Outros rumos




Capítulo 2 – Outros rumos


A velha Frau Holtzapfel (1) levantou-se, muito mal-humorada, de sua igualmente velha e despedaçada cadeira de balanço. Moveu-se vagarosamente até a porta de entrada do pequeno apartamento em que morava, no centro de Berlim. Espiou pelo “olho mágico” os insistentes visitantes. Suspirou pesadamente ao atender. Mais estranhos.

- Ja? – perguntou. “Sim?”

Examinou melhor o grupo. Como certamente pensara, era um amontoado de ruivos, algumas poucas moças louras, uma morena de cachos cheios e um garotinho estranho de cabelos turquesa. Todos carregando malas leves. Suas faces, difusas na luz forte do corredor, continham expressões típicas de nervosismo.

A morena deu um passo à frente e disse algo pouco inteligível, num alemão não muito bom:

- Wir sind Suche sein nach Kurt Holtzapfel – perguntou ela, muito educadamente. “Procuramos Kurt Holtzapfel”

A velha abriu os lábios, numa clara tentativa de sorrir e esconder suas preocupações com a menção do nome do filho.

- Sie die Briten? – “São os ingleses?”

Viu-os se entreolharem confusos, até algum dos ruivos, o mais alto, assentir.

- Entrem logo. Desculpem-me por ter falado em alemão, mas era preciso confirmar – disse a velha, guiando-os até uma porta escura nos fundos do apartamento – Eles estão lá embaixo.

Olhares se cruzaram por entre o grupo.

- Nos desculpe, mas... – a morena tomou novamente a palavra.

- Sei o que estão procurando. Não são os primeiros, infelizmente. Só espero que tenham certeza do que estão fazendo - velha interrompeu – Podem descer. Vamos, desçam logo!

- Olha senhora... – começou novamente a morena.

- Ingrid Holtzapfel. E vocês?

A hesitação estava estampada em seus rostos.

- Sou Hermione Weasley. Esse é meu marido, Ronald. E aqui Ginny Weasley, Ted Lupin, Charlie Weasley...

- Certo! – exclamou Frau Holtzapfel, impaciente e irritada – Venham logo!

Sem opção, eles desceram a escadas estreitas e escuras lentamente, em direção a outro rumo. Um rumo desconhecido e perigoso.

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Um pouco longe dali

Harry Potter saiu do alto e lustroso prédio em que trabalhava. Foi andando calmamente até o estacionamento, e abriu a porta de seu carro negro. Tinha sido um longo e duro dia de trabalho. E naquele dia ainda teria reunião na sede...

Não sabia direito o que aconteceria. Ele sabia quem estaria lá quando chegasse, embora estes não o soubessem.E,com isso,não podia deixar de sentir-se um tanto nervoso.

A verdade é que, por todos os doze anos em que estivera em Berlim, acompanhara secretamente todos os passos dos amigos em Londres. Não fora fácil para ninguém.E agora, não tinha certeza se queria-os perto ou longe.

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- O que estamos fazendo aqui?

Teddy Lupin tinha de aprender a ficar quieto.

- Hein? O que estamos fazendo aqui?

Definitivamente.

- Quieto Ted! – sussurrou Hermione.

A longa escadaria, íngreme e estreita, dificultava a passagem de todos eles juntos. Isso, somado a fatores como: cansaço, fuga de um país em guerra e a chegada a um futuro totalmente desconhecido resultava em extremo desânimo.

Ao fim da jornada, encontram duas portas. Uma menina de vivos cabelos castanhos passou correndo por eles, pouco se importando com suas presenças.

- Quem será que é aquela menina? Ela é estranha.

Hermione já abrira a boca para ralhar com ele, até que a outra porta foi aberta subitamente, e dela saiu um homem apressado, gritando. Seus cabelos castanhos assemelhavam-se a plumas, e ele tinha brilhantes olhos cinzentos. Era tão alto que sua cabeça quase tocava a enorme porta de madeira que se encontrava atravessando.

- Hal, já sei. Dá um tem... – ele não chegou a terminar a frase. Mirou os Weasley desconcertado, então voltou para dentro do aposento, balançou a cabeça para alguém lá dentro e voltou a encará-los, uma expressão curiosa e um tanto amedrontada.

- Kurt, tudo bem aí? – uma voz grave se fez ouvir – Daqui a pouco os refugiados vão chegar e você tem de... – calou-se muito rapidamente ao vê-los.

- Já reparou que todos perdem a fala quando encontram a gente? – comentou Teddy para Charlie.

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- Me desculpem. Mesmo. Tudo anda muito difícil por aqui nos últimos dias, mas tenho certeza que vocês podem nos ajudar. – disse, alguns minutos mais tarde, uma mulher de longos cabelos louros que lhe desciam pelas costas magras. Assim que notara a agitação na porta de entrada, fora logo recebê-los, e no minuto seguinte já estava preparando-lhes chá. Ela lembrava muito à senhora Weasley nesse aspecto.

- A propósito, sou Jane Matthews, e esses são Kurt Holtzapfel – indicou ela o homem muito alto – e Hal Fleming – o outro homem inclinou a cabeça. Ele tinha um ar bondoso.

Jane recomeçou a falar:

- Soube por Kurt que procuraram contato conosco nos últimos meses. Desculpe-me, mas, quem são vocês? – a óbvia situação do local parecia ser a seguinte: o tal Holtzapfel liderava junto com Fleming, mas era ela quem falava com os refugiados.

Todos ouviram a pergunto, e o grupo de ingleses (mais as duas francesas) se entreolhou pela enésima vez desde os breves minutos, que na verdade assemelharam-se a toda uma eternidade, em que tinham estado no apartamento de Ingrid Holtzapfel. A hesitação deles era quase palpável, mas a pergunta da mulher recém conhecida continuava pairando no ar, intocada, e os olhos profundos da “estranha” esperavam ansiosos, fitavam as faces apreensivas à sua frente.

- Meu nome é Hermione Weasley e... – a expressão de Jane parecia desapontada, e ela parecia querer novamente falar, como se isso pudesse reconfortá-los. Mas não podia. – precisamos de toda ajuda que puderem nos dar.

Hal deu uma risadinha.

- Nós também – disse ele, seu ar bondoso mais uma vez se fez presente. – Venham, vamos lhes contar tudo – indicou a eles a sala ao lado.

- Tudo o quê? – perguntou Teddy.

Hal riu novamente enquanto Kurt respondia enigmaticamente. Não parecia ser alguém de muitas palavras.

- Tudo sobre a Resistência, ora. O que esperava?

O menino não respondeu e foi o primeiro a rumar para a sala. Por cima do ombro, viu a avó olhar nervosamente para Jane. A loira pareceu entender, e assentiu. Foi até a porta rapidamente e gritou:

- Louise!

- Quê? – respondeu uma voz fina, profundamente irritada.

- Venha cá.

A figura desceu as escadas em passos duros e firmes, e pareceu também resmungar.

- Mãe, você sabe que eu vou esperar por Ha... – ela estacou ao ver o garoto de cabelos turquesa. – Oi.

- Louise, leve...

- Ted e Victorie – disse Ginny.

- Isso. Leve Ted e Victorie lá para baixo com você – A menina lançou a ela um olhar desconfiado. – Pode esperar por eles depois.

Ela se foi por outra porta, à direita da entrada. Os outros dois a seguiram e deixaram os três membros do grupo explicarem tudo para os ingleses.

- Quem você estava esperando? – perguntou Teddy, sem conseguir se refrear.

- Harry – respondeu ela simplesmente, os cabelos curtos balançado levemente.

- Que Harry? – questionou Victorie.

- Ora, existem mais membros na Resistência. Harry é um deles, assim como minha mãe, Hal e Kurt. Tem o Leo também, e muitos outros.

Uma memória floresceu na cabeça de Ted e ele perguntou, a adrenalina percorrendo suas veias surpreendentemente rápido:

- Como a Ordem da Fênix?

Lois fez cara de espanto.

- Quê Ordem?

- Ah, nada importante. Tinha um Harry lá também, mas ele... – parou de falar subitamente. Não devia falar muito da Ordem para ela. – Bem, ninguém sabe ao certo. Como se chama o Harry daqui, Louise?

- Lois, por favor. E o nome dele é Harry Potter. Também veio da Inglaterra. Pode conhecê-lo, se quiser, ele já deve chegar.

Victorie quase tropeçou nos degraus muito curtos, e ao segurá-la pelos ombros, Teddy pensou que talvez realmente quisesse aceitar a proposta de Lois.

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(1) Um sobrenome alemão que emprestei do sr. Markus Zusak. Nenhuma relação com os personagens do sobrenome de "A menina que roubava livros".

(N/A): Oi gente. Eu sei que demorei em atualizar, mas durante esse tempo eu terminei de planejar a fic toda (uns 20, 25 capítulos, eu acho) e ainda escrevi uma short Remus/Tonks, “Magnetismo”. Se gostarem do casal tanto quanto eu, procurem dar uma passada lá.

Agora vocês vão finalmente saber um pouquinho dessa história de Harry em Berlim, a Resistência e a fuga dos Weasley (ou do que restou deles – explico nos próximos).

Espero que estejam gostando. Agradeceria MUITO, muito MESMO, se comentassem. Ajuda, sabe?

OBS: Não, eu não falo nem arranho alemão, mesmo que aprecie muito a língua. Pesquisei na Internet (o que eu faria sem ela?). Se por acaso alguém aí conhecer a língua e houver alguma coisa errada, peço que me alerte, ok?


Agradecimentos às pessoas adoráveis que comentaram:


Danielle Weasley Potter: Muito obrigada pelo comentário! Intrigada, é? Logo suas dúvidas serão sanadas, pelo menos algumas. Espero que tenha gostado deste. Beijo grande.

Janaina Potter: Valeu pelo coment. Cheia de mistérios? É, logo alguns mais virão. Espero que tenha gostado deste e que continue acompanhando. Beijo grande.

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