Capítulo Três



“Seu corpo era movido ao desejo de vingar a morte de Dumbledore, no momento. E toda essa necessidade estava sendo suprida de tal forma que ele não conseguia evitar sorrir de maldade com o que via.

Encostou-se à parede coberta de mofo e bolor, com os braços cruzados e fixou o olhar atentamente ao homem amarrado à sua frente, que respirava com dificuldade.

Ele ergueu uma sobrancelha e coçou passou a mão pelo rosto áspero pela barba que precisava ser feita, analisando seu antigo professor de poções.

O homem tossiu com dificuldade por um tempo, antes de finalmente erguer o rosto para fitar Harry.

- Então... Você não fugiu.

O rapaz apenas limitou-se a erguer a sobrancelha, com silencioso deboche. Depois, pigarreou e respondeu:

- O titulo ‘covarde’ se limita apenas a sua pessoa, Snape. Não a minha.

Houve um brilho diabólico de satisfação nas íris de Harry ao vislumbrar o semblante de ódio de Snape.

- Não... Chame-me...

- De covarde. Sei. – Ele se desencostou da parede e caminhou em direção ao homem que levara a informação sobre seus pais a Voldemort e que, mais tarde, tirara dele também seu padrinho. Que, assim como Rabicho, contribuíra para arruinar ainda mais sua vida.

Harry colocou as mãos nos bolsos do jeans surrado e curvou ligeiramente a cabeça, enquanto Snape o encarava com os olhos injetados, furiosos. Harry apenas sorriu, mas Snape percebera que havia diferença do garoto que infernizara em Hogwarts para o rapaz parado ali.

Enquanto estivera na Espanha, ele escutou rumores de alguns simpatizantes de Comensais sobre as aparições de Potter, e sentira na própria pele a fúria do Lorde das Trevas com planos frustrados por Potter.

O surpreendente, porém, era que ele não deixava rastros de seu paradeiro.

Snape, durante todo este tempo acreditou que Harry Potter estava contando com a ajuda de amigos mais poderosos, como sempre fizera, mas surpreendeu-se ao descobrir que ele estava sozinho. Todo seu trabalho, todas as interrupções dos planos de Voldemort... Era apenas fruto de um trabalho de uma única pessoa.

Alguém que antes sequer conseguia fechar a própria mente.

- Presumo que você tenha informações importantes para mim, traidor.

Havia arrogância em sua voz. E uma determinação que surpreendeu Snape. Embora ele não soubesse explicar, sabia que havia algo diferente no filho de James Potter.

- Morrerei com elas. – comentou suavemente, o encarando friamente. Um pequeno sorriso de canto cortou os lábios do rapaz.

- Não morrerá com as informações que preciso, Snape. – garantiu. – Essas informações serão minhas, nem que para isso tenha que retardar sua morte por mais algumas horas.

- Acha que vai me matar, realmente? – debochou. – Você não teria coragem. Nunca teve. É por isso que sempre deixou que as pessoas ao seu redor morressem. É por isso que Black morreu em seus braços, assim como Dumbledore. Sempre se preocupou com seu rabo precioso ao invés das pessoas que se importavam com você. É um fraco.

Harry deu uma risada sem humor. Não pareceu se afetar com as palavras do homem.

- Não teria coragem de matar você? – ele permitiu que seu rosto ficasse próximo ao de Snape. – Apenas não o faço agora, Snape, porque você tem informações importantes e eu preciso delas.

A Guerra havia o transformado. Potter sempre fora alguém que jamais se importara de brincar com fogo, sem medo de se queimar. Mas havia ali, desta vez, aquele brilho estranho de alguém seguro de si. De que ele poderia fazer qualquer coisa, se quisesse. E que assassinar comensais era a menor de suas preocupações.

- Como está conseguindo sumir sem deixar rastros?

- Muito simples. Sou mais esperto que vocês. – Ele colocou uma cadeira em frente ao comensal e sentou-se, apoiando os braços nas costas da cadeira. – Afinal, satisfaça uma curiosidade, Snape: foi você quem teve a maravilhosa idéia de tentar manipular minha mente, como no quinto ano, tentando me fazer acreditar que estavam com um dos Weasley à mercê de Voldemort?

Ele sustentou o olhar do rapaz, em fúria, mas não respondeu. Harry parecia já esperar tal atitude, porque apenas deu de ombros, antes de comentar casualmente:

- Pode segurar as verdades pelo tempo que quiser Snape. O Veritaserum não tardará a fazer efeito.

- Só pode estar blefando. Nunca foi bom em poções.

Mais uma vez, ele deu de ombros, em sinal de descaso. Mas havia determinação obstinada em sua voz quando disse:

- Não estou blefando.

De fato, não tardou para que a língua de Snape ficasse solta.

- O Lorde das Trevas tentou por muitas semanas penetrar sua mente, mas parece que você criou um bloqueio forte o suficiente para que nenhuma pessoa com capacidade mágica o suficiente conseguisse tal coisa. Era praticamente impossível descobrir sobre seu paradeiro, como maneiras de descobrir informações importantes para atingir você. Até que certo dia, conseguimos.

- E então invadiram meu sonho com uma suposta visão de Ginny Weasley sendo torturada por Voldemort? Realmente, muito engenhoso. – comentou sarcástico.

- Você deve ter sofrido alguma coisa para enfraquecer sua barreira mental. O Lorde das Trevas teve acesso a sua mente, então. Ele descobriu sobre sua preocupação para a menina Weasley. – um risinho torto cortou a face de Snape. –Apaixonado por ela, em outras palavras.

O olhar de Harry escureceu por um momento. Não houve sorrisos debochados, e Snape interpretou aquilo como um péssimo sinal. Potter estava se revelando alguém perigoso demais para ser tirado do sério.

- Tentamos alcançar a garota, mas parece que você fez um bom trabalho, também. Usou o mesmo feitiço que Dumbledore usou em você, enquanto morava com seus tios trouxas?

- Algo parecido. Todos os Weasley estão sob proteção, e nem que Voldemort vendesse todos os fragmentos de alma, ele conseguiria encontrá-los.

Snape suspirou, e continuou:

- Não encontrando a menina Weasley, tentamos entrar em sua mente e fazer com que acreditasse que estávamos com ela.

Harry balançou a cabeça.

- Cada dia que passa fico mais desgostoso com vocês. Sabe, eu me esforço tanto e vocês fazem cagadas como essa. – ele deu de ombros. – Mas não importa. Melhor para mim, pior para vocês.

- Você não vai conseguir derrotar o Lorde das Trevas, Potter. Vai morrer como seu pai miserável, isso é certo. Por mais que se esforce, você não vai...

Ele se silenciou com a varinha de Harry apertando sua garganta. Ele molhou os lábios com a pontinha da língua, antes de responder:

- Não ouse a mencionar meu pai em sua boca, Snape. E sobre derrotar Voldemort – ele franziu o cenho. – Já estou derrotando aos poucos. Não vai demorar para que ele caia. E serei eu quem o derrubará.

Ele apertou um pouco mais a varinha.

- Você matou meus pais, matou Sirius e matou Dumbledore. Você sabe que agora vou matá-lo, Snape. – sua voz não passava de um sussurro calmo, mas que deixava claras as notas de frieza. - E não vai ser da mais rápida ou indolor. Mas antes disso, vou me aproveitar mais um pouco do efeito da poção. Eu sei que você tem o conhecimento das horcruxes de Voldemort.

Snape engoliu em seco, como se aquilo o auxiliasse a guardar o segredo. Harry sorriu maldoso com tal atitude.

- Vou começar perguntando sobre a taça, e logo após poderemos conversar sobre Nagini.”


Harry estava passando a mão lentamente pelo rosto áspero pela barba, habito que adquirira ao longo dos anos, quando se perdia em pensamentos.

Estava relembrando alguns acontecimentos e todo o seu trajeto até chegar onde estava no momento. Surpreendeu-se por encontrar falhas em seus próprios planos, e surpreendeu-se mais ainda por estar vivo.

Acabado, em frangalhos e cheio de dor era verdade, mas ainda sim, vivo e inteiro.

Demorou um tempo para que ele entendesse onde estava, quando acordou. Fora complicado tentar lembrar dos últimos acontecimentos, e somente conseguiu se relembrar de tudo quando o curandeiro Brown e Hamilton, responsáveis por sua saúde, lhe ajudaram com algumas coisas que sabiam. Então, ele conseguiu relembrar de todos os detalhes que precisava lembrar.

A porta do quarto em que estava se abriu e ele encarou uma figura vestida de branco caminhar até ele, com uma caneca azul com um liquido fumegante em mãos.

- O senhor precisa beber essa poção, senhor Potter. – uma curandeira particularmente jovem lhe entregou a poção a ele, que por sua vez apenas segurou a caneca e encarou o conteúdo com o cenho franzido.

- O que é isto? – perguntou com a voz rouca e dolorida. Ele não percebeu – ou fingiu não perceber – que a curandeira o encarava atentamente.

- Ah... – ela se atrapalhou quando ele a encarou nos olhos. - Ah... De acordo com o curandeiro Brown é uma poção para o senhor se recuperar mais rápido dos machucados provocados por magia. Mas isso vai deixá-lo morto de sono também.

Ele não bebeu a poção, ainda. Continuou encarando o liquido fumegante, até que comentasse em um tom de voz despreocupado:

- Eles erraram a dosagem de escamas de dragão. Dá para perceber pela consistência, deveria estar menos densa... Típico erro comum, tanto que não causa problemas. Todo mundo faz isso, é quase imperceptível... – ele olhou para a curandeira e encolheu os ombros. – É por isso que há reações alérgicas em grande parte das pessoas que tomam essa poção.

A curandeira estava com os lábios levemente entreabertos. Harry tomou a poção e fez uma careta quando entregou a caneca a ela.

- Se acrescentassem uma colher de chá de mel aos primeiros dez minutos em que a poção está cozinhando, não acabaria com o efeito da poção e deixariam com um gosto melhor do que esse. – ele balançou a cabeça, ainda fazendo a careta. – Horrível.

Ainda abismada, ela o ajudou a se arrumar no leito e o cobriu com a manta do hospital, já que estava um pouco frio. Não demorou muito para que ele fechasse os olhos e adormecesse.

A curandeira fechou a porta silenciosamente, e foi à procura do curandeiro Brown, ainda completamente aturdida com o que aquele homem dissera.




Os acontecimentos estavam cada vez mais complicados.
Casamento com trouxa. Guerra. Comensais da Morte. Gravidez. Separação. Desgosto. Marido relutante. Reencontrar o amor de metade de quase sua vida inteira depois de anos, vivo. Comensais jurando vingança e, como se não pudesse ficar pior, Harry Potter estar incapaz de se defender.

Saber que Harry estava de volta fez Ginny se lembrar claramente da paixão que sentia por ele: quase que arrebatadora e fundada em motivos idiotas, já que ele jamais a tratara como uma grande amiga. Mas era uma paixão que mesmo assim fazia seu coração disparar e se aquecer apenas de vê-lo. De se sentir bem por ele estar bem, ainda que jamais a tivesse reparado, até que ele fugisse e ela seguisse com sua vida, em um rumo completamente diferente de tudo que havia sonhado um dia.

Tudo estava realmente mudado. Seu casamento perfeito estava destruído, ela estava abalada emocionalmente e não era mais uma menininha de dezesseis, dezessete anos que acreditava estar apaixonada pelo herói, irmão de seu melhor amigo. Atualmente, ela estava tão apaixonada quanto um explosivin, pensou amargurada.

Mas no fim das contas, ele era Harry, apenas Harry. O garoto que ela viu crescer... Pelo menos até os dezessete anos, quando ele resolveu simplesmente sumir da vida de todos para o bem geral da nação.

Então, era mais do óbvio que ela, como único membro da família Weasley a saber disso, ficasse preocupada e até mesmo aturdida com a resposta que Mike dera a ela, ainda mais quando seu chefe julgara aquele resultado até mesmo mais importante que o corpo destruído de Voldemort e tivera a capacidade de não lhe dizer exatamente o motivo.

Ginny estava sentada em uma cadeira, encurvada, com os braços sobre as coxas. Ela olhava atentamente para o chão perdida em pensamentos, enquanto tinha a leve consciência de que Mike a analisava, mas no momento não parecia tão importante assim enfrentar seu chefe com perguntas grosseiras.

Ela molhou os lábios com a pontinha da língua e suspirou, passando a mão pelos cabelos.

- Sabe de uma coisa? Eu acho que preciso de férias.

Mike abriu um pequeno sorriso.

- Acho que o Departamento todo precisa de férias.

- Poderíamos tirar férias coletivas. – ele sabia que ela estava tentando se distrair. – Seria muito bom. E você sabe que o meu grupo está me cobrando isso.

Ele assentiu.

- Eu sei. Mas todas as viagens já estão programadas. Você também só não está viajando por causa do seu problema com seu marido, porque você sabe que está tendo um caso de agrupamento de Comensais da Morte em Portugal e o chefe do departamento português mencionou que gostaria especificamente que fosse você que atuasse no caso.

- Ex-marido. – ela o corrigiu. Mike ergueu uma sobrancelha.

- Ele já assinou os papéis?

Ginny pensou em mentir, mas não conseguiu. Deixou os ombros caírem.

- Ainda não.

- Então ele ainda é seu marido.

- Só no papel e na mente empobrecida dele. – respondeu com frieza. – E sobre o caso português...

- Sim?

- Eu já conversei com o Chefe Bragança e nós chegamos à conclusão de que vamos enviar Linda para cooperar neste caso.

Mike franziu o cenho.

- Quando você tomou essa decisão, Ginny?

Ela o encarou.

- Ontem.

- Por Deus, Virginia! Você estava de folga!

Antes que ele continuasse passando o sermão, a porta da sala do Curandeiro se abriu, revelando a imagem do curandeiro Hamilton e do curandeiro Brown, ambos conversando entre si. As capas igualmente brancas balançavam de um lado para o outro enquanto caminhavam.

Ginny se levantou e Mike se adiantou até eles, apresentando-a a ambos.

- Curandeiros – ele começou formalmente. – Está é Virginia Weasley-Hammet, diretora da Área de Missões Especiais Internacionais. – Ginny apertou as mãos dos homens. – Ela também auxilia o grupo de Inteligência Estratégica e é a subdiretora do DICAT.

Hamilton sorriu para ela abertamente.

- Estou muito satisfeito de conhecer a senhora, Auror Hammet. – Ginny preferia que ele dissesse Virginia, ou Ginny, ou até mesmo seu sobrenome de solteira, mas ficou em silêncio. – Já ouvi muito falar ao seu respeito. Não é todo dia que alguém conhece pessoalmente um auror do AMI, não é mesmo, Ralph? – perguntou ao curandeiro Brown. - Ainda mais a cabeça do grupo.

Ginny apenas balançou a cabeça, com um pequeno sorriso.

- Ginny no momento não está viajando, então ela vai apenas chefiar as viagens e os pedidos para me ajudar com os problemas aqui na Inglaterra. – Mike comentou. Brown balançou a cabeça afirmativamente.

- Uma decisão muito sensata, agora que a comunidade bruxa vai ficar por algum tempo ao avesso até tudo começar a se normalizar.

Hamilton concordou.

- É verdade. Harry Potter derrotou Voldemort, mas suponho que os Comensais da Morte simplesmente não vão erguer as mãos e se renderem, certo?

- Correto. – Ginny assentiu com a cabeça para confirmar o que dizia. – Eles vão tentar continuar com o reinado que Voldemort estava impondo.

- Como eu disse, um mundo ao avesso por mais algum tempo. – Hamilton suspirou. – Pelo menos o pior já passou.

Não para mim, Ginny pensou, mas eu espero que o senhor esteja certo.

- Bom, pelo que Michael acabou de me dizer, parece que não é só o mundo bruxo a estar com problemas...

Hamilton fez uma careta de entendimento.

- Ah, é verdade. Ralph tinha ido buscar o resultado dos exames que fizemos em Potter.

Mike olhou de relance para Ginny e percebeu que ela ficara brevemente tensa.

- E então, senhor?

- O resultado acabou de sair. – o curandeiro parecia tão aturdido quanto Mike ou até mesmo Ginny. – Juro, em tantos anos de trabalho e estudo... Nunca presenciei um caso como esse. É simplesmente... – ele se calou.

- Ele perdeu todos os poderes?

- Todo o seu nível de magia, sim. – o curandeiro passou a mão pelos cabelos ralos e brancos. – Ele tem tanto poder quanto um bruxo abortado.

Ginny fechou os olhos com aquelas palavras e inspirou profundamente.

- Isso já é certeza? – Mike perguntou.

- Quase absoluta. É provável que ele ainda preserve a capacidade de ofidioglossia... Ou talvez nem isso. Mas perder os poderes não significa que ele tenha perdido todo o aprendizado que teve ao longo dos anos, de quando esteve no colégio. Ele preserva suas atividades mentais normalmente.

- Como isso aconteceu, curandeiro Brown?

- Não sabemos ao certo. Já ocorreu de bruxos terem um bloqueio de sua magia por depressão, mas um caso assim, jamais. Entendem o que quero dizer? É um caso muito peculiar, provavelmente único.

- Então... Não se sabe se é permanente? – Ginny se perguntou.

- Há algumas suposições sobre isso. Alguns peritos de seu departamento me mandaram, há algumas horas, relatórios sobre os destroços do local em que Harry Potter e Você-Sabe-Quem se enfrentaram. E com eles, os níveis de magia existentes ali.

Ginny ergueu uma sobrancelha e Mike apressou-se a explicar:

- A magia sempre deixa vestígios, então é possível verificar mais ou menos quais feitiços foram utilizados, e sua dificuldade... Consequentemente, consegue-se descobrir mais ou menos quanto de conhecimento e poder um bruxo tem. – ele virou-se para o curandeiro. – Mas, e então?

Brown se pronunciou, desta vez:

- Bom, vocês obviamente devem saber das suposições que foram feitas, não é mesmo? Sobre Potter ter, nesse período de ninguém saber nada sobre sua existência, ter se tornado um bruxo de incrível poder, não é mesmo?

- Sobre Harry Potter ter se tornado poderoso, talvez até mais que Voldemort? Acho que todo mundo escutou isso pelo menos uma vez durante esse tempo. – Disse Mike. – Assim como alguns criavam teorias de que Potter estivesse tão forte ao ponto de destruir Voldemort e ocupar o lugar dele.

Hamilton riu.

- Essa segunda suposição era simplesmente ridícula.

- Mas – Brown interveio. – A primeira não.

Ginny demorou um pouco para absorver a informação, mas quando entendeu o que ele quis dizer, arregalou os olhos e encarou Mike, com ar absolutamente chocado.

Harry... Absolutamente poderoso...

- Devo dizer que fiquei impressionado, para não dizer assustado, com os níveis de magia daquele local. – O curandeiro Brown continuou. - Sabem, tive o prazer de cuidar de Dumbledore uma vez em uma doença contagiosa, sabem como é... Coisa de idade, e nem mesmo com ele vi níveis tão altos. Você-Sabe-Quem e Potter usaram feitiços poderosíssimos. – ele pigarreou. – Boa parte de magia antiga e perigosa até mesmo para quem as executa.

Ainda sou o mesmo e ainda sou lastimavelmente péssimo em poções, as palavras dele ecoaram na mente de Ginny, que se perguntou em silêncio por que ele mentira. Tudo bem, com relação a ela até entenderia – Afinal, era apenas a irmã de seu melhor amigo e quase nunca conversaram direito. -, mas e Ron e Hermione? Eles também estavam lá.

Ela suspirou mais uma vez. Imaginar Harry lançando feitiços que nem mesmo ele nos tempos de colégio poderia imaginar a fez se perguntar se aquilo, de fato, não fora transportada para um universo alternativo em algum duelo com comensais e estava fora da realidade.

- E ele pode ter perdido os poderes graças a esses feitiços? – Mike perguntou. – Ou talvez, por causa de um feitiço que o tenha acertado?

- Há suposições. – Hamilton quem respondeu dessa vez. – Veja bem, todos os curandeiros envolvidos nesse caso estão criando várias teorias. Eu particularmente tenho uma teoria de que talvez, com a morte de Você-Sabe-Quem, os poderes de Potter tenham sido levados juntos. Brown já acredita que os feitiços foram tão poderosos ao ponto de criar um bloqueio mágico na mente de Potter. Ou seja, ele ainda tem seus poderes, mas estão bloqueados por uma espécie de barreira. E ainda há um outro que comenta que talvez ele tenha usado todos seus poderes até que acabassem, mas eu acho isso simplesmente ridículo ridículo.

- É uma teoria patética. – Brown concordou. – Talvez mais patética que Potter sendo um novo Lorde das Trevas.

- E vocês simplesmente não podem resolver isso? – Ginny perguntou incrédula. Para que se existia a Medicina, afinal?

- São apenas suposições, Auror Hammet. – o homem argumentou e Ginny sentiu estremecer com aquele sobrenome. – Precisamos primeiro descobrir o que aconteceu, e no momento não tivemos muitos resultados positivos. Na verdade, não tivemos resultado algum. A única coisa que podemos assumir é que ele está sem carga de energia mágica, como um aborto. Mas, como eu já disse, isso não significa que ele não esteja tão bom mentalmente quanto qualquer um de nós aqui. Tanto que tenho até provas.

Hamilton ergueu uma sobrancelha para seu colega.

- É mesmo? O que é?

- Ally foi levar a poção para melhoria dos ferimentos dele que eu havia pedido que a ala de Poções Mágicas preparasse. E ela me disse que Potter só faltou dar uma aula de poções. Quer dizer... Geralmente precisa de equipamentos para notar pequenos defeitos sem importância em uma poção. Potter notou-os apenas observando e cheirando a poção.

Ginny pensou que ia desabar.

“... ainda sou lastimavelmente péssimo em poções.”. Droga, ela sabia que ele estava escondendo alguma coisa quando dissera aquelas palavras.

Mike a retirou de seus devaneios.

- Bom, curandeiros, acho que isso tirou todas as nossas duvidas. Você tem mais alguma coisa a dizer, Ginny?

Ela perguntou com a voz baixa, cautelosa:

- Ele... Ele já sabe?

Mike respondeu pelos curandeiros:

- Ainda não.

Ela apenas balançou a cabeça, em silêncio.

- É só? –ela afirmou. – Certo. Agora – ele começou. – precisamos tomar algumas providências. Não estou certo se deixarei Potter sair daqui ou não...

- Eu acho completamente inaceitável ele não sair. – Brown discordou. – O rapaz está bem, ou pelo menos ficará quando se levantar daquela cama. Apenas está sem magia... Por alguns traços que eu já percebi dele, não acredito que ele vá aceitar ficar aqui trancafiado.

- Mas eu imagino que vocês vão continuar fazendo exames nele...?

- Correto. Mas ele pode vir como exame de rotina... Três vezes a cada uma ou duas semanas. Enquanto isso, ele pode ficar em casa.

- Certo. – Mike assentiu. – Isso seria algo que eu também preciso providenciar. Casa. – ele estalou os dedos e ficou um tempo pensativo. – Com relação ao que eu disse aos senhores antes, há alguma duvida?

Ambos balançaram a cabeça negativamente. Mike sorriu e apertou as mãos dos homens.

- Maravilha. A gente acerta alguns detalhes após, assim que eu descobrir como vou cuidar da segurança de Potter. Vamos, Gin?

Ela assentiu, mas o curandeiro arregalou os olhos para ela. Ginny deu um passo involuntário para trás, porque não fora apenas Hamilton que fizera aquilo. Brown, que era um homem mais sério e conservado, fizera à mesma coisa.

- Algum problema, senhores? – Mike perguntou de cenho franzido.

- Você a chamou de Gin?

- É. É um de meus apelidos. – ela respondeu confusa.

Ambos ficaram em um silêncio chocado, até que Hamilton se pronunciou:

- Claro. – Hamilton sussurrou para si mesmo. Ginny... Gin... Não sei como eu não percebi antes... Que besteira a minha... – ele se virou para Mike. – Posso conversar com o senhor por um momento, Auror Stuart?

Mike assentiu e Ginny o encarou.

- Eu... – ela deu de ombros. – Vou procurar minha família enquanto isso. Já sabe onde me procurar, qualquer coisa.

- Tudo bem.

Ela se dirigiu para a porta quando Mike a chamou.

- Sim? – Ginny perguntou ainda confusa com aquela reação estranha dos dois curandeiros. Homens que antes ela julgou tão inteligentes e experientes, no momento pareciam levemente excêntricos.

- Vou deixar você a par mais tarde, mas acho que é bom você já saber: Ninguém pode saber sobre o estado de magia de Potter. Nem mesmo sua família... Pelo menos, não por enquanto. É mais seguro para todos nós.

Com essas palavras, Ginny assentiu ainda mais confusa e fechou a porta, colocando as mãos no bolso do jeans enquanto caminhava pelo corredor.

Mike cruzou os braços e encarou os dois curandeiros.

- O que aconteceu para fazer tanta confusão com um apelido?

- Quando estávamos tentando reanimar Potter – Brown começou. – em alguns momentos ele acordava a variava... Quando isso acontecia, ele se contorcia, fechava os punhos e repetia a mesma frase, sempre “Não... Ela não... Gin... Afaste-se dela”.

- Às vezes eram quase berros. – o Curandeiro Hamilton balançou a cabeça. – Sim, quase berros, e eram berros angustiados. Doía até em mim escutá-los.

Mike ficou em silêncio por um tempo. Era impossível saber o que se passava na mente do chefe geral do DICAT.

Por fim, ele perguntou em voz baixa:

- Ele, em algum momento, mencionou o nome de algum Ron, Rony ou Hermione, Mione?

Ambos negaram.

- Não.

- Não, não. É o que eu disse, o único nome que ele mencionava era o de tal de Gin.

- Às vezes ele chamava por ela, também.

Mike suspirou, passando a mão pelos cabelos e franziu o cenho. A primeira lembrança que invadiu sua mente foi Ginny revelando a ele como Potter fugira da Toca.

Ele se lembrava claramente daquele dia. Estavam conversando justamente sobre uma matéria que saíra sobre ele no Profeta Diário. Era madrugada e todos os aurores já tinham ido para suas casas, e Ginny estava ajudando-o a finalizar um relatório sobre comensais búlgaros.

“- Eu gostava dele, na época. Sempre gostei, acho que desde que o vi pela primeira vez. – ela encolheu os ombros. – E ele usou isso como arma para escapar sem que eu armasse um barraco.

- Hum. Acho que ele sabe como você é armando barracos.

Ela o beliscou e ele riu.

- Não sou, nada.

Mike molhou a pena no tinteiro e escreveu uma frase, antes de perguntar:

- Mas e então, o que ele fez?

- Me beijou. Ele sabia que eu gostava dele.

Mike parou de escrever e a encarou.

- Cara, isso é cruel.

- Eu deixei que ele fizesse isso... De certo modo ele me deu tempo para escapar, sabe. – ela balançou a cabeça, soltando os cabelos do rabo-de-cavalo. – Foi o beijo mais engraçado que eu já dei.

- E esse foi o comentário mais engraçado que eu já escutei. Que diabos você quer dizer com ‘o beijo mais engraçado que eu dei’?

- Foi uma mentira da parte dele, ele não gostava de mim... Não da maneira que eu queria, na época. Mas mesmo assim nunca senti tanto sentimento junto.

- Hum. E então você ficou aparvalhada e ele fugiu?

- Ele me abraçou antes. Ficamos assim por um tempo e ele me pediu desculpas. Ele estava tão diferente, daquele jeito. – ela comentou a ultima frase mais para ela do que para ele, mas Mike a escutara. – Depois, foi embora e eu amadureci e percebi que minha paixão platônica era infundada, e segui com a minha vida. – ela olhou com carinho para a aliança. – E aqui estou eu, conversando de coisas sobre o passado de Harry Potter com meu chefe.”


Ele pedira desculpas.

E parando para pensar no momento, Mike não sabia dizer hoje com exatidão que fora por causa do beijo, e sim pela partida.

Mike balançou a cabeça. Era muito fácil chegar a uma conclusão: ela não era apenas a irmã do melhor amigo que gostava dele, mas soube muito bem como fazer que todos pensassem que sim.

Se Ginny soubesse daquilo no estado em que estava, ele tinha certeza que o inferno estaria armado para ela.

Ao mesmo tempo em que uma brilhante idéia de proteção para Potter se formava em sua mente, ele também pensava em proteger os sentimentos de Ginny, que já estavam em frangalhos.

Antes de ser sua subordinada no trabalho, ela era sua amiga. Uma grande amiga.

- Vou pedir uma coisa para os senhores: Ginny Hammet não pode saber sobre isso.

Continua...






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