Era Uma Vez
*** Sarinhaaa *** : Também acho que ela deveria dar uma chance, mas entendo o lado dela. Mas o primeiro corte, sempre é o mais profundo. E o problema é mais com ela do que com ela né? Rsrsrs e se você tem dó do Harry agora, espera até alguns capitulos, vai ter mais ainda. Hahah de tanto você comentar na minha fic vou começar a postar os capitulos mais cedo agora ;). E até porque , depois desta fic, eu vou postar outra.
Obrigada Sarinha e espero que goste do próximo capitulo.
Ananda Marion : Que bom que gostouuu Ananda. Continue lendo que eu tenho a certeza de que vc vai gostar mais ainda. Beijos
Amanda Kênia : Hahahaha. Hermione vai ceder... ninguém é de ferro né? Obrigada Amanda e beijos;
Espero realmente que gostem desse capitulo. Eu o adoro, morro de rir com a Gem, e adoro a relação de Harry com Hermione. Esse capitulo também já diz muita coisa. ;)
Obrigada pelas reviews e muito romance pra vocês.
Capitulo VI - Era Uma Vez...
Diante da escrivaninha no escritório de Harry, Hermione procurava coragem para revelar o verdadeiro motivo de sua presença ali.
— Está ouvindo, Hermione? — ralhou ele, interrompendo a explanação sobre a situação financeira da SSI — Isto é sério.
— Estou ouvindo, só não estou entendendo. — Decidindo pôr de lado as preocupações quanto ao que ele lhe dissera pelo telefone à noite, ela se concentrou nas informações expostas, mas teve pouco esclarecimento. — Como podemos estar em dificuldades financeiras? O último relatório que me deu diz exatamente o oposto.
Harry baixou os olhos para os papéis espalhados sobre a mesa. Era estranho que não a encarasse. Nunca o vira agir assim antes.
— É a concorrência — revelou, por fim. — Sem Rony para cuidar de nossos assuntos domésticos enquanto eu estava no exterior, ficamos com uma certa defasagem a alcançar.
Hermione franziu ainda mais o cenho. Rony nunca contribuíra tanto com a empresa. Era especialista em vendas. Mesmo a essa área, dedicava o mínimo tempo aceitável. Por que a falta dele acarretaria tantas dificuldades, considerando o exército de vendedores e executivos de marketing com que contavam?
— Continuo não entendendo.
— Vou simplificar. Neste último ano, praticamente não realizamos vendas domésticas. Nesse período não conquistamos nenhum cliente importante. E alguns dos antigos compradores estão abandonando o navio. Precisamos recuperá-los, bem como fechar novos contratos.
Ela suspirou.
— O que quer que eu faça?
— Tenho sondado um cliente em potencial, Raven Sierra, dono de uma cadeia de cooperativas agrícolas. Já quase o convenci a testar um sistema de segurança semelhante ao Gem. Se ele aceitar um teste experimental e o aprovar, vai comprar o sistema para a casa e o escritório. Isso nos dará todo um novo nicho do mercado a explorar.
— Sierra tem tanta influência assim? — A confirmação de Harry, Hermione quis saber: — E meu papel será exatamente...?
— Mostrar a ele como é fácil operar Gem.
Hermione não se conteve e riu.
— Só pode estar brincando!
— Ele quer ter certeza de que a filha não terá problemas com o sistema.
— Nesse caso, você devia estar tendo esta conversa com seu computador.
— Quantas vezes terei de dizer que...
— Eu sei, eu sei, que Gem é uma máquina e desempenha funções para as quais foi programada.
— Exatamente.
— Sem raciocínio. Sem emoções. Apenas placas de circuitos e chips de memória, certo, Harry?
Ele contraiu os lábios.
— A exemplo de seu criador.
Hermione paralisou-se ante o comentário, de repente lembrando-se da razão de sua visita: retomar a conversa telefónica que tinham tido à noite.
— Não foi o que eu quis dizer.
Harry empurrou a cadeira para trás e levantou-se.
— Mas foi o que pensou.
Ela se enrijeceu, cautelosa.
— Por algum motivo, você está determinado a transformar este casamento numa união verdadeira, mas não vai conseguir. Tivemos uma única noite. Nada mais.
Ele caminhou até a janela e ficou de costas para ela.
— Uma noite espetacular.
— Sim, uma noite espetacular — concordou Hermione, devastada pelas lembranças. — Mas não uma base suficiente para um casamento. Tem de haver confiança e... compromisso emocional.
Harry voltou-se.
— E Abigail? Ela não constitui base suficiente?
— Podia constituir, se as coisas tivessem sido diferentes.
— Especifique.
Ela balançou a cabeça.
— Está se ouvindo, Harry? "Especifique." Não pode simplesmente gritar uma ordem e esperar que eu execute
alguma função. Sou uma mulher.
Ele esboçou um sorriso.
— Acha que não sei disso?
— Acho que não. Não sou Gem Não pode apertar um botão ou programar certas funções para me transformar numa esposa modelo. Não sou uma máquina, Harry. Quero mais.
— Diga-me o que quer. — O tom dele era de exigência, ainda que sob aparente calma. A frustração, mantinha sob controle, rígido controle. — Diga e será seu.
Hermione fechou os olhos, refletindo. Ao chegar a uma conclusão, deu uma risada vacilante.
— Sabe, estou tentando elaborar um argumento lógico, esforçando-me ao máximo para não me mostrar emocional, porque sei que isso não faz sentido para você. — Pitou-o nos olhos verdes de aço. — Mas não consigo e o problema está em mim. Sou uma pessoa emocional, Harry. Você programou Gem para avisá-lo quando eu me desvio. O que você parece não entender é que eu me desvio o tempo todo.
— Acha que não entendo?
— Pelo que sei, isso aconteceu só uma vez.
O semblante dele se endureceu. E os olhos... ah, os olhos dele fulguravam com mais emoção do que ela jamais imaginara possível!
Com poucos passos determinados, ele eliminou a distância entre ambos.
— Harry, não... — murmurou Hermione, apertando as mãos nos braços da cadeira.
— Só uma vez? — replicou ele, inclinando-se e tomando-a nos braços. — Caso ainda não tenha percebido, mulher, estou me desviando neste exato momento. Estou me desviando de um jeito inacreditável. — Com a boca a um centímetro da dela, enterrou as mãos em sua basta cabeleira. — Quero você, Hermione. Quero você nos meus braços. Quero você na minha cama. Mas, acima de tudo, quero você na minha vida.
Então, ele a beijou.
Desesperado e ávido, ele a consumia, sorvia, saboreava a essência rica e doce. E ela se via indefesa em seus braços. Ou melhor, não totalmente indefesa. Podia retroceder quando quisesse. Só que não queria. Céus, não suportaria abandonar o Éden que ele criara. Nunca experimentara nada igual com Rony. Partilharam uma paixão, mas não nesse nível, ou altura, ou profundidade, ou grau. Tinham sido como crianças brincando de amor.
Não se comparava a essa força consumidora. A cada beijo, a cada mordiscada e toque de língua, Harry provava que o que ambos sentiam ultrapassava a mera paixão. Impondo um compromisso, revelava uma súplica sob a exigência selvagem.
— O que quer de mim? — indagou Hermione, perdida no beijo.
Ele não respondeu de imediato, mas era certo que ouvira. Tomando-lhe o rosto, roçou os lábios por suas pálpebras. A seguir, saciou-se em sua boca uma última vez, num tributo às emoções que ela estava determinada a negar.
— Quero o que puder me dar — esclareceu ele, por fim. — Quero tudo, mas aceito as sobras.
Os olhos de Hermione encheram-se de lágrimas.
— Será que não entende? Não sobrou nada!
— Dispõe de mais do que imagina. Só está com medo de confiar em mim. — Harry posicionou as mãos junto aos seios dela e passou os polegares pelos mamilos dilatados. — Isto basta para você, Hermione?
— Isso só prova que você me quer. — Ela sentiu uma lágrima escorrer pelo rosto afogueado. — Disso eu já sabia. Rony também me quis. Por algum tempo. Meu erro foi confundir desejo com amor. Eu tinha dezessete anos e acreditava ter encontrado minha alma-gêmea. Dei a ele tudo o que havia dentro de mim. E ele foi tomando, tomando, até que não restasse nada. — Sufocou o choro. — Só então percebi que ele não me amava, nunca tinha me amado e jamais me amaria.
— Hermione...
— Sabe quais foram as últimas palavras que ele me disse: "Bem, doçura, foi divertido, mas você sabia que não ia durar para sempre". E sorriu, esperando que eu encarasse o fato com bom humor. Como eu continuei séria, ele me olhou condescendente e aconselhou: "Da próxima vez, encontre alguém que acredita no amor".
Harry envolveu-a nos braços.
— Ele se foi, Hermione. Não pode mais magoá-la.
— Mas ele falou certo — concluiu ela, a voz fria. — Talvez pela primeira e única vez na vida, ele falou certo. Na próxima vez que eu me comprometer, presumindo que confie o bastante para me comprometer, será com um homem capaz de me amar tanto quanto eu a ele. Não vou aceitar menos do que isso. Nunca mais.
— SENHOR POTTER? — interrompeu Gem, como um vento frio anunciando a chegada do inverno.
— O que foi? — bronqueou ele.
— RECADO PRIORIDADE UM.
— Transmita.
— A gravação de uma voz feminina encheu a sala:
— Jantar às seis na sexta-feira.
— FIM DO RECADO — declarou Gem. Hermione umedeceu os lábios.
— Quem era?
Harry retornara a seu lar gélido. Um frio de amargar eliminava o calor que ele desprendera segundos antes. Separando-se de Hermione, foi de novo postar-se à janela.
— Era minha mãe.
Ela não pôde evitar o espanto.
— Sua mãe?
— Sim, eu tenho mãe. E pai. — Harry deu um sorriso amargo. — Já sei. Sempre imaginou que eu era formado de fios e arames.
Ela ignorou o sarcasmo.
— Pensei que fossem falecidos. Nunca falou deles.
Harry deu de ombros.
— Não, não são falecidos. Não fisicamente.
— Não estou entendendo.
— Não importa. Creio que o convite se estende a todos nós. Eles devem querer conhecer minha mulher e minha filha.
— Eu adoraria conhecê-los também. Pena que não tenham podido comparecer ao casamento. — Só então Hermione cogitou: — Você os convidou, não?
Ele riu ante a pergunta, de um jeito tão amargurado que ela se amedrontou.
— O que você acha?
Hermione lembrou-se de que ele aguardara um bom tempo à porta do gabinete do juiz, ansioso, olhando para os dois lados do corredor. Até perder a esperança.
De que seus pais chegassem?
— NÍVEL DE SEGURANÇA ALERTA UM E M ANDAMENTO. REBENTO FEMININO EMITINDO SOM AGUDO. POR FAVOR, RESPONDA IMEDIATAMENTE.
Hermione grunhiu de impaciência.
— Gem, eu sei que Abigail está chorando. Ela está chorando porque estou trocando a fralda dela.
— EMISSÃO DE SOM PROGREDINDO HÁ UM PONTO TRÊS MINUTOS. RECOMENDA-SE OFERECER NUTRIÇÃO IMEDIATA.
— Acabei de amamentar o bebê. Ela não está com fome.
Hermione só não sabia por que se incomodava em discutir com aquela idiota mecânica. Aprendera havia muito que era um exercício vão.
— O SOM INDICA QUE SE EXIGE ATENÇÃO IMEDIATA. POR FAVOR, OFEREÇA AO REBENTO FEMININO NUTRIÇÃO SUFICIENTE PARA CANCELAR O ALERTA.
Hermione olhou raivosa para o alto-falante mais próximo, inutilmente. Como enfrentar uma voz sem corpo? Sentiria algum alívio chutando o microprocessador?
— Abbey está recebendo a devida atenção, caso seus circuitos defeituosos não tenham percebido. Agora, cancele o alarme.
— ERRO NÚMERO UM-ZERO-SETE — replicou Gem, emitindo um som agudo.
Em resposta, Abigail também aumentou o volume do choro.
— Veja só o que você fez! — ralhou Hermione. — Ela não gosta desse seu bip.
Instantaneamente, uma estonteante sequência de sons derramou-se dos alto-falantes pelo quarto. Primeiro, a melodia em saxofone, depois, Mozart, em seguida, dez segundos de Wagner, seguido por uma mescla rápida de música pop. Uma vez que o bebê continuava berrando, Gem apelou para as gravações da voz da avó Jane, do assobio do avô Austin e dos cacarejos das titias tentando acalmá-la quando a visitavam.
— Gem, desligue essa cacofonia imediatamente! — ordenou Hermione. — Está na hora de Abbey dormir.
Os alto-falantes silenciaram. Um segundo depois, o telefone tocou. Com um suspiro cansado, Hermione sacou o aparelho do bolso. Nas últimas quatro semanas, acostumara-se a carregá-lo pela casa, para não ter de correr para atender Harry toda vez que Gem o avisava de outro desvio seu.
— Estamos com um problema — anunciou Harry, sem preâmbulos. — Estou indo aí.
— Não há nenhum problema, eu juro. Não estou me desviando. Gem...
— Não tem nada a ver com Gem. Estamos com um problema na SSI
Hermione encaixou o telefone entre o ouvido e o ombro, enquanto embalava a filha.
— Que tipo de problema?
— Explico quando chegar aí. Sua mãe está comigo. Ela concordou em tomar conta de Abigail por algumas horas.
Hermione sobressaltou-se.
— É tão sério?
— É.
— Está bem, vou trocar de roupa. Acabei de amamentar Abby e posso sair assim que você chegar. — Hermione desligou o aparelho, guardou-o no bolso e acomodou o bebê no berço. — Deixe-a dormir, Gem. Nada de falatório, entendeu?
Assim que saiu do quarto, o sistema computadorizado começou a sussurrar:
— ERA UMA VEZ...
Balançando a cabeça, Hermione foi para a cozinha escrever instruções para a mãe. Após informar o número do telefone celular de Harry, acrescentou: "Se tiver algum problema, diga a Gem que o rebento feminino está se desviando da rotina normal, nível de segurança alerta um".
Assim que Harry estacionou o carro junto ao meio-fio, Jane saltou, abraçou Hermione e entrou na casa.
Assim que Hermione sentou-se no banco, Harry arrancou de novo para a via expressa.
— O que foi que aconteceu?
— Lembra-se da Toy Company?
— Claro, a fábrica de brinquedos de Kit e Stephen St. Clair. Iniciaram em Carlsbad, depois expandiram para Concord. Nós instalamos o sistema de segurança.
— Isso mesmo.
— O que houve?
— Parece que o sistema entrou em pane. Chamaram-nos para corrigir o defeito.
— Hermione paralisou-se.
— Que tipo de pane?
— O sistema trancou tudo. Kit e Stephen estão presos no escritório e não conseguem sair.
— Oh, não.
— Acontece que eles mantêm uma creche no local. — Hermione olhou-o.
— E as crianças?
— Não se sabe. Estão todos trancados do lado de fora, ou do lado de dentro.
— Que modelo eles compraram? Não consigo me lembrar.
— Uma unidade Gemini. E menos sofisticada do que Gem.
— Pode ser menos sofisticada, mas aposto como tem os mesmos defeitos.
Harry bufou.
— Gem não tem nenhum defeito!
— Ah, não? Como explica que eu tenha tido de suportar aquele saxofone por duas semanas a fio?
— Quantas vezes terei de dizer? Gem é um computador. Se fizer um pedido, a máquina obedece. Quer coisa mais fácil?
— Sé Gem é um computador, por que a chama de "ela"?
— Eu a antropomorfizei.
— Grande.
— Significa...
Com um gesto, Hermione o fez calar-se.
— Nem quero saber. E, para sua informação, já me cansei de fazer pedidos ao seu computador. Só que ela nunca obedece. Pode imaginar por quê?
Harry endureceu o queixo.
— É só um capricho dela.
— Um capricho. É ciúme, isso sim!
— O quê?
— Isso mesmo que ouviu. Ela não ouve a ninguém além de você. Além do rebento feminino. Parece que se apegou a Abigail.
— Eu a programei para monitorar o bebê.
— Jura? Determinou que conversasse com Abbey também?
— O que quer dizer?
— Sem ser requisitada, ela tentou acalmar o bebê, do mesmo jeito bobo que os adultos costumam fazer.
Deve ser um defeito no modulador de voz.
— Vai me convencer que isso explica também a imitação de personagens de histórias em quadrinhos, bem como a execução de músicas que ela acha que ajudam o bebê a dormir. E os contos de fadas que começa a contar. Ah, lembra-se do alarme de três minutos que estabeleceu?
— Se Abigail chorar por mais de três minutos, Gem a avisa, certo?
— Deveria ser assim. Mas Gem achou...
— Gem não acha nada — resmungou Harry.
— Perdão, vou reformular. Gem chegou à conclusão lógica e não-emocional de que três minutos são um tempo longo demais para deixar o rebento feminino chorar.
Ele franziu o cenho.
— Ela está avisando antes?
— O alarme soa no instante em que Abbey inspira para dar o primeiro berro. Não vou me espantar se Gem passar a me avisar que acha que Abigail vai começar a chorar.
Harry suspirou.
— Vou dar uma olhada nisso.
— Ótimo.
Entraram no estacionamento, pondo fim à discussão. Os funcionários da loja de brinquedos se aglomeravam diante da porta frontal, bloqueada pelo sistema de segurança. Um homem alto e magro destacou-se ao vê-los.
— Ei, Potter! Ainda bem que chegou.
Tratava-se do chefe do setor de Pesquisa e Desenvolvimento da fábrica.
— Oi, Todd — cumprimentou Harry. — O que foi que houve?
— Quase nada. Parece que o computador enlouqueceu. Uma vez assisti a um filme em que o sistema de segurança tranca humanos inocentes num prédio e então começa a matá-los, um por um.
Harry ergueu o sobrolho.
— Isso é inconcebível.
— Será? — murmurou Hermione.
Harry achegou-se ao painel de controle junto à porta frontal.
— Sistema cancelado. Potter zero-zero-um. Relatar situação.
— BOM DIA, SENHOR POTTER — respondeu uma voz semelhante à de Gem. — UM MOMENTO PARA RELATÓRIO DE SITUAÇÃO. SEGURANÇA ALERTA UM. TRAVAMENTO TOTAL EM PROGRESSO.
— Cancelar nível de segurança alerta um.
— CÓDIGO DE AUTORIZAÇÃO?
— Potter zero-zero-um.
— AUTORIZAÇÃO RECUSADA. ERRO NÚMERO DOIS-DEZENOVE. TENHA UM BOM DIA, SENHOR POTTER.
Hermione não pôde conter o riso.
Harry olhava pasmo para o painel.
— Como assim, "autorização recusada"?
— Não falei? — vangloriou-se Hermione.
Harry olhou-a raivoso e voltou a estudar o painel.
— Aqui é Potter, código de autorização zero-zero-um. Recalibre.
— AUTORIZAÇÃO NEGADA.
— Não pode recusar minha autorização, seu monte de ferro...
— NEGADA! NEGADA! NEGADA!
Harry conteve o impulso de chutar o painel.
— Hermione, vá buscar meu celular no carro. Ela ergueu o sobrolho.
— Como uma esposa obediente?
Harry experimentou então a sensação mais curiosa de toda sua vida. Começando na base da espinha, um formigamento percorreu-lhe toda a medula até chegar ao crânio, pelo qual se espalhou. Hermione deu um passo atrás, temerosa.
— Estou a ponto de explodir — avisou ele.
Os funcionários da empresa formavam um semicírculo a certa distância deles.
— Quer que vá buscar seu celular? — indagou Hermione.
— Por favor. — Harry aguardou com falta de paciência. Ao ter o aparelho nas mãos, contatou Gem. — Ligue para a Toy Company. Autorize acesso pela porta dos fundos. Potter zero-zero-um.
— AUTORIZAÇÃO SECUNDÁRIA?
— Código de autorização, controle a todo custo. Não tenha piedade, Gem.
— UM MOMENTO. TENTANDO INTEGRAÇÃO.
— NEGADO! — gritou Gemini uma última vez, e emudeceu.
— TENTATIVA BEM-SUCEDIDA — anunciou Gem.
— Prossiga! — incentivou Hermione.
Harry sorriu sagaz.
— Destrave a porta frontal e acesse o sistema de alto-falantes interno. Comando de voz de Potter somente.
— SIM, SENHOR POTTER.
— A porta frontal destrancou-se, e Harry olhou para Todd.
— Gostaria que permanecesse junto à porta e não deixasse ninguém entrar, está bem?
— Entendido, chefe. Claro como alumínio transparente — O homem piscou para Hermione. — Como diziam na Jornada nas Estrelas.
— Harry pegou uma pedra e passou a jogá-la de uma mão para a outra.
— Pronta? — indagou a Hermione.
— Depende do que pretende fazer com isso.
Ele se curvou e encaixou a pedra entre a porta e o batente.
— Todd, não deixe ninguém tocar neste calço. Vamos ver quantas pessoas estão lá dentro e voltamos já. — Olhou para Hermione. — Damas na frente, senhora Potter.
Dentro do prédio, passaram pela recepção vazia e tomaram o corredor principal. Não encontraram ninguém em nenhuma das salas daquela ala.
— Gem, está no sistema de alto-falantes interno?
— AFIRMATIVO, SENHOR POTTER.
Harry guardou o celular no bolso.
— Relatar situação.
— A UNIDADE GEMINI ENCONTRA-SE PARALISADA. TRAVAMENTO ELÉTRICO NOS ANDARES DOIS A CINCO. ELEVADOR INOPERANTE. BLOQUEIO EM TODOS OS ANDARES. ATIVIDADE MECÂNICA NO QUARTO ANDAR. MÍNIMAS MANIFESTAÇÕES DE VIDA NOS ANDARES TRÊS A CINCO.
—Ligue a força, Gem. Em seguida, proceda ao desbloqueio.
— ENTENDIDO.
— Onde fica a creche? — indagou Hermione. — Acho que é Prioridade.
— Gem?
— QUINTO ANDAR. SEÇÃO NOROESTE. SALA QUINHENTOS E TRINTA E OITO.
— Acho que vamos ter de subir pela escada. — Harry olhou preocupado para Hermione. Nas últimas quatro semanas, ela perdera quase todo o excesso de peso adquirido durante a gravidez, mas ainda não estava plenamente recuperada do parto. — Está em condições?
Ela deu aquele sorriso que nunca falhava em maravilhá-lo.
— Claro que sim, não se preocupe.
— Então, vamos. Gem, pode destrancar a porta da escadaria?
— AFIRMATIVO.
Harry tomou a frente, pronto a enfrentar problemas inesperados. Apesar da urgência, subia devagar, respeitando o estado delicado de Hermione.
— Já ocorreu uma pane semelhante noutro sistema, lembra-se? — comentou, a voz ecoando entre as paredes de cimento. O de Kilburn — especificou ela. — Foram as três horas mais longas ,da minha vida.
Pois Harry gostaria que tivessem se prolongado ainda mais.
— Ficarmos trancados naquele armário não teria sido tão ruim se tivéssemos algo para beber.
— E um banheiro — completou Hermione. — Gem aprontou mesmo naquele dia.
Chegando ao terceiro andar, ele parou para descansarem.
— Pois foi nesse dia que aprendi a carregar o celular comigo aonde quer que fosse.
Hermione recostou-se na parede ao lado dele, ofegando levemente.
— O que deu errado daquela vez?
Nada dera errado. Tudo ocorrera exatamente conforme o programado. Não se orgulhava de ter montado aquela armadilha, mas Rony já estava fora de cena então e não resistira à tentação.
— Acho que foi só...
— Uma falha no sistema?
— É, uma falha no sistema. — Harry se deu ao luxo de um sorriso. — Mas o incidente rendeu algo bom.
— Mesmo? — A vulnerabilidade ficou patente nas profundezas dos olhos escuros de Hermione. — O quê?
Ela não o enganava, apesar do tom descontraído. Lembrava-se de tudo tão bem quanto ele. Enquanto aguardavam o salvamento, haviam conversado, descobrindo mais um sobre o outro naquelas poucas horas do que nos vários anos de contato superficial. Sentada a seu lado no chão, ela recostara a cabeça na parede e, ao adormecer, escorregara para junto dele. Ele a envolvera com o braço e mantivera acomodada contra o ombro, até que ela despertou.
O prazer do contato continuava vivo na memória, após um ano. Naqueles breves segundos de torpor em que os sonhos se chocam com a realidade, uma aguda e agridoce consciência florescera entre ambos. Desconfiava de que fora a primeira vez em que ela o vira como homem. Mas não a última.
Definitivamente, não a última.
— Ora, passamos três horas inteiras no mesmo ambiente sem discutir — esclareceu ele, por fim, enganchando um cacho do cabelo dela atrás da orelha.
Embaraçada, Hermione observou o próximo lance de degraus a enfrentar.
— Imagine o que teria acontecido se tivéssemos brigado.Talvez até nos houvessem resgatado com mais urgência.
Harry alcançou-a no quarto andar. Ao olhar para os degraus que conduziam ao quinto, estacou e alarmou:
— Espere!
Hermione assustou-se quando ele a agarrou pela cintura e protegeu atrás das costas.
— O que foi?
— Uma tarântula.
— Só então Hermione viu o monstro de um metro de comprimento bloqueando a passagem. Ao mesmo tempo que balançava o corpo, abria e fechava a boca cheia de dentes pontudos, deixando escapar uma substância pegajosa das pinças negras.
— É só um brinquedo, Harry.
— Eu sei, mas não sabemos o que está programado para fazer, nem o que é aquela gosma. Gem?
Nenhuma resposta.
— Acho que ela não capta sons aqui — opinou Hermione.
— Vamos fazer uma pausa, então.
Harry abriu a porta e adentrou o quarto andar. A visão não foi mais tranquilizadora. Um batalhão de tarântulas e guardas mecânicos patrulhavam a área.
—Qual o problema, Gem? Por que as luzes continuam apagadas?
— DIFICULDADES, SENHOR POTTER. SOLICITO DESLIGAR MANUALMENTE A CONEXÃO DO COMPUTADOR LOCALIZADA NO SETOR DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO NO QUARTO ANDAR.
— É de lá que vêm os problemas?
— AFIRMATIVO.
Hermione tocou-lhe o braço e apontou para uma porta de madeira no outro extremo do corredor.
— Acho que é ali, Harry.
— Vamos lá.
Numa corrida louca, ele foi empurrando as tarântulas mecânicas no meio do caminho e arremessou-se contra a porta em questão, arrombando-a. Viu-se dentro do escritório, sentindo o ombro dolorido. Quando Hermione colidiu com suas costas, segurou-a antes que caísse.
—Não acredito — murmurou, embasbacado.
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