Sinas que nos perseguem
Capítulo 3 – Sinas que nos perseguem
Assim que as três crianças saíram, os Weasley e Andromeda Tonks seguiram Hal, Jane e Kurt até a outra sala e sentaram-se em sofás um tanto gastos e moles, mas que lhes pareceram ser extremamente duros e desconfortáveis. Talvez o nervosismo cause isso nas pessoas. O lugar era pequeno, diferente dos outros cômodos, largos e cheios de assentos. Parecia que a Resistência tinha muitos membros.
A primeira coisa que Hermione Weasley notou foi a temperatura morna do local, uma vez que não havia aquecedores e o frio do apartamento de Frau Holtzapfel era cortante. Deixou esse pensamento de lado e perguntou timidamente aos três que estavam à sua frente:
- Contatei vocês ao saber de um grupo em Berlim que ajudava refugiados e lutava contra... – pela primeira vez, hesitou. – Vocês-sabem-quem.
A morena viu Hal e Kurt se entreolharem suspeitosamente à menção do nome dele, e ela pensou subitamente em todos os problemas que deviam estar enfrentando. Não pode deixar de pensar também que alguns eram culpa dela mesma. Tentou esquecer daquilo, pelo menos por ora.
- Mas – recomeçou – não sabemos o que vocês são exatamente. Não de verdade.
Mirou-os mais uma vez. Estava sempre os observando, como uma criança assustada, mas ávida por respostas. Kurt, quieto como era habitual, não esboçou reação. Jane parecia um tanto perplexa, e Hal aparentava tê-la ouvido um comentário tolo sobre o tempo obviamente frio e cheio de neve.
- Nós apenas lutamos contra a perfídia e o “reinado” dele. Nada além disso. Se estou bem lembrado, Hermione, você mencionou uma antiga organização britânica que fazia o mesmo, exatamente o mesmo.
Por um momento fugaz, todos permaneceram em silêncio. A Ordem da Fênix parecia ser um assunto tão antigo e distante, cheio de lembranças amargas. Era de se esperar que a reação dos Weasley fosse aquela.
- Vocês parecem ter muitos membros – comentou Bill.
- Temos – respondeu Jane, distraída, os observando novamente. – Mas tínhamos mais.
A fala lenta de Jane despertou em Hal e Kurt algumas visíveis reações de surpresa e eventual dor. Um músculo endureceu na face alva de Kurt e o sorriso leve de Hal desapareceu instantaneamente.
- O que? – despertou a loira de sua espécie de transe. – Eles vão saber, precisam. É importante.
- Certo – crocitou Kurt. – Mas você sabe que não falamos nisso, não mais.
- Então teremos de voltar a falar – respondeu Jane decidida. Kurt já abrira a boca de lábios muito finos para retrucar, mas Hal foi mais rápido:
- Está certa – suspirou. Ele parecia tremendamente mais velho agora. – Vamos contar-lhes tudo.
A mulher lançou olhares perfurantes e nervosos aos outros dois, então se endireitou no sofá fofo e destoou mais uma vez a falar:
- Quando começamos com a Resistência, há onze anos, éramos só um grupo grande que queria fazer algo contra ele – disse. Hermione notou uma sutil, mas perceptível, ironia ao longo do “ele”. – Os problemas sempre nos perseguiram, é claro, mas procurávamos em todas as vezes um jeito para consertar tudo.
Ela fez uma longa pausa, como se as sofridas memórias do assunto lhe ardessem na garganta muito mais exponencialmente do que firewhisky, e cada palavra tivesse de lutar para ser pronunciada. Hal continuou:
“É óbvio que houve desentendimentos dentre nós. Tentávamos contornar isso de todas as maneiras possíveis, porém houve uma única vez em que tudo estava tão... saturado e difícil que, bem, não agüentamos mais.
Sabe, nós todos tínhamos idéias e valores diferentes e, depois de uma grande briga, a Resistência acabou se separando.”
Foi a vez de Hal Fleming calar-se, e ele não parecia disposto a retomar a palavra.
- Os outros – começou Kurt. Finalmente os recém-chegados ouviram em sua fala mansa uma pequena, mas significativa, dose de segurança. – não sabemos o que houve com eles depois disso. Provavelmente estavam sem proteção e morreram. Mas isso não importa mais, não de verdade.
- Continuaremos lutando – falou uma recuperada Jane Matthews, novamente distraída, os olhos profundos e muito azuis fixos num ponto pouco interessante da porta. – Mas e vocês? – ela voltou o olhar a eles.
Hermione Weasley perdeu a fala pela enésima vez no dia. Tudo o que a rodeava agora parecia ser surreal demais, simplesmente difícil demais. Ela sentiu os olhos encherem-se de lágrimas insistentes que um dia ela prometera a si mesma não deixar rolarem por seu rosto. Era cruel demais, não podia ser verdade.
Mas era, pensou.
Parecia uma sina.
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Ao chegar ao nível mais profundo da sede, Lois abriu uma das portas, como sempre grandes e escuras, e acionou um interruptor gasto na parede. A luz, não vista pelas outras duas figuras que a acompanham, vacilou por alguns instantes, até finalmente iluminar, mesmo que muito fracamente, o local. A sede da tal Resistência parecia estar nunca devidamente iluminada, por mais lâmpadas que o local tivesse.
A menina balançou levemente a cabeça e convidou-os a entrar sem abrir a boca. Então ela fechou a porta ruidosamente e sibilou algo que eles não entenderam. O silêncio reinava pesado, muito pesado, entre os três.
- Eles não querem que vocês escutem – disse a menina alemã, como se isso não estivesse óbvio para quem quisesse entender. Ela olhou para eles com seus olhos grandes, profundos como os da mãe, quase sem piscar. Sua cabeça pendia para um lado, e a dúvida estava quase estampada em suas íris azuis, a pergunta saltando dos lábios carnudos. – Por quê?
Ted sentou-se na pequena cama do igualmente pequeno quarto. Aliás, tudo ali era miúdo, como se ocupar espaço fosse um crime fatal. A escrivaninha lustrosa, a singela máquina de escrever, o armário escuro, as paredes sujas e baixas. O interminável amontoado de papéis a um canto chamaria a atenção de qualquer um, destoava assombrosamente da incrível pequenez do cômodo.
Victorie continuava de pé, encarando Lois como se ela tivesse dito o maior absurdo que já ouvira. O que não era muito improvável.
- Por quê? – questionou a menina metade Veela, sem um pingo de desdém em sua voz fina. – Acho que isso está bem claro. Não querem que saibamos o que está havendo.
- E por que não? – disse a outra. – Não há nada demais em saber de tudo, nada.
A pequena Weasley mirou Lois Matthews, subitamente enfurecida. Virou os olhos e fitou Teddy, meio exasperada. Mas o menino sabia as causas da estranha curiosidade de Lois: ela sabia tudo sobre a Resistência, e isso era realmente bom para eles. O garoto olhou para Victorie calmamente, e então disse algo muito baixinho, só para ela escutar, sua voz absurdamente tranqüila para todas as sensações nervosas que palpitavam em suas veias.
- Lois – falou o menino de cabelos turquesa, afastando-se de uma perplexa Victorie e encarando a alemã com firmeza. – Você sabe muito sobre essa organização, não é?
A morena sorriu levemente. “Sim”.
- Então – hesitou. Bem, talvez ela concordasse. – pode nos contar?
Louise estudou-os por um momento, seus enormes olhos claros perfurando-os com curiosidade. Mais tarde, Ted Lupin concluiria que ela era tal qual o meio sorriso de Ginny: não estranho, nem diferente, simplesmente único.
- Não – disse, os lábios rosados curvados em um sorriso zombeteiro. – Não posso. Mas poderia.
O filho de Remus não entendeu, assim como a filha de Bill. Teddy já estava se cansando da menina alemã. Talvez fosse mais fácil chegar para o tal Harry Potter e perguntar. Se ele fosse o mesmo de quem ouvira falar na Inglaterra, responderia.
Essa era outra dúvida.
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A figura encapuzada que seguia por uma viela mal-iluminada de Londres chegou bem perto de um telefone público, até entrar nele e retirar alguma coisa de dentro do gancho quebrado. Ao sair, despiu as luvas grossas que usava e seguiu caminhando em absoluto silêncio ao longo da rua estreita. O lugar em si parecia também permanecer em silêncio, esperando pelo que viria a seguir...
A figura parou diante de uma portinha no centro da ruela à direita, abriu-a bruscamente e adentrou no cômodo, o negrume de sua capa fundindo-se com a escuridão lá de dentro. Foi até a antiga lareira bem ao fim do local, e tirou um punhado de grãos como areia, mas escuros como musgos.
Estranhamente, ele acomodou-se, ainda de pé, dentro da lareira. Então despejou os grãozinhos no chão e murmurou algo entre os dentes.
Em alguns instantes, não estava mais ali.
Sua mente estava um tanto confusa e um pensamento não deixava sua cabeça em paz, como um mantra, que lhe indicava o caminho a seguir, e expressasse tudo o que mais queria no momento.
Se fosse possível alguém ler-lhe a mente naqueles breves segundos de reflexão, saberia que o joguinho de ilusões estava para acabar, e que os outros não teriam a mínima chance.
Porque eles tinham mexido com ele. E isso era inaceitável.
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A Jane que tinham conhecido há algumas horas simplesmente não se encaixava com a mesma Jane, que agora tinha seus olhos profundos cobertos por lágrimas e estas caíam silenciosamente por suas bochechas pálidas. E isso tudo era muito estranho e confortante para o grupo de ingleses. Essa era a primeira vez em todos aqueles anos que alguém lhes oferecia ajuda, que chorara ao escutar sua história.
Depois que a alemã se recuperou, todos os presentes ouviram uma batida leve, e então a voz desgostosa de Ingrid Holtzapfel. Lois passou correndo pelas saletas, e subiu as escadas muito rapidamente. Hal se levantou, mesmo que ainda meio abalado, e seguiu a menina.
Várias vozes se sobrepuseram aos gritinhos felizes de Louise, mas os ingleses ainda puderam escutá-los, baixos:
- Harry! Leo!
O olhar de Hermione encontrou os de Ron e Charlie, e ela observou nervosa Ginny silenciar-se abruptamente de sua conversa com Andromeda. As coincidências os perseguiam como se fossem fugitivos por um crime terrível.
Muitos passos fortes ecoaram pelas escadas, retumbando cada vez mais audíveis.
A primeira a notar o retorno da menina Lois foi Fleur. Ela também viu um vislumbre esverdeado fitando-os, e só não gritou porque aparentava ter perdido a fala subitamente.
Não era outra coincidência.
Talvez isso também virasse uma sina.
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(N/A): Eu sei que demorei nesse, peço que me desculpem. Já tinha escrito quase metade dele, até que aconteceram algumas coisas e ele simplesmente empacou.
Espero sinceramente que tenham gostado desse capítulo. Foi um pouco mais longo. Pensaram que descobririam logo tudo sobre nossos ingleses favoritos, é? Bem, não vai demorar muito. No próximo capítulo: Harry, Leo e outras personagens da Resistência, assim como a figura que apareceu nesse.
Ah, só pra avisar: essa história segue a linha de DH, com exceção do epílogo. Ou seja, não é totalmente Universo Alternativo.
Realmente gostaria de comentários, sabe?
Beijos a todos
Lois Peverell
Agradecimentos pelos comentários:
Janaina Potter: Valeu mesmo pelo coment. Não entendeu muita coisa? Bem,espero que esse capítulo tenha te esclarecido um pouquinho. A história dos Weasley virá em breve. Beijão
Nina.Potter: Muito obrigada por ler e comentar. Nossa, realmente me surpreendi com todos esses elogios *corada*. Beijo grande
Danielle Weasley Potter: Obrigada mesmo pelo comentário. Ainda intrigada, então? Fiquei satisfeita. Amo suspense, espero que também te agrade. Logo restarão apenas algumas dúvidas obre os Weasley. Beijos
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