Capítulo Dois



Capitulo Dois

O coração de Ginny estava completamente fora do compasso normal, mesmo depois de já estar no hospital há quase uma hora.

Mas o problema deveria ser esse, ela pensou. Já estava a quase uma hora esperando alguma noticia de Harry, e ninguém viera falar com eles além de Mike. Se Ginny não estivesse com o Profeta Diário em mãos, poderia claramente estar pensando que ter encontrado Harry era um equivoco.

“Depois de quase sete anos de Guerra – Considerada como a Segunda Grande Guerra -, parece que finalmente a comunidade bruxa pode respirar em paz. Ao longo dos anos, inúmeros bruxos e bruxas inocentes morreram nas mãos do bruxo das Trevas mais poderoso e perigoso já existente, Lorde Voldemort e seus seguidores, denominados Comensais da Morte.

A Segunda Grande Guerra se mostrou claramente declarada com a morte do bruxo mais notável, com serviços prestados a comunidade e diretor da escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, Albus Dumbledore, assassinado no próprio colégio após uma invasão dos Comensais da Morte. Especula-se até hoje de que o motivo de tal invasão era justamente o assassinato do diretor.

Após o Ministério da Magia decidir que o colégio seria fechado naqueles tempos de Guerra, os alunos que não haviam terminado seus estudos os completariam em suas próprias casas, com pais ou professores particulares dispostos a sair de suas casas para lecionar.

Durante esse tempo, muitos bruxos e bruxas foram assassinados cruelmente nas mãos dos Comensais, que invadiam vilarejos e causavam o caos.

Mas toda a comunidade contava com uma historia mal contada sobre uma profecia envolvendo o Lorde das Trevas e um rapaz, que sobrevivera à maldição da morte com a tenra idade de um ano, Harry Potter.

Obviamente, toda a comunidade depositou suas esperanças em um jovem que mal havia completado dezoito anos quando desapareceu sem deixar rastros. Após isso, muitos se desiludiram, achando que Potter fugira de seu compromisso, enquanto outros diziam que ele estava se preparando.

Após não muito tempo, inúmeros Comensais da Morte foram encontrados mortos ou em certo estado lastimável, além de que inúmeros planos do Lorde foram frustrados ou até mesmo derrubados por conta de intervenções desconhecidas. Mais uma vez, a comunidade ficou dividida entre acreditar que o ultimo dos Potter era quem havia cometido tais atos.

Evidentemente, há quem dizia que o Lorde das Trevas não era mais o verdadeiro motivo de terror e sim quem buscava a libertação do mundo bruxo. Se Harry Potter estava ficando tão poderoso como algumas línguas diziam, ele simplesmente não poderia tomar lugar do bruxo a qual mais temíamos?”.


- Isso é simplesmente ridículo! – esbravejou Ron, fazendo Ginny se sobressaltar. Não havia percebido que o irmão havia se desgrudado de Hermione e lia o artigo, assim como ela. – “Achando que Potter fugira de seu compromisso”. – imitou com desdém. – É patético! Harry não tinha a obrigação de ir atrás de Voldemort! Ele estava fazendo apenas o trabalho que os malditos Aurores não conseguiam fazer! E também porque queria vingar a morte dos pais!

Mike lhe lançou um olhar gélido.

- Há rumores de que Potter seria o único com poder o suficiente para liquidar Voldemort... – começou com a voz mordaz.

- É mesmo? – debochou Ron. – Rumores de onde? Profeta Diário e Rita Skeeter, eu suponho.

Ginny franziu o cenho levemente e voltou a se concentrar no jornal.

Sabia que seu irmão estava blefando. Mesmo que Ron e Hermione não soubessem, ela tivera a patética atitude de escutar um dia a conversa do trio antes do casamento de Bill e Fleur. Escutara o suficiente para saber que havia realmente uma profecia, e que Harry podia fugir dela, mas não iria. De certo modo, ele e o Lorde estavam entrelaçados, e Harry não conseguiria seguir com sua vida enquanto Voldemort não estivesse morto.

Mike retrucou alguma coisa em um tom cortante, fazendo as orelhas de Ron ficarem escarlates e fechar um punho. Hermione se colocou na frente do noivo e do chefe, que soltavam faíscas pelos olhos. Mas Ginny não deu atenção. Voltou a ler o artigo.

“Depois de quase seis anos completos sem noticia alguma que comprovasse que Potter ainda estava em nosso meio, O Ministério da Magia recebeu, há poucas horas, um grupo de pessoas de uma comunidade bruxa pobre próximo à Escócia. Disseram que Potter estivera lá, e em uma ação rápida mobilizou a pequena comunidade a abandonarem suas casas, levando o suficiente de seus pertences e partisse o quanto antes. Uma garçonete de um bar do local afirma ter falado pessoalmente com Potter.

‘ Ele foi rápido, e ordenou tudo como um general. Disse que Você-Sabe-Quem iria invadir aquele local para destruir, por haver bruxos nascidos trouxas ali. Disse que era necessário que partíssemos, porque o local todo seria destruído’.

Não se sabe por que Harry Potter pediu para que o aviso fosse dado após quase dezenove horas da invasão do Lorde, prevista por ele, mas o Menino-Que-Sobreviveu mostrou estar certo.

O pequeno vilarejo foi completamente destruído pelas chamas e pelo horror dos feitiços de morte e maldições, lançados para todos os lados.

E é com grande prazer que eu, Annie Lamarck, escrevo para o jornal que o Lorde das Trevas foi derrotado nesta batalha sangrenta, por Potter. O corpo do Lorde foi encontrado entre os escombros da pequena igreja do local, com o tamanho de um bebê prematuro e ressecado como se já estivesse morto há mais de três semanas.

Harry Potter também foi encontrado, e levado em estado grave para o Hospital St. Mungus. Não se sabe se Potter sobreviverá e os curandeiros não dizem nada sobre o quadro de saúde do homem, mas sabemos que ali estão presentes membros do Departamento de Investigação Contra as Artes das Trevas, fundada a menos de dois anos, sob a liderança do Auror Michael Stuart (32).

Há o boato de que Stuart está no Hospital, evitando qualquer divulgação de noticias para os jornalistas, e também está acompanhado da psiquiatra do Departamento, Hermione Granger, antes melhor amiga de Potter e futura esposa do goleiro dos Chudley Cannons, Ronald Weasley, também melhor amigo do homem nos tempos de colégio.

Esperamos que a comunidade bruxa faça votos para que o homem que nos salvou do mártir de Lorde Voldemort se recupere inteiramente e possa agora, ter uma vida digna.” (mais detalhes, pg.13).


- Isso aí, Ron, nunca consegue não ter seu nome em um artigo de jornal. – George comentou quando Ginny lhe jogou o Profeta Diário em suas mãos, com cara de desprezo. Ron não lhe deu atenção.

- É incrível como o Profeta Diário divulga agora as noticias a cada momento em que aparece algo surpreendente, não acha? Antes era a cada dia, e agora... Bem, ele não é mais tão diário assim. – Fred comentou com as sobrancelhas erguidas.

- Incrível é como podem menosprezar Harry em um momento e no próximo dizer que todos estão esperando que ele sobreviva. Quer dizer, quem deles realmente se importa...? – Hermione começou com os olhos cheios de lágrimas.

Ginny, no entanto, não estava prestando atenção em ninguém. Seu olhar estava em seus sapatos e sua mente estava se perguntando como toda aquela loucura poderia estar acontecendo. Ela se balançava de um lado para o outro, praticamente alheia ao seu gesto.

Mike, no entanto, percebeu. Seu olhar estava fixo nela e ele franziu o cenho, curioso.

Caminhou até ela, ignorando a discussão dos irmãos gêmeos dela sobre o estado de saúde de Harry e ficou de frente para a ruiva, esperando atrair sua atenção. Mas, só a atraiu quando ele a chamou.

Ginny ergueu o rosto e o encarou. Ela não chorava, como quase todos na sua família – à exceção de Ronald Weasley -, mas ele sabia identificar que ela não estava bem.

- Alguma coisa a preocupa, Weasley?

Virginia Weasley era praticamente a melhor auror do Departamento. Suas notas foram tão boas quanto às dele, na Academia, e ele sabia que ela seria aceita em qualquer Ministério ao redor do mundo que quisesse entrar.

A mulher era rápida e intuitiva, sempre tomando ações decisivas. A captura de Bellatrix Lestrange revelava isso, já que o brilhante plano fora bolado por ela.

Ginny era a estrategista do grupo, além de ser extremamente rápida quando em campo. Junto com ele, ela ajudava a liderar o departamento em algumas áreas.

O que o preocupava então, era que a mulher era excelente em esconder suas reações e, mesmo depois de sofrer o inferno com seu marido infeliz, ela continuava inalcançável.

Mas no presente momento, ela parecia completamente alheia.

- Suponho que sim, não é mesmo? – ela respondeu em tom de voz baixo. – Por que não chamou a mim e a Hermione assim que ficou sabendo que Potter fora encontrado? – Ginny ergueu o rosto e franziu o cenho para ele, tentando entrar novamente para o interior da muralha que construíra para si.

- Você estava de folga, até onde eu sabia.

- Isso é assunto primordial, Mike.

- É mesmo? E por quê? – ele perguntou erguendo uma sobrancelha.

- Simplesmente porque ele é Harry Potter. – Ginny cuspiu as palavras, com desprezo a si mesma por dizer aquilo. –E porque isso significa que os Comensais ainda vivos vão exigir vingança. E agora com Voldemort morto, imagine você o quanto que ele poderia nos ajudar com a investigação, contando o que sabe!

- E devo presumir que está abalada por causa disso? – Mike abaixou o tom de voz, perguntando com evidente deboche. Ginny o analisou friamente.

- Estou passando por um momento delicado, Mike, não que isso lhe diga respeito.

Não dizia, mas Mike tinha um carinho especial por Ginny. Ela era uma boa amiga, dedicada e leal a suas amizades.

Sentiu-se aliviado então com a resposta malcriada. Ginny em trabalho agia assim quando pressionada, então aquilo poderia significar um bom sinal, afinal de contas.

Estava enganado redondamente, no entanto. Ele não sabia que aquilo significava que ela estava apenas tentando encobertar o quanto estava aturdida e, mesmo odiando admitir, preocupada por Harry e aborrecida por não saber como ele estava. Depois de todos aqueles anos, ela pensou que sua família e ela própria tinham direito de saber como ele se passava.

- Sabe o que é mais irônico? – ela perguntou. – Parece que os jornalistas sabem mais do estado de saúde de Potter do que nós, que estamos aqui.

Mike sorriu.

- Você não está aqui a trabalho. Está com a sua família.

- Você sabe de alguma coisa por acaso, Stuart? – ele balançou a cabeça.

- Não, não sei.

- Com licença. – um dos curandeiros responsável por Harry entrou na sala de espera, fazendo Ginny se levantar no mesmo segundo. O curandeiro olhou para Mike. – Gostaria de lhe dizer algumas palavras em particular, Auror Stuart, se me permite.

Mike assentiu, sério. Acompanhou o curandeiro pela porta da sala de espera e o chefe de Ginny fechou a porta. O olhar de Hermione encontrou o da ruiva, e as duas se perguntaram silenciosamente se aquilo tinha alguma relação com Harry.

- Esta espera toda está me matando. – Molly admitiu com a voz fraquinha de choro. Ela sentou-se ao lado da filha e entrelaçou suas mãos com as dela, mesma esta já de pé. – Como você pode estar calma?

Ginny ergueu a sobrancelha, descrente da afirmação da mãe.

- Não estou calma. Mas não acho que cair no choro vai resolver alguma coisa.

- Papai, ‘to com fome e com sono. – uma garotinha de três anos puxou a capa de viagem de Bill, os olhos azuis marejados e o olhar sonolento. Os cachos loiros avermelhados caiam pelos ombros. Bill a pegou no colo e beijou sua bochecha, enquanto Fleur o encarava com cara feia.

- Emilie prrecisa descansarr. – disse cruzando os braços. – Você vá parra a casa com ela, querrido.

- Por que eu e não você? – ele perguntou aborrecido. Fleur o encarou da mesma forma.

- Porrque eu querro verr Arry.

- Mas eu também quero. Então eu vou ficar aqui.

Ginny girou os olhos. Bill e Fleur sempre discutiam por qualquer besteira sempre que a mulher estava grávida. Fora à mesma coisa na gravidez de Emilie, e agora estava sendo na gravidez dos gêmeos.

Ginny levantou-se, pegou sua sobrinha do colo de seu irmão e começou a caminhar pela sala de espera com ela, distraindo a garotinha.

- Nunca vi menina tão chorona como você. – Ginny comentou divertida, enquanto beliscava fracamente a barriga da menina, que riu chorosa.

- Estou cansada, tia Gin. Quero mimir.

- Vamos fazer o seguinte? Se você se comportar e esperar mais um pouquinho, amanhã sairemos para tomar um sorvete enorme no Beco Diagonal, o que me diz?

A menina abriu um sorriso encantador, mas Fleur encarou Ginny com cara feia.

- Minha filha esta grripada, Virrginia. Ela não pode...

Ginny a silenciou com um olhar.

- Pois ela vai tomar. – persistiu, observando Fleur aborrecida, tentando dizer que a garota estava mais tranqüila agora. – E pode descansar no meu colo, Millie.

A garotinha fez isso imediatamente, deitando a cabeça no ombro da tia e brincando com as madeixas de Ginny com um dedo. Não demorou muito para que ela colocasse o polegar na boca e dormisse.

Bill sorriu agradecido para ela.

- Obrigado, Gin.

Fred sentou-se, observando a silhueta de Mike e do curandeiro ao lado de fora da sala de espera.

- Gostaria de saber o que estão conversando. – comentou lentamente, enquanto Angelina Johnson se colocava em sua frente e passasse a mão por seus cabelos ruivos. – Quer dizer, podem estar comentando da saúde de Harry, não é mesmo?

- Ou talvez – George emendou olhando para o relógio. Katie Bell, sua namorada, havia dito a ele que aparecia por lá também. – Podem estar falando do numero horripilante de jornalistas lá fora. O que você acha Ginny?

- Eu? O quê? – ela perguntou alheia, enquanto balançava distraidamente a pequena sobrinha em seus braços, que dormia serenamente em seu colo. Todas suas ações eram mecânicas, já que seu pensamento estava no artigo.

Deus do céu, eles destruíram um vilarejo inteiro.

- George perguntou o que você acha que seu chefe e o curandeiro estão conversando. – Ron explicou. Hermione a analisou estranhamente, com os olhos vermelhos e inchados de choro.

- Ah. – ela respondeu. – Não sei.

Eles teriam as respostas não depois de muito tempo. Logo após alguns minutos, Mike abriu a porta, sem sorrir.

Havia alguma coisa de errado, Ginny imediatamente reparou. Alguma coisa terrivelmente errada.

- Estava conversando com o curandeiro Hamilton. – Mike explicou com a voz calma. – Potter está vivo.

- Bom, isso nós já sabíamos. – Ron retrucou grosseiro. – E então?

- Ron! Ele estava em estado grave! Ele poderia não ter sobrevivido! – Hermione ralhou com ele. – Mas, ele está bem, Mike?

Mike voltou toda sua atenção para Hermione, com direito até mesmo a um sorriso afável. As orelhas de Ron ficaram imediatamente vermelhas e ele puxou a noiva para perto de si, numa atitude possessiva e infantil.

- Sim... Ele está bem, de certo modo. – sorriu para Hermione que pareceu assustada. – Nada com o que se preocupar, juro. Ah... O curandeiro disse que vocês poderão vê-lo dentro de quinze minutos.

Molly começou a chorar e abraçou o marido.

- Você escutou isso, Arthur? Nosso Harry está bem! Não seria melhor mandar uma coruja para Lupin?

- Posso fazer isso. – George anunciou enquanto se levantava. – Aí posso também mandar uma para Katie, não sei onde diabos ela se meteu que demora tanto...

- Cuidado para não perder a namorada, irmão. – Fred comentou com uma piscadela e um sorriso debochado. George riu e retrucou no mesmo tom:

- Eu confio no meu taco, Fred.

E saiu. Molly se levantou e abraçou Hermione, que chorava tanto quanto ela.

- Isso não é maravilhoso de se ouvir?

- É sim.

- Estou tão contente!

Mas a única que não sorria era Ginny. Havia algo de falso no sorriso de Mike. Enquanto toda a família se abraçava, ela caminhou até ele e, segurando a sobrinha adormecida em um braço, o cutucou. Ele a encarou e ela franziu o cenho.

- Diga-me uma coisa, Mike: é apenas impressão minha ou há alguma coisa de errado com essa noticia maravilhosa?

O chefe desviou o olhar.

- Ele está bem, sim. Mas existem algumas coisas que estão preocupando os curandeiros.

- Como o que?

- Não posso dizer, Ginny, desculpe. – Mike balançou a cabeça. – Precisamos ter certeza e ver se esse tal problema vai prevalecer.

- Acho que eu estou perguntando como Auror, sabe. – ela resmungou aborrecida para ele. – Tenho tanto direito de saber como você. Eu lhe ajudo a liderar o departamento!

- E eu estou lhe respondendo como seu chefe, Virginia. Você pode liderar quase tudo, mas ainda estou acima de você na hierarquia. Se tudo estiver certo, você vai ser a primeira a saber.

Uma curandeira de mais ou menos vinte anos entrou na sala de espera, sorrindo para toda a família.

- Com licença, senhores... Quem são os primeiros a visitar o senhor Potter?

- Ron e Hermione, obviamente. – retrucou Fred.

- Ginny. – Mike a chamou. Ela se virou.

- Sim?

- Vá junto com seu irmão e Hermione visitar Potter. Preciso conversar com você e não quero interrupções de visitas a Potter que me impeçam de mostrar algumas coisas a você.

- Como o quê?

- O corpo de Voldemort foi trazido para cá... em frangalhos. Há algumas fotos amadoras também dos primeiros que chegaram ao vilarejo que também preciso lhe mostrar.

Um arrepio percorreu pelo corpo de Ginny. Ela não iria ver apenas o corpo do bruxo mais poderoso das Trevas que o mundo já viu... Iria ver o corpo de Tom Riddle, do rapaz que se aproveitou de uma lembrança para extrair sua vida.

- Claro. – respondeu com a voz entrecortada.

Colocou a sobrinha adormecida no colo de Bill e suspirou. Não sabia o que estava provocando mais dor em seu estomago: o corpo de Voldemort, ou saber que iria ver Harry, depois de tanto tempo.

Hermione agarrou seu braço. Ela tinha um sorriso exultante e lágrimas copiosas rolavam por suas bochechas vermelhas.

- Vem, Gin! Não vamos mais perder tempo!




Hermione foi a primeira a entrar no quarto. Ela não havia parado de chorar e toda hora agradecia por Harry estar vivo. Ela entrou no quarto sem esperar nem pelo noivo nem por Ginny.

Ron, no entanto, parou assim que Hermione entrou, dirigindo seu olhar para Ginny. Ela, sem observá-lo, acabou trombando nele.

- O que foi? – perguntou assustada.

Ron a observou por um longo período.

- Você está bem?

Ela entendeu a profundidade da pergunta.

- Estou ótima. Vamos Ron, saia da frente ou não vou poder entrar no quarto.

Ron entrou, acompanhado de Ginny. O olhar da ruiva estava em qualquer canto do aposento, menos no leito em que Harry estava.

Seu coração parou um por breve segundo, e logo em seguida estava batendo tão rápido que ela pensou que iria sair. O ar faltou em seus pulmões e ela pensou que fosse desabar ali mesmo.

Ele estava vivo. E finalmente voltara, depois de seis anos...

Inspirou profundamente e finalmente olhou para o leito. Mas não o viu. Hermione estava segurando sua mão e tagarelando como louca e Ron estava ao lado dela.

- Harry, eu não sei se brigo com você ou se agradeço por você estar vivo. – Ron começou. Ginny sabia que ele estava sorrindo e emocionado ao dizer isso, pelo tom de sua voz.

Ginny escutou um gemido rouco de dor e em seguida Harry responder:

- Não me arrependo do que fiz.

Um arrepio percorreu por todo o corpo de Ginny ao escutar a voz dele. Estava fraca, de quem estava sentindo muita dor e incrivelmente rouca.

- Ah, Harry, você está vivo...

Era Hermione quem falava. Ela fungava e falava ao mesmo tempo, fazendo algumas de suas palavras soarem confusas de serem compreendidas.

- É, é o que parece. Mione pode parar de chorar agora. – Ron resmungou e Hermione deu um passo para trás, com um sorriso lacrimoso.

- Todo mundo está aqui, doido para ver você. – a morena anunciou. – A Sra. Weasley, Fred, George, e Lupin está vindo para cá... Você precisa ver, os Weasley aumentaram. Fred se casou e George está namorando. A filhinha de Bill é a coisa mais linda totalmente diferente daquela arrogante da Fleur! Ah, você tem que ver, ela se dá tão bem com a Ginny, a Emilie! Ela vai adorar conhecê-lo, também, Harry!

- Deixe-o respirar, Mione. É informação demais. – Ron comentou rindo, mas olhou para trás. Ginny continuava estática no mesmo lugar, parecendo impossibilitada de se mexer. Ele duvidou que ela soubesse que estava fechando um dos punhos com força descomunal.

Lembrou-se das palavras que tivera com o amigo, certa vez, logo que estavam no trem a caminho de casa, pela ultima vez, no sexto ano. Antes de Harry fugir.

Lembrou-se da dor que viu nos olhos do melhor amigo.

Decidiu então tomar uma atitude.

- Harry, tem mais alguém aqui querendo te ver.

Ele puxou Hermione para o lado, para que o amigo pudesse ter visão de sua irmã. Harry virou a cabeça para o lado vagarosamente e pousou seus olhos em Ginny.

Ginny engoliu em seco, sua mente ficando estranhamente vazia. Como se todo o pesadelo de sua vida não tivesse existido... Um simples branco, como se estivesse adormecida por um longo período, e que agora, com Harry vivo e bem, ela acordava.

Ela não conseguia encontrar sua voz para dizer “Olá”, nem forças para girar nos calcanhares e sair correndo dali.

Mas, se antes ela não tinha força para se mover até o leito dele, agora muito menos.

Como ele havia mudado! Óbvio, depois de tanto tempo sem vê-lo, mas mesmo assim impressionante. Era como se todo aquele lado gentil e doce de Harry tivesse sumido por completo. A única coisa que ela conseguia ver era um homem maduro, com a barba por fazer, completamente machucado e mesmo assim, estranhamente maravilhoso. Havia algo de experiente nele que ela não sabia explicar.

Ele estava mais forte... E abriu um grande sorriso para ela, quando a viu, ainda que vidrado em dor. As íris esverdeadas brilharam de um modo que Ginny nunca havia visto, como se ele estivesse esperando vê-la o tempo todo.

- Olá, Ginny. – ele disse com a voz baixa, ainda com a nota de dor.

Engolindo em seco mais uma vez, ela forçou a si mesma a começar a andar. Conseguiu. Deu um passo vacilante, até que recuperasse sua força e suspirasse enquanto caminhava até o leito dele. Sua mente foi bombardeada pelo dia em que ele partira.

Fazia tanto tempo... Ele mudara tanto...

Ela tentou sorrir. Sua mente foi tomada pela lembrança do beijo que ele lhe dera antes de partir.

- Olá, Harry. Como se sente?

Ele não deixou de sorrir. Parecia até mesmo aliviado de tê-la ali e que ela não tivesse desabado.

- Moído, mas vou sobreviver.

- Os curandeiros fizeram um bom trabalho.

- Não consigo quase me mexer, mas suponho que fizeram.

Eles se encaram em silêncio por um tempo. Harry sorria para ela, cheio de cortes e hematomas no rosto e no corpo. Havia uma gaze em seu ombro com pontos secos de sangue. Ginny parecia completamente perdida, sempre se perguntando se aquilo não era algum desfecho de um sonho maluco.

Por fim, Hermione quebrou o silêncio.

- Temos tanta coisa para te contar! Você nem acredita quanta coisa aconteceu enquanto você esteve ausente! E aposto que você também tem muita coisa para nos contar.

- Tenho algumas. – ele sorriu para a amiga, tentando achar uma posição menos dolorida. Imediatamente, sem pensar em seu gesto, Ginny o ajudou.

- Você vai ter de contar sua história a todo mundo, na verdade. O que fez durante todo esse tempo? – Hermione perguntou mais uma vez.

Ginny percebeu imediatamente que ele se fechara em copas com aquela pergunta.

- Uma porção de coisas. Vi e presenciei coisas que nunca pensei presenciar, e se pudesse, nem iria querer.

Os quatro ficaram em silêncio. Ron então comentou:

- Houve menções no jornal de que você ficou até mesmo mais poderoso que Voldemort...

Harry tentou rir, mas se contorceu de dor.

- Não mesmo. Ainda sou o mesmo e ainda sou lastimavelmente péssimo em poções. E se eu estivesse tão forte assim, não estaria destruído dessa forma agora.

Ele soara divertido. Ginny não conseguiu entender porque achara aquilo uma mentira deslavada.

- Bom. Mas você sobreviveu e Voldemort morreu. – ela comentou levemente. – Agora toda essa loucura acabou para você.

- Eu espero que sim. – ele fechou os olhos. – Maldição. Eu sinto como se um hipogrifo tivesse sentado e pisado em cima de mim.

Ginny abafou um riso.

- Você logo vai ficar melhor. – ela prometeu. – E pode se preparar que mamãe vai mimar você até dizer chega.

- Ah, com certeza. – Ron afirmou.

Harry suspirou.

- Acho que não estou mais acostumado com mimos. – Ele abriu os olhos, como se tivesse se lembrado de algo importante. - Ron, eu acho que preciso te dar os parabéns.

- Por quê? – perguntou confuso.

- Por ter dominado seus medos e hoje ser o melhor goleiro.

Ron corou levemente nas orelhas.

- E – Ginny notou o leve tom sarcástico em sua voz. – Por finalmente ter se tocado que Hermione é perfeita para você. – Ron e Hermione entrabriram os lábios, chocados.- Sabe, ficar famoso dá nisso. Eu costumava ler o Profeta Diário mesmo quando desaparecido.

Agora ambos os amigos estavam vermelhos como pimentões. Ginny olhou para Harry, tentando esconder a gargalhada que queria dar. Harry, ela se lembrava, já era sarcástico antes de partir, mas havia algo diferente em seu humor... Como se maldade e ironias fosse algo natural, em seu mundo.

- É, pois é... – Hermione começou. – Nós estamos noivos.

- Quem diria, não? Ron tomou vergonha na cara. – Ginny sussurrou para Harry e ele abriu um sorriso de canto.

- Vamos nos casar assim que terminar a temporada de quadribol. – Ron anunciou. – E agora você pode ser nosso padrinho. – Hermione abriu um largo sorriso, começando a ficar com os olhos cheios de lágrimas. – Ainda essa semana estávamos comentando sobre isso e...

- Claro. Isso seria muito bom. – ele sorriu para os amigos.

Ron ficou observando Harry e Ginny por um momento. Seu melhor amigo continuava encarando sua irmã, que por sua vez olhava para todos os lados menos para ele. Mesmo assim, ele estava tranqüilo. Ginny estava ali e Ron percebeu que no momento aquilo bastava para ele.

- Mione. – Ron começou.

- Sim?

- Acho que devemos chamar a minha mãe e meu pai. Eles querem ver o Harry também e vão brigar comigo se eu demorar demais.

- Mas ainda nem terminamos de contar as novidades! – Hermione protestou.

Ele enlaçou a noiva pela cintura e abriu um sorriso maravilhoso.

- Vamos esperar ele ir para casa e lhe contaremos tudo, certo?

Ele estava torcendo para que a noiva percebesse o olhar subjetivo que ele estava lançando.

Ela não o deixaria arrependido. Entendeu e ergueu uma sobrancelha.

- Claro! – ela sorriu de repente. – Você está certo. Conversaremos amanhã, Harry?

- Acho que sim. – ele ficou um tempo em silêncio. – Será que amanhã já vou poder sair daqui?

- Duvido muito. Ainda mais se depender do chefe de Mione.

Ele ergueu uma sobrancelha.

- O que tem o chefe de Mione?

- É um tremendo pé no saco e vai querer toda sua proteção até que você conte tudo o que sabe. – Harry percebeu o tom selvagem na voz de Ron e sorriu.

Ginny se levantou.

- E eu vou falar com Mike, então.

- Não, Ginny! – Ron falou abruptadamente, fazendo a irmã se sobressaltar e o encarar confusa. Ele tentou remendar. – Não deixe o Harry ficar sozinho. Procure seu chefe depois que mamãe e papai chegarem aqui.

Ela piscou para o irmão, confusa. Hermione queria balançar a cabeça e dizer que Ron não era nada discreto. Harry, por sua vez, não expressou reação nenhuma.

- Bem! – disse Ron apressadamente. – Vamos indo, Mione.

Ele estava praticamente empurrando a noiva para fora do quarto. Ambos se despediram apressadamente de Harry e saíram.

Hermione encarou Ron aborrecida quando este fechou a porta.

- Sabe, depois de tantos anos sem ver o Harry, eu pensei que você iria querer ficar muitas horas conversando com ele!

Ron colocou as mãos no bolso do jeans e encolheu os ombros, numa expressão solene.

- Estou muitíssimo feliz que Harry esteja vivo e quero conversar muito com ele. Aliás, um dos motivos de ter saído dali também vai ser um dos motivos de nossa conversa.

Hermione cruzou os braços.

- O que você está escondendo de mim, Ronald Weasley?

Ron abraçou a noiva carinhosamente e colocou seus lábios no dela, num beijo delicado. Sorriu quando se afastou.

- Lembra-se de quando você teve problemas com sua bagagem, no sexto ano?

Ela ergueu uma sobrancelha.

- Mas isso faz muito tempo... Como eu ia...

- Mas se lembra? – ele a interrompeu.

- Lembro, claro que lembro. Você e Harry foram procurar um compartimento.

- Pois é. E nós tivemos uma conversa muito séria, iniciada por ele mesmo.

Hermione o encarou aturdida, antes de ficar aborrecida e chateada.

- Vocês nunca me contaram isso!

- Querida, por favor! – ele bufou. – Harry me fez prometer que não diria nada, porque sabia que você e Ginny eram tão amigas quanto nós três!

- Espere aí. O que tem a Ginny nisso tudo?

Ron sorriu.

- Por que acha que eu quis deixar os dois sozinhos ali? Prefiro o Harry àquele palerma que Ginny arrumou para entrar na família.

Hermione o encarou um tempo, antes de balançar a cabeça.

- Você está me dizendo que o Harry...

- Eu não estou dizendo nada. – o ruivo se defendeu. Hermione suspirou.

- Tenho pena dele.

- Por quê?

- Ginny está se divorciando, Ron. Seu marido não quer dar o divorcio e o mundo cor-de-rosa que ela acreditava estar vivendo ruiu bem diante de seus olhos. Você viu a barreira que ela criou... Como ela está mais objetiva e até mesmo mais... Hum... Fria. Você acha mesmo que ela vai querer se envolver?




A porta do quarto se fechou, e tanto Harry como Ginny fizeram uma careta. Logo depois, Harry balançou a cabeça, debochado.

- Eu pensei que, se sobrevivesse, os encontraria mudados. Acho que me enganei. Ron continua tendo a discrição de um holofote.

Ginny riu.

- Eles ainda discutem horrores. Você vai presenciar muito disso. A única diferença...

- É que agora termina com beijos e um quarto trancado?

- Bem por aí. – ela piscou divertida. – E uma cama rangendo. Ainda bem que ele não mora mais na Toca.

Harry sorriu.

- Fico feliz por eles. Se tivessem ido comigo, isso não estaria acontecendo...

- Você não pode presumir isso, se não aconteceu. – Ginny sentenciou. Harry deu de ombros.

- De qualquer forma, não me arrependo.

Ela suspirou.

- Imagino que não.

Ginny se assustou quando percebeu que ele a estava encarando profundamente, como se estivesse analisando-a. Assustou-se ainda mais quando ele ergueu a mão machucada e acariciou seu rosto levemente. Ginny arregalou os olhos, sentindo o contato da mão quente dele contra sua pele. Um choque percorreu pelo seu corpo e ela se afastou.

Harry antigamente ficaria envergonhado com a reação dela e começaria a gaguejar, mas tudo o que ele fez foi suspirar antes de sorrir e a encarar nos olhos.

- Você mudou muito.

- E isso é bom?

- Ah, sim. Muito bom. – Ela jurou a si mesma que jamais iria admitir que estremecera com aquela resposta. O tom que ele usara para tal frase fora profunda. – Você está bem diferente.

- Imagino que sim.

- De todas as formas. – ele balançou a cabeça. – Muito mais bonita e mais monossilábica.

Ginny não evitou o sorriso.

- Não estou monossilábica. Apenas – ela ficou um tempo em silêncio. – é uma fase bastante confusa para mim. Foi tudo uma surpresa.

- Imagino que sim. – Fora a vez de ele responder.

Aquilo tudo era muito estranho. Harry não era mais o mesmo rapaz por quem ela se apaixonara, e ela tampouco era mais a mesma garotinha. Ela se sentia constrangida, ao mesmo tempo em que não sentia. Era como se ele fosse um desconhecido, mas que mesmo assim confiasse nele.

- E então, o que fez durante todo esse período de guerra?

Ele a despertou de seu devaneio, transmitindo-a diretamente para um novo. Contar o que fizera significava relembrar o passado, e ultimamente, aquilo era uma droga.

- Terminei meus estudos e fui para o Canadá.

Harry pareceu surpreso.

- É mesmo? Canadá? Fazer o quê?

- Iniciar minha formação como Auror.

Harry ergueu as sobrancelhas, aturdido. Logo após esboçou um sorriso.

- Auror, huh? – ele sorriu. – Havia me esquecido que a melhor Academia reside lá.

- Pois é. Depois... Eu voltei para casa. Hoje trabalho no DICAT.

- Sei. Os melhores aurores reunidos em um departamento para frustrar planos e capturar Comensais e bruxos perigosos. Fiquei sabendo dessa ala no Ministério.

Ginny ergueu uma sobrancelha.

- Ficou sabendo? Mas tal informação de um grupo na Seção de Aurores demorou a vazar.

Harry simplesmente sorriu. Ginny não conseguiu evitar o pensamento de como ele era bonito. E tentadoramente mais misterioso.

- Simplesmente fiquei sabendo. Eu me informava, você ouviu o que eu disse a Ron.

- E por que simplesmente sumiu? Como ninguém descobria nada sobre você?

- Era preciso. Quanto mais desaparecido ficasse, mais Voldemort ficaria aborrecido e preocupado em pensar nos pequenos detalhes de seus planos, porque sabia que eu poderia aparecer e acabar com eles a qualquer momento. E isso me privilegiava bastante. E também que ele não poderia saber o que eu estava fazendo enquanto isso.

Ela pensou em perguntar o que exatamente ele fez durante todo esse tempo, mas ficou em silêncio.

- E então. – ele sorriu. – Ainda morando na Toca?

- Não. Hoje em dia eu moro perto do Ministério, em uma casa recém-reformada.

- Independente e considerada uma das melhores aurores. Você realmente mudou.

- Não sou uma das melhores aurores. – Ela riu como quem achava graça daquilo. – E está dizendo que não era independente?

- Não estou dizendo isso. – ele balançou a cabeça, mas voltou a ficar sério. – Hei, Ginny.

Ela se assustou com o olhar profundo que ele lhe lançou. Ginny mergulhou rapidamente naquele brilho esverdeado, afundando-se cada vez mais...

Piscou, sentindo que o aposento ficara estranhamente frio. Suspirou.

- Sim?

- Há uma coisa que eu preciso te dizer. Algo que não ficou muito bem esclarecido.

Ginny só percebeu que estava inacreditavelmente próxima a ele quando já era tarde demais. Ficou estática, enquanto podia sentir a respiração dele bater levemente contra seu rosto. Sentiu a boca ficar imediatamente seca.

Insanamente, ela queria beijá-lo. Ao mesmo tempo, gritava a si mesma para se afastar. Envolver-se era a ultima coisa que queria.

Mas ele precisava dizer algo. E mesmo com o olhar sedento de vontade, não a beijaria até que dissesse o que precisava dizer:

- Ginny, eu -.

A porta se abriu. Ginny levantou-se quase que imediatamente e quase escorregou com essa atitude. Seu coração doía de tanto que batia e ela fechou os olhos, inspirando profundamente.

Seu pai e sua mãe nunca foram tão inconvenientes em toda a sua vida, Ginny pensou aborrecida e grata ao mesmo tempo.

- Harry! – Molly caiu no choro imediatamente, enquanto apressava seus passos até ele, que parecia absorver o que estava acontecendo.

Arthur caminhou até a esposa e a filha e sorriu para Ginny, que não retribuiu o sorriso.

- Mike quer falar com você, Ginny. Perguntou se já pode ir até lá.

Ela virou-se, encarando Harry. Ele estava sorrindo para sua mãe quando a encarou.

Ele era muito bom em esconder suas reações, ela pensou zangada. Ou era muito bom em sempre fazê-la suspirar por ele, para apenas que ele se divertisse.

Mentalmente, se repreendeu. Ele só fizera aquilo uma vez, e fora para apenas poder fugir.

- Claro. – respondeu ao seu pai. – Eu já vou. Amanhã nos vemos, Harry.

- Até, Ginny. – Ele ainda teve a capacidade de sorrir para ela.

Ela estava no corredor quando Mike a interceptou. Ginny ainda estava perdida em pensamentos quando ele a segurou pelos ombros e perguntou:

- Por Deus, Virginia, você está bem? Você está com cara de quem vai colocar o jantar para fora.

- Estou bem. – respondeu. – Vai me mostrar o corpo de Voldemort agora?

- Ainda não. – o chefe balançou a cabeça. – Preciso conversar com você. Está em condições de pensar em trabalho?

Trabalho. A única coisa que a faria esconder toda aquela maldita confusão para algum canto de sua mente, enquanto esta seria preenchida de inúmeras horas de estudo e resoluções, fazendo o que mais tinha paixão por fazer.

Abra a boca logo de uma vez, Mike!

- Cem por cento de condições. – Ela retrucou energicamente.

- Ótimo. Você estava certa quando mencionou que irão existir Comensais buscando vingança. Já houve alguns indícios.

Ele pareceu surpresa.

- Como ficou sabendo disso tão rápido? Como eles ficaram sabendo que Potter estava vivo?

- Sara. – disse ele, referindo-se a uma das aurores do Departamento. - Houve um pequeno conflito com simpatizantes das Artes das Trevas no Beco Diagonal, no Caldeirão Furado. E eles ficaram sabendo, obviamente, pelo Profeta Diário.

- Maldito jornal! - ela resmungou, furiosa. - O que Sara estava fazendo no Caldeirão Furado?

- Jogando cartas com um Auror do serviço secreto Russo, eu acho. – Mike respondeu. – De qualquer forma, ambos tiveram que tentar controlar a massa de simpatizantes que gritavam “A cabeça de Potter jazerá no tumulo do nosso Lorde, cedo ou tarde!”.

- Meu Deus. – ela sussurrou. Ambos caminhavam pelo corredor branco do hospital. – E Sara?

- Sara está bem. Eles prenderam os simpatizantes e os levaram para o Ministério, para interrogá-los. Conversei com o chefe da Rússia, e ele vai me solicitar os serviços de seu Auror por um tempo. Mas, Ginny, as coisas são um pouco mais complicadas do que aparenta ser...

- Comensais não serão tão organizados sem seu mestre. – Ginny argumentou. – Temos uma boa chance e oportunidade de prendê-los mais rápido agora. E com Potter nos dando algumas informações cruciais e nos ajudando, podemos...

- É justamente sobre Potter que preciso conversar com você.

Ela parou de falar.

- O que você disse sobre Potter? – perguntou, cautelosa.

Mike suspirou antes de responder.

- O curandeiro acabou de me informar o que estava mais temendo. Potter perdeu seus poderes. Completamente.

Continua...



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