este seja realmente valioso, Sleve.
Com a ausência de resposta, Lucius olhou interrogativo para o homem arrasado sentado em um canto da sala e ao ver que não era encarado, seguiu os olhos dele para o canto oposto onde, encolhida numa posição fetal e aparentemente desacordada, estava Sarah Malfoy.
O queixo de Lucius caiu, deixando-o com uma expressão cômica de surpresa.
- Essa é Sarah? Maravilhoso, Sleve! Quando você a trouxe?
Novamente, Lucius não obteve resposta, porém, ele não parecia muito interessado em respostas uma vez que a garota que era a resolução de seus problemas estava ali sem defesa ao alcance de seus olhos e longe dos pais e amigos super protetores.
- Magnífico! Vê, Sleve? Agora temos a maior arma que eles tinham para usar contra nós! Estamos em total vantagem pela primeira vez desde que nos unimos contra eles. Isso é esplêndido!
Irritado pelo silêncio do outro homem, Lucius se virou para Collin mais uma vez o que apenas resultou numa sobrancelha levantada em descrédito ao ver o servo adulto se movendo para frente e para trás com os joelhos abraçados no peito e a boca se movendo rapidamente enquanto falava consigo mesmo palavras que Lucius não podia entender.
“Bom, então é isso” Malfoy pensou indiferente. “Enlouqueceu de vez. Até que ele durou bastante, achei que não sobreviveria esses 18 anos… Pelo menos ele trouxe a garota antes disso…”
Aquilo fez uma dúvida florescer.
- Alguém sabe? Ela está desacordada aqui... Você a forçou a vir, Sleve? Alguém viu pra onde você a trouxe? Impossível, você aparatou, não foi? Não há como seguir... Então ninguém sabe, uh? Isso é bom, é bom…
A garota pareceu escolher aquele momento para despertar. Confusa e com uma dor de cabeça terrível ela tirou os fios louros platinados que lhe tapavam a visão e olhou ao redor, encontrando olhos prateados que eram uma cópia dos seus e levando um susto que lhe atordoou o suficiente para que perdesse as palavras.
Lucius a observou com uma curiosidade educada.
- Você não sabia mesmo então? Ele a trouxe a força? Tsc… Espero que isso não seja verdade, Sleve, eu odiaria ter que repreendê-lo por se aproveitar da minha neta… Ah, mas é claro, fui eu que mandei, não é? Então acho que podemos relevar…
A citação de um episódio pessoal de sua vida dita na voz sádica daquele homem fez alguma coisa no sangue de Sarah ferver.
- Você – ela rosnou entre dentes.
O sorriso diabólico do Malfoy mais velho aumentou.
- Eu.
Os mesmos olhos se encararam, espelho no espelho. Um refletindo raiva controlada, o outro curiosidade calculada. Foi Lucius quem cortou o silêncio.
- Acha que pode se acalmar o bastante pra conversarmos? Sabe, eu não gostaria de ser interrompido com a casa explodindo em cima de mim… Até porque acho que esse lugar não resistiria a isso, já está detonado demais... E então, Sarah? O que você acha? Consegue se controlar pra trocar algumas palavras com o seu velho avô?
Naquela hora Sarah realmente se controlou. Não porque Lucius usava de uma autoridade que, fique claro que ele não tinha sobre ela, e a mandava fazê-lo, mas porque era ela quem tinha poderes excepcionais ali. Ao contrário do que Lucius pensava, ela tinha controle sobre esses poderes e poderia usá-los quando quisesse.
Bem… pelo menos achava que sim. Seria a primeira vez em muito tempo que seu emocional teria que ser posto à prova juntamente com suas habilidades especiais. Só o que a garota podia fazer era torcer para que funcionasse e enrolar o tal do Zé malvadão ali o quanto pudesse.
- Seja rápido – ela rosnou em resposta.
Lucius soltou uma gargalhada de longos minutos, divertindo-se com sua raiva, Sarah deduziu.
“Controle-se, controle-se, controle-se... Ainda não, ainda não, deixa o velho se entreter primeiro!”.
Com os olhos se negando a ir na direção de Collin, Sarah fingiu observar o homem se divertindo, com um ar entediado. Sem fazer nenhum movimento suspeito, ela se sentou de forma mais confortável, e esperou.
- Você tem o gênio dos Malfoy, sem dúvida – Lucius voltou a falar com a voz rouca, enxugando as lágrimas no canto dos olhos causadas por seu riso desenfreado. – Ao contrário do que muitos pensam, nós temos senso de humor, sim. Ele só é reservado para as coisas que realmente valem a pena. Agora, como eu sei que você deve estar impaciente já que essa também é uma característica da nossa família, eu vou poupá-la do esforço. Você está aqui, finalmente, quem nós sempre quisemos que se unisse a nós. Vamos deixar claro que você não vai voltar pra casa. Não mais. Se negar, como seu pai, a nos ajudar, a única coisa que voltará para sua casa será seu corpo sem vida. É aceitar, ou morrer.
Sarah continuou encarando-o, sem mudanças em sua expressão impassível.
- Você quer que eu o ajude a matar os nascidos trouxas e expurgá-los do mundo bruxo definitivamente?
- Correto.
- Sabe que Maggie Weasley, minha melhor amiga está lá. Acredito que queria que eu ajude a destruí-la.
- Grandes feitos requerem grandes sacrifícios.
- E se eu não ajudar, você me mata – Sarah concluiu.
- Yep! – Lucius afirmou com um sorriso.
Nenhum deles prestou atenção em Collin Creevey, que parou de se mover para frente e para trás e pareceu recuperar a consciência sã, imóvel, observando Sarah e Lucius discutirem, a mão tremendo enquanto procurava a varinha.
- Eu preciso pensar – disse Sarah seriamente.
O sorriso de Lucius ampliou.
- Uma decisão sábia. Vou dar um tempo para que…
- Não.
Lucius se voltou sem entender.
- O quê?
Agora era Sarah quem sorria.
- Eu disse que precisava pensar, pois pensei. É “não”. “Não” é a minha resposta. Eu não me importo em morrer se isso significa que a vida de centenas de pessoas poderá ser poupada. “Grandes feitos requerem grandes sacrifícios”. Eu escolhi o meu.
- Tola! É o que você é! Como seu pai! Mas ele pagou por isso, você sabe, não sabe? E agora é a sua vez! Você e seu pai são uma vergonha para nossa família. Merecem ser banidos de vez! Agora é você quem vai pagar Sarah antes que eu vá e cuide do seu pai. Espero que tenha dado seu último adeus...
Sarah cobriu a cabeça com os braços, lágrimas que ela tanto evitara agora cobrindo o seu rosto. Era triste que ela teria que morrer agora que descobrira os sentimentos de Sírius. Seu pai... Sua mãe... A dor que eles sentiriam ao perdê-la... Mas do que adiantava se defender? Enquanto ela estivesse viva era uma ameaça para todos, para Maggie! E se Lucius aplicasse uma Imperius e a forçasse a ajudá-lo? Ela não sobreviveria com a culpa. A única coisa que ela tinha a fazer era aproveitar o momento de ódio irracional de Lucius e… E deixar que ele a matasse antes que pudesse pensar numa solução favorável a seus planos medonhos.
Apertou os olhos para não ver, gesto que foi ineficaz, pois o clarão verde invadiu suas pálpebras fechadas, antes que tudo silenciasse.
Mas por pouco tempo, apenas.
- Sarah?
Ela não levantou a cabeça. Não queria observar o cenário ao seu redor. Tinha medo. Medo do que veria e que não estava preparada para ver.
- Sarah... Você… está bem?
Ela negou, balançando a cabeça em negativa.
- O que você... fez?! – A voz saiu um pouco mais aguda que o normal, um misto de sentimentos a atordoando.
- Eu... – A voz de Collin soou confusa, desesperada. – Você… Ele ia machucar você, Sarah… Eu não podia... Não podia deixar...
- Não podia deixar ele me machucar? É isso o que quer dizer? Por que não? Até onde eu sei você não pensou nisso antes. Você me trouxe aqui. Você me trouxe pra ele! Você mesmo me machucou ao me tirar da segurança do castelo, ao me tirar da minha família! Você está me machucando agora!
- Não… É diferente… Não diga isso, Sarah, por favor, não diga… Você não sabe! Você não entende… Sua ajuda é necessária, não dá pra prosseguir sem você...
Lentamente, impulsionada pelo tom urgente de Collin e se preparando mentalmente para o que ia encontrar, Sarah abriu os olhos, que imediatamente voltaram a se fechar ao encontrar o corpo pálido de Lucius Malfoy sem vida poucos metros a sua frente.
- Tira ele daqui, por favor, tira ele daqui!
Ela não precisou repetir. Esforçou-se para não tapar os ouvidos enquanto ouvia o som de algo – obviamente um corpo - sendo arrastado pelo chão. Ela não ousou abrir os olhos até o momento em que uma sombra caiu sobre si e ela teve a certeza de que Collin se abaixara à sua frente. Perto demais para o seu gosto.
- Sarah, olhe para mim.
Surpreendendo a si mesma, ela obedeceu, encontrando, como imaginava, o rosto apreensivo de Collin a poucos centímetros do seu. Os olhos estavam tão vermelhos e inchados que ela mal conseguia encontrar o azul original. Suas bochechas ainda estavam molhadas, com resíduos das lágrimas que ele outrora derramara. Sarah não conseguia entender... Ele parecia sincero em sua dor, então...?
- Você precisa me entender, Sarah… Você precisa me perdoar... Ele ia machucar você... Eu não podia deixar, Sarah... Lucius não entendia… Ele não gostava de você. Ele não gostava de ninguém... Acho que ele nunca levou tão a sério o nosso trabalho de banir os trouxas da nossa sociedade, ele só queria se vingar de todos, mostrar que ele ainda podia se reerguer... Seu nascimento, Sarah, só foi um jeito de melhorar sua vingança contra a própria família, contra o próprio filho... Ele ia fazer você sofrer, Sarah... – A voz de Collin de repente tornou-se suave como uma carícia e seus olhos que perdiam um pouco de vida a cada palavra agora continham um sentimento estranho, quase terno. – Eu não. Eu não quero fazer você sofrer. Você não merece.
- Então... – Sarah lutou contra o nó em sua garganta que tentava lhe impedir de falar. – Então me leve de volta... Se eu não mereço sofrer... Me leve para casa! Por favor...
A face de Collin se contorceu. Ele ergueu o braço e com um movimento suave das costas de sua mão acariciou a lateral do rosto da garota. Quando falou, foi com dor, mas num tom que não deixava dúvidas quanto a firmeza de sua decisão.
- Não posso. Eles já descobriram sobre mim. Eu percebi, pretendiam te afastar de mim, Sarah. Eu não podia deixar. Tive que agir rápido. Tive que tirar você de lá antes que fosse tarde. Agora não posso levar você de volta. Sinto muito. Simplesmente não posso.
- E que diferença isso faz? – disse Sarah com raiva, batendo na mão que ainda estava em seu rosto e a afastando. – Que diferença faz se me afastariam de você? Duvido que se importe realmente com a minha “adorável compania”! Só estava preocupado porque perderia sua grande chance para levar esse plano medonho adiante! O que de nada adiantou, porque eu estou aqui, e não vou ajudar você! Deveria ter deixado Lucius acabar comigo, assim lhe poupava o trabalho. . Eu não vou ajudar!
- Que coisa horrível para se dizer – repreendeu Collin, aparentemente sem ouvir uma única palavra depois de “compania”. - É claro que eu me importo com você, estou surpreso que pense o contrário! Puxa, eu salvei sua vida aqui, Sarah! Não fiz nada que pudesse machucá-la, pelo contrário. Eu poderia, você sabe que eu poderia, mas não fiz. Eu já disse que não quero machucar você, e não vou se você não me obrigar a isso. Agora, vamos discutir sobre a nossa relação.
Sarah nem sequer piscou enquanto Collin se ajeitava no chão, sentando-se e dobrando as pernas como um adolescente. Aquilo estava mesmo acontecendo? Era patético demais.
- Como você pode achar que tudo que eu fiz tenha sido apenas por causa de seus poderes excepcionais? – Seu tom era repreensivo, magoado. – É claro que isso me fez aproximar de você, mas não significa que tenho mentido. Eu sempre me senti bem ao seu lado. Você era divertida e carinhosa e isso me fez gostar de você. Acha que eu tinha necessidade de te procurar com tanta frequência? Não. Só o fazia porque queria te ver. Eu sempre fui carinhoso com você, não fui? Eu sempre te tratei bem, nunca fiz nada que você não queria... Está sendo ingrata ao reclamar de minha postura, Sarah. Isso me magoa.
Apenas quando os olhos de Sarah arderam insuportavelmente foi quue ela se lembrou de piscar. Tinha medo de o fazer e perder algum desvio da máscara magoada de Collin, provando que era tudo fingimento. O mais engraçado, era que ele parecia realmente sincero.
E aquilo era ridículo.
- Quer dizer… Você está tentando me dizer que realmente... realmente se apaixonou por mim?
Collin franziu as sobrancelhas, inclinando a cabeça de lado para observá-la melhor. Ficou assim pelo que pareceu intermináveis segundos, até que sua expressão desanuviou e ele voltou a ficar de joelhos, os olhos mais profundos do que nunca.
- Pobre Sarah... – ele murmurou, acariciando novamente a lateral de seu rosto. – Desculpe... Você está certa, eu sou o culpado... Estive em falta com você, não é? Nunca cheguei a dizer o quanto gostava de você… Lamento ter sido tão imbecil. É claro que eu estou apaixonado por você. É por isso que te protegi. Porque me importo com você. Porque me preocupo. Porque te amo.
Por um momento ela vacilou. Ele parecia sincero... Apesar de claramente debilitado psicologicamente. Mas... Sarah se lembrou logo depois, ele tinha um objetivo, e era aceitar suas palavras e ajudá-lo, ou permanecer ao lado das pessoas que ela tinha certeza de que a amavam sem esperar nada, a não ser seu próprio amor, em troca.
Assim ela se lembrou de Sírius, o que tornou o amor de Collin risível.
- Eu acredito em você – ela disse, suavemente. Mal o sorriso começou a surgir no rosto dele e se apagou com as próximas palavras dela: - Mas isso não muda o fato de que eu não vou me voltar contra outros que me amam, contra minha família. Eu não vou ajudar você.
Collin suspirou. Sentou-se sobre os joelhos e encarou o chão por dois minutos muito longos. Quando voltou a encará-la parecia totalmente decidido.
- Você vai, eu tenho certeza de que vai. E eu vou te dar uma razão para isso.
Sem dizer mais nada, ele se levantou e andou de um lado para o outro, os olhos perdidos em algum lugar muito distante daquele. Sarah suspeitou que uma longa conversa viria, então se preparou. Queria poder entrar em contato com alguém, avisar onde estava. Collin não parecia muito lúcido; matou seu próprio comparsa, para matá-la, não precisaria de muitas negações a mais.
Ela precisava agir logo.
- Estranho, seu nobre pai nunca te contou nada sobre mim? Nada sobre minha vida na época da escola? Nunca?
- Não... A única coisa que sabia de você é que foi petrificado uma vez.
- E você não sabe por quê?
- Porque o quê?
- Porque fui petrificado?
- Bom, era... Sei lá, você não era o único, não é? Houve mais pessoas, até a tia Hermione...
- Foi vítima. Sim. E você nunca parou para pensar por quê?
Sarah abriu a boca, mas fechou-a. Parecia que uma lâmpada começara a brilhar dentro de seu cérebro.
- Você é um nascido trouxa?
Collin não respondeu, mas abriu um sorriso estranho, que não combinava com a expressão de garoto sonhador que ela sempre pensara que ele era.
- E você... quer acabar com os nascidos trouxas... sendo... um deles?
- Isso é o de menos. O que eu quero realmente é que o mundo trouxa nos reconheça. Você sabe um pouco de história? Duas civilizações nunca convivem em harmonia. A menos avançada, sempre é escravizada. Nesse caso, os trouxas são os menos avançados, lógico. Eles são horríveis, na antiguidade matavam os nossos brutalmente, tentaram nos expurgar de um mundo que também pertence a nós. Agora, é nossa vez, Sarah! Não precisamos nos esconder nem nada disso, são [i]eles[/i] que terão que se esconder! Nós temos o poder para expulsá-los! Você não vê? Tomaremos conta do planeta muito melhor do que eles! Temos poder, temos magia! Sendo que eles, a única coisa que podem oferecer ao planeta é a sua sujeira e egoísmo. Deixamos a Terra em suas mãos por tempo demais e o que fizeram além de destruí-la sempre colhendo e nunca plantando? Tirando e nada devolvendo além de lixo? Não. É a nossa hora de agir. Nossa hora de controlar.
Ele soltou o ar de maneira brusca e encarou-a, aparentemente esperando por uma reação positiva a seu grande discurso.
A única coisa que Sarah fez, entretanto, foi fechar a boca que abrira sem que ela percebesse.
- Voc-cê... – Ela engasgou, então tentou de novo. – Você não pode... não pode querer controlar o planeta apenas porque alguém não tem feito isso direito... Não está certo. Os bruxos sempre estão por trás de tudo. O que poderíamos mudar os tirando do controle podemos mudar agora, por baixo do tapete, como sempre fizemos. Não há justificativa para destruí-los! Por mais que você tente encontrar uma! E os nascidos trouxas? Qual o problema com eles? – Sarah fixou os olhos em algum ponto desconhecido, refletindo as próprias palavras. Depois balançou freneticamente a cabeça e voltou a encará-lo. – Como pode culpar as pessoas de hoje pelo que as mal informadas de antigamente faziam? Como pode se convencer de que está fazendo a coisa certa quando claramente não está?
Mais do que nunca agora, ela queria poder correr para os braços de Sírius e ficar por lá. Fugir de uma realidade que não pertencia a ela. Os problemas a respeito do fim do mundo não era algo que deveria ficar nas mãos de uma adolescente de 14 anos... Ela só queria ir pra casa...
Forçou-se a prestar atenção no que Collin dizia.
- ... não acha? Pois eles não são. Não entendo porque os defendem tanto! Culpar as pessoas de hoje pelo que faziam as de antigamente? Não! Não são as pessoas de antigamente! Seu pai sabe, Sarah, ele sabe o que me aconteceu pouco depois que eu sai da escola! Ele devia ter te contado, ele deveria ter entendido! Os trouxas são um perigo para nós e não o contrário! E os sangues-ruins são só uma contaminação entre nós que trazem para nosso meio a sujeira dos trouxas. ELES. NÃO. SÃO. INOCENTES! Pelas Barbas de Merlim, entenda isso, Sarah!
Sarah se encolheu. Aquilo não era algo que ela queria continuar ouvindo. Mais uma vez ela desejava voltar para casa... Voltar para Hogwarts... Voltar para Sírius.
Nem percebeu quando Collin se aproximou o suficiente para tocá-la, e deu um pulo quando ele o fez.
- Eu assustei você? Desculpe, Sarah. É que... Eu não consigo entender porque não é tão óbvio pra você quanto é pra mim!
Ela o encarou. Decidida a mantê-lo falando, perguntou:
- O que... o que meu pai deveria ter me contado que... que aconteceu com você?
Uma dor profunda pareceu surgir no rosto infantil de Collin. Sarah até esqueceu que estava perguntando por enrolação, e prestou atenção de verdade.
- Os trouxas que você tanto defendem, Sarah, que segundo você não devem ser culpados pela crueldade de seus antepassados, assassinaram meus pais ao descobrir a... aberração que eram os filhos deles.
“Era uma gangue. Um pessoal que se julgava o máximo no bairro onde eu morava. Um deles era o irmão mais velho do melhor amigo do meu irmão. É claro que nós não pudemos esconder de nossos amigos a nossa realidade e Dênis, coitado, não podemos dizer que tinha amigos muito confiáveis, para não dizer outra coisa. Contou a ele, e não foi muito difícil para o irmão descobrir depois. O resto você já imagina.”
Perplexa com a naturalidade que Colin lhe contava o assassinato dos pais, Sarah tentou ler algo por trás daquela expressão.
- Eles mataram seus pais porque você era um bruxo? – perguntou, preocupada de não ter entendido direito.
- Bom, na verdade não. Eles queriam matar apenas meu irmão, mandá-lo de volta para o diabo, que era de onde eles acreditavam que Denny tinha vindo... Aparentemente algo deu errado... Nenhuma família aceitaria ver seu filho sendo injustamente assassinado, acho que eles se colocaram na frente, não sei... Bem, o que eu sei é que quando cheguei em casa para as férias de natal de Denny, a única coisa que encontrei foi a polícia e uma mensagem que me mandava levar o demônio que existia dentro de mim para longe dali, o que me causou perguntas embaraçosas frente à delegacia, devo dizer.
“Entende o que quero dizer, Sarah? Por insistirmos em considerarmos os trouxas nossos... amigos e não agirmos contra eles, estamos sendo cada vez mais prejudicados! Precisamos assustá-los! Precisamos pôr medo neles! Precisamos que eles saibam com quem estão se metendo!”
Sarah olhou-o com a perspicácia de um mago de 100 anos.
- Você não está nem aí para a guerra entre o mundo bruxo e o mundo trouxa, não vê? Você criou essa obsessão para se convencer, mas não é nada disso. Você só quer vingança. Vingança contra os trouxas, porque foram gente deles que mataram os seus. Está errado Colin, ninguém deve ser responsabilizado pelos atos de ninguém. Você está errado. E eu – Ela apontou um dedo para si mesma. – Não vou ajudar você a levar esse erro adiante. Minha ajuda você não tem, Colin. Agora, me leve pra casa, por favor.
Claramente decepcionado e furioso, Colin apenas se levantou e lhe deu as costas. Voltando-se segundos depois, impassível, ele acenou a varinha tão rápido que ela nada pode fazer. Não viu o feitiço, mas sentiu algo mudar, a força da magia ao seu redor.
- Preciso pensar – ele disse se afastando. – Não tente nenhuma gracinha, porque se tentar, eu vou saber, e você vai pagar.
Dito isso, ele sumiu por uma porta lateral. Desconfiando o que viria a seguir, Sarah estendeu o braço e uma descarga elétrica pareceu percorrer o seu corpo quando seus dedos tocaram uma barreira invisível.
Ela suspirou e, chupando o dedo que agora ardia bateu a cabeça na parede, torcendo para que algum milagre acontecesse e aquele pesadelo acabasse logo.
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