Veneno de Jararaca



O primeiro e o segundo ano de Deena em Hogwarts transcorreram sem dificuldades. Durante as férias de verão ao fim do segundo ano, Deena surpreendeu-se diversas vezes pensando no prof. Snape. Ela sempre pensava na escola e em seus colegas, que estavam tão longe. Seu pai, Shouto Knocks, era embaixador do Ministério para a América Latina, um emprego muito interessante. Ele permitia que Deena viajasse bastante, tivesse acesso à magia de diferentes culturas, e pudesse praticar o que quisesse durante as férias, uma vez que a América Latina não tinha a mesma legislação que a Europa no tocante à prática de bruxarias por menores de idade fora das escolas. Na verdade, a maioria dos países da América Latina nem possuía um ministério da magia com força suficiente para impor uma legislação muito restritiva.

Assim, Deena costumava passar suas férias inteiras praticando os feitiços, poções e transformações aprendidas durante o ano letivo. E nessas horas de estudo prático, toda vez que conseguia um bom resultado a garota pensava em Snape. E quando conseguia um resultado ruim, também...

Ela queria que o sisudo professor de poções prestasse atenção nela. Queria que ele percebesse toda a sua admiração, tanto por seu conhecimento quanto por seu... Aspecto fascinante. Aqueles olhos negros a seduziam e encantavam, a garota se sentia como uma presa frente a uma serpente venenosa pronta para dar o bote. Deena ainda não tinha plena consciência, mas estava apaixonada pelo professor.

*****

- Oi, Fred, como foi de férias?

- Eu sou o Jorge, Deena...

- Não, não é. Você é o Fred, tenho certeza.

- Mas como você pode ter certeza disso se nem nossa mãe tem?

- Não sei, mas tenho certeza. Você é o Fred. Ele é o Jorge. E não adianta tentar me enganar, porque eu sei. E aí, como foram de férias?

- Tudo bem – responderam ambos, em uníssono. – Você viu nosso irmão Rony na escolha das casas?

- É eu imaginei que um menino ruivo daquele jeito só podia ser irmão de vocês. Ele também foi para Grifinória, certo?

- É.

- O que vocês estão fazendo aqui que ainda não foram para nossa sala comunal?– interrompeu o monitor da Grifinória.

- Calma, Percy, nós estávamos apenas falando com nossa amiga aqui. – disse Jorge – Além disso, não é da sua conta.

- Tá, tá bom. Agora andem logo. Você também deve ir para sua sala, mocinha.

- Uuuuui, tô ficando até com medo... Mas vou mesmo assim. Tchau, rapazes, até à tarde, na aula de poções.

*****

Logo depois do almoço, Deena saiu correndo para uma certa masmorra onde teria a primeira aula de poções do ano letivo. Ela levava um pequeno pacote escondido em sua manga. Após bater na porta e ouvir um abafado “Entre” vindo de dentro, a garota viu-se frente a frente com seu amado professor.

- O que você já está fazendo aqui? Ainda faltam 20 minutos para o início da aula.

- Oi, professor, desculpe. É que eu queria trazer algo para o Sr., e achei melhor fazer isso antes que os outros chegassem.

- Se eu tiver a impressão que isso é algum tipo de tentativa de suborno, tirarei 50 pontos de sua casa, Srta. Knocks.

- Oh, não, professor, não é isso – respondeu Deena, insegura. – É só algo que eu trouxe do Brasil, e pensei que o Sr. fosse apreciar. É veneno de jararaca, um ingrediente muito usado pelos bruxos de lá, e que não tem por aqui. – ela disse, colocando o frasquinho em cima da mesa.

Snape olhou para o frasco e dele para o rosto enrubescido da garota, sem entender direito o que estava acontecendo.

- Seus pais sabem que você trouxe veneno de cobra de outro país para cá?

- Hmmm, acho que não, Sr. Eles não perguntaram, sabe, e lá não há mesmo nenhum controle sobre o comércio desse tipo de ingredientes...

- E o que a faz pensar que eu apreciaria tal veneno?

- Esse monte de frascos que o Sr. tem aqui. Bom, é só um presente, mas se o Sr. não quiser, eu levo de volta.

O professor segurou o frasquinho contra a luz da vela acesa sobre sua mesa. Admirando a transparência de seu conteúdo, ele pensou um pouco e finalmente disse:

- Está bem. Obrigado, eu realmente não tenho este veneno em meu estoque. Mas que não passe pela sua cabeça a idéia de que eu a irei favorecer em qualquer coisa por causa deste presente, heim?

- Não, senhor. Isso nem...

A conversa foi interrompida por um grupo de alunos da Grifinória e da Corvinal, que já chegavam para a aula. Deena, envergonhada, deu as costas para o professor e foi para seu lugar ao lado da amiga Marissa, que acabara de entrar trazendo seus livros.

- Oi, Marissa, obrigada por trazer minhas coisas.

- Eu não sei por que, mas imaginei que você estaria aqui, sabe? – respondeu a amiga, com um risinho malicioso nos lábios. – O que você estava fazendo?

- Ah, não era nada de importante, não enche!! – disse Deena, tentando esconder o riso.

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