- O mistério de Lupin -
- Ele parece ser legal! – comentou Pedro ao lado de Sirius nos corredores.
- Ele é muito velho! – disse Tiago aproximando-se.
- Ele deve ter experiência no assunto, Tiago – disse Sirius. – Pelo menos ele não passou muito dever de casa...
- Olá! O que acharam da aula? – perguntou Muliphen chegando perto dos três.
- Boa.
Sirius preferiu se esquecer, as aulas da tarde foram cansativas demais em sua opinião. No jantar, depois que todos haviam comido, o professor Dumbledore havia se adiantado para dar um novo aviso. Ele parecia sério.
- Hoje um incidente muito sério aconteceu! Nosso aluno, Davi Gudgeon, tentou se aproximar da nossa recém-plantada árvore, o nosso Salgueiro Lutador. Como alguns sabem, e outros não, é sempre bom avisar: o Salgueiro Lutador é perigosíssimo! Ele pode machucar seriamente a qualquer um que tentar se aproximar dele!
“Hoje, em seu tempo livre, Sr. Gudgeon quase perdeu o olho ao tentar se aproximar da árvore. Agora ele está sendo cuidado pela Madame Pomfrey, nossa enfermeira, e o seu olho está quase no lugar correto... De qualquer forma, é bom se precaver, para não acabar mal. Obrigado!”
E voltou a se sentar à mesa dos professores. A mesma cadeira que se destacava das demais. Sirius viu o olhar aterrorizado de Lupin. Ficou observando-o por bastante tempo. Tiago parecia ter ignorado a notícia, brincava com um aviãozinho de papel enfeitiçado.
E assim se passaram os dias. Tudo estava ocorrendo muito bem. Tudo parecia muito calmo. As aulas eram dadas normalmente. Sirius sempre ficava até tarde terminando os deveres que esquecera de fazer. Para ele a pior matéria era História da Magia. Ainda Astronomia ele suportava, mas as aulas de Binns eram cansativas demais. A maioria dos alunos deitava a cabeça sobre a mesa e fechavam os olhos, enquanto o professor explicava com sua voz asmática, parecia não perceber que a maioria não prestava atenção, ou talvez a ele não importava, já que era um fantasma. Lupin era um dos poucos que prestava atenção, e normalmente anotava.
- Na época, as primeiras bruxas escondiam sua magia de todos... Começaram a se achar aberrações... – dizia a voz do professor. – Hasha Grissel foi a primeira a tentar unir o resto dos bruxos primordiais...
Lupin estendeu a mão e chamou o professor. Apenas na quinta vez que Binns voltou-se para o garoto.
- Fale, Lois.
- Lupin – corrigiu o aluno. – Bem... Que eu me lembre, professor, o livro trata Hasha Grissel como alguém sem muita importância...
- Na realidade não houve muitas mudanças nos povoados na época, mas Hasha fez um trabalho cansativo, Lois... Mas de qualquer forma. – voltou-se a ler os apontamentos. – Hasha andou trinta quilômetros à pé...
Tiago tinha feito uma zarabatana de papel e mirava bolinhas de papel nos alunos das mesas a frente. Ele acertou seis bolinhas em Maria McDonald, que estava sentada bem ao lado de Lílian, talvez fosse para chamar a atenção dela.
Quando uma das bolinhas de papel entrou no ouvido de Sirius, que estava de olhos fechados com a cabeça apoiada nos braços, quase derrubou a mesa de susto. E, por incrível que pareça, apesar da risada de todos, o professor continuou concentrado em seus apontamentos.
O pior foi o dever que ele passou. Teve que ir a biblioteca. Esta era imensa, e para levar um dos livros para consulta, teria que pedir permissão à Irmã Pince, a bibliotecária. A bruxa chegava a assustar com sua paranóia com os livros. Ela citou as regras da biblioteca por, pelo menos, meia hora.
- Nem pense em comer perto dos livros! Pode acabar sujando-os! E eu saberei se isso acontecer! – dizia.
Quando Sirius finalmente se viu livre daquela tortura, teve que suportar outra: fazer o dever. Ele ficou até tarde fazendo o dever.
Calisto não deixou de passar bastante dever. Ela começara a falar sobre as constelações. Explicou cada uma, sua localização em cada estação, parecia um livro que lia seu conteúdo por si só.
- Veja a bela forma que a constelação da fênix tem! – disse indicando os vários pontos luminosos no céu.
Pedro, por sua vez, estava tendo sérios problemas com os deveres. Saía sempre depois de Sirius terminar os deles, e ainda assim não os terminava. Ele parecia estar perdido em todas as matérias. Ultimamente estava tão cansado que acabara cochilando sobre o chão frio da torre de astronomia durante uma aula.
- Acorde, Sr. Pettigrew! Se prefere dormir é só sair! – disse a professora olhando com desgosto para o garoto. – Você é o primeiro aluno que eu decoro o nome! Não canso de te chamar a atenção por causa disso...
“Ande! Olhe pelo telescópio!” – disse ao ver o garoto olhando abobalhado para ela, como se não fizesse idéia de onde estava ou do que era para fazer.
Muitas vezes, Lupin e Sirius tentavam ajudar o garoto com os deveres, mas não podiam ajudá-lo em tudo, tinham que terminar os seus também.
- Vamos! Acorde, Pedro! – chamou Lupin ao lado do amigo adormecido sobre uma pequena pilha de livros. – Ainda falta um metro de... AH!
Só mesmo o sacudindo para acordar. Ele parecia pior do que Remo cujos aranhões já estavam quase totalmente cicatrizados. Ele parecia mais amigável, normalmente sorria. Mesmo em situações constrangedoras:
- Ô, Lupin! Ainda não sei como Dumbledore o aceitou... Como algum mendigo que usa trapos como você poderia entrar em Hogwarts?! – berrou Josh, um sonserino calouro, para todos da sala ouvir.
No entanto, Lupin não moveu um músculo, dirigiu-se a ele com um sorriso e respondeu calmamente.
- Que seja um mendigo... Pelo menos um mendigo que sabe a matéria, diferente de você. – e continuou fazendo sua poção na aula de Slughorn, deixando um Josh raivoso derrubar seu frasco com a poção no chão. Lupin sabia muito bem que não faria diferença, uma vez que a poção estava completamente errada.
Sirius até se espantava com o modo que Lupin tratava as coisas. Parecia não se importar, apesar de saber que, no fundo, ele queria explodir de raiva.
E Tiago não deixou de implicar com Snape. Ele conseguira estragar mais duas vezes a poção do garoto. Sirius agora estava sentando mais distante, não gostaria de levar culpa por algo que não fez. Agora, quando Tiago se aproximava de Snape e Lílian, os dois mudavam de lugar, e isso fez com que o garoto parasse com a mesma brincadeira de sempre.
As aulas de Transfiguração eram complexas demais. Os alunos se concentravam no dever e, mesmo assim, muitos saíam errados. Transformar um pote em um copo de vidro com água, o que, na opinião de Minerva, era o mais simples de todos.
- Vamos! Nunca vi uma turma com tanta dificuldade para algo tão fácil! Imagine quando entrarem em transfiguração de objetos e animais, e pior ainda em transfigurações humanas! Vamos! Concentrem-se! Pronuncie o feitiço bem claramente! Não grite, Sr. Pettigrew... – completou ao se aproximar do garoto que quase berrava o feitiço desesperadamente.
Sirius se concentrava no dever, mas o máximo que conseguira até o momento foi deixar o pote mais opaco e com um líquido escuro e viscoso.
- Limpe este lodo, Sr. Black! Ou espera beber isso? – a professora andava de mesa em mesa dando conselhos aos alunos. – Isso... Muito bem, Sr. Howard! Só falta a água!
Pior fora Pedro que derretera o pote e, quando estava prestes a conseguir, esquecera do copo, fazendo a água escorrer pela mesa.
As aulas de Feitiços também não estavam tendo muito rendimento. O professor Flitwick estava tendo muito trabalho, corria para todos os lados, onde os alunos estavam tendo problemas para levitar objetos mais pesados. Quando queria dar um aviso não conseguia. Era quase impossível manter todos quietos com sua voz esganiçada, mesmo tendo subido em cima dos livros para poder ficar visível.
- Cuidado, Sr. Black! Vai acabar fazendo o objeto disparar em alguma direção! O mesmo aconteceu com... AH! – e se abaixou na hora que uma pedra voou em sua direção. Logo se levantou, se recompondo. – Aconteceu mais ou menos isso com o jovem Pettigrew!
“Gira e sacode, Sr. Portag.” – disse já em direção para outra mesa. “Não! Assim você...”
BLAM! A pedra de Portag acertou em cheio a cabeça de Muliphen, que tombou com um baque surdo no chão, nocauteado. O professor Flitwick correu em passos curtos para ajudar o aluno. Fez o corpo adormecido do garoto levitar e saiu levando-o para enfermaria. Sirius ficou olhando o garoto e o professor saindo pela porta. Ainda viu Portag aterrorizado com o que acabara de fazer.
Pelo menos, nas aulas de vôo, ninguém foi para a enfermaria. Tiago, como sempre, obtinha os melhores resultados dos desafios lançados pela professora que sempre congratulava o aluno. Ela disse que se ele se inscrevesse para o time de Quadribol no próximo ano, poderia até entrar. Mas o porte de vassouras próprias por alunos do primeiro ano era proibido, muito menos este participar de um time de Quadribol.
Mas o que divertia Tiago era ver o fracasso de Snape. Ele sempre morria de rir quando o outro quase caía da vassoura. Lílian até estava se dando bem, e tentava ajudar Severo.
“Vamos, Sev! Tenta de novo! Você consegue!” – dizia para o garoto que olhava a vassoura com puro ódio.
Lupin também não estava obtendo bons resultados com a vassoura. Ele caíra, contudo não fora uma queda muito feia.
Sirius caíra também, mas não era dos piores. Na realidade nunca gostou tanto de Quadribol. A professora até estava admirada com o desempenho da turma, apesar de vários estarem com problemas.
E assim passou setembro e outubro. Sendo que no dia das bruxas tiveram um almoço e jantar em estilo mais assustador. Morcegos sobrevoavam as mesas, e a comida era diferente. Todos aproveitaram aquele dia, que era um final de semana. A maioria dos alunos dava sustos uns aos outros. E ao saírem do jantar, Tiago parou para olhar o quadro de avisos.
- O primeiro jogo de quadribol! Grifinória contra Corvinal! – Tiago parecia agitado demais. – Dia sete de novembro! Sendo que a Sonserina já massacrou a Lufa-Lufa semana passada...
Sirius queria ver o jogo quando, o irmão e Muliphen, Murzim, iria jogar como apanhador.
Tudo estava muito enfeitado, era o dia das bruxas! Teias e mais teias de aranhas pendiam do teto. Os fantasmas estavam mais animados do que nunca, atravessavam apressadamente as paredes conversando entre si.
- Olá, Nick-quase-sem-cabeça! – cumprimentou Sirius.
- Por favor, é senhor Nicholas... – disse o fantasma, e neste seu devaneio de atenção, sua cabeça caiu pendendo para o lado, Tiago mostrou a língua. Mas logo foi colocada no lugar e ajeitou a gola. – Tenham um bom dia das bruxas... Mas a caçada dos sem-cabeças... – continuou falando com outro bruxo.
Os dois voltaram para o salão comunal. Ele queria que Tiago nunca tivesse lido aquilo, pois já voltara a falar dos lances de Quadribol.
Porém Tiago não foi o único a falar sobre quadribol nos dias que antecederam o jogo. Vários alunos em grupinhos comentavam aqui e lá, sobre o jogo. Os que mais ganhavam atenção eram os jogadores das casas. Pareciam que esperavam por aquilo há muito tempo.
- Que legal! Jogo de quadribol! – disse Pedro ao escutar a notícia. – Vou levar a bandeira da Grifinória!
Sirius se lembrou como Pedro gostava de Quadribol. Lembrou-se da primeira vez que encontrou o garoto no Beco Diagonal. Estava na loja de roupas e... Sua mãe o havia deixado sozinho lá. O berrador veio a sua mente. Sirius estremeceu de raiva, ele queria apagar aquilo da memória. Mas naquele momento, teve a vontade de enforcar sua mãe se ela estivesse na sua frente.
O tempo não parecia estar querendo facilitar o jogo. Na terça. Que antecedeu o jogo, começou a chover. Os alunos já não aproveitavam mais os campos da escola em seus tempos livres. Tinham que ficar nos Salões Comunais, que cada vez ficavam mais cheios. Sirius olhava pela janela os clarões consecutivos de trovões que caíam a poucos quilômetros dali, e logo depois vinha o som ensurdecedor. Quando os trovões caíam mais perto, Pedro se encolhia no sofá.
- Que tempo! Assim não vai dar pro jogo! – disse um dos garotos do salão.
- O jogo não é cancelado por causa de uma chuva! Uma chuvinha como essa não vai mudar nada! Vamos ganhar! – disse o capitão do time da grifinória tentando levantar a moral de todos.
Muitos tinham preparado bandeiras da Grifinória. Em algumas, o leão se mexia e ao tocar no tecido ele rugia. Todos dali pareciam estar em ritmo do jogo. Poucos se preocupavam em terminar os deveres de casa, um deles era Lupin. O garoto parecia estar nervoso por algum motivo.
- Você está bem, Remo? – pergunto Pedro se afastando da balbúrdia para ter um pouco de descanso. Sentou-se ao lado de Lupin que estava absorto nos deveres.
- Estou... – disse Lupin fechando um livro sobre as fases da lua, e disfarçando o nervosismo voltando a sorrir para o garoto.
- Não... Você parecia nervoso... Não gosta de tempestades, também? – perguntou Pedro se distraindo com a capa de um livro, onde um dragão expelia fogo.
- Pois é... – completou Lupin o mais rápido que pôde. – São terríveis!
- Também acho! Aterroriza qualquer um! Mas... Por que está terminando todos os deveres de casa?
- Estou querendo adiantar. Prefiro assim, aí poderei ficar seguro. Sem fazer em cima da hora...
- Vai ao jogo, pelo menos?
- Vou tentar – disse com um sorriso.
- Então vou te esperar! Vamos torcer juntos pela Grifinória!
Sirius estava exausto, pois ele fora obrigado a ir à livraria para terminar um dever de Astronomia, e preferiu dormir mais cedo. Depois de pouco tempo, já estava no mundo dos sonhos.
Estava sentado em um banco de um parquinho baldio. A leve brisa batia em seu rosto. Começou a anoitecer, e o vento foi se acalmando. Sirius viu uma estrela muito brilhante do céu e, ao descer os olhos para o gramado a sua frente, viu um cão negro, o mesmo que vira em outros sonhos. Ele parecia ter crescido. Ele se aproximou de Sirius e, aos poucos, tudo foi tomado por eterna escuridão. O cachorro estava ali, diante dele. Quando abriu a boca para falar algo, o cão latiu, parecia corresponder a Sirius. Sirius aproximou-se do cão, o animal fez o mesmo. Ele estendeu a mão, o cão fez o mesmo. Quando se encostaram, foi tomado por um forte calor e, ao abrir os olhos, estava se olhando em um espelho d’água. Mas ele não estava vendo sua imagem, o espelho refletia um cão. O que? Não... Não pode ser. Era ele! Tentou dizer algo, o resultado foi um latido. E tudo foi tomado por escuridão novamente e Sirius acordou.
Foi difícil entender o significado do sonho, mas algo fazia sentido. Ele era o cão, isso ele entendia, só não entendia o porquê do sonho. Levantou-se e notou que duas camas estavam vazias: a de Tiago e a de Remo. Sirius foi até a janela, deveria ser tarde. Era possível ver um pouco da lua, por trás das densas nuvens. Olhou para baixo, viu uma pessoa. Na realidade ele não estava sozinho, viu a sombra de outra que já havia desaparecido. Tinha certeza de que era alguém que conhecia.
O garoto andava pelos gramados em direção a algum lugar, desceu a colina e desapareceu de vista. Sirius voltou a observar o céu. Deitou-se novamente na cama. Ficou de olhos abertos por não conseguir dormir. Notou a presença de alguém que entrava sorrateiramente no dormitório, parecia não querer acordar ninguém. Era Tiago. Devagarinho se deitou na cama e fingiu estar dormindo. Sirius ficou se perguntando o que ele estava fazendo àquela hora, fora da cama. Tanto ele como o garoto que estava andando pelos campos. Foram avisados que não poderia sair andando por aí depois do jantar.
Tentou esquecer e relaxar, e logo voltara a dormir. Teve outro sonho completamente diferente do primeiro que tivera naquela noite. Este fora sobre um jogo de Quadribol, sua vassoura levantara vôo com ele montado e o levou até o fim da atmosfera, escorregou e caiu a uma altura elevadíssima. Acordou suado com o sol batendo em seu rosto.
Lupin não apareceu no dia seguinte. Só veio aparecer dois dias depois, no café da manhã. E Sirius notou que ele estava de novo com aquela terrível aparência debilitada e com arranhões grandes no rosto. Só que desta vez estava muito pior, ainda estava sangrando.
No domingo do jogo, o dia não amanheceu diferente. O dia se iniciou chovendo. Sirius se levantou cedo para tomar o café, e os alunos reclamavam do tempo em todos os cantos. O teto do Salão Principal estava enevoado e escuro, era possível ver trovões cruzando as nuvens.
Depois do café, todos voltaram para os salões comunais, e relaxarem para o jogo que seria às dez horas.
Sirius estava tão excitado quanto os outros. Conversava com Lance, quando sentiu algo bater de leve em sua cabeça. Ao olhar para trás, Tiago estava segurando um aviãozinho enfeitiçado de papel e havia mirado nele.
- O que quer? – perguntou Sirius impaciente.
- Jogar aviõezinhos de papel em você! Não percebeu? – disse jogando mais um que Sirius segurou. – Ah! Não faz isso! Deu trabalho pra fazer, sabia? - ficou irritado quando o outro rasgou o aviãozinho.
Sirius sorriu. Pediu um emprestado e jogou em Pedro. Quando o garoto olhou para trás, Sirius estava virado para o teto de olhos fechados e cantando. Tiago sorriu.
Mais tarde, todos caminhavam em direção ao campo de Quadribol. Os personagens dos quadros discutiam entre si sobre os alunos. Todos pareciam andar em direção ao campo. Pedro não encontrara Lupin em lugar algum e estava reclamando.
“Ele deve estar querendo fugir do jogo!”
Subiram pequenas colinas e entraram nas arquibancadas.
Era um lugar imenso. Um campo oval com gramado verde. Havia três balizas de uns quinze metros de altura no extremo de cada lado do campo. A arquibancada era circular e ia até o alto. Sendo que os alunos ocupavam os lugares mais baixos, e os professores e convidados, o topo, tento uma melhor visão do local. As arquibancadas eram divididas em quatro, cada uma de um time. Era possível distingui-las por causa das cores. Azul e bronze com bandeiras da mesma cor com uma águia da Corvinal, vermelho e dourado com bandeiras da mesma cor com um leão da Grifinória, verde e prata com bandeiras da mesma cor com uma serpente da Sonserina, e amarelo e preto com bandeiras da mesma cor com um texugo da Lufa-Lufa. Os alunos já haviam ocupado todos os lugares quando as portas do campo se abriram e entraram os jogadores de cada time. Eram quatorze e Madame Wuckbut, a professora de vôo que seria juíza do jogo. Sirius avistou Murzim dentre os jogadores da Corvinal, estava sério e compenetrado, não parecia o garoto que conhecera no trem. A professora carregava um baú.
Os jogadores se postaram em cada parte do campo. Cada capitão cumprimentou um a outro. Mas parecia mais um desafio. E voltaram aos seus postos. Todos montaram em suas vassouras e se mantiveram no ar, esperando o apito de início do jogo da professora. Esta retirou a varinha do bolso, quando estava estabilizada no ar, rumou para o meio do campo carregando uma bola marrom. Ela olhou para todos e apitou. No momento em que jogou a bola que segurava para o alto, brandiu a varinha e o baú se abriu liberando mais três bolas. Duas eram negras e menores que a jogada pela professora. A quarta era muito pequena e dourada, parecia ter duas asas que batiam rapidamente no ar e logo desapareceu se locomovendo muito rápido pelo campo.
- E começou o jogo! – disse uma voz alta e sonora que Sirius reconheceu. Era Lance Holfknight que estava no alto da arquibancada, ao lado da professora Minerva, parecia ser o locutor do jogo. – Veja, veja! Juliana Kebek da Grifinória já está de posse da goles! Ela avança, ela driblou os batedores corvinais! Mais que garota fantástica! Ah, é claro... – disse quando Minerva falou algo ao seu ouvido. – Ahh... Roubaram a goles dela...
Sirius estava tentando focalizar Murzim, mas este se movimentava muito rapidamente no ar. Por um instante parou bem alto, parecia procurar algo, o pomo de ouro, a bolinha dourada com asinhas. Quando alguém pegava o pomo o jogo acabava, e eram acrescentados cento e cinqüenta pontos para a casa do apanhador que conseguir o feito.
- Agora Ruff Hilflog mirou um balaço para cima do nosso capitão Justino! Vamos lá! Desvia desse balaço Justino! AH! A artilheira da Corvinal marcou um gol! – havia desapontamento na voz de Lance.
Tiago berrou alto ao lado de Sirius, xingando a Corvinal. Ele parecia extremamente irritado. Pedro estava irritadíssimo também. Poucos perceberam a ausência de Lupin, um deles foi o Sirius.
- Isso! Finalmente a Grifinória preparou um contra-ataque descente! Vamos Grifinória! Você vai ganhar!
- Lance! – advertiu a voz de Minerva.
- Quero dizer: esse bando de águias vai pagar caro.
- LANCE!
- Er... Foi um bom ataque... OBA! E GRIFINÓRIA EMPATA! – berrou com mais animação.
- MENOS, LANCE!
Os artilheiros corvinais haviam feito um triângulo humano para o ataque e rumavam em direção ao campo adversário. Passavam incansavelmente a goles entre si, e conseguiram afastar os artilheiros adversários. O corvinal da frente subiu com a goles mirando os aros, mas deixou-a cair para as mãos de outro artilheiro corvinal mais abaixo que marcou mais um ponto.
- Infelizmente foi um belo lance... E... A Corvinal marca outro ponto... – disse com uma voz arrastada.
E não acabou aí, um dos batedores corvinais acertou o balaço em um artilheiro grifinório que estava com a posse da goles. O capitão da Corvinal recuperou a goles e marcou mais um ponto.
- AH NÃO! O que está acontecendo com a Grifinória?! – a voz triste de Lance reboava pelo estádio.
Justino, que era o apanhador da Grifinória, avançou rapidamente em direção ao chão. Ele parecia ter visto o pomo. Passou veloz pela arquibancada a Grifinória. Murzim acelerou e logo o alcançou. Os dois estavam em um páreo, e a diferença de idade deveria ser de uns dois ou três anos. De repente, Justino empurrou Murzim para o lado, para não atrapalhá-lo. O outro deu um encontrão mais forte, forçando o grifinório a aumentar o espaço entre os dois. Justino mergulhou em direção ao chão, Murzim não foi.
- Mas o que aconteceu com o Murzim?! Esquece-se do pomo? AH! Não existia pomo... Era para ser a Finta de Woksy, mas o corvinal não caiu!
- WRONSKY! – corrigiu Tiago furioso para Lance o escutar.
- Que seja...
Murzim tomara outro caminho, em parte ele fora enganado, seguira Justino até aquele ponto, mas agora já retornava para o alto, procurando o pomo com os olhos. O capitão da Grifinória estava irritadíssimo. Enquanto isso, a Corvinal marcou mais um ponto.
- A nossa Juliana marcou outro ponto! Eu disse que ela era das melhores! E lá vai ela de novo! Olha e... AH! PENALTI! PENALTI SEUS SUJOS!
Juliana já estava com a goles e avançava para as balizas adversárias, mas os dois batedores rebateram um balaço juntos na direção da artilheira, derrubando-a da vassoura.
- LANCE! SAI DAÍ! – Minerva estava ficando com vergonha dos xingamentos do aluno de sua casa.
- Desculpe-me, professora! Parei... Mas devem levá-la para a enfermaria rápido! RÁPIDO!
- VAMOS GRIFINÓRIA! – berraram Tiago, Pedro e vários outros torcedores irados com a Corvinal. – ACABA COM ESSES CORVINAIS!
No entanto...
- PENALTI! – exclamou a juíza. – A FAVOR DA CORVINAL!
Infelizmente um dos batedores grifinórios raivoso, errou um balaço e acertou a cabeça de uma artilheira corvinal. Os alunos da Corvinal diziam que eles planejaram isso. Mas já estava feito, mais um ponto para a Corvinal.
- Não acredito... Nunca imaginei que a Grifinória fosse nos decepcionar tanto!
- ISSO! CONTINUA ASSIM! MAIS QUATRO GOLS E VOCÊ PASSA! – berrou Lance quando a Grifinória marcou um gol.
- Tempo! – disse Wuckbut.
Os jogadores voltaram ao chão, e seguiram para fora do campo. Tiago estava tremendo de raiva, ele balbuciava palavras sem sentido, a maioria era uma mistura de xingamentos para a Corvinal e Grifinória.
- Calma, Tiago! Tenho certeza de que a Grifinória apanha o pomo no segundo tempo... – Robert tentava acalmar o garoto.
- ELA TEM QUE GANHAR!
- Dá pra ficar quieto?! – outro garoto estava irritado com os resmungos de Tiago. - Cala a boca! Assista ao jogo sem berrar tanto!
Tiago ficou emburrado, e só voltou a olhar para o campo quando os jogadores já voltavam. Todos já em posição e o jogo foi recomeçado. A primeira coisa que os grifinórios fizeram foi recuperar a goles e marcar um gol.
- Começaram bem! A Grifinória é a melhor! E a Corvinal é... A Corvinal também é muito boa! – Lance acrescentou rapidamente ao ver o olhar fuzilador de Minerva. – E lá vai Justino atrás do pomo! MAS QUE DEFESA DO NOSSO GOLEIRO! Ele merece prêmio!
Os artilheiros fizeram o mesmo ataque triangular, mas desta vez o goleiro não deixou ser enganado, defendeu bravamente as balizas. Enquanto isso, o capitão estava sobrevoando rapidamente o campo atrás do pomo. Murzim continuava no alto, observando o campo. A Grifinória marcou mais um ponto, logo depois outro.
- Empatamos! – berrou Tiago ao lado de Sirius.
O goleiro ainda fez três defesas magníficas. Até os batedores voltaram a atuar bem, conseguiram espantar os atacantes adversários e Grifinória marcou o ponto da virada. O pessoal da Corvinal já começara a fazer coro contra a Grifinória. A Sonserina também estava torcendo contra os grifinórios.
Sirius localizou Muliphen na arquibancada da Corvinal, ele estava muito quieto, parecia compenetrado no jogo e, ainda mais, em seu irmão.
Murzim localizou o pomo e mergulhou atrás dele. Ninguém aparecia ter notado em sua mudança de comportamento, muito menos Justino, que procurava por outros lados. O garoto estava a alguns metros do pomo de ouro. Ele parecia capaz de pega-lo. Por um instante, pareceu a todos que ele iria pegar, mas Justino passou sua frente tapando sua visão, e este teve que diminuir a velocidade. Justino também perdera de vista o pomo.
- MUITO BEM GRIFINÓRIA! MAIS UM PONTO! Isso é bom na gente, nunca desistimos! Temos garra e...
- Lance, mais uma e eu vou mudar de locutor! – advertiu Minerva.
- Desculpe-me... AH NÃO! Bem... Ainda estamos na frente por dez pontos. – disse a voz de Lance quando ambos os times marcaram pontos. – Juro que se a Grifinória não ganhar eu me mato... E MAIS UM PONTO PARA A GRIFINÓRIA!
Haviam marcado mais um ponto, porém a juíza apita.
- E o jogo acabou! – avisou bem alto.
- O jog... O que?- perguntou Lance desorientado. – Eu não vi o último lance! O... AH NÃO! O novo apanhador da Corvinal fez a captura! – exclamou horrorizado. – Bem... perdemos...
Murzim aproveitou o momento da comemoração do oitavo gol da Grifinória e fez um mergulho magnífico. Quando estava quase colidindo com o chão se recuperou em um giro e agarrou o pomo de cabeça para baixo. Todos da Corvinal estavam berrando de felicidade. Tiago estava boquiaberto.
- Nós... nós... Estávamos... Estávamos ganhando, não? – perguntou abobalhado.
- GANHAMOS! GANHAMOS! – berrava Pedro que nem ao menos fazia idéia do que acontecera.
- PEDRO, SEU RETARDADO! NÓS PERDEMOS!
- Ah... Mas Justino capturou...
- Aquele é o Murzim! Da próxima vez... Fica quieto!
Depois de um tempo que Pedro entendeu o que havia acontecido. Todos os alunos da Grifinória se levantaram abalados com a derrota e saíram cabisbaixos do campo, enquanto a Sonserina cantava uma música para desmoralizar ainda mais o outro time.
UH! GRIFINÓRIA!
Que vergonha!
Não pode a glória,
Então sonha!
No próximo jogo
Provará nossa peçonha!
Todos retornaram então para o castelo. Quase ninguém notou que, durante o jogo, a chuva fora pouca. Parecia que o jogo estava destinado para aquele horário, pois foi apenas os jogadores saírem do campo e a chuva começou a engrossar. Todos correram de volta para o castelo, voltar ao aconchegante salão comunal. Depois de um tempo todos se reuniram de novo no Salão Principal, horário de almoço. Pedro parecia muito decepcionado, mas a sua decepção nem poderia se comparar a de Tiago.
- Eu não acredito... Não posso acreditar que perdemos! Perdemos! Logo o primeiro jogo! – dizia para si.
- Tiago... Aconteceu, não há o que você possa fazer para corrigir! – Sirius já estava cansado de repetir isso para o colega.
- Não me conformo... Não me conformo...
- Algum dia você terá de se conformar! Ainda tem outros jogos pela frente! E não escute a Sonserina! – disse Robert se aproximando.
Os sonserinos não pararam de cantar a mesma música até sentir que todos os ignoravam.
- Enquanto se importar... Eles vão continuar cantando! – completou rapidamente antes de sair do salão.
- Pior que ele está certo...
- Então erga a cabeça e esqueça a infelicidade! – concluiu Sirius com um sorriso. – E nós venceremos o próximo jogo! Pode acreditar.
Sirius também se sentia mal por ter perdido, mas não tanto. Mais tarde ele se aproximou de Murzim no corredor e o parabenizou. O garoto ficou sem graça, agora que o outro vira que era mais de dez centímetros mais baixo que o garoto envergonhado.
- Bem... Obrigado!
- Que isso! Você jogou muito bem!
O outro sorriu descontraído. E continuaram conversando sobre o jogo. Murzim estava sem graça em dizer que havia ganhado. Depois cada um foi para seu Salão Comunal. Todos comentavam o desaparecimento de Lupin, até um deles comentar:
“Eu o vi na ala hospitalar ontem... Ele estava mal! Mas segundo Madame Pomfrey, ele será liberado ainda hoje...”
No dia seguinte continuaram discutindo os lances com vibração, principalmente os calouros. A aula do professor Binns foi até agitada demais, e pela primeira vez o professor ficou irritado.
- E depois aquela finta incrível? – disse Pedro.
- Estamos na aula de História da Magia, Sr. Pedigriu! – o professor nunca decorava o nome dos alunos, e agora que estava irritadiço tentava acalmar a turma com sua voz de aspirador enguiçado.
- Se lembra do lance... – dizia outro garoto.
- Não vou mais chamar atenção... – disse por fim voltando a ler seus apontamentos em voz alta, tentando sobrepor a balbúrdia.
A aula de vôo foi mais interessante, apesar de ter sido até perigosa: os alunos tentaram realizar as manobras no ar conforme os jogadores das casas fizeram no jogo do dia anterior. Um dos alunos quebrou o cabo da vassoura.
- SENHOR ROBERT! MENOS TRINTA PONTOS PARA A GRIFINÓRIA! Por ter quebrado objeto que é propriedade da escola! – disse a professora irritada.
O garoto ficou olhando para a professora tirar a vassoura de suas mãos. Ele partiu a vassoura na metade.
- Pode voltar ao castelo, e fique por lá! – acrescentou apontando em direção ao castelo.
O garoto saiu resmungando. A professora deixou a vassoura de lado e voltou para os alunos, ainda aborrecida. Analisou cada vassoura, para ter certeza de que estavam inteiras.
- Se mais algum tentar fazer essas manobras saíra da aula. E se quebrar a vassoura cumprirá detenção!
Ninguém mais se atreveu a montar na vassoura até o final da aula quando a professora não pedia. Mas ainda assim fora melhor do que a de História da Magia.
Quando os sonserinos encontravam com grifinórios começavam a cantar, mas eles pararam quando perceberam que no final estavam falando com as paredes.
E conforme os dias passaram, novembro foi acabando e dezembro chegava trazendo a neve esperada. No último dia de novembro começou a nevar. Todos já estavam em ritmo do recesso, que seriam dali a algumas semanas. Tudo já até começara a ser enfeitado para o Natal. Puseram algumas árvores que estavam bem enfeitadas. Tudo parecia perfeito.
No segundo dia de dezembro, todos já comentavam sobre suas famílias e o que fariam naquelas poucas semanas de férias. Sirius e Tiago conversavam sobre o mesmo assunto, no jantar. Os dois estavam atrasados nos deveres de casa, e com aquele ritmo, nunca iriam se recuperar.
- Eu prefiro ficar aqui mesmo... Só de imaginar lá na minha casa... – Sirius se imaginou magro, pálido, trancado em seu quarto, com a roupa revirada no chão e cheio de arranhões. – Nem sei o que vou ficar fazendo aqui... E estou bastante atrasado nos deveres...
- Não mais do que Pedro! – riu-se Tiago.
- No começo, eu e Lupin o ajudamos... Mas agora ele que se vire!
- Bem... Eu o vi terminar os deveres hoje... O Lupin... Quem sabe ele possa nos emprestar? – um sorriso malicioso surgiu no rosto de Tiago.
E não deixaram de notar que este não estava presente na mesa da Grifinória.
- Evaporou? – perguntou Sirius ironicamente.
- Isso pede investigação! – Tiago imitou um detetive. – Algum aluno a quem podemos interrogar?
- Pedro...
- Pedro! Já terminou os deveres? – perguntou Tiago se aproximando do garoto.
- Não... Eu iria pedir ajuda ao Lupin...
- Hum... Eu também... Mas... Você sabe por que ele não veio jantar?
- Bem... A última vez que eu o vi, ele disse que iria à enfermaria, parece que queria ver madame Pomfrey... Ele disse que não estava bem.
- Bem... Realmente ele não estava bem. Parecia um liquidificador! Tremia demais! De qualquer forma seria terrível ir importuná-lo na enfermaria. Não acha, Tiago? – perguntou Sirius com certo sarcasmo.
- Pois é... Mas ele vai acabar com fome... Que tal levar um pouco de comida para ele na enfermaria?
- Será mesmo, Tiago? – perguntou Sirius quando já voltavam para o Salão Comunal.
- Só vendo para saber... Quer conhecer o castelo?
- Claro... Até agora só conheci algumas partes!
- Então vamos!
Atrasou o passo, esperando os alunos passarem por ele, e pegou outro caminho. Sirius o seguiu. Eles ainda usaram as escadas que se movimentavam para chegar ao quarto andar mais rápido. Tomando cuidado para não serem vistos. Tentavam ser silenciosos e conseguiram chegar à enfermaria. Entraram sorrateiramente. Só havia uma pessoa deitada. Seus roncos altos informavam que ela estava adormecida. Lupin não estava ali.
- E agora? Você me trouxe até aqui para nada.
- Bem... Agora sabemos que ele mentiu!
- Para aonde iremos agora? Eu não conheço direito o castelo!
- Voltar! Passeio noturno dura pouco!
Os dois saíram da enfermaria e caminharam pelo mesmo corredor o qual vieram. Tudo estava ocorrendo bem. Os personagens dos quadros já estavam adormecidos nas suas molduras. Um deles fungava alto. Quando chegaram ao outro corredor, se depararam com um ser baixinho com chapéu de sino que flutuava no ar.
- Calouros! Que feio, meninos! Andando pelos corredores de noite... Acho que os professores nada ficarão felizes. Tic-tic!- disse sorrindo maldosamente.
- Pirraça... Por favor... Não grite...
- Gritar? Eu nem tinha pensado nisso... Mas que ótima idéia! Apolíneo adora a banda dos fantasmas! Não vai ser muito diferente... – pigarreou e tomou fôlego.
Sirius por um tempo pensou como seria uma banda de fantasmas, mas logo percebeu que o que viria a seguir não seria nada bom. Ele olhou para Tiago, e o outro também estava aterrorizado.
- Eu devo gritar? Gritar é bom! Te deixa alegre!
- Mas não precisa. É gastar a voz...
- Voz? COMO VOCÊS PODEM FALAR DISSO NA MINHA FRENTE? SÓ POR QUE SOU UM POLTERGEIST?! – berrou o mais alto que pode. - VOCÊS DEVIAM ESTAR NA CAMA!
Os dois ficaram alguns segundos parados, talvez não entenderam que aquilo poderia ter acordado vários quadros e chamado a atenção de algum professor ou o zelador. Logo depois desataram a correr por outro caminho, só que não sabiam outro caminho seguro para o Salão Comunal.
Correram por outro corredor, desceram escadas, passaram por salas de aula. Espreitaram-se por um corredor onde mais quadros dormiam. Estavam enrascados, Sirius sabia disso. Por que tiveram que ir atrás de Lupin? Por quê?!
- Sabe onde está indo? – perguntou desesperado.
- Não! Mas é melhor do que ficar parado!
Pararam em um corredor deserto para tomar um pouco de fôlego. Nem ao menos se lembravam em que andar estavam. De repente, ouviram passos se aproximando. Sirius agarrou o braço do amigo e entraram aos tropeços dentro da primeira sala que encontraram que, por sorte, estava vazia. Os dois ficaram muito quietos ali dentro, esperando os passos se afastarem.
- Você acha que já foi embora? – Tiago falava em quase um sussurro.
Nem precisou de resposta, os passos voltaram a ecoar, e se aproximavam gradativamente. Sirius entrou no primeiro armário que avistou na sala e Tiago se jogou debaixo de uma mesa coberta por uma toalha xadrez. Ouviram a porta da sala se abrir e alguém resmungou:
- Cadê vocês? Sei que estão aí... Em algum lugar! – uma voz tremida e arrastada se aproximava do armário onde Sirius estava.
“Não... Não... Vá embora... Vá embora!” – berrava uma voz na mente de Sirius.
“Não! Você vai ser pego e sua casa perderá pontos! Você desobedeceu a regra! Agora pagará por isso! Aceite.” – disse outra voz maligna.
- CALOUROS FORA DA CAMA! CALOUROS FORA DA CAMA! - a voz de Pirraça soou alto pelos corredores do andar de cima.
- PIRRAÇA! Vai acordar... – o homem falou entre dentes e se afastou, batendo a porta ao sair.
Sirius esperou um pouco e olhou pela brecha da porta do armário e viu que não havia mais ninguém. Abriu a porta devagarinho e correu para a mesa onde Tiago se escondera. Não havia mais ninguém ali.
- Psiu! – sussurrou uma voz vinda da porta. Tiago apontava para Sirius segui-lo. -Barra limpa...
Os dois saíram da sala e continuaram seu caminho pelo corredor. Subiram mais lances de escadas, passaram por mais corredores. Ao virarem outro corredor depararam-se com Minerva de vestes negras e o cabelos presos em um coque. Ela encarou os dois por um instante com os olhos arregalados.
- Vocês dois! Sigam-me!
Ela os levou até sua sala. Deixou-os entraram e sentou-se em sua cadeira, encarando os dois com desgosto no olhar.
- Sabe... Eu esperava mais de vocês! Alunos da minha casa desrespeitando o regulamento! Menos cinqüenta pontos para a Grifinória! Sorte que não é tão tarde assim! Se fosse seria menos cinqüenta para cada um! E detenção sábado que vem! – disse muito desapontada.
- É que o Lupin não apareceu no jantar... Decidimos procura-lo... – começou Sirius, porém foi interrompido pela professora.
- A vida de Sr. Lupin é da conta dele! Não da sua! – disse pro fim. - Vamos! Mexam-se! De volta aos seus dormitórios! – completou ao ver a cara de espanto dos dois. – Semana que vem! Sábado às sete horas aqui, na minha sala!
Quando finalmente chegaram ao salão comunal, estavam realmente irritados. Nunca imaginaram pegar uma detenção tão cedo. Preferiram subir para dormir logo, e não ter que escutar os alunos que perguntavam os que os dois andaram fazendo fora da cama.
- Quem aqui conhece um vampiro? – perguntou a voz rouca do professor Gorgeus em sua aula de defesa contra as artes das trevas. – Os vampiros são criaturas escorregadias e que gostam de escuridão... Normalmente habitam sótãos e porões de casas...
- Lupin não está aqui... – murmurou Sirius ao ouvido de Tiago, e este concordou com a cabeça.
Lupin nem ao menos comparecera ao café da manhã. Parece que o que acontecera no mês passado estivesse se repetindo.
- Disse algo, Sr. Black? – perguntou o professor olhando diretamente para Sirius e Tiago.
- Bem... E o Conde Drácula? E outros vampiros? – falou a primeira coisa que veio a sua mente.
- Ah não! Esses são outros tipos de vampiros... Falarei um pouco dos vampiros humanóides ainda nesta aula. Mas no momento apenas os parasitas da escuridão... Esses vampiros são controlados pelo departamento para regulamentação e controle para criaturas mágicas do Ministério. Principalmente para retirá-los das habitações quando as casas de bruxos passam para trouxas... – disse voltando-se para o quadro. – Esses vampiros...
Sirius continuou comentando em voz baixa com Tiago quando o professor se virava para o quadro negro. O outro também estava achando aquilo muito estranho.
- Eles são considerados inofensivos por ainda não terem atacado ninguém... Mas os vampiros humanóides são seres muito parecidos com bruxos, porém são pálidos demais e se alimentam de sangue... A idéia dos vampiros começou de uma lenda, que dizia que o Conde Vlad Drakul, o primogênito, para escapar da morte, ele vendeu sua alma ao demônio... Mas em troca ele teria que se alimentar de sangue humano, pois suas células sanguíneas se auto-destruíam... Mas na realidade, surgiu com uma doença, a porfiria... – o professor estava conseguindo entreter o resto dos alunos.
Quando a aula finalmente terminou, os dois saíram para a enfermaria novamente. Lupin não estava lá. Só o viram no dia seguinte, no almoço. Ele possuía vários cortes pelo rosto, olheiras enormes e estava mais pálido e cansado do que o normal. Contudo mantinha um leve sorriso. Os dois procuraram saber pelo Pedro, mas esse disse a mesma coisa que Lupin disse da outra vez:
“Ele foi visitar a mãe doente... Tadinha da mãe dele...” – parecia acreditar mesmo da história.
- E se arranhou no arbusto de novo? – perguntou Sirius no ouvido de Tiago quando caminhavam para a próxima aula.
- Duvido...
Para eles, aquela semana foi uma das mais trabalhosas. Além dos deveres de casa, paravam sempre um tempo para descobrir mais um pouco de Lupin, nunca obtinham bons resultados. Na noite de sexta, não deixavam de demonstrar nervosismo por causa da detenção, e as quinze para as sete do dia nove de outubro os dois andavam pelos corredores da escola, a caminho da sala de Minerva.
- Ah... Muito bem... – disse a professora ao avistar os dois entrando em sua sala. – Boa noite.
- ‘Noite. – cumprimentaram os dois quase ao mesmo tempo.
- Bem... A detenção desta noite será uma limpeza manual... Dos banheiros masculinos... – completou ao ver os dois trocarem olhares. – É isso! Eu saberei se não estiverem cumprindo... – brandiu a varinha e dois esfregões, dois baldes, panos e outros produtos para limpeza foram conjurados. – Entreguem-me suas varinhas e vocês podem começar.
Os dois deixaram suas varinhas em cima da mesa da professora e saíram carregando o material. Entraram no primeiro banheiro que encontraram e começaram a trabalhar. Aquilo era um trabalho tedioso. Limpar vasos e o chão não era das melhores detenções, apesar de achar que era melhor do que serem castigados.
Sirius se abaixou para limpar embaixo da pia e encontrou um rato. Puxou-o pelo rabo e mostrou para Tiago.
- Olha isso! Imagine se Pedro visse algo como isso! – os dois sorriram maliciosamente, logo depois Sirius soltou o rato.
- AH! Por que fez isso? Eu iria testar um feitiço nele...
- Com o que? Os dedos...
- Esqueci que as varinhas não estão com a gente... Droga!
Os dois continuaram a limpeza por bastante tempo. Depois subiram mais um andar e fizeram a mesma coisa. Um dos vasos estava entupido de fezes. Tiago olhou aquilo e fez cara de vômito.
- Como vou limpar isso?!
- Dá descarga e usa a vassourinha...
- ENTUPIU!
- Então deixa aí...
Tiago fechou a porta daquele boxe e voltou a atenção para outro.
- Essa não é das mais bem-vindas detenções!
- Imagine se tivéssemos que limpar os vasos com nossas escovas de dente!
Os dois começaram a rir. Depois de muito trabalho sujo, Tiago falou:
- Sabe... O Lupin... – começou Tiago esfregando o esfregão molhado no chão de limo. – Mês passado ele sumiu também... Eu o segui...
- O quê? – perguntou Sirius, largando o esfregão.
- Sim... Eu o segui até o quarto andar, perto da enfermaria, escutei ele comentando com a Madame Pomfrey. – pigarreou. – “Preparado, jovem Lupin... Será uma noite dura, não... Espero que você consiga se virar sozinho, não tenho poder de controlá-lo... É só apertar o botão e você poderá entrar... Bem... Vamos!”
- E você faz idéia do que eles conversavam?
- Não... E não escutei mais, pois quase fui pego, tive que voltar logo.
- Ah! Acho que estou me lembrando... Foi o dia que eu acordei no meio da noite, tive um sonho estranho... Eu fui olhar pela janela e vi alguém caminhando pelo gramado... Só não me lembro se estava sozinho... Tive a impressão de ver mais alguém, mas já tinha passado... E depois vi você entrar no dormitório, devagarinho.
“Eu estou curioso para descobrir a verdadeira história...” – continuou.
- Eu também... Duvido que seja mesmo aquele papo furado de mãe doente... A mãe doente não explica os arranhões, olheiras e cansaço.
- Já nem sei mais o que é verdade. – Sirius foi sincero.
- Vamos pesquisar os sintomas na biblioteca... – havia um pouco de tristeza em sua voz quando disse isso.
- Mas temos que fazer rápido e discretamente, não?
-Hum... E se nós nos aproximarmos dele, fizermos amizade... Enquanto isso; continuamos investigando...
- É uma boa idéia... Mas antes precisamos terminar o trabalho sujo! – completou voltando a esfregar o chão.
- Eu nem sei mais se vou para minha casa neste Natal.
- Vai sim! Deixa comigo! Eu não vou de qualquer maneira!
“É melhor aproveitar o Natal com seus familiares, e deixe que eu comemoro o meu Natal longe dos meus parentes!” – completou rápido com uma alta risada. “- Comemora com sua família por mim!”
- Então tá... Se você diz...
Os dois passaram bastante tempo limpando os banheiros. Quando terminaram, era quase uma hora da manhã. Os dois estavam muito cansados e preferiram voltar para o dormitório o mais rápido o possível, e também para não parecerem que estavam perambulando pelos corredores por vontade própria novamente.
O dia seguinte amanheceu convidativo, e os dois só foram realmente acordar quando pisou no degrau falso das escadarias mágicas. Agora sabiam que dormir tarde depois de muito trabalho e acordar cedo não era muito bom. Mas agora eles já sabiam o que fariam. Quando vissem Lupin, iriam interrogá-lo. Porém, como sempre depois que ele desaparecia, ele não estava lá.
Tiago não se esqueceu de acrescentar hemeróbios na poção de Snape e estragá-la novamente. Porém desta vez o professor vira.
- Menos vinte pontos para a Grifinória por ter feito o mal uso de um ingrediente para prejudicar outro colega... – disse o professor com decepção.
- Viu só? Está feliz agora que nos fez perder pontos? – perguntou Lílian, e seu cabelo ruivo e espesso se esvoaçou no ar.
“Ah! Me esqueci... Você deve ter ficado feliz sim... Já que a poção do Snape ficou com a sua cara...” – completou antes que Tiago pudesse retruca, e apontou para o caldeirão. Havia uma poção cor marrom esverdeado.
O garoto apenas fechou a cara para Lílian, e voltou-se para Sirius.
- Como ela pode gostar desse ranhoso?
- Isso só Deus sabe...
No dia seguinte, só encontraram Remo no almoço. Este estava muito quieto com as cicatrizes por todo o rosto. Ele parecia muito triste. Tiago adiantou-se e perguntou educadamente se poderia sentar ao lado de Lupin, e Sirius sentou de fronte ao garoto.
- O que achou dos professores? – perguntou Tiago com um sorriso descontraído.
- Gostei muito deles!
- Eu gostei de defesa contra as artes das trevas! Pena que o professor é velho! – disse Sirius imitando um pouco de desapontamento na voz.
- A idade conta a experiência... Ele foi um bom amigo de Dumbledore. – concluiu Lupin com um meio sorriso.
- E o quais os que você mais gostou? – perguntou Sirius.
- Bons... Gostei muito de Alhena, Minerva e Flitwick!
- E o Binns? – Tiago começava a entrar no ponto que queria.
- Bom...
- Você parece gostar muito das aulas... E de repente você falta uma ou outra...
- Ah... É que nessas aulas eu não posso comparecer... – havia um pouco de vergonha na voz de Lupin, ele falou rápido demais.
- Nossa... Por quê? – adiantou-se Tiago.
- Eu tive que sair... Sabe. Minha mãe contraiu uma doença terrível... Ela está muito debilitada, e sem meu pai ela só tem uma amiga para cuidar dela. Eu fui visita-la... Tive que visita-la... Ela estava... – Lupin parecia receoso do que estava dizendo, mas fez cara de desgosto. – Eu tive que visitá-la, na maioria das vezes eu que cuidava dela...
- Nossa... E como você aceitou vir para cá e deixar sua mãe nos lençóis da morte lá? – um sorrisinho poderia ser visto no rosto jovial de Tiago.
- Era meu sonho poder virar um bruxo... E Dumbledore fez uma proposta, que eu poderia visitar minha mãe, principalmente quando ela estava mal.
- Hum... Melhoras para sua mãe. – disse Sirius com um sorriso amigável.
Por um momento tudo imergiu em silêncio. Porém algo pareceu despertar em Tiago, e ele perguntou antes de qualquer coisa:
- E... Como conseguiu todos esses arranhões?
Lupin estremeceu. Ele até abrira a boca para responder, porém as palavras pareceram se esvair. Ele parecia normal, mas, no fundo, um terror estava deixando-o nervoso. Ele sentiu o estômago embrulhar, não sabia o que iria dizer. Tentou achar uma resposta sensata, mas o que saiu não foi o esperado.
- Minha mãe mora em um vilarejo, eu acabei rolando um declínio no terreno e caí em um em um arbusto espinhento...
- Hum... E você parece não ter dormido! Parece cansado demais!
- Ah... Minha mãe entrou em crise...
- Ele deve estar mentindo! – disse Tiago para Sirius quando estavam voltando ao salão principal, e longe do campo de audição de Lupin. – Isso está muito forçado... Essa história!
Tiago foi um dos primeiros a reservar um lugar no Expresso de Hogwarts para poder passar as férias com sua família. Outro que fez foi Pedro. Todos estavam muito agitados. Agora o Salão principal possuía treze árvores de Natal muito belas com enfeites esvoaçantes de um dourado nobre. Apesar de todas as lareiras ficarem acesas constantemente, nos corredores os alunos eram tomados por uma névoa gélida de arrepiar os cabelos da nuca. Todos agora andavam muito agasalhados, como se esperassem cinqüenta graus abaixo de zero.
Muitos estavam se divertindo na neve. E Sirius, Tiago, Pedro, Muliphen, Murzim faziam uma dura guerra de bolas de neve. Todos já tinham sido “nocauteados” e os muros destruídos, quando Tiago mirou uma das bolas em Lílian. A garota deixou cair seus livros e o encarou com um olhar fuzilador. O outro desviou o olhar, escutando os amigos rirem.
No dia seguinte todos se despediam bem cedo. Muliphen disse que ficaria, enquanto Murzim iria aproveitar o recesso com seus pais. Todos se despediram. No fundo, estavam felizes por terem um descanso dos estudos, pelo menos por algumas semanas.
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Notas do autor:
Não há nenhuma modificação neste capítulo.
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