Mais Que Palavras



Nick Granger Potter : Bem, acho que esse capitulo já responde todas as suas perguntas Nick, mas obrigada mesmo e que bom que vc está gostando da fic.
Beijão

*** Sarinhaaa *** : Emocionada vc vai ficar nesse capítulo! ;) Poxa, e quem ia resitir?! hahahaha Bem, o pior é que tem gente mesmo que não consegue falar, eu te amo! Tenho certeza de que vai AMAR esse capitulo Sara! E obrigada, sinceramente, por todos os seus comentários durante a fic toda, me animaram muito mesmo, e espero realmente que tenha se emocionado com a fic tanto quanto eu!
Beijãooo

Ananda Marion : Hahahaha Capítulo perfeito na verdade, é esse aqui, mas aquele com certeza tem um suspense que acaba com qualquer roedor de unha ahahha
Obrigadaa Ananda!! E muuuitos Beijos.

Mione03 : Bem, não é só por Harry não ter contado que Rony roubou o dinheiro que ela vai ficar brava, acreditE! Tenho certeza de que vc vai ADORAR esse capitulo Mione! Certeza mesmo!
E muiito obrigada!
Beijos

Amanda Kênia : Surpresa é pouco pra descrever né? hahahahha
Brigadaa Amanda, e Beijões!




Bom é isso, odeio ter que dizer isso, mas esse é o último capitulo da fic. :(
O melhor também!
Espero que tenham gostado com a mesma intesidade que eu gostei da história. Amei principalmente a Gem, e depois desse capítulo final, quem não gostava dela vai amar.
Toda história, realmente, devia ter uma Gem!
Bom é isso, obrigada por acompanharem e comentarem a fic, obrigada mesmo! E tenho certeza de que vcs riram e choraram tanto quanto eu nessa fic.
Não se esqueçam de ler o epílogo ;)

Romance á TODOS!




Capítulo X - Mais Que Palavras


Hermione girou nos calcanhares, confrontando-se com Harry.

— É verdade? — questionou, incrédula. — Rony des­viou dinheiro da SSI?

— É.

— Como? Quando?

— No dia em que morreu.

— E você não recuperou esses fundos? — Com os lábios trémulos, Hermione esforçava-se para manter a compostura. — É por isso que estamos em dificuldades financeiras.

— Não, não recuperei — respondeu Harry, por fim. — E, sim, é por isso que estamos em dificuldades financeiras.

— Mas o que foi que ele fez com o dinheiro? Por que você não conseguiu encontrá-lo? — Vendo-o esquivo, ela soube que havia mais. — Harry?

Ele passou a mão pela nuca e, por fim, encarou-a.

— Quer a verdade?

— Seria bom, para variar.

— Encontrei o dinheiro, mas optei por não recuperá-lo. — Hermione ficou estupefata.

— Mas por quê? Harry, ele deve ter levado milhões!

— Levou.

— Por que não quis de volta?

— Sente-se, Hermione.

— Não! Quero que responda a minha pergunta!

— Sente-se. — Só depois que Hermione se acomodou na cadeira, Harry revelou: — Ele deu o dinheiro a Kristy Vallens.

— A assistente dele? — Hermione levou cinco segundos para compreender. — Ele ia se separar de mim para ficar com ela. Estava indo a seu encontro quando espa­tifou o carro.

— Isso mesmo.

— Mas isso não explica...

— Ela estava grávida.

Hermione experimentou uma súbita tontura.

— Não...

— Teve um menino. Ambos encontram-se na Europa.

—Não pode ser. Ele era estéril!

Harry deu um sorriso irónico.

— Parece que não. Foram realizados testes, Hermione. Ape­sar da probabilidade ínfima, é verdade. O bebê é de Rony.

Hermione descabelava-se.

— Ela está mentindo! Deve ter usado parte do dinheiro para falsificar o resultado dos exames!

Harry balançou a cabeça.

— Por que acha que passei tanto tempo na Europa? Tive que investigar a respeito.

— Como a encontrou?

— Os documentos que você me entregou na véspera de ano-novo forneceram todos os dados de que precisava para rastreá-la.

— Por que não a entregou à polícia?

— Para quê? — Ele tinha os lábios duros, tensos. — Para vê-la na cadeia, ao mesmo tempo que o bebê era entregue à assistência social? Para tirar do filho de Rony o direito à herança? Você teria feito isso?

Hermione balançou a cabeça negativamente.

— O dinheiro era de Rony, assim como metade da SSI — Esforçou-se para falar sem emoção. — Eu só peguei uma carona.

— Se ele houvesse me oferecido a parte dele, eu teria comprado — garantiu Harry. — Acho que ele preferiu roubar porque a gravidez de Kristy os pegou de surpresa. Se não agissem rápido, se veriam amarrados a um in­terminável processo litigioso.

Hermione fitou o tapete.

— Mesmo vendendo a parte dele, ele teria me abandonado.

— Sem dúvida. E teria se apossado dos proventos antes de pedir o divórcio. Você teria levado um tempão para pôr as mãos em algum dinheiro. Ele cuidaria disso.

Hermione imaginou-se falida, despojada financeiramente, sem trabalho, nem meios de se sustentar. Levou a mão à boca.

— Oh, não...

Harry devia ter-lhe lido os pensamentos. Agachando-se a seu lado, tomou-lhe os ombros.

— Você é minha mulher agora, Hermione. Nada mais im­porta. Rony não importa. O dinheiro não importa. Vamos viver nossa vida. Temos Abigail. Vamos superar tudo isso.

— Você me sustentou todo esse tempo, não é?

— Já lhe disse: não importa!

— Importa, sim. — Hermione endureceu o queixo, contendo as lágrimas. — Para mim, importa. Por que não me contou?

— Pelo mesmo motivo que a levou a esconder sua gra­videz de mim. Eu sabia que tomaria alguma atitude de­sastrada se descobrisse. Uma atitude nobre e abnegada.

Furiosa, Hermione levantou-se e foi até a janela, apertando os braços em torno do corpo. Então, voltou-se para Harry.

— Você tomou decisões a respeito da minha vida. De­cisões que não tinha o direito de tomar.

— Você também. Ou já esqueceu o motivo de nosso casamento? — Harry esperou que ela digerisse a acusação antes de perguntar: — O que teria feito se eu tivesse contado a verdade?

Hermione pensou um pouco.

— Eu... teria vendido a casa. Com o dinheiro, teria me sustentado até arranjar trabalho.

— Quando Rony morreu, a casa de vocês já estava hipotecada.

Hermione tentou conter o pânico.

— Não, não estava! Era propriedade nossa, sem ônus!

Harry balançou a cabeça.

—Rony hipotecou a casa e juntou o dinheiro obtido àquele que roubou da empresa. E ainda fez com que as prestações mensais fossem debitadas de uma conta da SSI A primeira ocorreu exatamente três semanas após a morte dele. Eis como descobri. Quitei a dívida com o banco imediatamente. Enxergue a realidade, Hermione! Rony não ligava a mínima para você! Pretendia deixá-la sem um tostão. Fez tudo o que estava a seu alcance para magoá-la.

Hermione não conteve mais a torrente de lágrimas.

— Por quê? Por que ele teria feito isso comigo? Eu era mulher dele. Eu o amava. E ele...

Harry tomou-a nos braços, apertando-a com força.

— Ele lhe fez um favor. Não vê? Se ele não a houvesse abandonado, você não teria tido Abigail.

— Mas e se não houvesse acontecido aquilo na véspera de ano-novo? E se eu não houvesse engravidado? Você teria continuado fingindo que eu era sua sócia?

— Você é minha sócia.

Hermione balançou a cabeça.

— Não, não sou. Rony me excluiu da empresa ao rou­bar o dinheiro. — O orgulho obrigou-a a encará-lo. — Responda, Harry: por quanto tempo continuaria com os subterfúgios?

— Pelo tempo que fosse necessário.

— Concordamos num casamento de um ano. Daqui a dez meses, você compraria minha parte na empresa. Só que não existe tal parte. O que planejava? Anunciar, ao final desse período, que eu não tinha direito a dinheiro nenhum? Que Rony levara tudo? — Hermione arrepiou-se, gelada. — Sem fundos, eu não poderia sair desta casa, nem iniciar meu próprio negócio. Tampouco poderia sustentar Abbey. Você teria todo o controle. Você teria a nós duas exatamente onde queria.

Harry retraíra-se a cada palavra, voltando a ser o ho­mem de gelo que ela conhecera muito tempo antes.

— É assim que pensa?

— Não sei mais o que pensar! Nossas vidas têm sido uma grande mentira! Afinal, onde terminam as mentiras e começa a verdade? — Hermione desvencilhou-se do abraço. — Por que não me contou a verdade? A única coisa que lhe pedi foi honestidade.

— Você não quer honestidade. Por causa de Rony, quer uma garantia. Quer as palavras, ainda que não tenham validade. E quer que eu lhe dê algo que não tenho. Onde está sua honestidade?

— Você disse que eu podia confiar em você. Esta noite não significou nada?

Harry endureceu o queixo.

— Se quer a verdade, não me peça para mentir.

Era a resposta de que Hermione precisava.

— Pois bem. Basta de mentiras. — Num supremo es­forço, evitou a histeria. Não daria rédeas às emoções que ele tanto desprezava. — Falta me contar alguma coisa?

— Só uma.

Hermione não sabia se suportaria outro golpe, ainda que fraco.

— SENHOR POTTER?

— Agora não, Gem.

— ALERTA DE EMERGÊNCIA NA RESIDÊNCIA DO SENHOR POTTER PAI.

— Transmita a mensagem — ordenou Harry.

— Harry, é sua mãe. Houve um acidente no laboratório. Precisamos de ajuda.

— Já estou indo! Gem, monitore a ligação e peça à polícia que me encontre em frente à casa em dez minutos.— Harry fitou Hermione no rosto perturbado. — Ainda vai estar aqui quando eu voltar?

— Não sei. Juro que não sei.

— Apesar de tudo, eles são a minha família. Tenho que ir.

— Eu entendo.

— Ainda não acabamos, Hermione. Se você não estiver aqui quando eu voltar, vou encontrá-la de qualquer maneira.

Com isso, Harry se foi.

Hermione passou as horas seguintes tentando definir um curso de ação. Perturbara-a muito o fato de Harry ter mentido, de tê-la sustentado financeiramente por quase dois anos sem que soubesse, além de ter mantido em segredo a vida dupla de seu falecido marido. Que chance tinha o amor sem honestidade? A vontade de fugir era ainda maior do que quando Harry aparecera à sua porta às vésperas do nascimento de Abigail. Ansiava por or­denar todas as informações que ele lhe transmitira. Mais que tudo, queria assumir o controle da própria vida.
Sabia de apenas um lugar onde isso poderia acontecer: a casa de seus pais. Lá, pensaria nas opções. Eles a ajudariam a definir a situação e a descobrir uma maneira de se desvencilhar da bagunça em que se transformara seu casamento.
No quarto, puxou uma mala de baixo das caixas de papelão que atravancavam o armário. Pensando primeiro nas necessidades de Abigail, foi ao quarto dela e começou a enchê-la de roupinhas.

— REQUISITO INFORMAÇÃO.

Hermione parou de revirar a gaveta e olhou para o teto.

— Que informação?

— ATIVIDADE ATUAL NÃO FAZ PARTE DA ROTI­NA NORMAL. EXPLICAR ANOMALIA.

— Estou fazendo as malas.

— UM MOMENTO. ACESSANDO. — Segundos de­pois, o computador voltou a se manifestar: — EXPLICAR MOTIVO PARA ESTAR FAZENDO AS MALAS.

— É simples, Gem. Abbey e eu vamos embora.

— DESTINO?

Que computador xereta!

— Qualquer lugar, menos este.

— PRAZO DE RETORNO?

— Nunca. — Ajoelhada no chão, Hermione completou a mala com um monte de fraldas. — Processe isso, seu monte de sucata.

— ERRO NÚMERO ZERO-ZERO-DOIS. De pé, Hermione fitou o alto-falante.

— E o que é um erro número zero-zero-dois?

— SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA EM ANDAMENTO. — Hermione franziu o cenho e pousou as mãos nos quadris.

— Um momento! Que emergência está em andamento?

— DESVIO RELATADO.

— Eu não relatei um desvio, seu monte de placas en­ferrujadas! Estou indo embora, não me desviando!

— TODOS OS SISTEMAS EM ALERTA TOTAL.

— Não se atreva a chamar Harry, está me ouvindo?

— POTTER DESAUTORIZADO.

— Hermione arrepiou-se, imaginando o computador descon­trolado e enlouquecido.

— Gem, não faça nenhuma bobagem! Isto aqui não é a Toy Company, sabe disso!

— PROCESSANDO. DESVIO INACEITÁVEL. PRO­CEDER A TRAVAMENTO TOTAL.

— Pare já com isso, Gem! — ordenou Hermione, em pânico. — Não há nenhuma emergência em andamento e não se atreva a travar o que quer que seja! Gem? Gem? Res­ponda! Abortar travamento!

— PEDIDO NEGADO.

— Tenho nível de segurança um! Não pode negar meu pedido!

— DESVIO ANULA NÍVEL DE SEGURANÇA UM.

— Desde quando?

— CORREÇÃO PROGRAMADA NOS ÚLTIMOS DEZ PONTO QUATRO SEGUNDOS.

Hermione esforçou-se para controlar a fúria.

— Você mudou as regras há dez segundos?

— HÁ DEZOITO PONTO DOIS SEGUNDOS.

Hermione correu para a porta. Trancada. Só tinha acesso ao banheiro.

— Considere-se um computador morto, Gem! Está me ouvindo?

A única resposta foi um "bip" indiferente.

—————————————————————————


— Hermione?

A casa jazia em silêncio mortal. Harry cerrou os dentes. Então, ela partira. Bem que adivinhara.

— Gem, relatar situação.

— ALERTA DE SEGURANÇA — sussurrou o compu­tador. — DESVIO EM ANDAMENTO.

— Por que está sussurrando, Gem?

— A SENHORA POTTER ESTÁ NO QUARTO COM O REBENTO FEMININO.

— Hermione não fora embora? Harry suspirou de alívio e correu para o quarto do bebê. Qual não foi sua surpresa quando a maçaneta não girou!

— O que está havendo?

— Harry? — chamou Hermione, lá de dentro.

— Por que trancou a porta?

— Pergunte ao seu maldito computador!

— Gem!

— ALERTA DE SEGURANÇA. DESVIO EM ANDA­MENTO. PROCEDER A TRAVAMENTO TOTAL.

— O quê? Quem ordenou travamento total? — Silêncio. — Gem? Gem? Destranque a porta!

— A SENHORA POTTER FAZIA AS MALAS PARA IR A DESTINO NÃO-ESPECIFICADO. PRAZO DE RE­TORNO DECLARADO: NUNCA. INFORMAÇÃO INA­CEITÁVEL. TRAVAMENTO TOTAL NECESSÁRIO A FIM DE IMPEDIR A OCORRÊNCIA DENOMINADA "PARTIDA".

— Gem, não se pode manter o que não se tem — ensinou Harry. — Não podemos obrigar Hermione a ficar, se ela não quer.

— PORTA TRAVADA IMPEDE PARTIDA.

Fechando os olhos, Harry encostou a testa na fria su­perfície de carvalho.

— Destranque a porta, Gem. Executar imediatamente.

Vinte segundos inteiros se passaram antes de se ouvir o trinco da porta.

— ORDEM EXECUTADA.

Hermione abriu a porta. Tinha Abigail nos braços. Ao fundo, Harry viu a mala quase cheia.

— Oi, Harry.

— Você vai embora.

— Estou tentando.

— Não programei Gem para impedi-la.

— Eu sei. Ela fez tudo sozinha. Não sei como, mas fez.

— Gem quer que você fique, e não é a única. Não vá, querida. Vamos superar todos os nossos problemas se você der ao nosso casamento meia chance.

— Não posso — murmurou Hermione. — Não me tome como ingrata. Aprecio o que tentou fazer. Mas eu lhe disse, já no início, que não conseguiria sobreviver a outra relação vazia. Preciso de amor, Harry. E preciso de um companheiro honesto. Caso contrário, não vai dar certo.

Desesperado, Harry agarrou-se ao primeiro argumento que lhe veio à mente:

— Você prometeu um ano. E prometeu não afastar Abigail de mim.

— Eu sei. Não vamos para longe. — Hermione estudou o rostinho da filha. — Abigail. "Meu pai alegra-se". Sabia o significado do nome quando o sugeriu?

— Sabia.

— E por isso o escolheu.

— Claro.

Hermione deixou entrever a impaciência nos olhos negros.

— Gostaria que falasse, para variar, para eu não ter de adivinhar o tempo todo. — Após breve pausa, concluiu:— Mas suponho que seja esperar demais. Pode levar a mala para o carro?

Harry passou a mão pelos cabelos, contendo um grito de negativa, forçando-se a não reagir, a não perder o controle.

— Tenho escolha?

— Tem. Posso arrastá-la eu mesma.

Retraído, Harry buscou forças nas entranhas.

— Eu levo.

Cinco minutos depois, Harry acomodava Abigail no as­sento junto ao banco traseiro do carro. Hermione brincava com o chaveiro.

—Vou estar na casa dos meus pais, caso queira entrar em contato — informou.

Harry endireitou-se, rígido. Precisou reunir todas as for­ças para não colocar Hermione sobre o ombro e carregá-la de volta para casa.

— Há algo que eu possa dizer para que mude de idéia?

Ela o fitou detidamente nos olhos. Por fim, balançou a cabeça.

— Acho que não. Parece que as palavras necessárias não existem no seu vocabulário.

Hermione acomodou-se ao volante e ligou o motor. Harry buscou refúgio em casa. Não suportaria vê-la partir. Seria como ver a própria vida se escoar. Não olhou para trás nem uma vez.
Hermione começou a dar marcha a ré no carro, mas brecou. Precisava de mais uma resposta antes de partir. Horas antes, indagara a Harry se havia algo mais que ela deveria saber, e ele dissera que sim. Não, não partiria sem saber do que se tratava. Tratava-se do último segredo. Desligou o motor e saltou.
Harry estava parado no meio do escritório, sem saber o que fazer. Sensação terrível. Nunca sentira-se perdido antes. Sempre houvera o trabalho. Desde o início, a SSI tanto ô cativara quanto motivara. Agora, não tinha o menor interesse. Desaparecera, junto com Hermione e Abigail.
Baixou a cabeça, os músculos tão tensos que se res­sentiram dolorosamente. Por que Hermione fora embora? Não percebia que se tornara parte de sua vida, junto com Abigail? As palavras eram assim tão vitais? Ela não era capaz de adivinhar aquilo que ele era incapaz de dizer? Não ouvia as palavras trancadas dentro dele? Não ouvia o anseio lutando por liberdade?
O que não daria para ir ao quartinho de Abbey e vê-la em seu berço. O que não daria para ir ao quarto de hóspedes e encontrar Hermione discutindo com Gem enquanto revirava caixas de papelão. Mais que tudo, o que não daria para ir ao próprio quarto e encontrar Hermione sob os lençóis bordados com o monograma de ambos, os cachos castanhos esparramados sobre a seda cor de marfim, os olhos escuros seduzindo-o com o brilho do desejo.
Um som débil chamou-lhe a atenção. Um soluço de bebê. Voltou-se devagar e viu Hermione à porta, com Abigail nos braços. Tentou dizer qualquer coisa, mas as palavras faltaram-lhe.

— Ficou uma questão pendente — explicou ela. — Ou melhor, duas questões. Esqueci de perguntar sobre seus pais. Eles estão bem?

Harry aquiesceu e recuperou a voz, embora as palavras saíssem em tom baixo, grave, devido à tensão.

— Foi alarme falso. Meu pai derramou alguns produtos químicos e o laboratório foi lacrado automaticamente.

— Fico feliz que estejam bem.

— Qual é a segunda questão?

— Depois que me contou a verdade sobre Rony, você disse que havia outra coisa que eu deveria saber. O que é?

Harry estremeceu, querendo sumir. Se já não perdera Hermione, iria perdê-la agora.

— Você não vai gostar de saber.

— Eu já desconfiava.

Harry optou por não poupá-la.

— Eu sabia o que Rony planejava fazer.

Hermione encarou-o incrédula, branca como giz.

— Você sabia?!

— E não fiz nada para detê-lo.

— Por quê?

Ele contraiu a boca.

— Não consegue adivinhar?

— Queria o controle total da SSI?

— Nada disso.

— Queria Rony fora de seu caminho?

Harry divertiu-se, sem deixar de lado a amargura.

— Não, querida. Eu o queria fora do seu caminho.

Hermione olhou-o atônita.

— Não entendo...

— Vou explicar. Ele era um péssimo marido, Hermione. Não a amava. Não lhe dava o carinho e a atenção que você merecia. Eu queria que ele a abandonasse. Facilitei tudo.

— Mas por que você faria isso?

Harry não respondeu, embora quisesse. Empenhara-se tanto por exercer controle sobre as emoções. Como ex­plicar sentimentos que passara cinco anos negando, até para si mesmo? As palavras necessárias não existiam.

— Harry, responda. Por que fez isso?

— Tem razão. Desculpe. Eu não tinha o direito de interferir.

— Obrigada pela honestidade — concluiu ela, por fim.

— Vai mesmo embora?

Hermione ergueu os olhos negros, que cintilavam úmidos.

— Vou.

— Por causa de umas poucas palavras? — Harry deu um passo na direção dela. — Precisa tanto assim ouvi-las?

— Receio que sim.

Hermione deu meia-volta. Antes que pudesse sair, a porta se fechou e trancou.

— Gem, nada disso! — rosnou Harry. — Abra já essa porta!

— NEGATIVO. PARTIDA NÃO-AUTORIZADA.

— Eu estou autorizando a partida dela. Agora, des­tranque a porta e deixe-a sair.

— INCAPAZ DE EXECUTAR.

— Como assim?

— A SENHORA POTTER IRÁ EMBORA.

— Gem, está programada para obedecer a minhas or­dens. Estou ordenando que abra a porta.

— A SENHORA POTTER IRÁ EMBORA. PALAVRAS SÃO NECESSÁRIAS PARA QUE A SENHORA POTTER E O REBENTO FEMININO FIQUEM. CONCEDA AS PALAVRAS REQUERIDAS.

Harry não acreditava no que ouvia.

— Quer dizer que, se eu não disser a Hermione que a amo, não vai abrir a porta?

— ACESSANDO. SENHORA POTTER?

Hermione olhou para o alto-falante, sem saber se ria ou chorava.

— Sim, Gem?

— "EU TE AMO" SÃO AS PALAVRAS REQUERIDAS PARA EVITAR SUA PARTIDA?

As lágrimas venceram, escorrendo pelo rosto de Hermione.

— Sim, Gem, são essas mesmas. Preciso saber que ele nos ama. Que se importa conosco. Que nunca irá nos deixar.

— ACESSANDO.

O conjunto de monitores de vídeo atrás da escrivaninha de Harry se iluminou. Imagens encheram as telas, de Hermione com Abigail, de incontáveis momentos ao longo daqueles dois meses de casamento. Exibiram-se também imagens mais antigas, dos cinco anos de trabalho conjunto na empresa.

— Mas o que é isso? — indagou Hermione.

Todas as imagens se apagaram e uma única tomou conta dos monitores, formando uma grande tela. Tratava-se de um incidente ocorrido anos antes, pouco depois de Hermione começar a trabalhar na SSI Rony saíra da sala, deixando-a sozinha com Harry. Intimidada pela inteligência e sucesso do novo sócio, ela concentrava-se em suas anotações. Ou melhor, fingia concentrar-se, uma vez que estava nervosa demais para falar. A câmera focalizou Harry. Ele a observava. Seu rosto expressava um desejo imen­so, mas totalmente sem esperança.

— Apagar imagem! — ordenou Harry. — Já!

— APAGANDO.

— Hermione ainda não se refizera do que acabara de ver quan­do outra imagem gigante ocupou todos os monitores. Tratava-se da vez em que ela e Harry ficaram trancados no armário enquanto executavam o projeto Kilburn. Ani­nhada nos braços dele, com a cabeça apoiada em seu ombro, ela dormia profundamente.

— Não a mereço após ter tramado tudo isto, mas juro que tudo farei para protegê-la — sussurrava ele. — Eu devia deixá-la em paz, para cuidar de sua própria vida, mas não posso. Preciso de você, querida. Sempre precisei e acho que sempre precisarei.

Hermione sentiu os joelhos fraquejarem e Harry amparou-a, junto com o bebê.

— Desligue isso, Gem! — ordenou. — Desligue isso já!

— INCAPAZ DE EXECUTAR . PALAVRAS NÃO FO­RAM DITAS.

E surgiu outra imagem. Fora gravada minutos antes. De pé no meio do escritório, Harry mantinha a cabeça baixa e os punhos cerrados, o rosto pura agonia.

Só então Hermione compreendeu.

— Você não consegue dizer, não é? Não é que não sinta. Só não consegue expressar os sentimentos.

Ou seja, já que as palavras não saíam por si sós, ela teria que forçá-las para dentro. Desvencilhando-se de Harry, acomodou Abbey no sofá entre almofadas. Então, ajoelhou-se ao lado do marido e tomou-lhe o rosto nas mãos, obrigando-o a encará-la.

— Harry...

— Por favor, Hermione. Chega disso.

— Ouça, meu querido marido. Todos esses meses, estive esperando que você me dissesse as palavras, que confessasse que me amava. Só agora percebo que nunca disse as palavras a você. — Passou as mãos pelos cabelos negros dele. — Eu te amo. Amo você de todo o coração e alma. Amo você há muito tempo.

— Não vá embora, Hermione. Não sou Rony. Juro que não.

— Eu sei. — Ela roçou a boca na dele, sentindo a recepção imediata. Encheu-se de esperança. — Quebrei a cabeça tentando entender por que Rony me deixou sem nada. Era um homem egoísta, mas nunca foi cruel. Agora, acho que ele fez isso para obrigar você a se ma­nifestar. Você não teria me deixado à míngua. Rony sabia disso.

Harry fechou os olhos, o rosto tenso. Hermione sentia o co­ração dele palpitando, como o de um corredor diante de uma disputa impossível de vencer.

Por fim, as palavras jorraram, derrubando as barreiras de toda uma existência.

— Apaixonei-me no instante em que nos conhecemos. Era errado, e eu sabia disso. Mas você era tudo o que sempre sonhei numa mulher. Odiei Rony por tê-la encontrado antes de mim. E odiava o descaso dele para com seu amor.

Harry abriu os olhos então. Pela primeira vez, refletiam paz, como os de um homem que finalmente encontrara a salvação.

— Oh, Harry... — emocionou-se ela, o queixo tremulo.

— Você perguntou sobre o nome de Abigail. Acho que lhe devo a verdade. — Ele tomou-lhe o rosto nas mãos, acariciando-o com sua respiração. — Quando soube que você estava grávida, mal acreditei. Sempre quis ter um filho, uma família, mas não esperava tê-los.

— Por quê?

Ele a puxou para mais perto.

— Porque achava que nunca ia me casar.

— Mas por quê?

— Porque a única mulher que jamais quis já estava comprometida. Se não fosse com você, eu jamais me ca­saria. Quando descobri que você estava esperando um filho meu, quando Abbey nasceu...

— Deu-lhe o nome que significava "meu pai alegra-se" — completou Hermione, sentindo nova torrente de lágrimas.

— Comecei a comemorar no instante em que você abriu a porta e eu vi seu estado. Você me deu esperança e amor, algo que eu nunca tinha tido antes. Algo que eu nunca esperara ter. — Harry dedicou-lhe um olhar em que oferecia amor e compromisso pela eternidade. — Es­perei tanto tempo por você. Tive tantos dias vazios.

— Não terá mais. Temos o hoje, cheio de vida, e temos o amanhã, que será ainda mais rico. Eu prometo.

— Eu te amo, querida. Sempre amei e sempre amarei.

Harry reclamou-lhe a boca então, reclamou-a como com­panheira, reclamou-a por toda a eternidade. Baniram-se as sombras de seu coração e de sua alma. Nunca mais precisaria controlar as emoções, esconder-se atrás de mu­ros gélidos. Nunca mais. Encontrara a salvação no abraço doce da esposa.

Um "bip" satisfeito ecoou dos alto-falantes.

— PALAVRAS REQUERIDAS ACESSADAS. REBENTO FEMININO NÃO MAIS DE PARTIDA. ALERTA DE SEGURANÇA CANCELADO.

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Comentários (1)

  • michelle lima

    foi o eu te amo mais chorados que jah vi..mas foi tao lindo..dignos da shipp.. 

    2013-07-31
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