Capítulo Quatro
Capitulo Quatro
Já era quase possível ver os primeiros raios de sol quando toda a família Weasley se retirou do Hospital St. Mungus. Molly Weasley estava em um estado de calma e alegria, enquanto abraçava o marido; era possivel ver um sorriso cansado e bobo em seu rosto. Ron e Hermione andavam de mãos dadas, parecendo igualmente satisfeitos de que Harry estava bem. Os gêmeos já haviam ido embora antes, assim como Bill, Fleur e a filhinha.
Sob recomendação de Mike, Ginny também estava com eles, mas não parecia tão alegre ou satisfeita como o resto da família.
Talvez porque eles não saibam o que eu sei... Ela pensou por um momento. Mas não poderia contar a ninguém, já que seu chefe havia lhe recomendado para não fazê-lo.
Vez ou outra, seus pensamentos negativistas eram substituídos por alguns surtos de otimismo. “Mas isso não é nada, comparado com tudo o que ele passou. O que importa agora é que ele está bem e vivo, não é mesmo? Ou... Ele também pode se recuperar disso antes mesmo de sair do Hospital!”.
Mas esses surtos não se alongavam por muito tempo, obviamente.
Claro que sua mente também não estava lhe dando o mínimo de sossego necessário. Uma das coisas que mais a incomodava era a forma que Harry a encarou quando a viu pela primeira vez depois de tantos anos; aquele olhar profundo, decidido, mostrando de alguma forma para ela que ele não era mais o mesmo, definitivamente. Que ele não era mais o mesmo Harry que fora embora, há tantos anos.
Mas era, em resumo, um olhar que ela nunca havia visto, e que definitivamente não sabia explicá-lo.
Então, uma pergunta cortou sua mente, intrigando-a ainda mais: antes de seus pais entrarem no quarto, o que ele queria dizer a ela?
- O que Mike conversou com você, Ginny? – Hermione perguntou, enquanto Ron a abraçava, tirando Ginny de seus devaneios.
- O quê? – ela pareceu envergonhada por estar tão alheia.
- Stuart, Gin. – Ron respondeu pela noiva. – Hermione perguntou o que Stuart disse a você.
- Sobre Harry? – pergunta óbvia, Ginny pensou. Ela sentiu o olhar de Ron; aquele olhar que ele costumava usar com ela em todos os assuntos que se tratava de Harry.
- É claro que sim. Sobre quem mais estaríamos conversando?
- Não sei. Talvez o casamento. – Ela balançou a cabeça depois da ironia boba. – Desculpe, eu não estava prestando atenção. Nós... Nós não conversamos sobre Harry.
Ela rezou para que eles acreditassem na mentira.
- E conversaram sobre o quê, então? – Ron ergueu a sobrancelha, desconfiado.
- Houve uma pequena confusão no Caldeirão Furado, com simpatizantes das Artes das Trevas. – ela encolheu os ombros, enquanto Hermione a estudava atentamente. Ela engoliu em seco. – Ele estava me contando que Sara estava lá.
- O que Sara estava fazendo lá? – Hermione perguntou.
- Tomando uísque de fogo com um auror do AMI russo.
- O DICAT também faz solicitações para o AMI de outros Ministérios? – Ron perguntou surpreso.
- É claro que pede. – Ginny respondeu como se aquilo fosse o óbvio. – O AMI é uma solicitação internacional, todos os paises se ajudam. Mas não solicitei ajuda alguma nesses últimos dois meses. O que acontece é que há um fugitivo da prisão Russa, e há a probabilidade de que ele tenha se escondido aqui na Inglaterra, então o chefe da AMI russa perguntou se não poderia escalar nenhum auror para ajudá-lo nessa busca. - ela encolheu os ombros.- Já que nenhum auror estrangeiro, de acordo com as Leis de Cooperação Internacional em Magia, pode fazer prisões ou coisas relacionadas fora de seu país, salvo se o ministério do país estrangeiro estiver consciente e escale alguém para ajudá-lo.
- E Mike também está interessado em descobrir algumas coisas importantes sobre o ministério russo. – Hermione comentou lentamente. – Estou sabendo disso. – Acrescentou quando vislumbrou o olhar indignado de Ginny.
- Por quê?
Hermione balançou a cabeça, mas Ginny quem respondeu:
- O ultimo Ministro da Magia foi despojado de seu cargo. Estava aliado e aliando pessoas importantes lá a Voldemort. Mike quer ajudar o chefe de lá, que agora também é ministro, a ter certeza de que não há mais ninguém envolvido. Seria catastrófico se alguém do departamento russo estivesse aliado aos Comensais da Morte.
Ron fez cara de desentendido e Hermione explicou a ele:
- A Rússia ficou muito poderosa nos últimos tempos. Mas não posso explicar mais do que isso, querido, desculpe.
Ele balançou a cabeça, aturdido.
- E Sara estava com esse auror para tentar descobrir algo?
- Por nossos interesses, sim. Pelo interesse deles, esta ajudando o Auror a descobrir se Nicholas Rostova está mesmo aqui na Inglaterra. – Ginny suspirou. Nicholas Rostova estava dando tanto trabalho a Rússia quanto a Inglaterra e Itália. O ultimo mês, além de seus problemas pessoais que já estavam chegando ao limite, ela ainda tinha que lidar sobre proteção nos limites da Inglaterra, designar aurores britânicos para missões secretas nos outros dois paises e ela própria viajar para ambos os lugares a fim de dar uma pequena ajuda na analise de estratégias criadas e ajudar algumas vezes as estratégias para aurores de sua área que estavam atuando em áreas isoladas na Inglaterra.
- Caramba. – Foi apenas o que Ron comentou, mas Ginny duvidava que ele havia entendido muita coisa. Desde que Harry partira para a Guerra, Ron se dedicara apenas em ser o melhor jogador de Quadribol. Parara de ficar correndo atrás de encrencas e mistérios e até perdera o gosto pela coisa, algo completamente oposto à sua irmã, ou até mesmo Hermione.
- E foi só sobre isso que vocês conversaram? Apenas sobre a confusão no Caldeirão Furado?
Hermione duvidava dela, e Ginny esperava por aquela reação. Afinal, Hermione era a líder na Área de Inteligência Estratégica do DICAT. Inteligentíssima e completamente racional, como sempre, Hermione descobria e enxergava motivos em situações que Ginny simplesmente achava genial, pensando que nunca conseguiria enxergar aquele mínimo detalhe observado por ela.
- Ele iria me mostrar o corpo de Voldemort também, mas não houve tempo.
Aquilo pareceu distrair Ron, mas não Hermione.
- O corpo de Você-Sabe-Quem está ali? – perguntou assustado. – Por que o corpo de Você-Sabe-Quem está ali?
Ginny encolheu os ombros.
- Não sei, acabei de lhe dizer que não tivemos tempo de conversar sobre isso. – Ginny resolveu apelar para um lado que aprendera a desenvolver muito bem nas missões: mentir – Estivemos preocupados resolvendo os assuntos da AMI com relação à Rússia.
Hermione parou de andar. Todos os Weasley já haviam entrado em um beco para aparatar, menos os três.
- Eu pensei que Mike iria falar alguma coisa sobre Harry.
Ginny teve a súbita impressão de que não conseguiriam – nem ela, nem Mike – esconder aquele segredo sobre Harry por muito tempo, pelo menos de Hermione.
- Eu queria conversar com ele, quando Mike me mandou ir para casa descansar. Disse que conversaria com ele hoje mais tarde no DICAT, ou talvez no St. Mungus.
- Acho que também gostaria de conversar com ele. – A morena comentou lentamente. Ron a encarou num súbito ataque de ciúmes.
- Não.
Hermione o encarou surpresa.
- Não, o quê?
- Você não vai ficar conversando com ele sozinha. Não vocês dois num mesmo local, sozinhos. Se Ginny estiver lá, tudo bem.
Hermione o encarou exasperada.
- Ele é meu chefe Ron, pelo amor de Deus.
- Não interessa. Já acho o suficiente ter que escuta-lo você o chamar de Mike, agora se encontrar com ele...
- Para falar sobre Harry!
Quando chegaram ao beco, os dois estavam discutindo aos berros. Ginny passou a mão pelos cabelos, cansada. Geralmente, ela riria das discussões dos dois, que sempre eram por motivos idiotas, mas hoje particularmente ela estava cansada. Tudo o que queria era tomar uma boa caneca de chocolate quente, colocar seu pijama mais velho e confortável possível e se enfiar debaixo das cobertas e dormir por um tempo, para dar descanso a sua mente.
Ela cruzou os braços e esperou que algum dos dois prestasse atenção que ela estava querendo se despedir, mas Ginny sabia que isso demoraria a acontecer. Quando discutiam, era como se o mundo fosse alheio a eles. Ou talvez fosse o contrário.
Ela esperou cerca de dois minutos, e quando seus tímpanos estavam estourando de tantos berros, ela exasperou-se e tentou gritar:
- Eu estou indo embora!
Eles continuaram berrando um com o outro. Girando os olhos e soltando o ar pela boca, Ginny arrumou a capa sobre os ombros, sacou a varinha e deu uma pirueta graciosa, aparatando.
Foi como se estivesse aparatando para um paraíso. Os gritos cessaram e ela só escutou o ronco alto de um trovão. Abriu os olhos e suspirou, olhando para o céu, com o pensamento maluco de que o clima até parecia variar conforme seu humor.
Com um gesto displicente com a varinha, ela abriu a porta de casa e rumou para a cozinha, com o pensamento de que as coisas começariam a se resolver, se a sorte começasse a contar a favor de todos eles.
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Ginny teve uma série de sonhos estranhos e atordoantes com lembranças, Harry e também com seu marido, que fez com que ela acordasse mais cedo do que pretendia.
Estava mais frio do que quando ela se enfiou debaixo dos cobertores da enorme cama de casal e se encolheu inteira quando saiu do acolhedor calor de sua cama para ir até o banheiro.
Tremendo da cabeça aos pés, ela foi até o banheiro e pegou seu robe vermelho e se enrolou nele. Procurou as pantufas abaixo do armário do banheiro e calçou-as. Quando se olhou no espelho, levou um susto com a própria imagem: estava descabelada, com olheiras horríveis sob os olhos e pálida ao ponto de que até as sardas ficassem um pouco descoloridas. Ela se encarou atentamente, percebendo o quanto estava com a aparência de alguém vazia e triste.
Ginny suspirou e passou a mão pelos cabelos desgrenhados.
- Eu... Estou... Um lixo. – murmurou para a própria imagem no espelho. Depois, imaginou que se talvez Daniel a visse daquela maneira, ele com certeza assinaria seu pedido de divorcio.
Com aquele pensamento, ela não conseguiu evitar sorrir, para depois soltar uma pequena risada. Percebeu que parecia a Ginny que ela conhecia quando estava sorrindo. A Ginny antes de todas aquelas desgraças que passara.
Talvez, até mesmo a Ginny antes do casamento.
Ela percebeu a burrada que estava acontecendo com ela: ela não poderia deixar se abater tanto com toda aquela situação! Estava quase se fazendo de coitada, se afundando em auto-piedade, exatamente tudo o que ela mais detestava nas pessoas.
Tentando conseguir um pensamento otimista, pensou que cedo ou tarde Daniel a deixaria em paz e concordaria com ela que a melhor maneira era o divorcio, onde ele poderia seguir sua vida no mundo trouxa e ela, no mundo bruxo. Infelizmente não poderia existir a frase ‘como se nada tivesse acontecido’, mas pelo menos ambos teriam o direito de um recomeço, da forma que deveria ser.
Com esse pensamento, ela lavou o rosto, escovou os dentes e os cabelos e os prendeu em um rabo de cavalo, enquanto passava um pouco de maquiagem no rosto para esconder as olheiras e o ar cansado.
Terminou com um pouco de gloss nos lábios e escolheu uma roupa confortável e que ela adorava vestir nos dias de muito frio.
- Vai dar tudo certo. – ela murmurou para si mesma. – Sim, vai dar realmente tudo certo. – o pensamento de que talvez ela estivesse ficando muito otimista por estar começando a ficar histérica assumiu o controle, e ela tentou afastar de sua mente. – Não, de verdade, vai dar tudo certo. – ela ficou olhando para a roupa sobre sua cama e suspirou. – Deus, eu preciso de terapia.
Vestiu-se e quando se olhou no espelho, se sentiu com as energias um pouco mais recarregadas para iniciar aquele dia com o pé direito. O dia e a vida, afinal, ela não iria deixar que os problemas a derrubassem.
Desceu as escadas e percebeu que o seu celular sobre a mesa de centro da sala estava vibrando. Imediatamente ela se encolheu, sentindo seu coração parar de bater por um segundo.
Bruxos não ligavam em celulares, nem mesmo seus pais quando ela ficou dividida entre o mundo bruxo e trouxa. Então, aquilo só podia significar...
Não atenda, é simples! Sua voz berrou em sua cabeça, como se aquilo fosse o melhor a ser feito, mas ela não sabia realmente se era.
Com o pensamento positivo tentando se sobressair, Ginny pensou que talvez ele estivesse ligando para dizer que assinara os papeis. Então, era algo importante que ela precisava atender.
Ela estava pedindo aos céus isso quando, trêmula, pegou o celular nas mãos e o atendeu:
- Alô?
- Virginia? Onde você está? –a voz que ela julgava amar ecoou em seus ouvidos cheia de arrogância e raiva, fazendo-a se estremecer num súbito ataque de estresse. – Passei quase a madrugada inteira tentando falar com você! E agora, quase o dia inteiro, também! – Ginny olhou para o relógio: eram quase quatro horas da tarde.
- Estou em minha casa, Daniel. – ela respondeu com a voz monótona.
- Ah! – ele pigarreou. –Aquela que você insiste em não me dar o endereço?
- Exatamente. – ela o enfrentou. – O que você quer?
- Onde você estava? Eu quero saber!
Ela fechou os olhos e contou até dez. Não te interessa, seu monte de grindlow em decomposição!
- No St. Mungus. Não pude levar o celular porque objetos trouxas não funcionam em lugares com muita magia.
Ele ficou um tempo em silêncio.
- O que diabos é isso? – explodiu. Ginny bufou.
- Um hospital. Agora, pare de gritar comigo ou vou desligar o telefone.
Ele pareceu se controlar do lado da linha, e Ginny aproveitou a oportunidade:
- Agora, diga-me o que você quer.
- Eu liguei para você para dizer que te perdôo.
Ela quase despencou no chão quando escutou aquele comentário. Ele a perdoava? Ele?
- Você... O quê?
- Disse que te perdôo, Ginny. Você estava abalada esses últimos tempos, não conseguindo pensar com clareza... E eu perdôo você por isso. Vou esquecer essa sua historia maluca de divórcio quanto você voltar para casa e viveremos como se nada disso que você fez tivesse realmente acontecido.
Ginny quase derrubou o telefone celular no chão, tamanho era o seu espanto. Ela estava furiosa, mas incrédula o suficiente para ficar sem reação.
Depois de alguns segundos, ela finalmente recuperou a fala, ou parte dela:
- Se eu estava abalada... É simplesmente por sua culpa. – ela começou com a voz absurdamente trêmula. – Eu não acredito que você falou uma coisa dessas... – Ginny estava tremendo por completo agora. Ela inspirou profundamente e, não se agüentando, gritou: - Você por acaso vive em algum tipo de universo paralelo e é insano graças a isso e nunca me contou ou o quê?
Ele pareceu assustado ao outro lado.
- Ginny... Ginny... Acalme-se. – mas logo depois foi substituído pela suplica. – Você precisa voltar... Eu preciso de você... Minha família... Minha mãe...
- Isso não é problema meu! – ela gritou ao telefone. Estava histérica. – E as coisas pelas quais eu passei? E os problemas que você me fez passar? Você se preocupou comigo pensando em como eu ficaria? Você alguma vez se preocupou com seu filho? Não, eu acho que não!
- É claro que eu me preocupei com meu filho, sempre me preocupei com ele!
Quando Ginny deu conta da situação, tanto ela como Daniel estava aos berros. Afastando o telefone do ouvido, ela balançou a cabeça negativamente, percebendo que suas bochechas estavam molhadas.
Daniel ainda estava aos berros quando ela desligou seu celular. Limpava o rosto com uma mão enquanto jogava o celular sobre a mesinha de centro da sala, com a outra.
Ginny ficou um tempo parada na sala, sem reação. Daniel não queria dar o divórcio.
Deus do céu, o que ela iria fazer para reverter àquela situação?
Fechou os olhos e inspirou profundamente por alguns segundos, enquanto tentava se acalmar. Ela nunca fora de se descontrolar, e não seria dessa vez que o faria. Não, aqueles problemas não iriam afeta-la a ponto de que ela perdesse a voz da razão.
Ela sentiu um barulho próximo à janela da cozinha e se sobressaltou. Quando barulho começou a se tornar mais insistente, ela caminhou até a cozinha, notando a presença de uma coruja marrom e pequena bicando furiosamente o vidro. Parecia estar fazendo um esforço tremendo para não cair dura de frio ao lado de fora.
Ginny abriu a janela, dando permissão para a coruja entrar. Retirou a carta e foi procurar alguma coisa para dar de comer ao animal.
Passado a alimentação da coruja, Ginny se encostou ao balcão da cozinha e olhou para o remetente da carta: Mike. Franzindo o cenho, ela pensou que fosse alguma coisa relacionada à Harry ou a confusão no Caldeirão Furado e começou a abrir a carta rapidamente.
Gin,
Conseguiu descansar? Se ainda não estiver boa, pode ficar mais algum tempo em casa descansando (E isso é uma ordem, mocinha. Pare de ser viciada em trabalho).
Ela girou os olhos. Ele era seu chefe ou o quê?, pensou aborrecida. Provavelmente deveria estar pensando que era sua babá. Qualquer chefe comum estaria pouco se importando com sua saúde.
Estou aqui no St. Mungus, tentando controlar a maldita massa de jornalistas. Skeeter conseguiu entrar no quarto de Harry em algum momento
Ginny sentiu o sangue pulsar mais forte em suas veias mais uma vez. Fechou um dos punhos. Skeeter fizera exatamente o quê?
Sara estava aqui até algum tempo, ajudando a controlar a massa, mas ela já foi se encontrar com o russo.
Agora, sobre Potter, ele está bem mais disposto do que ontem, ainda que aquele probleminha não tenha sido resolvido, você sabe. Não é muito seguro falar isso em cartas. Mas de qualquer forma, é provável que hoje à noite ele seja liberado, mas para isso preciso conversar com você.
Seus pais estão aqui, disseram que se dispõem para que Potter fique na casa deles, mas como a massa de Comensais está descontrolada, eu prefiro que ele fique protegido. Você sabe, e também seria perigoso até mesmo para sua família, mesmo com você sendo do Ministério e tudo o mais, seus pais já não estão mais com idade de, por acaso se depararem com um bando de Comensais da Morte procurando pela cabeça de Potter.
Quando você vier para o St. Mungus conversaremos.
Mike.
Ginny teve que reler a carta duas vezes para realmente entender o conteúdo da mesma, já que a primeira vez a única coisa que povoava seus pensamentos era sobre a foto de Harry publicada na primeira página do Profeta Diário.
No momento, ela odiava Rita Skeeter na mesma intensidade que Hermione sempre dizia odiar.
E Mike. Como ele poderia ter deixado um furo na segurança do Hospital?
Ah. Sem contar que ela também odiava Daniel. Pelo simples fato de existir.
Balançou a cabeça, constrangida com sua própria atitude.
- Preciso sumir. – murmurou a si mesma, desgostosa. – Longas e maravilhosas férias... No Alaska.
Obviamente parecia que o destino estava gostando de testar sua paciência e, tecnicamente, seu autocontrole. Assim que sentiu a pressão em seu corpo aliviar graças à aparatação, sentiu o mesmo ser esmagado mais uma vez. Só que dessa vez por uma massa compacta de jornalistas.
- Então a AMI está envolvida também no caso Potter, Auror Hammet?
- Qual sua opinião com relação a morte de Voldemort? Acha que finalmente estaremos em paz?
- Como já é de conhecimento geral, sabemos que em sua infância a senhora foi apaixonada por Harry Potter. Como é encontrá-lo depois de tantos anos?
Aquela pergunta atraiu a atenção de todos. Ginny tentava inutilmente passar por meio de todas aquelas pessoas, sem sucesso. Sua cabeça estava baixa e ela não dirigia a palavra a ninguém, com o pensamento que, se talvez tentasse dizer algo, rugiria como um perfeito leão.
- Sabemos também que está tentando entrar em um processo de divorcio com seu atual marido, que é trouxa. Tem algum dedo de Potter nesta historia?
Ginny ergueu os olhos, pasmada, para o autor da pergunta, mas seu aturdimento foi logo substituído pela raiva. Rita Skeeter estava parada à sua frente, acompanhada de uma pena-de-repetição-rapida e um troglodita a acompanhando, como fotografo. Dois flashes e Ginny sentiu sua visão escurecer pelo brilho em seu rosto.
A dor de cabeça que estava sentindo com tantos problemas e que havia dissipado voltara com força total. Ela já não estava conseguindo enxergar direito e se sentia rodopiando.
- Você invadiu o hospital para perturbar um doente. – ela murmurou entre dentes, levando uma das mãos a cabeça. – Apenas para causar polêmica. Como você se sente com isso, Rita?
Ninguém a escutou. Todos estavam preocupados demais em enchê-la de perguntas e mais perguntas, enquanto escutava algumas palavras de Rita para a pena, como ‘Os cabelos muito vermelhos, característico de toda a família Weasley, a jovem que conquistara uma posição elevada e invejada por todos os aurores... ’
Ela sentiu uma mão maior e quente envolver seu braço até mesmo com certa força, e puxá-la da multidão. Sua cabeça ainda rodava e ela sentia uma vontade realmente insana de voltar até lá e moer Rita Skeeter na pancada. Pelo simples prazer de fazê-lo. Para extravasar toda sua raiva.
Quando finalmente sua visão começou novamente a se focar, ela fechou os olhos ao perceber que estava dentro do elevador do hospital. Abaixou o rosto e começou a esfregar o rosto entre as mãos.
- Eu pensei que você tivesse retirado essa maldita massa da porta, Mike.
A risada sarcástica de Mike encheu os ouvidos de Ginny.
- Como se fosse muito fácil. Quase azarei Rita Skeeter, mas não estou nem um pouco a fim de encarar um processo. – ela sentiu a mão dele em seu ombro. – Como se sente?
- Com tudo rodando. Parece que eu estava dentro de uma máquina de lavar.
Mike sorriu.
- Eu sei como você odeia repórteres.
- Pode apostar que sim.
- Pronta para trabalhar?
Ginny inspirou profundamente e encarou seu chefe.
- Sempre estou.
- Ótimo. Vamos começar então. Potter despertou a algumas horas de seu sono e acabamos de contar a ele sua situação.
A porta do elevador se abriu e Ginny encarou Mike com preocupação.
- Oh. – ela ficou um tempo em silêncio. – Qual foi a reação dele?
Mike ponderou por um momento, enquanto dava espaço para a ruiva passar.
- É difícil dizer, Gin. Ele se fechou de um jeito após isso que ficou difícil saber o que se passava por aquela cabeça. Mas dá para presumir que ele ficou realmente surpreso com isso, não é?
Ela assentiu. Mas havia algo de estranho.
- Ele não argumentou ou tentou destruir alguma coisa, Mike?
O chefe negou.
- Nada. É o que estou dizendo, ele ficou um bom tempo em silêncio – sendo aí que eu presumo sua surpresa – e depois ele fez algumas perguntas sobre sua situação. Depois de algum tempo perguntou se teria que ficar ali por mais tempo por causa disso. Eu respondi que ele sairá hoje mesmo se tudo o que planejei correr certo.
Aquele não era o mesmo Harry que ela conhecia. Harry tinha os nervos à flor da pele e se estressava com facilidade quando as coisas não saiam do seu jeito.
Mas o Harry que Mike estava lhe expondo era um Harry analítico e misterioso demais.
Suspirou.
- E o que você está planejando?
- Estou cuidando da segurança dele.
Ginny se aborreceu.
- Mike, eu já lhe disse que Harry odeia o Ministério da Magia, e ainda que o DICAT não esteja diretamente ligado com o Ministério, não se pode dizer também que não há envolvimentos. Você vai realmente irritá-lo se disser que cuidará de sua segurança então.
O chefe parou de caminhar e ergueu uma sobrancelha em sua direção.
- Por que Potter odeia tanto o Ministério, Ginny?
- Mike... Por causa do Ministério, eles utilizaram o Profeta Diário para lhe passar a imagem de alguém perturbado mentalmente, de mentiroso, de perigoso, usaram um bode expiatório chamado Umbridge para controlar seus passos e os de Dumbledore. Já tentaram utiliza-lo apenas para obter aprovação da sociedade. De qualquer modo – Ginny balançou a cabeça. – O Ministério mais prejudicou Harry do que ajudou.
Eles ficaram de frente a dois homens vestidos identicamente, e um deles pediu identificação. Mike retirou dois crachás e mostrou aos homens, que liberaram a passagem pelo corredor, onde se encontrava o quarto de Harry.
- Bom... Isso explica. Mas não se preocupe, ele não irá reclamar do esquema de segurança que bolei.
- E por que não?
- Porque eu vou usar pessoas próximas a ele para protegê-lo. Então ele pode discordar de inicio, mas não reclamará.
Ginny o encarou estupefata.
- Isso é ridículo, Mike. Hermione já está lotada de tarefas, sem contar com o estresse das arrumações para o casamento.
Mike balançou a cabeça.
- E quem disse que estou insinuando Hermione? Não, ela não teria tempo para isso, e também que a segurança dele ficaria desfalcada pelo período de lua-de-mel dela. Não, não. – ele riu da hipótese ridícula. – Hermione, mesmo sendo a melhor amiga dele, não poderia tomar conta. Estou pensando em alguém mais qualificado para esta tarefa. Alguém que tem contato direto comigo, devidamente treinado para qualquer tipo de situação e alguém que ele definitivamente não reclamará.
Ele não precisou ir mais longe do que isso para que Ginny entendesse o que ele queria dizer.
- Ah, meu Deus...
- Só falta me dizer se você aceita esse trabalho, Ginny. É uma opção sua, mas não vou negar que tudo estaria mais fácil se você estivesse cuidando da segurança de Potter. No momento, não há ninguém mais qualificado que você.
Continua...
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