Hermione



  Os ensaios da banda ficaram mais freqüentes com a proximidade do feriado de Natal.  Deena estava se saindo muito bem, e além de cantar começara a compor músicas juntamente com Ahmed, o irmão de Latifah. 


- Oi, Deena, você quer estudar Poções conosco?


- Fred, você vai estudar?  Acho que vou faltar ao ensaio só pra ver isso...


- Não seja tola, menina! – respondeu Jorge, interrompendo com uma risada a resposta que o irmão ia começar a desferir – Ele só está dizendo isso pra ver se você dá um pouco de sua atenção pra qualquer outra coisa que não seja a banda.


- Ei, isso não é verdade!!  Deena, não acredite nessa cópia mal-feita de mim!  Eu realmente queria que você fosse conosco estudar Poções.  Afinal, você é a melhor aluna da turma, e nós estamos realmente enrascados na matéria.


- Fale por si só, irmãozinho.  Eu não estou nem aí para o Snape e seus líquidos fedorentos.


- Fred, Jorge! – interrompeu Hermione chegando perto do grupo que conversava.


- Oi, Hermione.  Deena, esta é Hermione Granger, ela queria te conhecer.


- Oi, tudo bem?  Você precisa de ajuda com alguma coisa?


- Vamos até ali comigo que eu te mostro, Deena.  É uma poção meio complicada, acho que você vai gostar.


As duas garotas seguiram até um banheiro desativado.  Deena estava achando aquilo meio estranho, afinal, um banheiro não é o melhor lugar para fabricar poções.  Hermione seguia calada, com ar de mistério, e Deena achou melhor não interromper seus pensamentos.


Chegando à porta do banheiro, Hermione virou-se para Deena e disse:


- Deena, esse assunto é secreto.  Nós confiamos em você porque Fred confia, ele nos garantiu que você saberá guardar segredo, certo?


- Então tem mais gente nessa história, é?


- Tem, eu, Rony, irmão do Fred e do Jorge, e o Harry Potter, não sei se você os conhece...


- Não, só de vista.  Tudo bem, não se preocupe.  Desde que vocês não matem ninguém, nem me façam de vítima de alguma brincadeira cruel, eu não me importo.


- Entre.


O caldeirão estava sobre uma pia, enquanto, no box ao lado, uma garota fantasma se lamentava e chorava lugubremente.


Deena observou a capa e o conteúdo do livro.


- Pociones muy potentes, heim?  Meu pai tem um desses.  É um livro raro, sabiam? Não devia estar no banheiro...  Qual receita vocês estão fazendo?


- Esta aqui – indicou Rony, apontando para uma página amarelada e envelhecida.


- Poção Polissuco.  É uma poção complicada e demorada. Tá, eu ajudo, nunca fiz essa poção, vai ser interessante!  Mas vejam bem, se vocês se meterem em encrencas por causa disso, não contem que eu ajudei!  Eu negarei como uma acusada de homicídio, tá legal?


- Não se preocupe.  Nós não pretendemos fazer nada de (muito) errado com isso.  Mas precisamos de ajuda aqui no finzinho.  Onde vamos arrumar essa tal de serifólia?


Deena saiu, carregando o pesado livro no meio de seu próprio material.


*****


À noitinha, Deena foi até a sala do seu querido prof. Snape carregando a cópia do livro emprestado.  Ela enfeitiçara a capa do livro para que parecesse a do seu pai.  O professor estava sentado atrás de sua escrivaninha, com uma pilha de rolos de pergaminhos, quando Deena entrou.  Silenciosamente, ela se aproximou da mesa, observando com atenção os movimentos dos olhos negros do professor.  A uma distância de cerca de cinco passos da mesa, Deena quebrou o silêncio que reinava na sala:


- Professor?


Snape levantou os olhos devagar e encarou a jovem quartanista diante dele.


- O que você está fazendo aqui, Knocks?


- A porta estava aberta e eu entrei. – explicou-se Deena – Queria perguntar uma coisa para o Sr. sobre este livro que eu estava lendo...


- Este livro não é um livro acessível aos alunos, Knocks.


- Não, professor, este aqui é do meu pai.  Ele não liga que eu veja esses livros, agora que estudo aqui em Hogwarts.  Claro que eu não pretendo fazer nenhuma dessas poções, mas eu só queria saber como se pronuncia este nome aqui, e como é a aparência desses extratos aqui...


Snape virou-se para ver o livro, e dirigiu-se para o outro lado da sala em busca dos extratos que a aluna queria ver.  Enquanto isso, ela rapidamente apanhou um punhado de serifólia do frasco facilmente localizado graças ao perfeccionismo do professor, que guardava tudo em ordem alfabética.


- Satisfeita?  Posso voltar ao meu trabalho?


“Estou muito longe de ficar satisfeita...” pensou Deena, mas concluiu a conversa com um “Muito obrigada, professor, desculpe o incômodo”, e saiu da sala.


*****


No dia seguinte, durante o café da manhã, Deena aproximou-se da mesa da Grifinória para entregar um pequeno pacote enrolado à nova amiga:


- Hermione, aqui está o que você me pediu ontem.  Consegui uma porção muito pequena, não vai dar pra fazer muita coisa, tudo bem?  Se você tiver alguma dúvida, pergunte.


- Puxa, muito obrigada!  Bem que o Fred disse que você era esperta!


- Ele disse isso, é? – perguntou Deena envergonhada.


- Disse sim – piscou Hermione, com um tiquinho de malícia no olhar.


- Bom, não quero nem saber o que vocês vão fazer com isso aí – concluiu Deena, baixando a voz tanto quanto possível – mas saiba que eu enfeiticei o embrulho para que minha letra não seja reconhecida.


- Tudo bem, – riu Hermione – pode confiar em nós.


*****


O feriado natalino chegou, e nesse ano a imensa maioria dos alunos resolveu deixar Hogwarts por causa de misteriosos ataques ocorridos no castelo.  Algumas pessoas estavam petrificadas na ala médica, e ninguém conseguia fazê-las voltar ao normal.


Deena não estava preocupada.  Não era trouxa nem mestiça, a última nascida trouxa na sua família fora sua avó materna.  Não que isso fizesse diferença.  Deena não se importava com a ascendência das pessoas, se vinham de família de bruxos ou não.  Aliás, na América Latina isso nem era um assunto viável, uma vez que só nas grandes cidades como São Paulo, Buenos Aires e Cidade do México existiam famílias puras de bruxos.  Na maioria dos países os bruxos existiam em quantidade tão pequena que a miscigenação com trouxas era praticamente obrigatória.


Na véspera do natal, Deena procurou um elfo doméstico por toda a sala comunal de sua casa durante a noite, e ao encontrá-lo, perguntou quem entregava os presentes de natal aos alunos e professores.  O elfo assustado respondeu que eram eles mesmos, os elfos, que tinham passe livre em todos os aposentos da escola.  Então Deena passou um embrulho ao elfo, pedindo para entregar à pessoa cujo nome estava no pacote.  O elfo concordou e sumiu, deixando a garota com um sorriso bobo nos lábios.


*****


Na manhã seguinte, Severus Snape despertou sonolento e olhou em volta, com o pressentimento de que havia alguma coisa anormal em seu austero aposento particular.  De fato, sobre sua mesinha de cabeceira havia um pacote que não estava ali na noite anterior.  Ao ler o bilhete que acompanhava o colorido embrulho, o professor não pôde evitar um minúsculo, quase imperceptível, sorriso.  Dizia:


“Feliz Natal.  E isso não é uma tentativa de suborno.”


Sem nome.  Como se fosse necessário.


*****


Os ensaios com a banda tomaram quase todo o tempo livre de Deena durante o fim de seu quarto ano em Hogwarts.  Ela recebera um misterioso cartão de dia dos namorados em um evento organizado pelo panaca do Prof. Lockhart.  O cartão dizia simplesmente “Pensei em você o dia todo, hoje.”, e ela demorou meses para descobrir quem havia mandado.


No final do ano letivo, a irmã mais nova de Fred e Jorge se envolveu em alguma encrenca, e rumores diziam que ela havia sido salva de Lord Voldemort graças a Harry Potter.  Fred confirmou a história, mas não quis dar detalhes.  Ele e o irmão ficaram muito preocupados com a caçula Weasley, e Deena colocou-se à disposição para ajudar, se necessário. Mas tudo já estava bem, e os alunos se viram às voltas com uma incrível festa no meio da noite, para comemorar o final do ano letivo e a solução de todos os problemas.

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