Capítulo III



Se antes, pensava que seria fácil ajudar Harry a comprar roupas, ela mudou de idéia.

-Não pode estar falando sério! – Harry disse quando ela e o vendedor tentaram fazer com que ele experimentasse uma camisa azul pálido com a gola branca - Os meninos vão rir de mim quando me virem aparecer com isso.

-Talvez seja melhor uma totalmente lisa ou com um pequeno estampado - disse o vendedor.

-Deus me livre!

-Uma lisa, digamos... rosa, pode levar uma gravata listrada.

-Eu não me vou usar uma camisa rosa! Sou um homem!

-Das cavernas - corrigiu ela - Se não quer que o ajude, vou comprar um baton.

-Fique aí! – ele disse quando ela começava a virar-se - Ok, levarei isso.

Hermione não sorriu, mas custou um bom esforço. Olhou para ele e viu pela enésima vez essa manhã que recém barbeado e com o cablo curto, jeans novos, uma jaqueta bege e uma camisa de manga curta branca, parecia diferente. Vestido corretamente, poderia ficar verdadeiramente impressionante.

Depois de alguns minutos, conseguiu convencê-lo de que as camisas listradas não eram afeminadas e comprou várias de diferentes cores.

Depois, o levou a uma loja de ternos.

O vendedor o acompanhou ao provador e, quando voltou alguns minutos mais tarde, vestido com um terno azul escuro, uma camisa azul claro e uma gravata granada, ela quase caiu da cadeira. Não parecia o mesmo Harry, exceto pelos traços de seu rosto e os brilhantes olhos verdes.

-Céus! -exclamou Hermione.

A expressão dele suavizou um pouco.

-Tudo bem? Estou bem?

-Perfeitamente - respondeu ela sorrindo - Senhoras, não olhem!

Ele sorriu também.

-Ok. O que mais preciso?

-Que tal um tom mais claro? Um desses trajes típicos do Oeste.

Harry provou um com resultado parecido. Tinha um corpo magnífico e ficava bem em qualquer coisa que vestisse. Depois, comprou um par de botas novas e um chapéu.

Qunado saíam da loja, ela lembrou que não tinham comprado algo muito importante. Tentou falar, mas não sabia como.

-Algum problema? – ele perguntou.

-Esquecemos de uma coisa.

-Eu não uso pijama.

-E o que está acostumado a usar debaixo da roupa? - disse ela finalmente, evitando olhar para ele.

- Ora vejam só! É tímida! - exclamou ele rindo.

-E daí? Nunca fiz compras com um homem antes. Além do mais, tem meias?

-Acho que é melhor voltarmos, não é?

Deixou as coisas no carro, abriu a porta e a ajudou a entrar.

-Me espere aqui um minuto, não demorarei nada.

-Ok.

Ela ficou olhando enquanto se afastava. A história de ajudá-lo a se transformar começava a ficar divertida, apesar das situações embaraçosas que poderiam acontecer.

Ela passeou o olhar pelo interior do carro estava impecável. Imaginou que teriam sido os meninos do rancho que o deixaram assim, já que nunca estivera tão limpo. Segurou a ponta de flecha que estava pendurada do retrovisor, e franziu o cenho quando viu com que estava amarrada: uma fita de veludo azul que ela, acreditava ter perdido.

A colocara para prender seu rabo-de-cavalo, há alguns anos, quando Harry fora conversar com tio Don. Lembrava-se que Harry puxara seu cabelo mas ela não prestara muita atenção ao que ele fazia e, mais tarde, percebeu que tinha perdido a fita. Era curioso que um homem tão pouco sentimental como ele tivesse guardado uma coisa como aquela. Provavelmente ele gostava cor, pensou olhando para a entrada do shopping.

Alguns minutos depois, Harry voltou. Jogou os pacotes que trazia no banco de atrás e sentou-se a seu lado.

-Sinto muito, querida. Não esperava demorar tanto, mas lá dentro havia uma multidão.

-Não tem problema - disse ela sorrindo.

Ele ficou olhando nos olhos dela por um bom tempo e seu rosto pareceu ficar rígido.

-Oh, céus, você é especial - disse em voz muito baixa.

A paixão com que pronunciou essas palavras despertou algo no mais profundo do ser de Hermione. Devolveu o olhar e não pôde afastar seus olhos dele .Foi como se esse momento estivesse fora do tempo, Depois, seu olhar pousou involuntariamente sobre a boca de Harry.

-Não faça isso – disse ele virando-se e ligando o carro subitamente. - Guarde esse olhar para você, se não quer que eu a beije de novo.

Ele a impressionara, isso estava na na cara. Perguntou-se se a queria. Depois, lembrou-se de Gina e isso foi como um banho de água fria. Afinal, se ele sentia algum tipo de emoção, evidentemente seria por ela. Não era esse o motivo pelo qual aceitara ajudá-lo, para fazer dele um homem que Gina pudesse querer? Cruzou as pernas com um suspiro e ficou olhando, como a cidade desfilava pela janela.

-Está com fome? – Harry perguntou um momento depois.

-Eu gostaria de comer uma salada.

-Isso é comida para coelhos. Pode comê-la qualquer outro dia.

-Você vai me levar a um lugar especial?

-Você gosta de crepes?

-Oh, sim!

-Um conhecido me falou sobre esse lugar. Poderíamos ir até lá.

O lugar era o restaurante de um hotel, bastante elegante, por certo. Hermione se viu assaltada então por um monte de dúvidas a respeito de como aquilo ia terminar, mas, se não entrassem em um lugar como aquele, não poderia ensiná-lo como comportar-se neles. Assim, cruzou os dedos e o seguiu.

-Tem uma reserva, monsieur? – o maitrê perguntou enquanto displicentemente os estudava com o olhar - Estamos lotados hoje.

Lá dentro havia algumas mesas vazias, Hermione podia vê-las, e sabia a que se deviam as palavras do maitrê. Tocou suavemente o braço de Harry e sussurrou:

-Dê uma gorjeta para ele.

-Uma gorjeta? – Harry gritou olhando o homenzinho com os olhos como facas - Ele está maluco! Quero uma mesa! E é melhor que me dê uma rapidamente, porque se não, vou pregar você e seu ridículo sotaque francês na porta.

Enquanto dizia isso não parou de fazer caretas e Hermione enterrou o rosto nas mãos.

-Uma mesa para dois, monsieur? - disse o maitrê, com um sorriso nervoso - É claro! Sigam-me, s'il vous plait!

-Dar um gorjeta! Tudo que temos que fazer é falar da forma adequada - Harry continuava remungando.

Ela não respondeu, tentava manter-se afastada, para ver se assim, as pessoas pensassem que estava sozinha. Todo mundo estava olhando para eles.

-Não fique aí atrás, vai se perder - disse Harry segurando-a pelo braço e quase arrastando-a para a mesa que o maitrê indicava.

-É aqui, sentem-se.

Deixou-a cair em sua cadeira e puxou uma para ele.

-Que tal trazer o cardápio?

O maitrê ficou de cor rosa.

-É claro, em seguida. - Então, indicou um garçom com um gesto quase cômico. - Henri se ocupará de vocês, monsieur, mademoiselle...- disse retirando-se imediatamente.

Henri se aproximou da mesa e deu-lhes os cardápios com uma espécie de mesura.

-Querem os senhores estudar o cardápio um momento?

-Não, diabos. Queremos crepes – Harry disse indicando o princípio do cardápio.

-Eu quero cinco e traga dois para ela, precisa alimentar-se. E nos traga café.

Ela olhou debaixo da mesa, perguntando-se se não poderia esconder-se debaixo dela.

-Oui, monsieur. Quer a carta de vinhos?

-Diabos, e o que espera que eu faça com isso?- Perguntou ao garçom, encarando – Nem faço idéia do vinho que pode trazer. Quer que eu traga uma lista de minhas cabeças de gado? Tenho algumas centenas...

-Trago o café agora mesmo, monsieur. – Respondeu o garçom, desaparecendo depois rapidamente.

-"'Isto" é fácil – Harry disse sorrindo para Hermione - Quem disse que era difícil entender-se com o serviço nos restaurantes caros?

Ela cobriu o rosto com as mãos de novo , tentando manter-se suficientemente serena para explicar algumas coisa. Mas enquanto isso, ela viu outro rancheiro conhecido no outro extremo do salão.

-Ei, Ron - gritou com aquela voz poderosa que se ouvia tão bem na pradaria, e muito mais naquele restaurante abarrotado. Como está se saindo com aquele reprodutor? Acredita que suas vacas terão bons bezerros na próxima primavera?

-Assim espero, Harry! - gritou por sua vez o rancheiro, levantando o copo de vinho a título de saudações.

Harry não tinha nada nas mãos para retribuir a saudação, então limitou-se levantar a mão.

-Por que as pessoas pedem vinho em um lugar como esse? –perguntou para Hermione.

-Para brindar.

-Talvez fosse melhor pedir uma garrafa.

-Não! disse ela, segurando a mão dele quando Harry ia levantá-la e olhava ao redor para ver por onde Henri andava.

Então ele ficou olhando para a mão de Hermione, que parecia minúscula em comparação com a enorme mão dele.

-Está querendo me dar uma palmada? - murmurou ele brincando, enquanto entrelaçava os dedos dela com os seus.

Pareceu nesse instante que todo o bom humor que demonstrara até então evaporou

Procurou seus olhos castanhos e percorreu a suave pele da mão com a ponta dos dedos, sentindo a textura. O coração de Hermione começou a pulsar com mais força.

-É tão suave - murmurou - suave como seus lábios.

Ficou olhando durante um instante o lábio inferior.

-Eu gostaria de beijá-la quando estivesse sóbrio...- disse em voz muito baixa - Só para saber como é.

Hermione sentiu que suas mãos tremiam como folhas ao vento. Por sua vez, a mão de Harry se contraiu e atraiu a mão dela para sua boca.

-Cheira a perfume. E quando me olha assim, isso sobe à cabeça como se fosse uísque.

Ela tentou afastar a mão, mas ele não deixou.

-Você disse que iria me ensinar - recordou sorrindo -Só estou tentando praticar um pouco.

-Disse que daria algumas aulas de etiqueta. Tais como fazer o favor de não se enfurecer com o maitrê nem com os garçons, além de não gritar no meio de um restaurante como este, Harry.

-Ok - respondeu ele passando os dedos dela pelo seu queixo - Que mais não tenho que fazer?

-O que está fazendo agora.

-Só estou segurando sua mão.

Mas não parecia ser somente isso. O que parecia na verdade era que ele tinha se apossado dela, uma posse total e completa de sua mente, de seu coração e, de seu corpo.

-Hermione - ele sussurou como se saboreasse o som de seu nome.

De repente, ela percebeu que era uma das poucas vezes que o ouvia pronunciar seu nome daquela forma, normalmente se dirigia a ela com algum apelido ou uma palavra carinhosa. Isso fez seu nome parecer diferente nos lábios dele.

Ela ficou maravilhada observando sua cabeça morena inclinada sobre sua mão, beijando-lhe e acariciando-lhe com um carinho que não acreditava que ele fosse capaz.

-Harry?

Ele levantou os olhos, como se tivesse ouvido algo em sua voz que não esperava. Mas, antes de que pudesse dizer algo, o garçom chegou com o café.

-Onde estão meus crepes? – Harry perguntou.

-Estarão aqui dentro de um instante, monsieur - Henri informou com um sorriso apurado e olhando fervorosamente para a cozinha.

-Será melhor que seja assim mesmo...

Henri saiu e Hermione teve dificuldades para dissimular um sorriso.

-Sempre leva as coisas tão a ferro e a fogo?

-Aprendi rapidamente que essa era a única maneira de chegar ao topo. Eu não gosto que ninguém faça pouco de mim. Espero que você nunca aja assim comigo.

-Eles não estavam fazendo pouco de você – começou a dizer.

-Tolice – respondeu Harry sorrindo friamente - A forma de ver a vida é diferente para cada pessoa. E você e eu estamos muito distantes nesse aspecto, não?

-Oh, não sei - murmurou ela – Alguma vez, você, por acaso imaginou que eu gostaria de ir pescar de vez em quando, vestida com um par de botas velhas e uma camisa surrrada?

-Ah sim? Pois poderíamos ir pescar algum dia desses, se você quiser.

Quando olhou para ele, com um certo ar divertido, viu que ele estava sorrindo outra vez. Nunca o vira sorrir tantas vezes no mesmo dia.

-De verdade?

-Poderia emprestar para você uma calça velha e também uma camisa - disse enquanto acendia um cigarro - Além do mais, acho que deveria ganhar algo com esse trato. Você me ensina o que tenho que saber e eu, por minha parte, te ensino algumas outras coisas.

Henri voltou com as crepes uns segundos depois, por isso Hermione esteve ocupada durante algum tempo, tentando explicar para ele a forma de utilizar os talheres corretamente.

Quando Harry se aborreceu, disse.

-Bom, já chega. Acho que deveria comer seus crepes, está muito magra e alguns quilos a mais, não fariam mal para você.

-Nunca pensei que reparasse em mim.

Ele não sorriu.

-Eu sempre reparei em muitas coisas em você, Hermione.

Hermione precisou de um tempo para recompor-se do efeito causado pelas palavras dele e, quando o fez, começou a comer seus crepes. O creme que se saiu de um deles, grudou em seu lábio superior e ela tirou com a língua. Quando fez isso, Harry ficou olhando com uma expressão que ela não foi capaz de decifrar.

-Esse é um gesto muito sexy, sabia?

-Limpar a boca? - perguntou ela rindo nervosamente.

-Não diga tolices. Sabe perfeitamente do que estava falando.

Hermione o ignorou e terminou de comer seu crepe.

-Que tal irmos ao cinema antes de voltarmos para casa?

-Sinto muito. Tenho muito trabalho para fazer em casa.

-Por que trabalha tanto?

-E você não? Faz muito tempo que não tira férias.

-As férias são para os ricos. Talvez todos tenham razão e não nasci para ser rancheiro.

-E que outra coisa poderia ser?

-O que quer dizer? Que sou muito estúpido para ser qualquer outra coisa?

Disse isso em voz tão alta que as pessoas das mesas ao redor voltaram-se para ver se seu aspecto coincidia com a descrição que acabava de fazer de si mesmo.

-Eu não quis dizer isso absolutamente e, por favor, não poderia falar mais baixo?

-E por que teria que fazer isso? - perguntou levantando-se e olhando desafiante a seu redor - Que diabos vocês estão olhando? Quem escreveu as regras de etiqueta, que dizem que temos que olhar para baixo, falar sussurrando e não fazer nada que saia do normal em um restaurante elegante e esnobe? Por acaso, pensam que os garçons daqui dirigem Rolls-Royce? É por isso que têm medo deles? Ou que o chefe deles tem uma casa na Riviera?

Começou a rir ruidosamente. Hermione pensou seriamente em enfiar-se debaixo da mesa.

-Essas pessoas não são melhores, nem piores que eu e, se vou pagar, tenho tanto direito de estar aqui como o mais fino destes cavalheiros, assim, por que deixar que estes fantoches façam pouco de mim?

O rancheiro do outro lado da sala, amigo de Harry, explodiu em gargalhadas.

-Sim! Por que deixá-los pisar em nós? - gritou rindo - Não deixe por menos, Harry!

Uma senhora sentada em uma mesa próxima olhou para ele.

-É incrível as pessoas que deixam entrar neste restaurante agora - disse referindo-se a Harry.

Ele voltou-se para ela.

-Sim, não é verdade? - acrescentou ele com um olhar que falava por si só - E também é incrível a quantidade de gente que pensa que é melhor que outros. Só pela quantidade de dinheiro que têm, não é, senhora?

A senhora em questão ficou rubra, levantou-se e saiu do restaurante.

-Por favor, sente-se - Hermione suplicou.

-Sente-se você se quiser, eu vou embora. Se vier comigo, já sabe. Onde raios está a conta? - pediu ao trêmulo Henri - Quero-a agora, não quando resolver trazê-la.

-Aqui está, monsieur!

Harry a pegou e foi apressadamente para o caixa, deixando Hermione sozinha. Ela se levantou tranqüilamente de sua cadeira e saiu lentamente do salão. Tinha que mostrar, que, apesar de tudo, ela era a Srta. Granger, de Charleston.

Mas serenidade era a última coisa que Hermione sentia no momento em que o encontrou no estacionamento.

-É um idiota presunçoso, um selvagem! - começou ela com os punhos fechados e os olhos brilhantes pela fúria.

-Não exagere. Entre, vou levá-la para casa.

-Nunca senti tanta raiva...!

-Por quê?

-Como assim, por quê?

Ele ficou olhando, Hermione estava rígida, ao lado do carro, sem abrir a porta.

-Entre – ele disse.

-Apenas quando você abrir para mim - disse ela friamente - Tendo ou não em conta o movimento para a Liberação da Mulher, isso seria educado de sua parte.

Com um suspiro resignado, Harry deu a volta no carro e mostrou como se abria uma porta, a ajudou a entrar e voltou a fechá-la.
,
-Nunca mais irei a você me lugar nenhum, pelo resto da minha vida! - disse ela quando ele se sentou a seu lado e ligou o carro.

-Você começou – ele recordou quando entraram na auto-estrada - Fazendo ressaltar minha ignorância...

-Eu não fiz isso. Limitei-me a perguntar o que mais você poderia fazer. Você adora o que faz, sempre gostou. Não se sentirá à vontade com nenhum outro trabalho e sabe disso.

-O que queria dizer era que eu não seria capaz de fazer nenhuma outra coisa.

-O quê? Sempre está na defensiva comigo, tem a mania de interpretar mal tudo o que eu falo.

-Eu sou um selvagem, lembra-se? O que se pode esperar de mim?

-Sabe Deus. E isto não foi idéia minha, assim, pouco me importa, se resolver comer com os dedos o resto de sua vida.

Depois disso, fez-se um longo e incômodo silêncio. Ele acendeu um cigarro e se dedicou a fumar enquanto passavam os quilômetros. De vez em quando, olhava para ele, tinha o rosto rígido e o olhar fixo na estrada . Parecia sentir-se desgraçado e ela se sentiu culpada por isso, estava claro que ele queria Gina e que, sem um pouco de educação, não poderia conquistá-la.

-Até que série você estudou? – Hermione perguntou de repente.

-Sou formado em Administração de Empresas e tenho licenciatura em Economia.

Isso a deixou gelada. Estava surpresa.

-Estudei enquanto servia a Marinha. Mas isso foi há muito tempo. Vivi e trabalhei duramente e não tive tempo para me relacionar com as pessoas. Odeio os pretensiosos, às pessoas que mentem e pretendem ser mais do que eles são, os que se acham superiores por terem dinheiro... A todos eles! Também odeio esses lugares em que só o que importa é o dinheiro que você tem no banco. Deus, como os odeio!

Ele deveria ter se sentido rebaixado a maior parte de sua infância e juventude, humilhado e explorado. Hermione percebeu que excedera. Tocou muito levemente o braço dele e sentiu como ele se contraía com seu toque.

-Sinto muito - disse - Desculpe por eu ter me zangado e aborrecido você.

-Tenho muitas cicatrizes - disse ele mais calmo - Não estão à vista e tento esquecê-las. Mas são muito profundas.

-Ainda quer me levar para pescar?

–Claro.

-Que tal na segunda-feira?

-Mas você trabalha na segunda-feira – ele lembrou com um olhar confuso, como se não se esperasse que ela pudesse perdoá-lo.

-Vou me dar um dia de folga.

Ele riu suavemente.

-Ok, então eu também me darei folga.

Essa noite, quando já estava deitada, ela começou a pensar nessa súbita decisão de tirar um dia de folga, algo que nunca fizera, e ir pescar.
Pensava em Harry. Estranhava que ele nunca tivesse mencionado o fato de ter ido a uma universidade, como se se envergonhasse disso. No fundo, sentia uma certa compaixão por ele.

Ele não era um homem mau, tinha algumas qualidades maravilhosas. Ficara duas noites com John Lupin e sua mulher em seu rancho quando o casal ficou doente. Tinha-lhes dado de comer além de ter pago todas suas contas do mês, já que Lupin não pudera trabalhar. Sim, Harry era um bom homem. O que acontecia era que tinha uma couraça exterior extremamente dura, e Hermione pensou que ele deveria ter mil razões para tê-la construído. Como seria o homem que havia em seu interior? Dormiu pensando nisso.

Na segunda-feira, muito cedo, Hermione ligou para Luna para informar que não iria ao escritório.

-Vou pescar. Ligarei mais tarde para saber se há algum recado.

-Vai pescar? – perguntou Luna surpreendida.

-E por que não?

-Desculpe, Hermione. Não sabia que gastava de pescar.

-Bem, veremos isso depois de hoje. Até mais tarde.

-Até logo.

Hermione não tinha um par de jeans velhos, assim, colocou o que tinha, um jeans da última moda, uma camiseta listrada de muitas cores e mocassins. Quando se olhou no espelho pensou que, pelo menos, essa roupa era menos formal que a que usava habitualmente

Harry não estava esperando por ela lá fora quando chegou ao rancho e ela hesitou um momento quando ele a chamou do interior convidando-a para entrar na casa. Não gostava de muito de ficar a sós com ele na casa, mas se reuniu coragem e entrou.

-Um momento - disse ele da porta dos fundos da casa.

Os quartos deviam ser ali, mas ela nunca os vira.

-Não se preocupe - respondeu ela.

Depois de alguns minutos, ao ouvir a porta do quarto ser aberta, ela se voltou, e teve que se esforçar para afastar a vista de novo. Evidentemente, ele acabava de sair do banho. Estava completamente vestido, à exceção da camisa, que levava na mão, o que lhe proporcionou uma ampla visão de seu peito musculoso e bronzeado. Já tinha visto ele sem camisa outras vezes, mas não podia explicar porque sentia-se tão agitada por vê-lo assim agora.

-Fica elegante até com calças jeans - murmurou ele - Não encontrou nada mais velho que isso?

-Isto está velho – disse voltando-se para ele e encontrando-se mais perto do que imaginava.

De repente, chegou-lhe o aroma da colônia que ele usava, era uma de seus favoritas..

-Cheira bem.

-É mesmo? Por que está tão nervosa? - perguntou enquanto vestia a camisa e se aproximava mais dela - Já ficou sozinha comigo outras vezes.

-Mas, você semre estava vestido.

-Ah, é por isso? -disse ele enquanto deixava deliberadamente os botões superiores da camisa sem abotoar - Não me diga que isto a perturba.

Hermione ficou sem ar sem saber por que. A boca secou, mas quase não percebeu isso.

Então, ele pegou suas mãos e as levou ao seu peito, de forma que ela pudesse sentir a dureza de seus músculos.

-Que músculos você tem! – disse ela sorrindo, tentando não dar importância, mas as pernas quase não podiam sustentá-la em pé.

-Claro, meu trabalho é muito duro - disse ele enquanto começava a mover suas mãos e as dela de uma forma sensual por todo o peito -Trouxe sua roupa para pescar?

-É... é que não tenho - respondeu ela.

Era incrível que pudessem estar assim, mantendo essa conversa tão tola, enquanto que seus gestos tornavam-se cada vez mais íntimos.

O peito de Harry subia e descia cada vez mais rápido.

Levou as mãos de Hermione até seus próprios mamilos, de forma que pudesse sentir como pulsava seu coração. Ele se aproximou ainda mais e sua respiração chegou a mover os cabelos das têmporas dela.

Ela desejava sua boca desesperadamente e sabia que ele percebera isso. Não podia compreender essa súbita e imperiosa necessidade por ele e sua estranha reação com sua proximidade e contato. Não entendia nada.

A sala parecia ter ficado mais escura e privada. Não se ouvia nada nela, exceto suas respirações e o ruído do relógio da parede.

Nesse momento, Harry aproximou sua boca da testa dela, enquanto fazia que descesse as mãos do peito até a cintura. Ela protestou levemente com um gesto.

-Não lute comigo – ele disse suavemente - Não há nada a temer.

Claro que tinha! Sua própria reação com o que ele estava fazendo era aterradora. Sentiu como as pernas deles se juntavam e, então, emitiu um leve gemido de prazer, que não passou desapercebido a ele.

Sua cabeça se aproximou ainda mais. Os olhos de Hermione se fecharam e sentiu como a calidez de sua respiração passava ao longo de todo seu rosto, da testa até a boca, passando pelos olhos e o nariz. Sem preocupar-se com sua possível resposta, jogou a cabeça para trás e abriu a boca o convidando. Esperou, retendo seu fôlego enquanto aquela boca ansiada se aproximava. Seria mais agradável desta vez ou ele a machucaria de novo? ela se perguntou.

-Sr. Potter!

O grito soou como um tiro de canhão.

Harry levantou a cabeça, como se voltasse de outro mundo

-O que foi, Neville? - perguntou enquanto abotoava a camisa e se dirigia para o alpendre.

Hermione os ouviu falar, parecia-lhe algo completamente irreal.

Ainda estava tremendo, e sua boca ainda desejava o beijo que não tinha recebido. Olhou para Harry com admiração, deixando que seus olhos percorressem a tremenda masculinidade de suas costas e quadris. Recordava, perfeitamente do contato de sua pele, seu cheiro... Quando cruzou os braços, percebeu de que tinha os mamilos completamente endurecidos.

Tentou manter seu corpo sob controle. Era evidente que o desejava. Desejava tudo o que ele poderia dar, o contato de sua pele, de sua boca... Quase falou em voz alta, dada a força desse desejo, essa urgência que nunca havia sentido antes. As doces lembranças do homem que tinha ficado em seu passado se evaporaram completamente durante esse recente acesso de paixão e tinham sido substituídos por uma emoção muito diferente, uma violenta necessidade que nunca experimentara antes.

Que atitude poderia adotar com ele agora, depois de ter-se entregado tão completamente? Ele era um homem e, certamente, não hesitaria em tomar aquilo que oferecesse para ele, apesar de sua antiga amizade. Se ela agisse como uma mulher sedutora, o que poderia esperar? Ele era humano.

Limpou a garganta quando ele entrou na sala. Se pudesse encontrar uma desculpa para voltar para casa...

-Vou buscar as varas de pescar – disse sorrindo para ela-. Tem um chapéu?

-Não.

-Use esse - disse aproximando-se do armário e pegando um chapéu que ficaria bem nela - Era meu. Bem, vamos.

Acompanhou-a até a porta antes que ela tivesse oportunidade de protestar e, minutos mais tarde, estavam dando saltos com o carro, atravessando os pastos em direção ao lago onde ele estava acostumado a nadar e pescar.

-Antes nos banhávamos aqui - disse ele quando chegaram e se sentaram em uma sombra fresca na beira do lago - Alguns meninos ainda nadam aqui mas esse lugar é melhor para pescar.

Quando ele pegou o pote de minhocas e trespassou uma no anzol, Hermione olhou para ele com cara de nojo.

-Por favor... disse-lhe suavemente.

Seus olhares se encontraram e ficaram assim durante uns instantes, antes que ela olhasse de novo para o pote de iscas de peixe.

-Agora ensinarei como se faz.

-Mas Harry...

-Fique quieta e preste atenção...

A expressão de nojo de Hermione ficou mais evidente enquanto preparava para ela seu anzol.

-Vejo que tem o coração fraco – disse ele - Acho que não poderei levá-la para caçar coelhos.

-Bem, você já sabe que eu não iria, assim nem sonhe em pedir para acompanhá-lo.

-Gina vai dar uma festa na próxima sexta-feira à noite. - disse ele enquanto lançava a linha na água.

-Sim?

-Uma dessas reuniões sociais, acho eu. Para mostrar imóvel que comprou aos amigos.

-Está orgulhosa dele.

Passou um momento antes que voltassem a falar.

-Você vai? - perguntou ela.

Harry soltou uma leve risada.

-Já sabe que eu não gosto dessas coisas.

-Eu poderia ensiná-lo a se comportar lá - disse ela olhando para o chão.

-Sim?

-Agora já tem a roupa adequada. Tudo o que precisa saber é alguns passos de dança e como falar com as pessoas.

Ele ficou olhando para ela durante um longo tempo.

-Sim, é verdade.

-Bem. Quer ou não?

-Quero o quê?

-Que eu o ensine?

-Acho que quem precisa de algumas aulas, é você.

O rosto dela se acendeu, sabia perfeitamente a que Harry estava se referindo. Sentia-se como uma adolescente em seu primeiro encontro.

-Eu já sei dançar.

-Está deliberadamente confundindo o que quero dizer - respondeu ele rindo suavemente.

-Pensei que tivéssemos vindo para pescar.

-É isso o que estamos fazendo.

-Quer aprender a dançar ou não? - perguntou ela impacientemente.

-Acho que sim.

-Poderia ir até minha casa amanhã a noite, se quiser – disse - Vou fazer uma sopa.

Ele olhou para ela longamente.

-Ok.

Nesse momento, ela viu que a cortiça começava a mover-se e mal pôde dissimular sua excitação quando sentiu que o peixe mordia o anzol. Puxou a vara muito rápido e o anzol enrroscou em sua camiseta.

-Mas o que está fazendo? Está querendo mandar isso para a lua?

-Minha camiseta favorita - disse ela ao ver que o anzol ficara preso em cima de seu peito.

-Fique quieta, deixe que eu tiro - replicou ele ficando de joelhos junto dela.

Hermione não pensou em como isso poderia ser tão íntimo. Para tentar recuperar o anzol, a mão dele deslizou pelo interior da camiseta. Ela não usava sutiã e esse descoberta fez com que Harry se sobressaltasse.

Seus olhares se cruzaram, mas na realidade, ela estava prestando atenção nesse momento era no contato dos dedos dele contra seus seios nus, e seu corpo estava reagindo ostensivamente a isso.

-Harry, eu posso fazer isso sozinha.

-Pode deixar eu tiro – ele respondeu enquanto seus dedos se moviam delicadamente por sua pele fazendo que ela estremecesse.

Os dedos ásperos dele continuaram movendo-se pela suave pele de Hermione. Os dois estavam alheios a tudo o que os rodeava.

Até as rãs pareciam ter ficado mudas. Tudo era silencioso ao redor do lago, não existia nada, exceto o rosto temeroso de Hermione e as duras feições de Harry, além do som da respiração dele quando passou uma de suas mãos por trás da cabeça dela.

Ela protestou levemente, mas ele moveu suavemente a cabeça e aproximou seu rosto do dela.

-Fique tranqüila, Mione -murmurou quando seus lábios roçaram a boca dela - Tudo o que quero é provar seus beijos quando estou sóbrio.

-Harry, sua mão... -murmurou ela enquanto tentava impedir que a exploração seguisse seu curso agarrando seu pulso.

-Shhh.

A boca dele era como uma brisa de verão roçando seus lábios. Seus dedos já tinham chegado aonde queriam e a mão que antes explorava seu corpo, agora abrangia completamente um de seus seios, chocando-se com o duro mamilo, excitando-a com cada movimento, alterando seu corpo como estava alterando completamente sua boca.

Hermione abriu os olhos e sua respiração acelerou. Tinha seu rosto tão próximo que tudo o que podia ver dele era sua boca. Ele barbeara-se pela manhã e tinha cheiro de tabaco, café e hortelã, mas, essa mão...!

Pôde segurá-la justamente quando ele apanhava o duro mamilo entre o polegar e o indicador e cravava as unhas, fazendo com que ela gemesse.
Custou-lhe muito fazer que afastasse a mão em questão. Tinha medo das novas sensações que estavam despertando em seu corpo. Tinha medo de Harry.

-Ok - disse ele suavemente, sem ofender-se.

Os olhos de Hermione disseram tudo o que precisava saber, e a olhou com tal reverência que foi difícil acreditar no que tinha visto em sua expressão.

-O anzol - recordou ela.

-Sim, mais tarde. Agora quero esse beijo.

O coração pulsava tão rapidamente que quase era impossível respirar. A cabeça dele voltou a inclinar-se para ela, e ficou esperando o contato com sua boca, com uma espécie de sentido da antecipação.

Seus lábios eram quentes e estranhamente carinhosos. Fechou os olhos com um suave suspiro e deixou que ele fazer o que quisesse. Ele se acomodou entre seus lábios trêmulos e fez com que ela provasse a textura dos seus. As mãos de Hermione deslizaram pelos músculos duros das costas de Harry em uma agonia de desejo.

-Está tudo bem – murmurou ele agasalhando-a entre seus braços - Quero tê-la muito perto de mim.

Hermione tocou seu rosto.

-Harry - ela sussurou.

-Levei anos esperando ouví-la dizer meu nome dessa forma - murmurou ele - Anos, séculos...

-Mais - suplicou ela - Mais, por favor...!

Nesse mesmo momento, a língua dele se introduziu por entre os labios de Hermione no calor escuro de sua boca, explorando-a selvagem e minuciosamente.

Um estranho tremor a percorreu quando seus corpos colaram. Desejava-o. Todo seu corpo dizia isso. Saboreou-lhe com todos seus sentidos enquanto ele se ocupava de apertar seu seios com seu peito forte, e suas bocas se uniram apaixonadamente.

Um tremor sensual percorreu o corpo de Hermione, um tremor que fez com que se colase ainda mais ao corpo de Harry. Queria sentir sua pele em contato com a dele, o corpo maravilhoso dele sobre o seu, dentro do dele, possuindo-a. Queria sentir sua boca nos seios ansiosos.

Quando ele levantou de repente a cabeça, foi como se a tivessem atirado ao chão. Suspirou.

Harry afastou-se um pouco para trás e quase rasgou uma parte da camiseta dela.

-Diabos! - murmurou.

O anzol tinha atravessado a camiseta dela e se enfiado no bolso de sua camisa.

Ela riu.

-Parece que fisguei você.

Ele ficou olhando para ela outra vez durante um longo tempo. Parecia que nunca a tinha visto até essa manhã, a julgar pela quantidade de vezes em que ficou olhando para ela.

-Nunca vi você rir assim.

-Porque nunca havia me sentido assim. Quero dizer, tão relaxada, tão contente, aqui, passeando tranqüilamente ... e sendo eu mesma.

-Fique quieta enquanto continuamos fisgados - disse enquanto tentava tirar o anzol do bolso - Maldito seja! Acho que vou ter que cortá-lo.

Então, Tirou do bolso uma velha navalha.

-Sinto muito, garota, mas é a única maneira. Comprarei outra camiseta para você - disse enquanto começava a cortar o tecido.

-Não tem por que fazer isso, afinal foi minha culpa.

-Fique quieta para que eu não corte você - disse deslizando a mão sob a malha outra vez. Hermione sentiu-se tremendamente feminina ao ver a mão morena dentro de sua camiseta, e ficou olhando fascinada enquanto ele manipulava o anzol, Harry sentiu seu olhar e o devolveu.

-Por que não quer que toque em você?

O lábio inferior dela tremeu um pouco.

-É... é que ninguém mexe tanto comigo assim... dessa forma, desde que tinha dezoito anos, Harry.

-Se eu tivesse continuado um minuto mais, estou certo que teria deixado fazer mais coisas, não é? - perguntou ele.

Ela umedeceu os lábios e seus olhos castanhos procuraram incertos os verdes dele.

-Não acredito que isso tenha acontecido.

-E por que não? Eu sou humano, Mione. Posso ser um besta e mal educado, mas sou perfeitamente capaz de desejar a uma mulher.

-OH! Eu não queria dizer isso. Harry você... você já dormiu com outras mulheres, não?

O tempo parecia ter congelado entre eles.

-Sim, mas com homens não - disse ele brincando, mas sem rir.

-É que eu nunca estive na cama com um homem - sussurrou ela.

Ele pareceu achar isso estranho.

-Mas você já tem vinte e seis anos.

Ela sorriu nervosamente. Tê-lo tão próximo a estava afetando tremendamente.

-Eu sei. Acha que deveria me inscrever no livro Guinness dos recordes?

-Não fique me olhando assim.

-Oh, sinto muito - respondeu ela quando percebeu como estava olhando para ele.

-Me excita - disse ele, voltando a prestar atenção no anzo l- Agora, quieta – entregou o anzol para ela assim que terminou de tirá-lo.

-Obrigado.

-De nada – Harry respondeu secamente.

-Harry, eu não queria dizer que... – ela disse, perdendo o fio de seus pensamentos quando olhou nos olhos dele - Não sabia... não tentava...

-Esqueça - respondeu ele indicando a cesta de pesca com um inteligente olhar de compreensão - Faz muito tempo que não saio com uma mulher -disse lentamente.

Foi um impulso, isso é tudo. Não há nada a temer.

-É claro - disse ela, reagindo e controlando o nervosismo.

Comportara-se como uma adolescente tímida e agora sabia, que, embora fosse verdade que ele precisasse de aulas de etiqueta, não ocorria o mesmo quanto a fazer amor. Ele sabia exatamente o que fazer com uma mulher.

Desde que o conhecia, nunca tinha pensado nele como amante, e agora era completamente impossível pensar nele de outra maneira.

Continuaram durante um bom tempo falando de generalidades e, quando pegaram um bom número de peixes, recolheram suas coisas e voltaram para a casa.

-Me diverti muito hoje, obrigado - disse ela.

Não gostava nada de separar-se dele e isso era curioso, já que no passado quisera manter-se fora de seu alcance.

-Eu também - replicou ele.

Ele ficou olhando para ela um instante.

-Quer ficar para jantar? Poderíamos cozinhar juntos o que pescamos.

Ela deveria ter dito que não, mas não o fez. Em vez disso, seu rosto se iluminou e sorriu para ele.

-Ok!

-Você poderia limpar os peixes?

Ela franziu o cenho.

-Harry, me irrita enormemente dar a impressão de que não sei fazer nada, mas dessa vez, vou deixar passar, eu não sei limpar peixes. Meu tio não pescava, você sabe.

-Sim, e limpar pescado não é algo que se aprende na universidade, não é, Senhorita?

Ele não disse aquilo de forma insultante. Ela sabia. Em resposta, acariciou o rosto dele.

-Minhas origens o incomoda, não é?

-Não. Se quiser, posso dizer que pensei muito em você. Até que você chegou, nunca tinha conhecido uma verdadeira dama.

-Acho que haveria algumas vezes em que não pensaria isso de mim – murmurou ela sorrindo e o seguindo até a cozinha.

-Sim, às vezes é um pouco teimosa, eu concordo - nesse mesmo momento, a segurou pelo pulso e a atraiu para si, apertando-a contra seu corpo. -Mas eu gosto de você assim, Mione. Uma mulher com temperamento -murmurou inclinando-se sobre ela – Uma mulher muito apaixonada...

A boca dele apertou-se contra a dela outra vez e Hermione deixou escapar um murmúrio de satisfação, saboreando esse beijo.

Quando ele levantou a cabeça, seus olhos brilhavam com uma nova emoção.

-Por que fez esse ruído? Por medo ou por prazer?

Os lábios dela tremeram e, perturbada, afastou-se um pouco dele.

-Vou começar a preparar o pescado.

-Bem, então, vou cortar umas batatas para fritar.

Foi um jantar tranqüilo. Hermione o desfrutou, mas Harry parecia preocupado.

-O que foi?

-Que não queria ir a essa festa, antes que você quisesse me ensinar a dançar.

Ele estava fazendo de novo. Estava usando seu poder de sedução que ela não conhecia até então.

-Tenho que praticar com alguém, não acha? - perguntou ele quando viu que as dúvidas a estavam assaltando - Acho que essas coisas fazem parte das aulas de como conquistar a uma mulher.

-Você não precisa que ninguém o ensine, e sabe disso.

Ele arqueou as sobrancelhas.

-Ah, não?

-Verdade, você já tem experiência.

-Sim, sei.

Harry se levantou e, dirigindo-se para onde ela estava sentada, segurou suas mãos.

-Alguma vez desejou um homem? Já saiu com algum homem? Ou é sua educação o que a manteve assim tão inocente?

Isso trouxe de volta à sua memória lembranças excessivamente penosas que não queria enfrentar de novo.

-Eu era terrivelmente tímida. Para mim era muito difícil falar com os homens.

-Mas não era neste povoado. Ainda me lembro a primeira vez que nos vimos.

-Eu te dei um tapa - recordou ela sorrindo - Naquele momento não sabia o quanto isso poderia ser perigoso.

-Mas, eu não revidei. Preferia que minha mão caísse a bater em você.

-Neville também sabe disso. Por isso, me chama sempre que você se mete em confusões.

-Parece que Neville não está tão cego como você.

-Cego?

-Não tem importância - disse ele soltando sua mão e acendendo um cigarro - Está escurecendo. É melhor você ir para casa antes que alguém saia por aí falando que ficou aqui, a sós comigo, depois de anoitecer.

-E isso importaria?

-Sim. Não quero que ninguém possa dizer nada de sua reputação. Despediria qualquer um de meus empregados que se atrevesse a dizer que aqui acontece algo impróprio.

-Mas, nessa tarde aconteceu - respondeu ela ruborizando-se.

-Queria ver se era capaz de fazer com que você me desejasse – explicou ele tranqüilamente e olhando-a nos olhos.

Ela se levantou da mesa tão depressa que quase derrubou a cadeira.

-É melhor que eu vá embora.

Ele se levantou também e a acompanhou.

-O que acabo de dizer é muito rude para um cavalheiro? Sinto muito, Mione. Nem sempre penso antes de dizer as coisas. Aceite isso como se fosse um pouco de experiência sexual. Parece que anda precisando disso - Quando chegaram ao alpendre, ela virou-se e ficou olhando para ele.

-Você sente? Sentiria também se eu tivesse mais experiência?

-Eu gostaria muitíssimo que conseguisse essa experiência comigo. Porque, da maneira como eu faria, sendo a primeira vez, você gostaria. Eu me asseguraria disso.

Ela quase não podia andar, seus joelhos tremiam.

-Ei! - gritou ele quando abriu a porta do carro.

-O quê?

-A que horas amanhã?

Ela suspirou e voltou-se. Harry estava de pé no alpendre, apoiado em uma coluna. A suave luz dos lampiões destacavam seu físico perfeito. Estava devastador e ela se perguntou o que ele faria se fosse para o alpendre e lhe desse um beijo.

-Por volta das seis.

-Tenho que me vestir?

-É melhor, se quisermos fazer as coisas direito.

-Em todos os sentidos - ele murmurou ironicamente - Boa noite.

-Boa noite, Harry.

Ela entrou no carro, arrancou e dirigiu como não o tinha feito até então. Estava alucinada. Harry queria dar-lhe lições sexuais! Isso não podia ser, a professora era ela, não ele. Tinha que tomar cuidado, suas lembranças amorosas eram muito doces para deixar que a realidade se intrometesse.

Tinha aprendido da forma mais dolorosa que amar era o primeiro passo para a agonia. Não queria passar por isso outra vez. Não podia! A partir desse instante tinha que manter Harry a distancia. Era mais seguro assim.

Hermione chegou em sua casa e ficou andando de um lado para outro até a hora de deitar-se. Quando o fez, ficou dando voltas na cama durante horas, recordando vividamente o contato das mãos de Harry em seus seios e a ânsia feroz de sua boca sobre a sua.

Tinham passado anos, da última vez em que sentira esse tipo de paixão, e não queria ceder a ela de novo. Mas Harry despertara em seu interior um tipo de emoção que ultrapassava e afogava suas doces lembranças do passado. Nunca antes havia se sentido tão faminta de sexo. Deitou-se de costas e ficou olhando para o teto. Talvez fosse coisa da idade.

Provavelmente o que estava acontecendo com ela era que já não se sentia tão jovem e se encontrava sozinha, como acontecia com Harry.

Podia imaginá-lo devorando-a com o olhar e acariciando docemente seu corpo...

É claro, tudo isso poderia não ser mais que um capricho.

Afinal, ele era sua criação, estava ensinando para ele. Sim, devia ser isso. Mas, se era assim, por que tremia quando pensava nele?

Fechou os olhos e começou a contar carneirinhos.

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