A Banda
O ano transcorreu lentamente, porém sem alterações na rotina de estudos das interessadas alunas da Corvinal. No Halloween, um enorme trasgo invadira a escola, causando desordem e pânico. A criatura foi detida por três primeiranistas da Grifinória, dentre os quais estava o irmão mais novo dos gêmeos.
- Ei, Fred, o que deu na cabeça do seu irmão para enfrentar um trasgo daquele jeito? – perguntou Deena, zombeteira, no corredor.
- É a lendária coragem dos Weasley, oras! E eu sou o Jorge.
- Não é, não. Será que vocês não cansam de tentar me enganar?
- É que temos a esperança de que um dia você caia – emendou o outro irmão.
- Sinto desapontá-lo, Jorge, mas isso não vai acontecer. Eu simplesmente SEI...
Nesse momento, Snape passou mancando pelo grupinho. Deena parou o que estava falando e suspirou, levando um cutucão de sua amiga Marissa.
- Que foi, Marissa?
- Nada, ué.
- Só que você parece uma tonta virando os olhos quando esse seboso passa – respondeu Fred, irritado.
- E isso te incomoda, maninho? – perguntou Jorge, zombeteiro.
- Vamos, Marissa, esses dois vão ficar me alugando e a estufa onde teremos aula de herbologia é muito longe...
As meninas saíram, deixando um garoto irritado e o outro rindo, ambos espantados com a cena que acabaram de presenciar.
*****
Novembro chegou trazendo tempo frio e quadribol. Deena não gostava de nenhum dos dois. Habituada ao calor dos trópicos, onde vivera desde muito nova, ela sofria muito com os rigores do inverno europeu e evitava deixar o castelo nessa época, a menos que fosse realmente necessário.
Quanto ao quadribol, esportes de grupo nunca haviam atraído sua atenção. Ela não sabia diferenciar as bolas, não enxergava nenhuma estratégia por trás daquelas jogadas, e não se interessava por quem iria vencer. No seu primeiro ano em Hogwarts, ela não fora a nenhum jogo e aproveitara o tempo extra na biblioteca. Mas desde o segundo ano ela tinha que ir aos jogos, pois seus queridos amigos Fred e Jorge haviam entrado para o time da Grifinória, que agora contava com um novo apanhador, o famoso Harry Potter.
O jogo inicial, Grifinória contra Sonserina, foi um tédio que felizmente não se prolongou demais. Logo o garoto Potter estava quase caindo de sua vassoura (e falaram que ele voava tão bem...), e depois a capa do professor Snape pegou fogo, em um improvável acidente. Em seguida, Grifinória ganhou o jogo e todos puderam voltar para dentro do castelo, onde era quente.
*****
O ano seguinte se iniciou com uma forte nevasca. Deena, desacostumada com o frio, sentia-se morrer por dentro cada vez que tinha que sair de seu quarto quentinho e enfrentar os longos corredores da escola até qualquer sala de aula. Qualquer menos a masmorra onde tinha aula de poções. Lá, Deena gostaria de ficar o dia inteiro, se fosse possível.
Outras alunas da sua casa começavam a reparar no interesse que Deena demonstrava na aula de poções, ou mais especificamente, para com o professor de poções. Antes do fim da temporada de quadribol, ela já havia virado motivo de chacota por suspirar cada vez que via Snape pelos corredores. O professor não percebia nada, ou se percebia, fingia não perceber. Mas as alunas não perdoavam, e logo Deena carregava o carinhoso apelido de “Sebosinha”. Mas ela não ligava. Ou melhor, fingia ser tudo uma brincadeira, e com essa estratégia de defesa, exagerava nos suspiros e zombava de si mesma.
*****
O início do quarto ano em Hogwarts trouxe uma surpresa para Deena. Em um belo dia de setembro, ela estava tomando seu banho tranquilamente, cantando no chuveiro, quando ouviu vozes de outras duas meninas que entraram no banheiro. Ela continuou cantando, até para que as meninas soubessem que havia mais alguém aí, e como esperava, as meninas se calaram.
Após lavar e enxugar seu corpo esguio, ela saiu do compartimento onde estava e viu as duas garotas encostadas em uma pia, como que esperando por ela.
- Oi, tudo bem com vocês? – Perguntou Deena.
- Você estava usando algum feitiço para cantar? – perguntou de sopetão a mais loira das duas, uma garota bonita chamada Laisa.
- Não, né? Se estivesse, o resultado seria melhor – respondeu Deena mal-humorada, achando que as meninas queriam zombar dela.
- Olha, nós achamos que você estava cantando super bem, sabia? – respondeu a morena, uma garota árabe conhecida como Latifah. – De fato, nós duas e meu irmão estamos pensando em montar uma banda. Meu irmão é percussionista, ele toca muito bem. Todos na nossa casa são músicos, e Laisa sabe tocar guitarra. Nós estávamos justamente falando sobre encontrar alguém que cante para entrar na banda também. Além disso, também precisamos de um baixista, porque eu toco teclado e guitarra.
- E daí vocês me ouviram cantar no chuveiro e ficaram impressionadas com meu talento vocal?
- É, é mais ou menos isso – explicou Latifah. – É muito difícil encontrar bruxas que cantem bem sem o uso de feitiços, e...
- Olha, desculpa, mas pra cima de mim, não. Eu sei que vocês estão é procurando algum jeito de tirar uma com a minha cara. Mas não vai rolar, entenderam? Tchau pra vocês.
Deena saiu do vestiário furiosa, pensando em quanto tempo levaria até que suas colegas de classe amadurecessem. Ela estava não nervosa que nem viu Marissa passando rumo à biblioteca.
- Ei, Deena, aonde você vai com essa toalha na cabeça?
- Ui, Marissa, que bom que você me avisou. Eu estava tão nervosa que nem percebi – respondeu Deena, soltando os longos cabelos castanhos molhados – Você acredita que aquelas duas meninas da Grifinória, a Laisa e a Latifah, queriam me convencer a cantar para elas?
- E daí, você aceitou, né?
- Eu?? Pra quê? Pra dar mais um motivo pra escola inteira rir de mim? Se eu não tivesse notas tão boas, pode ter certeza que seria mais ridicularizada que aquela menina Lovegood, filha do dono do Pasquim.
- Mas do que você está falando, Deena? Todo mundo sabe que elas estão montando uma banda! Tem um monte de gente cantarolando por aí pra ver se elas ouvem e convidam para participar. Se você tirasse o nariz de dentro do livro de poções, você também saberia disso...
- Jura? Então é verdade?? Ai, que fora que eu dei!! Larguei as duas falando sozinhas no banheiro... Bom, mesmo assim, eu nem queria cantar, de um jeito ou de outro...
Mas a idéia de cantar em uma banda não abandonou os pensamentos de Deena. Ela começou a pensar nas músicas que sabia, nas que cantava melhor, em como seria interessante fazer um teste e saber o que os outros achavam. Conversando com Fred a respeito, o rapaz a incentivou:
- Por que você não procura a Latifah? Ela é bem legal, e não vai se recusar a marcar um teste. Além disso, se você achar que o clima não ficou bom, você desafina e se desclassifica, e pronto.
- É, Fred, é isso mesmo que eu vou fazer.
- Só me avise quando for o teste, tá?
- Por quê? Você quer ir assistir?
- Não, para eu tirar meus protetores de ouvido da mala!!
- Ora, seu...
*****
Latifah era realmente uma pessoa acessível. Ela entendeu o ponto de vista de Deena e concordou em marcar um teste. Afinal, Deena tinha mesmo uma bela voz, que só precisava ser mais trabalhada.
- Mas olha, Deena, se tiver ensaio em dia de quadribol, você tem que ir ao ensaio, tudo bem?
- Ah, agora você está brincando comigo, né?
*****
O teste aconteceu na noite do Halloween. Deena foi testada juntamente com outras três garotas da Lufa-lufa e duas da Grifinória. Não havia mais ninguém de sua própria casa, e os sonserinos pareciam não se misturar. Também foram testados 3 ou 4 rapazes para tocar baixo, e ao final de todos os testes, Deena e um rapaz da Lufa-lufa, Ian McKornick, foram selecionados para a banda, que foi batizada como “The Wanders”.
Quando todos saíam da sala de estudos requisitada para o teste rumo à festa, que já devia estar no fim, uma multidão nos corredores barrou o caminho dos jovens. Adiante, gritos descontrolados do zelador, o Sr. Filch, e manchas vermelhas na parede. Parece que alguém petrificara a gata do zelador...
N. A.: the Wanders é um trocadilho entre Wand (varinha) e Wonder (maravilhoso).
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