Lua Azul



Ananda Marion : Hahaha Infarta não Ananda, senão não via ler o final, poxa. Olha, com certeza vai te surpreender o que ele vêna sala.
Obrigada pelos comentários Ananda, e espero que goste desses dois capítulos.

Amanda Kênia: Mas eu voltei =] E espero que vc goste muito mais da continuação.
Obrigada e continue lendo ;)

*** Sarinhaaa *** : Ah, se o homem da minha vida me pegasse daquele jeito, eu dificilmente resistiria... Bem, quem eu estou querendo enganar? Eu jamais resistiria hahahahahaha. Com certeza eu sinto mais pena de Harry, Hermione ainda teve muita sorte, convenhamos que Rony não era pra ela não? Agora Harry... não quero adiantar nada, mas pelo que vc vai ver nesses dois capitulos novos e nos próximos ainda, ele vai sofrer mesmo. Mas quem sabe não é isso que faça ele reagir aos sentimentos não? Hahahah Realmente, essa Gem é única. Pra ser completamente honesta, em toda a história, a Gem é minha personagem favorita. Sabe que eu to com medo de demorar a postar os outros capítulos, vai que vc comece a me torturar pra postar rápido hahahahaha.
Obrigada mesmo pelos comentários Sarinha, e continue lendo, que vc vai AMAR! ;)




Desculpem pela demora... de novo .
Mas provas fazem isso comigo. :(
Ainda bem que só duram duas semanas e agora vou poder dar atenção exclusivamente à vcs.
Pra falar a verdade, esse é o único capítulo que menos gostei de toda a história. E vocês vão entender o porquê... Mas já o outro capitulo... rsrsrsrs.
Espero que gostem desses capítulos e continuem lendo e comentando.
Romance à todos!




Capítulo VII - Lua Azul


Diante de um computador, uma loirinha de não mais que dez anos de idade dedi­lhava o teclado, com óculos imensos equilibrados na ponta do nariz arrebitado. Girando na cadeira, fitou Harry e Hermione com os olhos castanho-dourados arregalados atrás das lentes grossas.

— Oh-oh — murmurou, apreensiva.

— Nunca ouvi frase mais longa — retrucou Harry, calmo como um vulcão prestes a entrar em erupção.

Dois meninos gêmeos, vários anos mais novos do que a menina, apontaram para ela e denunciaram:

— Foi a Viki. Nós só ficamos olhando.

— Vou matá-la — anunciou Harry, avançando um passo. Hermione segurou-o pelo braço.

— Calma, Harry. É uma criança.

— Mesmo assim, vou matá-la.

Hermione postou-se entre ele e a menina.

— Não precisa se dar ao trabalho. Os pais dela vão fazer isso.

— Ah, não, eu cheguei primeiro!

Se Vick se assustava com o tema da conversa, não o demonstra. Aparentemente, já assistira a cenas semelha­ntes antes.

— Vamos Harry, encare como um treinamento de paternidade para quando Abbey estiver mais crescidinha.

— Eu consigo arrumar tudo — garantiu a menina, mordiscando o lábio inferior. — Só preciso de mais tempo.

— Não se incomode — adiantou-se Harry, aproximan­do-se do computador. — Pode deixar que eu cuido disso.

— Após digitar algumas instruções, desligou a máquina da tomada.

— Vá em frente, Gem. O caminho está livre.

— FAVOR AGUARDAR. ASSIMILANDO.

— Situação?

— CANCELAMENTO COMPLETO. VERIFICAÇÃO EM ANDAMENTO. SISTEMA ELÉTRICO AGORA RES­TABELECIDO. — As luzes se acenderam. — TRAVA­MENTOS DESATIVADOS. ELEVADORES AGORA EM OPERAÇÃO. FORMAS DE VIDA VAGANDO EM ALTA VELOCIDADE NOS ANDARES DOIS A CINCO. OPE­RAÇÕES MECÂNICAS AINDA EM PROGRESSO NO QUARTO ANDAR.

— Que operações mecânicas? — Viki ajeitou os óculos.

— Está falando das aranhas e robôs.

— Eles nos protegem — explicou um dos gêmeos.

— Dos bandidos — completou o outro.

— Porcaria! — gritou um homem, no corredor. Uma tarântula entrou voando pela porta. — Victória! Você está em maus lençóis, mocinha!

— Pai! — exclamaram os gêmeos, e foram se esconder atrás de uma mesa.

Stephen St. Clair assomou à porta, soltando fogo pelas ventas.

— Desta vez, vou fazer com que aprendam a lição!

Kit St. Clair juntou-se ao marido, tentando arrancar uma aranha das costas.

— Stephen, foi sem querer, tenho certeza.

De trás da mesa, os gêmeos esticaram o braço e apon­taram para a irmã.

— Foi a Viki! Nós só ficamos olhando!

— Linguarudos — murmurou a menina. O dono da fábrica dirigiu-se a Harry.

— Desculpe o transtorno. Não sei o que foi que essa menina fez...

— Acessei Gemini através de uma falha em seu código de autorização — explicou Viki.

Harry olhou pasmo para a pequena.

— Você o quê?

— Digitei Potter zero-zero-um, porque ouvi você co­mentar que era o código de acesso ao computador. Fiquei umas duas horas mexendo no programa e consegui as­sumir o comando. Comecei a dar ordens a Gemini e ela fez tudo o que mandei.

Hermione suprimiu o riso. A julgar pelos grunhidos que Harry emitia, ele estava prestes a explodir, a exemplo de Stephen St. Clair.

— Não entendo — declarou o pai da menina, perplexo. — Por que não consegui cancelar o sistema? Pensei que o meu código controlasse o funcionamento de Gemini.

Viki deu de ombros.

— Parece que o cancelamento do senhor Potter cancela o seu.

— O cancelamento do senhor Potter sempre cancela o de todo mundo — especificou Hermione, amuada.

Seguiu-se um silêncio pesado. Então, Harry encarou o cliente.

— Peço desculpas. Trata-se de uma medida de segurança. Pelo menos, eu assim considerava. Amanhã, vou instalar um programa de cancelamento de ativação por voz, que só aceitará a sua voz e a de Kit. — Elevou o tom. — Gem, limpe todo o computador. Quero Gemini fora do sistema. Reinstale com acesso de retaguarda li­citado. Somente códigos de voz.

— AFIRMATIVO. LIMPEZA DE MEMÓRIA EM ANDAMENTO.

Stephen balançou a cabeça, já quase sorrindo.

— Acho que não se lembrou de minha filha quando planejou esse sistema, hein?

— Não mesmo, o que me faz lembrar...

— Quer que barremos a entrada de Viki pelos próximos vinte anos? — sugeriu o cliente. — Com prazer.

— Não, quero ser o primeiro a oferecer-lhe um emprego quando se formar na universidade, daqui a alguns anos.

— Melhor tê-la a seu lado do que contra você? — adi­vinhou Stephen.

— Mais ou menos isso.

— O que diz, Viki? Gostaria de trabalhar com o senhor Potter?

A pequena pensou um pouco, mordiscando o lábio.

— Depende. Vou poder trabalhar com Gem? Harry confirmou.

— Se quiser. Poderá até criar sua própria Gem. Os olhos castanho-dourados fulguraram.

— Ah, então eu quero!

— Combinado! — Harry apertou a mão da menina. — Peça a seu pai para me telefonar no verão, quando você entrar em férias. Temos na SSI um programa de apren­dizagem pelo qual pode se interessar.

— Vou poder usar os computadores?

— Somente aqueles sem acesso direto a Gem. É pe­rigoso deixar vocês duas trabalharem em conjunto.

A hora seguinte transcorreu rapidamente. Harry certificou-se de que Gemini fora removida do sistema e ins­talou uma versão modificada. Quando tudo funcionava a contento, deixou a fábrica.

— Você foi um amor — elogiou Hermione, enquanto seguiam para o estacionamento.

Ele ergueu o sobrolho.

— Eu?!

— É. — Hermione acomodou-se no assento. — Com Viki.

Divertido, Harry instalou-se atrás do volante.

— Ela fez um bom trabalho, não? Até Gem ficou impressionada.

— Imagino. — Hermione bocejou. — Vamos para casa. Abbey logo vai sentir fome.

— Obrigado por ter vindo. Você ajudou muito.

— Não fiz quase nada, mas gostei de vir, mesmo assim.

Hermione sentiu-se em paz durante todo o trajeto de volta.

Chegando, pensou que a casa fosse desmoronar, tamanho o alvoroço lá dentro. Sua família inteira ocupava-se em encaixotar todos os seus pertences.

— Alguém pode me informar o que está acontecendo aqui? — indagou, polida, tentando não explodir.

Ninguém lhe deu atenção, exceto a mãe, que lhe sorriu de trás de uma caixa de papelão.

— Oh, querida, desculpe-nos.

— Desculpá-los?!

— Por não termos pensado nisto antes. Já faz um mês que se casou.

Sem mais esclarecimentos, a mãe voltou a colocar objetos dentro da caixa.

— Continuo não entendendo! — protestou Hermione.

A mãe sentou-se sobre os tornozelos.

— Você foi uma santa, Hermione. Não reclamou nem uma vez desta situação, apesar de agonizante. Então, seu pai sugeriu que a ajudássemos...

Aquela falta de clareza era mau presságio. Muito mau presságio.

— Ainda não entendi, mãe. O que foi agonizante para mim?

— Não poder se mudar, por estar de resguardo — explicou Jane. — Estamos empacotando o básico. A trans­portadora se encarregará do resto. Marcamos para o sá­bado. Está bom para você?

— Só um minuto, mãe! Ainda não explicou por que estão fazendo isso!

— Porque você não está podendo cuidar de si mesma, querida. Não estamos querendo interferir...

— Mas estão interferindo!

A mãe repuxou o canto da boca.

— Hermione, Abbey já está com um mês. Você e Harry não podem estar felizes morando cada um numa casa.

— Isso não é da conta de vocês.

— Está na hora de você pensar primeiro na família — orientou a mãe, severa. — Deve se mudar para a casa de Harry.

Hermione estava boquiaberta.

— Não acha que cabe a nós decidir isso?

— Já está decidido, Hermione. Se Harry não se opõe, por que você se oporia?

Hermione empalideceu.

— Harry? Ele arranjou tudo isto?

— Para empacotarmos? Claro que não. Nós nos ofe­recemos. Ele disse que era capaz de fazer tudo sozinho, mas duvido de que encontrasse tempo...

— Mãe...

Jane calou-a com um gesto.

— Não precisa agradecer! — Hermione murchou, derrotada.

— Eu não ia agradecer.

— Está sendo um prazer, acredite. Considere como mais um presente de casamento. Agora, sente-se, relaxe e tome conta da minha netinha. Deixe tudo por nossa conta. Na semana que vem, quando levarem o resto da mudança, você, Harry e Abigail serão uma pequena família feliz sob o mesmo teto. E sabe o que mais?

Hermione tinha até medo de saber, mas perguntou:

— O quê?

— Os lençóis com o monograma de vocês bordado che­garam hoje. Não é maravilhoso?

— Maravilhoso, mãe. Maravilhoso demais para ser verdade.

____________________________________________


— Gem.

Instantaneamente, o monitor de televisão se iluminou, mostrando o quarto de Abigail na casa de Hermione.

Harry já não precisava especificar a instrução. Visitar a filha pela manhã tornara-se rotina, assim como tomar banho. Gem assimilara o fato.

Enquanto se enxugava com a toalha, contemplava a filha aninhada no berço, desperta e satisfeita, olhando o mundo com seus grandes olhos verdes. O móbile sobre o berço girava devagar, o sol matinal refletindo-se nos personagens de histórias em quadrinhos. O computador a distraía. Podia ouvir Gem "sussurrando" uma historinha.

Harry não pôde evitar um sorriso ao se vestir. O sistema computadorizado gostava mesmo de narrar contos de fa­das para o rebento feminino. Abigail parecia apreciar Os Três Porquinhos, ainda mais com efeitos sonoros.

Minutos depois, Hermione entrava no quarto.

— O que está acontecendo aqui? — indagou, brava, com as mãos na cintura.

— PESQUISA REVELA QUE REBENTOS HUMA­NOS APRECIAM NARRATIVAS DE HISTÓRIAS FIC­TÍCIAS SOBRE CRIATURAS FANTASIOSAS.

— Está contando histórias para Abigail de novo?

— AFIRMATIVO.

— Mas, Gem, já lhe expliquei que ela ainda é pequena demais para entender.

— O REBENTO FEMININO NÃO COMPUTA?

— Não, ela não computa, Gem. Talvez daqui a alguns anos. — O telefone tocou, e Hermione instruiu: — Avise-me se Abbey chorar.

— PEDIDO DESNECESSÁRIO. O CHORO ACIONA O NÍVEL DE SEGURANÇA ALERTA UM.

— Ah, é mesmo...

Hermione saiu do quarto. Dali a segundos, a tela mostrou-a na cozinha, atendendo ao telefone. Só podia ser a mãe dela. Então, Harry viu inúmeras caixas de papelão empi­lhadas por todo lado.

— Gem, conhece as regras — advertiu, alisando a ca­misa branca. — O quarto de Abigail é o único lugar que pode mostrar, salvo em caso de emergência.

— AFIRMATIVO.

A tela voltou a mostrar Abigail no berço. O uivo de um lobo encerrava a história do dia. Harry balançou a cabeça.

— Esperar Hermione sair do quarto para retomar a história não é certo, Gem. Não me lembro de ter programado isso em você.

— A PROGRAMAÇÃO FOI ACESSADA NA TOY COMPANY.

— Também já discutimos a respeito de pegar progra­mas avulsos, Gem. Pode comprometer seu sistema. Des­carregar arquivo no computador trinta e quatro. Vou exa­miná-lo mais tarde. Desligar monitor de vídeo.

— AFIRMATIVO.

O telefone tocou em seguida. Atendeu ao segundo toque:

— Potter.

— Harry? — Era Hermione, nervosa.

— O que foi?

— Preciso de sua ajuda. Estou com um problema.

— O que aconteceu?

Hermione hesitou por alguns segundos, então revelou:

— É que minha família esteve aqui ontem e encaixotou todas as minhas coisas.

Harry disfarçou o divertimento.

— Vai se mudar?

Hermione explodiu:

— Harry, minha mãe deixou escapar que você arranjou tudo isto! Para morarmos juntos!

— É, parece que comentei com ela que trataria disso.

— Pois saiba que eles tomaram a dianteira. Minha mudança chega aí no sábado.

— Por mim, tudo bem. — Harry escolheu uma gravata. —Mas ainda não disse qual é o problema.

Hermione ofegou ao telefone, a ponto de explodir.

— O problema é que não quero me mudar para a sua casa!

— Por que não?

— Porque não faz parte do nosso acordo.

— É uma objeção só sua. — Após fazer um nó capri­chado, ele fixou a gravata com um belo alfinete dourado.

— Eu nunca me opus.

— Harry...

— O que espera que eu faça, Hermione? Que arranje uma saída para você? — Ele adotou um tom frio. — Não tem saída. Quero minha mulher e minha filha aqui, morando comigo em minha casa.

— Eu devia saber que não podia contar com você!

— Devia mesmo! Até sexta-feira.

— Sexta?

— Esqueceu que vamos jantar com meus pais? — Hermione refletiu um segundo.

— Não, não esqueci.

Era mentira, e Harry recuperou o bom humor.

— Ótimo. Aliás, Raven Sierra e a filha também vão jantar conosco, no sábado. Você vai mostrar a eles como é fácil operar Gem, está lembrada?

— Ora, Harry...

Ele tirou o paletó do suporte.

— Sim?

Hermione suspirou profundamente, resignada.

— Sexta-feira a que horas?

— Às cinco e meia. Ah, só mais uma coisinha.

— O quê?

— Xeque-mate.

Hermione bateu o telefone em resposta, mas ele ouviu seu riso antes.

____________________________________________


— Vamos parar e comprar comida chinesa — avisou Harry, estacionando numa esquina diante de um restaurante.

— Pensei que seus pais tivessem nos convidado para jantar — comentou Hermione, confusa.

— Convidaram.

— Por que vamos levar comida, então? — Harry deu de ombros.

— Para ganhar tempo.

— Sua mãe cozinha tão mal assim?

— Pode ter-se aprimorado desde a última vez que provei, mas duvido. Não se preocupe, Hermione. Não vai passar fome.

— Não é isso. Só não quero ofendê-la.

— Ela não vai se ofender.

Hermione resignou-se. Harry devia conhecer bem seus pais. Quanto a ela, ansiava pelo primeiro encontro, na espe­rança de desvendar o passado misterioso de Harry. Queria muito saber por que ele se empenhava tanto em sufocar as emoções. Talvez os pais dele lhe dessem alguma pista.

Depois que Harry comprou a comida chinesa, percorre­ram um caminho tortuoso na área de Berkeley, até che­garem a um casarão protegido por cerca de ferro no alto de uma colina.

— Nossa, Harry, foi aqui que se criou?— espantou-se Hermione.

— Aqui mesmo.

Hermione contemplou a fachada desbotada. Ao contrário das residências vizinhas, aquela necessitava urgentemen­te de pintura nova e pequenos reparos. Com um grande azevinho de um lado e uma magnólia imensa do outro, a mansão permanecia nas sombras, obscura por fora e por dentro. Arbustos, superdesenvolvidos meio que blo­queavam o caminho até a porta frontal. O gramado, se um dia existira, estava completamente tomado por ervas daninhas.

— De quando data esta construção? — indagou, arrepiada.

— Tem mais de noventa anos. Foi construída em 1906, logo após o terremoto.

— É impressionante.

— Você está sendo gentil — percebeu Harry. — Esta casa é como uma mulher velha tentando esconder a idade atrás de um monte de maquiagem. Apesar dos artifícios, não consegue.

Hermione quis discordar, mas Harry fora acurado na des­crição. Tendo se criado naquela casa, até que ponto suas características influenciaram no homem que se tornara?

— Já passa das seis — observou ela. — Vamos entrar?

— Vamos. Por que não pega a bolsa? Eu levo Abigail.

Hermione pegou a bolsa com os apetrechos do bebê e subiu os degraus de madeira à varanda. Chegou a espiar pelas janelas que ladeavam a porta, mas não viu sinal de vida dentro do casarão.

— Esqueça a campainha — avisou Harry, com Abigail nos braços. — Não funciona há anos. Bata na porta. Bem alto.

Hermione bateu sonoramente na porta maciça. Silêncio.

— E agora?

— Pegue o bebê.

Livre do pequeno fardo, Harry tirou um molho de chaves do bolso, separou uma dourada e introduziu-a na fecha­dura. Não sem esforço, abriu a porta e empurrou-a. Logo localizou um interruptor antigo. Luzes fracas se acende­ram no imponente saguão de entrada.

— Será que erramos o dia? — cogitou Hermione, descon­fortável na mansão que mais parecia uma cripta. — Ela não disse sexta?

— Disse.

— Onde estão eles, então?

— Provavelmente no porão.

Hermione espantava-se cada vez menos.

— São cientistas loucos, por acaso?

Harry encarou-a gélido.

— Acertou em cheio. — Fez um gesto para a sala. — Acomode-se. Vou pegar a comida no carro e depois os procuro no porão.

Hermione engoliu em seco.

— Vai me deixar aqui sozinha com Abigail? Com um casal de cientistas loucos por perto?

Harry riu, descontraindo-a.

— Não vou demorar. Acomode-se.

Ainda relutante, Hermione adentrou a ampla sala e sentou-se na beirada de um sofá desbotado, sempre com Abigail nos braços. O ambiente estava razoavelmente limpo, mas não parecia ser muito frequentado. Os móveis e objetos permaneciam arrumados, intocados. Que infân­cia incomum Harry devia ter vivido naquela casa. Os pais seriam mesmo cientistas loucos, ou ele apenas se divertia a suas custas?

Um minuto depois, a porta frontal se abriu de novo. O rangido acordou Abigail, mas ela não chorou. Bocejan­do, levou o pequenino punho cerrado à boca. Hermione sorriu enternecida e passou a mão por seu sedoso cabelinho cor de mel.

Considerava-se abençoada. Rony não pudera dar-lhe filhos, nunca desejara nenhum, na verdade. Ainda que ele não houvesse optado pelo divórcio, teriam enfrentado uma série crise conjugal em algum momento, pois família significava muito para ela e nada para ele. Evidente­mente, ela não o culpara pela esterilidade, mas teria adotado uma criança, algo a que ele sempre se opusera.

Olhou para Harry. Como ele era diferente do falecido marido. Não fosse seu dom de encontrar momentos felizes e uma imprevista noite de enlevo, talvez jamais conhe­cesse as alegrias da maternidade, nem experimentasse o incrível prazer que Harry lhe proporcionara.

— Trouxe o assento de Abigail — comentou ele. — Assim, não vai ter de segurá-la no colo o tempo todo. — Pousou o acessório no chão. — Vou levar a comida para a cozinha.

— Vou com você.

Antes que Harry contrariasse, Hermione levantou-se. Toma­ram um corredor rumo aos fundos da mansão. A cozinha espaçosa fora reformada e modernizada havia uns vinte anos.

Quando Harry abriu a geladeira, Hermione se assustou.

— O que é isso?

— Fórmulas. Muitos elementos químicos devem ser mantidos a baixa temperatura. E terra vegetal.

— O que seus pais fazem exatamente?

— Já disse: são cientistas.

Hermione estudou um recipiente de vidro com uma espécie de esponja disforme coberta por uma mistura de substâncias laranja, azul e verde.

— Mas que tipo de cientistas?

— Minha mãe é química e meu pai é biólogo.

— E eles fazem experiências aqui, em casa?

— Não se trata de explosivos, se é o que teme.

Hermione continuava contemplando o frasco com substân­cias coloridas.

— E os vírus? Sabe, do tipo que acabam de descobrir, aquele que corrói a gente de dentro para fora.

— Eles não mantêm aqui nada que ultrapasse o nível quatro de segurança. Eu juro.

Hermione estreitou Abigail nos braços.

— Por favor, diga que é tudo brincadeira.

Harry olhou-a por sobre o ombro, a luz da geladeira destacando o ângulo de suas faces, revelando o humor em seus olhos.

— Estou brincando — afirmou. — Não se preocupe, é perfeitamente seguro aqui. Meus pais se recusam a trabalhar para corporações, são free-lance. Coisa da década de sessenta, acho. O laboratório deles é dos melhores..

— Esse que fica no porão.

— Esse mesmo.

— Vamos ter de ir lá?

Harry negou balançando a cabeça.

— Não temos acesso ao laboratório. É lacrado. — Fechou a geladeira e caminhou até um pequeno painel, digitando um código no teclado. — Agora já sabem que estamos aqui. Instalei o dispositivo quando garoto.

— De fato, em poucos minutos ouviram-se passos na es­cada que levava do porão à cozinha e Hermione se viu diante dos sogros. O senhor Potter lembrava muito Harry, apenas engordara e se curvara um pouco com a idade. Mas foi da senhora Potter que Harry herdou os grandes olhos verdes, sem dúvida.

— Não vai nos apresentar? — indagou a mãe a Harry.

— Hermione, gostaria que conhecesse meus pais, Lilian e James Potter. — Harry olhou para os pais friamente. — Lembram-se de Hermione, pois não?

— Hermione é Hermione? -— exclamou o pai, surpreso. — Sim, eu me lembro. É um prazer revê-la, querida.

A mãe balançou a cabeça.

— Eu não me lembro. Quando a conhecemos?

— No meu casamento — esclareceu Harry.

— Não, não me lembro dela — declarou a mãe. — Aliás, não me lembro do seu casamento. — Voltou-se para o marido. — Quando foi, James?

Ele deu de ombros.

— Eu esqueço esses detalhes, se não escrever. Não foi no ano passado?

— Durante a experiência da fotossíntese? Não teríamos podido comparecer.

James olhou para o filho.

— Foi na primavera? Amargamos um fracasso monu­mental com o musgo. Estávamos de saída para o seu casamento quando o musgo morreu.

— Foi há cinco semanas — declarou Harry, paciente. — Estavam acompanhando a taxa de crescimento do cen­teio, lembram-se?

— Claro, o centeio! — exclamou James. — Foi um su­cesso. Muito promissor. Mas o que o traz aqui hoje, filho?

— O jantar.

— Maravilha! — O cientista olhou em torno. — O que vai ser?

— Vocês nos convidaram, lembram-se? — esclareceu Harry. — O que preparou, mãe?

— Deixe-me ver... — Lilian abriu a geladeira. — Ah, é comida chinesa!

O pai esfregou as mãos.

— Perfeito! Adoro comida chinesa. Tem carne de porco, querida?

— Tem!

Hermione acompanhara toda a cena em silêncio, cada vez mais confusa. Por fim, desabafou:

— Não estou entendendo nada!

O sogro fitou-a de cenho franzido.

— Qual o problema, querida?

— Vocês agem como seja tivéssemos nos conhecido antes, mas não é verdade. Sou a mulher de Harry. Não podem se lembrar do nosso casamento, porque não compareceram.

O sogro confirmou.

— Se foi durante a experiência com o centeio, não pudemos.

Hermione retraiu-se. Harry fitava-a sereno, apenas esperan­do que compreendesse.

— O que quero dizer é que... bem, este é o primeiro encontro entre mim, vocês e Abigail?

Lilian voltou-se da geladeira.

— Abigail? Quem é Abigail?

Hermione descobriu o rostinho do bebê.

— Sua neta.

— Temos uma neta? — espantou-se James. — Não me lembro de ter sido avisado. Quando ela nasceu?

— No mês passado — respondeu Harry, pegando pratos no armário. — Deixei gravado na secretária eletrônica.

— Faz tempo que não verifico os recados — explicou Lilian. — Por isso não ficamos sabendo.

Harry encarou a mãe.

— Se não recebeu o recado, por que nos convidou para jantar?

— Porque é lua azul, é claro! — esclareceu Lilian, exultante.

Aliviada, Hermione viu Harry tão espantado quanto ela.

— Lua azul — repetiu ele, sem entender nada.

— Exatamente. A segunda ocorrência de uma lua cheia no mesmo mês. Na última vez em que esteve aqui, você disse que devíamos nos ver de novo nessa ocasião. Anotei no calendário. Por isso o convidamos.

Harry passou a mão nos cabelos.

— Eu comentei que nós só nos víamos em mês de lua azul, ou seja, muito raramente. Foi uma crítica, mãe.

Alheio à conversa, James promovia uma pesquisa em seus neurônios.

— Abigail... Abigail... estou quase me lembrando o significado.

Hermione olhou para o sogro, impressionada.

— Sabe o significado de todos os nomes?

— Claro. James é vencedor. Harry é poderoso. E Lilian é pura. — Olhou carinhoso para a esposa.

— Meu pai tem memória fotográfica — explicou Harry. — Tem gravado tudo quanto é lista de informações. Só não consegue se lembrar de coisas sem importância.

Hermione conteve a indignação. O jantar para o qual tinham sido convidados não era importante, então? A julgar pela expressão de Harry, não era.

— Precisam de ajuda? — ofereceu-se, simplesmente.

Se Harry captou o duplo sentido da pergunta dela, não o demonstrou.

— Por que não coloca Abigail no assento e depois se junta a nós na sala de jantar? Vamos pôr a mesa.

James suspirou aliviado.

— Significa "meu pai alegra-se" — informou. — Muito bom gosto. É um nome de família, Hermione?

Hermione sentiu um aperto no coração e seu olhar encontrou o de Harry.

— Não. Foi Harry quem escolheu.

— Pois agora sabe por quê — concluiu James. — Não sou o único aqui com memória fotográfica, querida. É evidente que ele escolheu um nome com um significado.

— Harry?

Ele não respondeu de forma alguma. Sem palavras. Sem expressão. Sem emoção. Nada.

Mas era tudo fingimento. Toda aquela indiferença. Como não percebera antes?

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