- Acontecimentos natalinos -

- Acontecimentos natalinos -



Sirius agora estava sentado em um pufe do Salão Comunal, mirando incansavelmente a lareira. Ele parecia triste por estar quase só. O Salão Comunal que, muitas vezes, se tornava muito barulhento por causa da algazarra feita pelos alunos, agora estava quase vazio, tomado por um vento gélido que entrava pela janela aberta. Um garoto baixo, com certeza, mais de três anos mais velho que Sirius, debruçava-se no peitoril da janela, olhando para a paisagem. Ele era um pouco mais alto que Sirius e um pouco curvado.
- Dédalo... O que faz aqui? – perguntou o monitor John que descera as escadas do dormitório. – Pensei que iria se divertir no Natal com seus familiares...
- Não vou mais... Meu pai disse para eu ficar aqui como lição... Peguei uma detenção, sabe? Aquele sonserino... O Malfoy! Eu tentei azará-lo... E é isso no que deu... Eu aqui... E aquele imbecil aproveitando o Natal...
- Mas o que ele fez, Dédalo? – perguntou, sentando-se no sofá.
- Retirou pontos da Grifinória à toa! Ele se aproximou de mim no corredor, eu estava carregando um livro que peguei da biblioteca... Inventou lá uma regra e descontou! Eu larguei o livro e o azarei... – e soltou uma risadinha. – Ele ficou cheio de furúnculos... Porém o Apolíneo estava passando por ali naquela hora e me levou para McGonagall... Droga! Nem sei o que vou fazer aqui!
- Calma, Dédalo... Eu preferi ficar... Ajudar os professores, sabe? E você? Er... Sirius, não? – perguntou dirigindo o olhar para Sirius.
- Eu... Bem... Preferi ficar...
- Por quê?! – perguntou Dédalo de repente.
- Problemas familiares... Meus pais não gostaram nem um pouco de eu ter vindo para a Grifinória... Eles vivem dizendo que eu tinha que ficar na Sonserina como minhas primas... Belatriz e Narcisa... – e ao ver a cara de espanto dos dois, perguntou: - Qual o problema? Conheceram-nas?
- Bem... Como grifinórios... Nunca gostamos dos sonserinos... Está no sangue! – dizia John. – E do jeito que eles agem... Não vamos gostar deles tão cedo!
Sirius sorriu, mas logo voltava sua atenção para a lareira crepitante. Dédalo fechara a janela, e o ambiente começara a esquentar. Sirius se lembrou de Belatriz. Apesar de nunca ter gostado da personalidade fria da prima, sempre a achou muito bonita. Levantou-se, desolado, deixando os outros dois conversando sozinhos, e saiu do salão.
Ele não tinha o que fazer na realidade. Continuou descendo os degraus e entrando em corredores até uma voz chamá-lo. Muliphen se aproximava a passos apressados. Ele cumprimentou com um cordial bom dia.
- Bem... Eu preferi ficar...
- Eu percebi – respondeu Sirius. – Só não entendi o porquê... Seu irmão foi.
- Ah sim! Eu preferi ficar, terminar os deveres e... Conhecer um pouco o castelo! Meu irmão já disse que nem o próprio Dumbledore conhece todas as passagens... – ao ver o sorriso no rosto do amigo continuou: - Alguma idéia?
- Ah não! Mas Murzim disse para tentar ir batucando todas as paredes com a varinha... Só assim eu descobriria algo! Só disse para eu ficar de olho na estátua da bruxa corcunda de um olho só – e riu. – E você? Terminou os deveres?
- Não... Nem sei se vou terminar! Não estou com ânimo para isso!
- Eu te ajudo...
Porém, Sirius não escutou. Avistou Snape e um sorriso malicioso se crispou em seus lábios. Não tinha com o que se divertir, mas, para ele, era sempre engraçado quando Severo ficava irritado.
Seguiu-o a distância, com Muliphen na sua cola.
- O que vai fazer? – perguntou curioso.
- Ainda não sei... Mas vou tentar me divertir um pouco...
O amigo também odiava os sonserinos. Uma vez eles o azararam, em bando. Murzim ficara irado quando vira tentáculos nascendo do rosto do irmão, mas nada pode fazer, poderia acabar pior quando era mais novo do que os infratores.
Continuou seguindo-o até o Salão Principal, onde Severo se separou dos colegas e partiu solitário para fora do castelo. Uma idéia surgiu na mente de Sirius. Ele aproveitou a neve para preparar algumas bolas e, brandindo a varinha, murmurou:
- Wingardium leviosa.
As dez bolas de neve feitas por ele e Muliphen flutuaram na direção de Snape, e o acertaram em cheio na cabeça. Sirius ainda tentou se jogar atrás de um arbusto branco por causa da neve, mas Snape o viu antes. Seus olhos pegaram fogo, ele ficou muito vermelho.
“Só falta a neve derreter em volta dele...”, comentou Sirius.
- POR... QUE... FEZ... ISSO?! – berrou o mais alto que pode como se quisesse chamar atenção.
- Bah! Não gostei da sua cara... Muito menos do seu cabelo... – respondeu Sirius descontraído, saindo detrás do arbusto e caminhando em direção a Snape. – Não conhece o novo produto que elimina o óleo natural? Ou quem sabe você possa doar um pouco para os cozinheiros do castelo...
- Cala... a... BOCA! – ele parecia que iria explodir.
- Estressou... – comentou Muliphen no ouvido de Sirius, e voltou-se para Severo. – Ih... Calma. Foram apenas bolas de neve... Ou será que nunca teve diversão?
- Muita diversão atacar o adversário pelas costas!
- Adversário? Quem propôs um duelo? Não fui eu... – disse sarcasticamente.
- Então me ataque quando um professor estiver passando!
Sirius não respondeu, pensou até em mirar um soco na cara dele, mas desistiu, seria demais.
- Aprenda a conviver! – respondeu Sirius seco, olhando-o com desgosto. – E a se divertir... Senão vai acabar robotizado, Ranhoso.
Virou as costas para um Snape púrpura e voltou para dentro do castelo, com Muliphen a seu encalço. O garoto não estava rindo.
- Será que não sabe o que é se divertir?
Na realidade, Sirius tinha adorado aquilo. Ele estava tentando se controlar para não rir.
Os dois voltavam para seus salões comunais, distraídos, já até tinham mudado de assunto. Quando Muliphen se separou, Sirius rumou sozinho para a torre da Grifinória. Esta já estava deserta, apenas o calor do fogo para acolher a pessoa que chegasse. E Sirius se aconchegou naquele sofá, despreocupado.
Não cochilou por muito tempo. Chegou até a olhar para o relógio de pulso que sempre escondera dos pais. Mais uma vez, algo chamou sua atenção: Lupin entrando no Salão Comunal. Mas... O que ele estava fazendo ali? O garoto se sentou perto de Sirius.
- Olá... – cumprimentou com um sorriso.
- Oi... – respondeu Lupin.
- E como vai sua mãe? Está melhor?
- Ah... Ela melhorou um pouco...
- E por que preferiu ficar aqui, Lupin? Quando você poderia estar ao lado deles... Ajudando-os... – Sirius fez o tipo ingênuo.
- Meu tio me enviou uma carta dizendo que eu poderia ficar... Que ele cuidaria da minha mãe... – e sorriu de leve.
Sirius ficou muito quieto depois de responder com o usual “Hum”. Mesmo assim, ainda achava que aquela não fora das melhores desculpas.
“O tio iria cuidar da mãe... E daí?”, pensava. “Ele poderia ter ido comemorar com a família do mesmo jeito! Ou ele prefere ficar aqui? Ou melhor... Necessita ficar aqui?”
- Mas, então... O que vamos fazer nessas férias? – perguntou um Lupin animado.
- Não sei... Por mim, irritar o ranhoso...
- Ranhoso?
- O Snape!
- Nossa... Para que ofendê-lo?
- Eu não estou ofendendo... A não ser que a verdade seja uma ofensa...
Sirius começou a seguir, então, a idéia de Tiago: começar a fazer uma amizade com Lupin e, aos poucos, tentar descobrir o que o amigo tanto queria esconder. Os dois continuaram conversando por algum tempo.
- Já jogou xadrez de bruxo? – perguntou Lupin curioso.
- Não... Nunca me interessei por isso...
- Quer tentar? Eu te ajudo!
Lupin logo voltava do dormitório, trazendo um tabuleiro que possuía uma gavetinha embaixo. Depois que as peças, que estavam dentro da gavetinha, foram colocadas em cima do tabuleiro, Lupin começou a explicar o movimento das peças. Mas o que despertou interesse em Sirius foi como as peças eram tiradas de jogo.
- Rainha na d5...
- Não, Sirius! Vai perder a rainha!
Mas ele nem mais estava prestando atenção em Lupin. Olhava para a sua rainha se locomover até o bispo do adversário e, com uma espadada, destruir a peça. Porém um peão que protegia o bispo destruiu a rainha de Sirius, que nem ao menos se importou, começou a rir.
- Qual é a graça de destruir a peças e, por outro lado, perder?
- Toda!

O dia seguinte amanheceu com uma neve ainda mais densa. O frio estava pior do que nunca e, mesmo agasalhados, os alunos tremiam da cabeça aos pés. Sirius nem ligou, queria aproveitar a neve. Ele, Muliphen e Lupin travaram uma guerra. E Sirius, para não perder a chance, jogou uma das bolas em Severo quando este andava pelo gramado da escola que estava coberto de neve.
O garoto apontou a varinha para Sirius e murmurou algo. No instante seguinte, a veste de lã de Sirius começou a pegar fogo, e ele teve que se jogar na neve para apagar o fogo. Tarde demais, havia vários buracos na sua veste nova. Sirius ficou enfurecido, encarando Snape de longe.
- Ele me paga... Se é guerra que ele quer... Ele terá!
- Calma, Sirius... Brigar não é o melhor meio... – Muliphen tentou convencer Sirius, mas o outro não lhe deu ouvidos, retornava para o castelo emburrado.
Na hora do almoço, Lupin e Sirius estavam travando outra partida de xadrez bruxo. Sirius, ainda inexperiente, estava perdendo mais uma vez. Mesmo com as várias dicas de Lupin, Sirius acabava na mesma.
Snape passara a ser extremamente cauteloso, como se esperasse que Sirius e seus amigos saíssem de outro corredor e o enfeitiçasse. No entanto, Sirius parou de atormentar o garoto por alguns dias. Estava agora com companhia de Lupin.
Sirius acordou quase às dez horas no dia seguinte. Com um grande bocejo se levantou ainda sonolento. Olhou para as outras quatro camas vazias do dormitório. Sentia um pouco de saudade de Tiago e Pedro. Aqueles dois estavam sempre atrás dele, muitas vezes até importunando, mesmo que mal tivessem se conhecido.
Encontrou apenas John sentado em uma poltrona no salão principal. Ele mirava o brasão da grifinória. Seu distintivo reluzia na claridade vinda da lareira acesa. Com um cordial cumprimento, saiu do salão. Desceu as escadas, na mesma direção de sempre. Diria até que poderia fazer aquele percurso de olhos fechados, tendo assim decorado o caminho.
O café também foi a mesma monotonia de sempre. Lupin não mais estava lá. Só foi encontrá-lo no exterior do castelo, absorto na leitura de um livro, debaixo de uma árvore coberta de neve. Sirius preferiu não atormentá-lo, quando parecia realmente querer ficar sozinho.
Sentou-se na margem do lago negro, sem muito que fazer. Ao olhar seu reflexo no lago, por um segundo teve a impressão de encarar um enorme cão negro, mas o vento gélido vindo da água o fez piscar os olhos e não havia mais o animal o encarando.
Seus pensamentos foram longe. Aquele lago lembrou-lhe um Natal que passou na casa de seu tio Alfardo. Ele morava à beira de um lago, não tão imenso quanto aquele, contudo era de mesma beleza.
O céu estava em um cinza azulado e havia parado de nevar. Tudo parecia tão calmo, tão monótono. Sirius sentiu o sono vir por algum motivo, teve a vontade de deitar naquela neve, sem se importar com o frio, e descansar. Fechou os olhos insolentemente, porém não dormiu. Estava atento a qualquer barulho, também queria um tempo para ficar um pouco sozinho, apesar de não ter nenhum livro para ler – muito menos gostava de ler – como Remo, para passar seu tempo livre.
Sem deveres, sem preocupações, sem atormentações, sem HISTÓRIA DA MAGIA! Ele mal acreditava que conseguia detestar aquela matéria, a qual deveria tanto gostar, quando sempre gostou dos acontecimentos e narrações sobre guerras e fatos históricos. Para ele, a causa era o professor. Lembrava-lhe um aspirador de pó antigo que falhava ao limpar o chão. Pior mesmo era como ele errava o nome dos alunos.
“AH! Por que estou pensando nisso? Eu queria esquecer...” pensou por fim, abrindo os olhos e procurando algo para distraí-lo.
Sem deveres, sem preocupações, sem atormentações, sem HISTÓRIA DA MAGIA! Ele mal acreditava que conseguia detestar aquela matéria, a qual deveria tanto gostar, quando sempre gostou dos acontecimentos e narrações sobre guerras e fatos históricos. Para ele, a causa era o professor. Lembrava-lhe um aspirador de pó antigo que falhava ao limpar o chão. Pior mesmo era como ele errava o nome dos alunos.
“AH! Por que estou pensando nisso?! Eu queria esquecer...” pensou por fim, abrindo os olhos e procurando algo para distraí-lo.
Viu ao longe Snape passar com um colega mais alto e, com certeza, mais velho.
“Sempre com um guarda-costas... Ou quem sabe ele está chantageando-o para não levar uma surra?” Riu da própria piada.
Voltou seu olhar para o lago negro. De repente a água estremeceu, como se algo estivesse se mexendo, algo imerso. Ele tentou chegar o mais perto que pôde para observar o que estava acontecendo.
Uma criatura passou bem diante de seus olhos. Possuía enormes tentáculos que se mexiam rapidamente na água para ela conseguir se locomover. Ele quase caiu no lago ao tentar ficar bem na ponta da margem para apreciar a criatura o mais perto o possível. Ela parecia fugir da alguém. Ela fugia para longe do castelo.
E Sirius sentiu uma presença maligna. Não que isso fosse o normal dele, ele não se importava com isso, contudo, algo o fez olhar para um vulto que andava para o lado oposto de onde a criatura tinha ido. Ele trajava uma capa de viagem manchada pelo tempo, mantinha seu rosto oculto. Entrou no castelo sem hesitar.
Sirius sofreu a terrível tentação de segui-lo. Não suportou...
Ele estava cruzando um corredor, quando teve que de espremer entre uma estátua e a parede quando o outro olhou para trás. Ele era ainda jovem, detentor de olhos negros e terrivelmente frios. Sirius preferiu ter caído no lago negro e congelante do que ser pego por aquele ser. Ao sair de trás da armadura não viu mais ninguém... Ele parecia ter sumido em uma fração de segundos!
Preferiu não procurá-lo mais, já fora muito estranho ele aparecer assim: de repente; e depois desaparecer do mesmo modo. Agora ele estava totalmente confuso. Seria apenas imaginação? Não! Seria impossível ele ter inventado aquilo tudo... E por que então a criatura do lago teria fugido? Se é que ela estava fugindo...
Retornou ao salão principal, agora vazio, e sentou-se em uma cadeira perto de uma mesinha. Aquela sensação de frieza no olhar... Ele nunca havia experimentado algo igual, apesar de, muitas vezes, sua mãe tratá-lo com olhar frio e até o modo como sua própria prima Belatriz encarava os desconhecidos, nada havia se comparado a isso. Sentiu uma sensação de frio, apesar das janelas estarem fechadas... O retrato da mulher gorda abriu passagem para Lupin entrar no salão. Ele parecia cansado, e carregava um livro debaixo do braço.
- Bom dia! – cumprimentou cordialmente e, ao não ouvir uma resposta, continuou. – Você está bem?
- Estou! – respondeu automatizado, não parecia o mesmo.
- Duvido... Fala a verdade...
- Er... Alguém pode aparatar em Hogwarts? – em um instante pensou ter achado a resposta para sua pergunta, mas mesmo assim ainda era apenas uma dúvida. Ele já tinha visto suas primas realizarem tal feito, onde se desaparece de um lugar e reaparece em outro em questão de segundos.
- Bem... Sabe o que é isso? – e pôs o livro grosso que carregava em cima de uma mesa perto dos dois. – Hogwarts: uma história. Ele conta tudo sobre o castelo... Não! Não tudo! – completou ao ver o brilho nos olhos do amigo. – E... Aqui, contam que é impossível haver aparatação humana em Hogwarts. Então... Fora de questão... Mas por que a pergunta?
- Nada...
- Fala a verdade!
- Hoje eu vi um cara desaparecer do nada aqui dentro!
- Impossível!
- Eu com certeza não estou enlouquecendo... Ele usava uma capa preta de viagem e possuía terríveis olhos negros... Ele entrou no castelo, eu o vi da margem do lago! Eu o segui e... Ele desapareceu!
- Ele não deve ter desaparecido... Isso impossível na prática... A não ser que ele não estivesse lá!
- E ele estava!
Remo continuou falando os vários motivos da teoria de Sirius estar errado, mas ele nem deu ouvidos, surgira outra idéia em sua mente... Algo que pudesse fazer a pessoa desaparecer... Sem ela ter realmente desaparecido!
“Tiago já comentou isso comigo...”, pensou. “Ah! Ele disse algo sobre... Os pais... É CLARO! Uma capa de invisibilidade!”
Tiago comentara uma vez com ele sobre seus pais, e deixou escapar que seu pai possuía uma destas raridades. Ele encarou Lupin e disse, por fim:
- E se fosse uma capa de invisibilidade? – o outro ficou sem palavras, apenas balbuciou onomatopéias que juntas não formavam frase alguma.
- Er... Ah... Hum... Er... Pode até ser...
Sirius riu com o desconcerto de seu amigo.
- Mas mesmo assim... – começou Lupin. – Por que ele não entrou com ela, se não queria ser visto?
Não houve resposta, estava muito ocupado contemplando sua genialidade que se lembrou de algo terrível: e se, já que usava a capa, ele o vira seguindo-o? Tentou relaxar... Se o homem ainda tivesse na escola, usando a capa de invisibilidade, o que poderia garantir a segurança dos alunos.
- Mas não acho que ele seja perigoso... – Remo pareceu adivinhar o que Sirius estava pensando no momento. – Dumbledore é um grande bruxo... Seria muito difícil algum desconhecido entrar aqui sem que Dumbledore tenha conhecimento... Bem... Enquanto ele estiver aqui! Deve ter algum motivo para este visitante, de longe – completou –, ter vindo ao nosso colégio... Eu não sei... Mas acho que não deve transmitir perigo?
- Ah, não? – perguntou o outro ironicamente. – Então por que a criatura do lago fugiu dele?
- Criatura do lago? É a lula gigante de que todos falam?
- Tanto faz!
- Pode ser apenas coincidência! Como eu já disse... Dumbledore não iria por os alunos em risco apenas para receber um visitante...
Sirius não esqueceu aquilo tão cedo, apesar de ter feito tudo para se distrair dos pensamentos.

- Montrose Magpies?! – perguntou Muliphen cinco dias depois, quando eles comentavam sobre times de quadribol.
- Sim! Algo contra? – perguntou Sirius levantando a sobrancelha.
- Não... Nós torcemos para eles também! Digo... Eu e meu irmão!
- Ah...
- Murzim encheu o quarto dele de pôsteres dos Magpies... Eu gosto... Mas não sou fanático.
- Muito menos eu... Eu tinha um pôster especial deles... Nada demais... Ele passa apenas alguns minutos de jogo e para... As melhores jogadas. É interessante.
- Incrível! – exclamou Muliphen.
Os dois e Dédalo estavam sentados na escadaria da estrada da escola. Dédalo não se mostrava muito interessado, parecia estar ali por não ter mais o que fazer.
- Torço pelos Chudley Cannons...
- Até que eles jogam bem... Mas... De qualquer forma... Eles perderam os últimos cinco jogos. – havia um tom de provocação na voz de Sirius.
- Foram apenas três.
- Tanto faz! – irritou-se ao ser corrigido espontaneamente. – Pelo menos o Montrose não perdeu nenhum até agora! E eles vão ganhar a taça! Pode crer!
- Sei... – respondeu o outro distraído.
- É sério que você está lendo o livro Hogwarts: uma história? – perguntou Muliphen curioso para Lupin.
- Ah sim!
- E o que achou?
- Ótimo... Ótimo... Estou quase no final.
- Hum... Eu iria pegar depois na biblioteca. Mas não tinha...
Sirius já estava achando que tudo estava calmo demais para o que pensava que poderia acontecer. Várias vezes pensou em como desmascarar a pessoa, ter certeza de que tudo estava seguro... Nada veio a sua mente, até ouvir aquela palavra:
- William Gorgeus que havia me recomendado este livro! E realmente, é muito interessante! Ele me indicou alguns outros depois que eu comentei sobre meu interesse por este tipo de leitura – comentou Lupin.
- William Gorgeus... – repetiu Sirius.
- Claro! O professor de defesa contra as artes das trevas!
- Não! Eu sei! Só estava pensando...
Disse que iria pegar algo no salão comunal e foi se distanciando do grupo. Pensava se seria a pessoa certa para comentar o acontecimento... Se William o entenderia e não diria que ele está imaginando coisas ou o julgaria mais um pré-adolescente com imaginação demais.
Subiu lances e mais lances de escada até decidir ir até a sala do professor. Nem estava se importando se os amigos estavam o esperando ou não. Pouco tempo depois estava batendo na porta da sala do seu professor de defesa contra as artes das trevas e, ao escutar a voz tremida de William em tom de permissão, entrou sem hesitar.
A sala possuía um ar aconchegante e um cheiro forte de algo que não lembrava Sirius de nada. Ele olhou para uma mesa logo no final da sala e, sentado em uma cadeira, lá estava seu professor com um sorriso de curiosidade no rosto.
- Bom dia, Sr. Black – cumprimentou cordialmente enquanto colocava os óculos.
- Bom... dia... – respondeu o outro.
- Bem... Por que o vento gélido do Natal o trouxe aqui, Sr. Black?
- Eu... Tenho uma dúvida... professor.
- Hum... Sente-se! – e indicou uma cadeira logo na frente dele onde Sirius sentou. – Uma dúvida nas férias? Seria por causa de algum dever que passei? Tentando aquecer a cabeça deste tempo frio?
- Não... Não é uma dúvida sobre a matéria. Só que... – ainda estava inseguro se poderia mesmo continuar aquela conversa com o professor.
- Sim... Fale...
- Bem... O senhor consegue pressentir quando o mal se aproxima?
- Digamos que há vários modos de saber... Há vários artefatos que podem nos ajudar a isso – ele parecia estar se divertindo.
- Sim... Mas o senhor poderia mesmo sentir a presença maligna de alguém?
- Quem, Sr. Black?
- Não sei... Qualquer um...
- Há auras negras, Sr. Black... Pessoas sombrias... Olhares frios até demais! Mas... Se eu não me engano o senhor tem um ponto de referência.
- Como?
- Está se referindo a alguém... – explicou calmamente com sua voz suave e tremida de sempre. – Senão não viria de tão boa vontade aqui, se não me engano.
- Não! – disse espontaneamente e depois viu que respondera de modo brusco o qual mostrava que mentia. – Quero dizer... Eu senti uma presença muito ruim... Aqui! Na escola...
- Interessante... Algum outro fato estranho relacionado a este?
- A lula gigante do lago negro estava fugindo de onde vinha a presença...
- Hum... E realmente havia alguém?
- Eu vi! Uma... pessoa!
- Quem?
- Não consegui ver o rosto, estava usando uma capa de viagem e o capuz cobria o rosto... Pensei que fosse um vulto imaginário.
- E?
- Eu o segui.
- E?
- Ele sumiu!
- Hum... – o professor batia levemente os dedos sobre a mesa, parecia pensar no que Sirius acabara de contar. – Olha, Sr. Black, o modo como lidou com a situação não foi plausível! – ele assumiu uma expressão séria. – Aonde já se viu alguém correr de braços abertos para o perigo? Sinceramente... Se fosse mesmo perigoso ele poderia tê-lo atacado! Tudo bem que Dumbledore está aqui e você não correria tanto perigo, mas pense: e se você estivesse sozinho?
- Então quer dizer que ele não oferecia perigo?
- Eu não disse isso. Vamos... Pense no que fez.
- Eu sei que fiz besteira... Mas fiquei com medo que ele fosse uma ameaça...
- Contudo, não foi o dos mais inteligentes bruxos que sentiu a presença maligna e correu em direção a ela. Olha... Você é jovem demais e ainda não tem um bom preparo para o que der e vier. Você mal completou o primeiro ano de Hogwarts! Teria sido mais fácil contatar algum professor ou monitor!
- Mas, professor, ele sumiu! Como ele fez isso?
- Sumir? Ele por acaso evaporou na sua frente?
- Não... Na realidade eu me escondi atrás de uma estátua para ele não me ver e quando espiei para o lugar onde ele estava não existia mais nada!
- Então você não viu como ele foi embora... Alguma idéia? – perguntou como se fosse um teste.
- Eu pensei em aparatação...
- Não se pode aparatar nos terrenos do colégio – corrigiu o professor.
- E então me lembrei das capas de invisibilidade!
- Eu creio que não? Senão você nunca o teria visto! Se ele realmente quisesse ser discreto... Ele não iria por a capa depois de passar por uma multidão!
- É... Lupin estava certo... – comentou para si.
- O que o senhor disse? – perguntou o professor com um sorriso.
- Nada... Quero dizer – completou ao ver a sobrancelha do professor erguer. – Eu gostaria de saber como ele sumiu então?
- Primeiro o senhor tem que ter certeza de que ele esteve lá...
- Ele esteve! – interrompeu o professor ferozmente.
- Vá com calma, Sr. Black!
- Desculpe-me, professor... Só que eu não sei como ele foi embora?
- Há sempre uma explicação... Mas eu tenho certeza de que ele deveria ter assuntos a tratar com o professor Dumbledore... – de repente ele começou a tossir.
- O senhor está bem, professor?
- Estou... Estou... – completou tentando se recompor, porém sua voz saiu enfraquecida. – Dumbledore é meu amigo, o conheço há muito tempo... Estudamos juntos, sabe? Nós dois e o velho Elifas... Se bem que Elifas era ainda mais amigo dele. Bem... Esquece... Viajei no tempo novamente... Voltando ao assunto: ele não deveria realmente oferecer perigo. Conheço Dumbledore, ele não deixaria um estranho entrar sem ter conhecimento! – retornou a tossir. – Mas tenho certeza de que não era nada demais, Sr. Black.
- Mesmo assim, como ele sumiu?
- Hogwarts tem seus segredos! Ninguém sabe todos! – e riu seguido de mais tosses. – Desculpe-me estou enfraquecido com o tempo...
- Mas o senhor está pálido! O senhor está bem?
Sirius começara a ficar preocupado, o professor estava com os olhos caídos e seu rosto estava extremamente pálido. Parecia estar com uma terrível anemia. Ele chegou a assentir com a cabeça, contudo, alguns segundos depois, tombou no chão ainda tossindo. Ele tentou se levantar, mas estava fraco demais.
- Professor? Professor? O que está havendo?!
- Eu... Não sei!
Sua próxima tosse foi seguida de sangue. Sirius arregalou os olhos para William que tentava se por em pé em vão. Seus olhos estavam muito vermelhos, porém ele sorria. Pôs seu braço por cima de seu ombro e tentou carregar o professor para a enfermaria, mesmo que a distância dificultasse um pouco isso.
- Madame... Pomfrey... – repetia ele.
Seu sorriso murchou em tristeza, ele chorou lágrimas de sangue.
- O que é isso?! Professor?! Alguém me ajude! Eu já volto!
Ele saiu desembestado pela porta e saiu correndo para onde o vento o levasse, e ele torcia para que fosse a sala de algum professor. A única sala que já tinha entrado era a de Minerva, e sabia muito bem onde era. Em poucos minutos estava lá, espancando a porta o mais desesperadamente o possível. Quando esta se abriu ele se deparou com sua professora de Transfiguração com os cabelos soltos e desgrenhados, ela não estava usando a elegante roupa que normalmente usava.
- O... professor... WILLIAM! Está mal! Caído... no chão d-da sala dele! – berrou esbaforido pela correria. – Ajuda!
A professora saiu ao encalço de Sirius que a levou até a sala do professor que estava inconsciente no chão, com sangue respingado nas vestes e olhos vidrados. Suas veias estavam saltadas e mais escuras que nunca. Ele achou que aquilo poderia ser o fim para seu professor. Porém ele ainda foi levado para a ala hospitalar. Madame Pomfrey pediu para voltar a aproveitar o que ainda restava do dia e deixasse que ela cuidasse de William.
Sirius não demorou muito para contar uma versão repleta de suspense e aventura para Lupin e Muliphen que se encontravam sozinhos no mesmo lugar onde os largara antes de ir para a sala do professor de defesa contra as artes das trevas.
- Caramba! E ele está bem? – perguntou Muliphen com horror no rosto.
- Não sei... Espero que sim! Levei um susto... E começou com uma simples tosse!
- O que será que aconteceu? – perguntou Lupin.
O professor não deixou a ala hospitalar tão cedo e todos queriam mais detalhes sobre os acontecimentos. Os outros ainda não sabiam do que acontecera ao professor. Ninguém chegou a saber a verdadeira causa do sangramento de William, sendo que seu lugar na mesa dos professores ficou vazio por vários dias seguidos.
E assim os dias passaram... Quando faltavam apenas três dias para o Natal, todos que permaneceram no castelo já estavam mais agitados. Os fantasmas haviam começado a cantar músicas natalinas pelos corredores. Sirius e Lupin já estavam mais descontraídos quando conversavam entre si. Sirius fez tudo para ganhar a confiança do outro, e conseguira! Ele se provou leal. Agora eram os três: ele, Lupin e Muliphen; que andavam juntos pelo castelo, como irmãos.
- E aí, Lifen? Já conseguiu descobrir alguma passagem? – indagou Sirius rindo.
- Não... Ele tinha deixado uma pista que eu já até desvendei! Algo ligado à bruxa de um olho só... Parece que é preciso tocar com a varinha nela e dizer algo... Mas não sei...
- Acho que descobri, Lifen! – Sirius parou de chofre. – Talvez você tenha que dizer a maior das verdades! Tente chegar perto da estátua e murmurar: “Snape tem cabelo super oleoso”... Se conseguir me avisa, tá?
Todos riram. Lupin se demonstrou meio receoso, como se preferisse não ter rido. Snape escutara, o que demonstrou que a teoria de Lupin estava certo. O garoto passou como um foguete cruzando a frente deles.
- Ops... – comentou Sirius sarcasticamente. – Esqueci de por o pé na frente... Que pena... – e riu sozinho.

Sirius acordou bem cedo na manhã de Natal. A neve caía lá fora em floquinhos que respingavam na janela do dormitório masculino da Grifinória. Quando abriu as cortinas do dossel, viu uma pilha de presentes. Adiantou-se para abri-los. Lupin o observava de sua cama, com um olhar curioso.
- Veja! Ganhei um onióculo do meu tio Alphard! Incrível! – mostrou a Lupin o aparelho. – Oba! Andrômeda aproveitou para me dar um bando de doces... Olha só! – disse abrindo um grande pacote cheio de diferentes doces. – Quer um pouco?
- Não... – disse o garoto sem jeito.
- Toma... Pega um pouco! – jogou um embrulho de sapos de chocolate e varinhas de alcaçuz para o colega. – E pode ficar com este bolo de caldeirão...
- Nossa! Obrigado!
- Hum... Tiago! Ele deixou um presente para mim... E... Um bisbilhoscópio... Hum... Minha mãe e meu pai deram estas... MEIAS! Que se... MOVEM! Olha só! – disse Sirius apontando para o desenho de um bruxo lançando um raio verde em outro bruxo e escondendo a varinha. – Até que é legal... E... Bem... O que você ganhou Lupin?
- Ganhei uma veste que papai me passou e... Só. – disse meio entristecido.
Sirius olhou para o garoto, com um pouco de pena. Pensou em algo para dar ao garoto, mas não conseguiu pensar em nada no momento. Olhou para seus próprios presentes. Encostou a mão em um pacote que estava escrito bolos de caldeirões, escondeu a etiqueta que estava endereçada para Sirius, e empurrou a caixa para Lupin.
- E isso eu acabei esquecendo de dar pra você! – disse sorrindo ao ver o brilho nos olhos do colega.
- Obrigado, Sirius.
O garoto abriu o pacote e retirou o primeiro bolo de caldeirão. Devolveu as varinhas de alcaçuz e sapos de chocolate e aproveitou o bolo, deixando os outros para depois. Pôs em cima de outra caixa ao lado de sua cama. Mas o que esta outra caixa seria? Ele nem ao menos se deu o luxo de abrir... Parecia disfarçar... Como se ela não existisse. Sirius preferiu poupar o interrogatório.
Na hora do café da manhã, notou Lupin acrescentar um pó ao seu suco de abóbora. Muliphen entrou correndo no salão principal carregando uma tábua. Ele se aproximou dos garotos.
- Aceitam uma partida de xadrez bruxo? – perguntou excitado, deixando a tábua em cima da mesa.
Era um tabuleiro de xadrez, em cristal. Logo, ele depositou outra caixinha do lado, essa de madeira. Lupin abriu curioso, como se nunca tivesse visto nada igual. Dentro havia peças em cristal de bruxos famosos.
- Veja... Aqui... O Merlin como o rei! – e retirou uma das pecinhas, mostrando-a.
- Incrível! – Lupin parecia abismado.
- E olha o que acontece quando colocamos no lugar certo...
Ele pegou a pecinha que tinha colocado em cima da mesa. Era de um bruxo alto, barbado que carregava um cajado. Quando Muliphen colocou a peça no lugar do rei, Merlin brandiu o cajado e ficou se movimentando no mesmo lugar, como se estivesse atento.
- Fantástico... O meu só se movimenta quando é para destruir outra peça...
Depois de vários incríveis testes daquele tabuleiro, onde as peças se destruíam como uma guerra, e ao serem postas de novo na caixa de madeira se recompunham, Muliphen voltou com o tabuleiro para o seu dormitório. Os outros dois, que já tinham terminado o café, estavam subindo pelas escadas, de repente Nick-quase-sem-cabeça atravessou uma parede e um deles.
- Ah! Desculpe-me... – desculpou-se o fantasma ao ver a cara de espanto de Sirius ao atravessar um fantasma. – Mas... Aproveitando muito o Natal?
- Sim! FELIZ NATAL, Sir Nicholas! – bradou Lupin alegre.
- É isso aí! Aproveitem!
- Claro, Nick! – respondeu Sirius animado.
- Tem que ter o espírito natalino... Por falar nisso... Aonde ele foi? – e saiu olhando para os lados, até desaparecer por uma parede.
- Espírito natalino? – perguntou Lupin curioso a Sirius, e este deu com ombros.
- Se existe, deve estar por aí... Senão... Foi uma das piores piadas que ouvi...
Muliphen encontrou com os dois quando estes estavam passando pelo quarto andar.
No final, todos aproveitaram. E assim passou o Natal! Tudo parecia ótimo! O único que começou a andar receoso depois do Natal foi Lupin. Ele sempre dava a mesma resposta para todos: “estou bem”, quando estes perguntavam se acontecera algo. No dia trinta e um de dezembro, Muliphen e Sirius caminhavam pelos terrenos do colégio, agasalhados. Já era de tarde, e eles tinham saído para pegar um pouco de ar puro, depois de terem ficado trancados em seus salões comunais.
- Lupin disse que queria ficar no salão... Disse que aqui estava muito frio. – comentou Sirius, brincando com a neve que caía. – Eu não acho! O dia vinte e cinco foi mais frio do que este está sendo!
- Concordo... Há algo nisso... Mas é melhor deixar para lá... É capaz dele estar passando mal...
- Então ele poderia ir ver Madame Pomfrey do que ficar trancado naquele salão! Ah...
Sirius sentou-se diante do lago negro. O lago emanava uma brisa gélida que o fez estremecer. O garoto estava entediado, não fizera nada pela manhã e, do jeito que estava, não iria fazer algo tão cedo. Olhava para o horizonte cinzento, aquele céu âmbar. Desceu os olhos para o lago negro...
Depois do jantar, Sirius subiu as escadas para o salão comunal. Lupin não comparecera ao jantar, e o garoto estava achando isso muito suspeito. Apenas Dédalo, John e uma garota estavam discutindo, sentados no sofá do salão. Sirius subiu as escadas e Lupin também não se encontrava no dormitório.
- Vocês sabem para aonde o Lupin foi? – perguntou ao retornar para a sala aconchegante.
- Não – responderam em uníssono.
“Ótimo... Ele não pode ter ido visitar a mãe... Muito menos sair das propriedades do colégio a essa hora... Acho que só existe um lugar aonde ele possa estar...”, pensava enquanto descia, às pressas, as escadas mágicas. “Espero que não seja um dia daqueles...”
E sua teoria comprovou-se estar errada ao encontrar a ala hospitalar vazia. Nem ao menos madame Pomfrey estava lá. Tudo estava quieto demais. Voltou ao dormitório sem mais demoras e, no dia seguinte, não encontrou Remo no café da manhã.
- Me passa as batatas cozidas com molho de mel com laranja-verde? – pediu Dédalo ao seu lado.
Sirius empurrou o prato com a abóbora, estava distraído com os pensamentos.
- BATATAS! Ah! Esquece... Eu mesmo pego! – disse o garoto ao ver que Sirius ainda estava distraído, levantando-se e pegando a tigela de batatas.
Depois do almoço, quando Sirius estava saindo do salão principal, depara-se com Muliphen.
- Sirius! Lupin está na enfermaria... Eu aproveitei para dar uma passada lá... Venha comigo! – puxou o outro pelo braço.
E ele estava certo: Lupin estava dormindo em uma das camas bem arrumadas da ala hospitalar. Ele possuía cicatrizes horríveis que ainda sangravam, elas estavam em vermelho vivo. Sirius se aproximou do garoto, assustado. Madame Pomfrey se aproximou com uma bandeja nas mãos. Era uma bruxa que aparentava quase quarenta anos, alta e magra, seus cabelos já estavam ficando grisalhos.
- Com licença... Remédio do jovem Lupin! E saiam daqui! Vão acordá-lo! – disse tentando espantar os garotos.
Lupin abrira os olhos devagarinho, encarando todos. Estremeceu ao ver Sirius e Muliphen, como se não esperasse isso. Ele tentou se sentar, mas estava com o corpo dolorido demais para isso.
- Beba isso, Sr. Lupin! Vai fazer com que suas cicatrizes curem mais rápido do que o normal! – disse madame Pomfrey, entregando um copo para o garoto, que bebeu sem reclamações, apesar de sua cara de desgosto. – Muito bem! – e se afastou.
- Mas... O... O que estão fazendo aqui? – perguntou com uma voz rouca.
- Viemos ver o que aconteceu com você, é claro! – disse Sirius.
- Nada... Estou bem...
- Se isso não é nada eu não sei o que é mal!
- Deixem ele descansar! Saiam daqui! – Madame Pomfrey voltara obrigando-os a sair dali. – Faça estardalhaço em outro lugar!
Cada um voltou para seu salão comunal. Sirius não esqueceu isso tão cedo. E no dia seguinte, Lupin encontrara com ele quando entrou no salão comunal, um pouco antes do almoço, com as cicatrizes minimizadas.
- Melhorou? – perguntou ao notar a presença do amigo.
- Sim... Obrigado...
- Mas o que aconteceu com você? Parece mal de novo!
- Não foi nada... Acho que acabei contraindo a doença da minha mãe... Sabe? É terrível... E lá em casa não temos um lugar aonde possam me receber de braços abertos e me curar... Não existe...
- Por quê?
- Não moro em nenhuma movimentada Londres! – respondeu o outro ríspido, depois alisou o rosto.
- Tudo bem... Eu te ajudo!
- Ah... Obrigado... – respondeu sem graça.

Os dias passaram e as férias foram acabando. Muitos dos que permaneceram no castelo estavam ansiosos para o retorno as aulas, estavam cansados daquela monotonia. O expresso de Hogwarts estava marcado para chegar com os alunos que passaram as férias fora às 18h30min do dia nove, um domingo gélido. As aulas começariam logo depois, no dia dez.
Todos ficaram no salão principal, e eram poucos, esperando os outros chegarem. Ouviram alguns falatórios, que foram aumentando e se tornando mais constante e assim os portões do Salão Principal foram abertos e todos os recém-chegados se postaram em suas devidas mesas, falavam pelos cotovelos.
Tiago e Pedro se adiantaram para sentarem perto de Sirius e Lupin. Os dois falavam alto, rápido e ao mesmo tempo o que impossibilitava o entendimento. Só se calaram depois que Sirius pediu para calarem a boca.
- Agora cada um fale mais devagar... E! Um de cada vez... – disse lentamente, com certa ironia.
Pedro contou suas férias, tão animado, que algumas horas se enrolava e acabava repetindo a mesma coisa várias vezes e, se não fosse pelo Tiago, ele não iria parar nunca. A de Tiago foi mais rápida e objetiva.
Mais tarde, quando todos estavam se encaminhando para seus devidos salões comunais. Tiago retardou Sirius e comentou no seu ouvido.
- E aí? Conseguiu descobrir algo?
- Não... – respondeu em tom mais baixo.
- Eu procurei em alguns livros dos meus pais e não encontrei muita coisa útil... Apenas sobre um agouro que, de vez em quando, aparecia para a pessoa e começava a arranhá-la toda... Bem... Havia um exato dia para isso acontecer... Só isso que descobri...
Conforme subiam, Sirius foi contando o que se passou nas férias, terminando bem perto de chegarem ao retrato da mulher gorda.
- Senha? – ela pediu.
- Merwyn, o malicioso...
O quadro assentiu com a cabeça e abriu uma passagem para entrarem no Salão Principal.


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Notas do autor:
Há pequena modificação neste capítulo.

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