Quarto Capítulo
Enquanto Hermione tinha subido para pegar o texto dela, Harry foi andando pela casa dela, olhando os retratos e objetos que tinha ali. Parou em frente a uma imagem de Jesus Cristo. Ela era diferente de qualquer outra que ele já tinha visto... Era estranha e assustadora!
- Mas que feio... – ele se virou e ganhou um susto com o homem que estava atrás dele - Jesus!
- Não. O pai da Hermione. – o senhor o olhou de baixo a cima - Olá senhor Potter, soube que ganhou o papel principal da peça, parabéns!
Harry percebeu que o pastor não estava sendo muito sincero. Tentou ser simpático e quebrar o gelo entre eles.
- Puxa, obrigado por me deixar estudar minhas falas com a Hermione.
- Eu não deixei. – Harry olhou para ele sem graça - Que fique bem claro uma coisa: você acha que aos domingos eu não te vejo de onde estou, mas eu te vejo – o pai de Hermione foi andando até ele. Parou na sua frente e apontou para a porta que estava atrás dele - Eu estarei no meu escritório, bem aqui!
Harry engoliu em seco.
- Pronto? – Hermione estava ao lado dele. Harry não tinha percebido sua presença até aquele instante.
- Sim, vamos.
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- Harry, onde esteve? – Rony cumprimentou o amigo que tinha acabado de chegar na escola. Harry andava sumido desde que começou a ensaiar para a peça de primavera e Rony sentia falta do amigo.
- Em lugar nenhum? – respondeu Harry brincalhão, dando um abraço nele.
- Vem cá! – Draco puxou Harry para um canto longe dos amigos.
- O que houve? – perguntou Harry curioso.
- Nós somos amigo, certo? – Draco queria confirmar se estava tudo bem entre os dois, já que ele quase não o via mais.
- Sim, claro! – Harry ficou surpreso com a pergunta e respondeu como se fosse algo obvio.
O sinal tocou e eles foram juntos para a sala de aula.
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Harry estava indo para casa. Ele tinha ficado um tempo na casa do Rony e com o resto dos seus amigos comendo pizza e vendo um filme. Já estava tarde e ele já devia estar em casa, já que esqueceu de avisar a sua mãe que ia sair.
Estava passando em frente ao cemitério quando viu Hermione entrando nele. Achou que ela devia ser louca por estar lá há essa hora e tentou ignorar isso. Mas ele estava curioso demais para deixar isso para lá.
Estacionou o carro no meio fio e entrou no cemitério o mais rápido que sua perna machucada lhe permitia. Apesar de não estar usando mais as muletas, ele ainda mancava.
- Hey! – Harry gritou para que ela parasse.
Hermione se virou e esperou ele chegar até onde ela estava. Ficou surpresa com a presença dele ali. Harry Potter era a última pessoa que ela pensou que fosse encontrar.
- O que esta fazendo aqui? – perguntou Harry quando alcançou ela.
- Eu te faço a mesma pergunta!
- Você sempre vem ao cemitério à noite? – perguntou ele sarcástico.
- Talvez. – Hermione deu um sorriso cínico para ele. Ela se virou e começou a andar de novo.
- Aonde vai?
- Venha ver.
Hermione andou por mais alguns minutos. Harry a seguia de perto, tentando imaginar para onde ela estava o levando. Hermione parou de andar e apontou para um grande objeto na sua frente.
- Legal, o que é isso? – perguntou Harry se aproximando. Ele deu a volta no aparelho e olhou os detalhes. Ele parecia meio rústico e mal acabado, mas não fazia idéia do que era.
- Isso é o meu telescópio! – disse ela orgulhosa – Construí aos doze anos. Dê uma olhada.
Harry deu um passo e colocou o olho direito em cima do ocular.
- Saturno. – comentou. Afastou-se e olhou para ela - Muito legal!
- Quero fazer um maior para ver o cometa Hyakutake. – continuou ela empolgada - Ele virá na primavera, mas ninguém sabe quando ele vai voltar.
- Os milagres da natureza. Agora entendi...
- Entendeu o que? – perguntou confusa.
- Você gostar dessas coisas.
- Essas “coisas”? – Hermione ficou ofendida - Eu tenho minhas crenças, tenho fé, você não?
- Não. Tem muita coisa ruim nesse mundo.
- Sem sofrimento não há compaixão.
- Diga isso aos que sofrem.
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Harry estava no corredor do colégio com seus amigos. A estação tinha acabado de mudar e eles não precisavam ficar andando de casaco. E apesar de todas as obrigações que tinha que fazer para o colégio, ele estava feliz.
- Cara, é por isso que eu gosto da primavera. – comentou Draco olhando para as garotas que passavam por eles usando saias. - Por onde andavam essas penas no inverno?
- Olhem só a virgem Maria. – disse Gina se referindo a Hermione que tinha acabado de entrar no corredor que eles estavam.
Hermione parou na frente deles e se virou para falar com Harry.
- Oi Potter, a gente se vê depois da aula? – ela queria confirmar se eles iam ensaiar as falas dele da casa dela.
- Vai sonhando. – respondeu ele ríspido e grosseiro.
Hermione ficou olhando para ele, mas não se deixou alterar pela grosseria dele. Virou-se e foi embora, enquanto escutava os amigos dele rindo dela.
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Hermione estava em casa ensaiando no piano a sua música da peça. Ganhou um susto quando a campainha tocou. Foi até a porta e encontrou Harry. Ele abriu a boca para dizer alguma coisa, mas que ele fizesse isso, ela bateu com a porta na sua cara.
- Vamos, Hermione. – Harry bateu na porta novamente - Abra a porta, por favor!
Ela abriu a porta e saiu para a varanda. Harry se afastou assustado. Nunca tinha visto Hermione daquele jeito. Ela fechou a porta trás de si novamente e o encarou.
- O que você quer? – perguntou ela impaciente.
- Você esta de mau humor...
- Você é observador! – respondeu ela irritada.
- Hermione, eu queria passar as falas com você.
- Mas sem que ninguém saiba, certo? – perguntou ela.
- É que eu queria surpreender todos com minha atuação. – disse Harry sorrindo.
- Como se fossemos amigos secretos? – perguntou ela dando um sorriso também.
- Certo. Você leu os meus pensamentos. – disse ele feliz por ter ajeitado as coisas entre eles.
- Ótimo. Então leia o meu. – ela tirou o sorriso do rosto e o encarou com tanta raiva como antes. Harry ficou mudo com a reação dela.
- Hermione, Eu não posso ser seu amigo. – ela estava voltando para dentro de casa quando ele a segurou pelo braço, fazendo-a se virar.
- Harry, eu achei que tinha visto alguma coisa boa em você – Hermione o encarou seriamente - Mas eu me enganei! – ela fechou a porta novamente deixando Harry sozinho na varanda. Ele sabia que tinha vacilando e feio dessa vez.
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Estava de noite e Harry não conseguia se concentrar em nada. Tinha que se distrair com alguma coisa e parar de pensar no jeito que Hermione tinha falado com ele.
Deitou na cama e ficou olhando para a estante com velhos livros na sua frente. Um caderno lhe chamou atenção, se levantou e o pegou. Deitou de novo na cama e começou a folhear o anuário da escola do ano passado.
Passou os olhos rapidamente nos rostos conhecidos e se deparou em uma determinada pagina com a foto de Hermione. Ela não estava muito diferente do que era hoje em dia, apenas usava uma faixa branca no cabelo. Olhou para a descrição da foto e começou a ler em voz alta.
Hermione: cruz vermelha, estrelas e planetas, clube do teatro.
Ambição: presenciar um milagre.
Ficou um tempo ainda olhando a foto. Definitivamente Hermione era uma garota única!
- Você sabe a resposta? Eu sei que sabe!
Harry estava em mais uma aula de orientação aos alunos mais carentes. Estava tentando fazer Brendon aprender alguma coisa de matemática, mas parecia que todos seus esforços não adiantavam em nada.
Brendon estava distraído segurando uma bola de basquete e não dava atenção a Harry. Este estava começando a perder as esperanças de conseguir ensinar alguma coisa ao menino quando viu que tinha uma quadra de basquete no pátio do colégio.
- Somos eu, você e a cesta. – Harry tinha levado Brendon lá fora na tentativa de incentivar o estudo dele. Podia perceber que ele gostava de basquete, então ia fazer isso ao seu favor - Nós três formamos os ângulos do triângulo. Dê um passo à frente. – Brendon deu um passo e Harry fez o mesmo. Ele olhou para o garoto - Continuo no mesmo ângulo que você e a cesta?
- Sim – respondeu ele hesitante.
- E você?
Ele fez sim com a cabeça. Harry sorriu para ele o encorajando-o.
- Então o que somos?
- Um triângulo semelhante? – respondeu Brendon em dúvida.
- Sim! Um triângulo semelhante. – Harry ficou animado com o resultado. Hermione tinha razão, ele só precisava descobrir um jeito diferente de fazer com que Brendon entendesse a matéria. - Agora me transforme num isósceles!
Brendon deu uns passos para o lado e se virou para ver se a resposta estava certa.
- Certo, dois lados iguais! – Harry estava realmente feliz, tinha conseguido o que há semanas ele tentava sem êxito, agora tudo parecia muito mais fácil - Agora chega, vamos jogar! – Brendon que estava segurando a bola de basquete o tempo todo, jogou a bola para Harry enquanto esse corria em direção a cesta.
Hermione de longe via essa cena. Apesar de estar irritada com Harry, não podia deixar de ficar feliz pelo modo que ele estava explicando Brendon. Esse tipo de atitude era tipicamente de Harry Potter!
Hermione encontrava sempre Harry nos corredores, mas nunca mais falou com ele. Nem nos ensaios da peça, nem nas aulas de orientação aos sábados.
Algumas vezes Harry tentou falar com ela, mas ela sempre saia de perto. Com o tempo ele desistiu de fazer contato com ela.
Harry ainda se sentia mal pelo modo que tinha tratado Hermione na frente de seus amigos. Sabia que ela tinha toda a razão em não querer falar com ele, mas preferia que ela não o fizesse.
Se quisesse se tornar uma pessoa melhor e que Hermione pudesse algum dia voltar a falar com ele, teria que tomar uma providência e por isso resolveu fazer uma visita a Neville no hospital.
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Harry demorou um pouco para achar a porta do quarto onde Neville estava. Sabia que ele não corria mais perigo de vida e que já estava lúcido. Estava na hora de encarar ele de frente.
Entrou no quarto e foi andando até o lado da cama que Neville estava deitado. Ele estava vendo um filme na televisão e por isso não percebeu a presença de Harry até ele chegar ao seu lado.
- Eu vim pedir desculpas. – disse Harry olhando o garoto. Percebia que Neville estava com tanta raiva dele quanto Hermione.
- Já pediu. Sente-se melhor? – perguntou Neville ríspido.
- Não, me sinto péssimo. – Harry estava sendo sincero como há muito tempo não era e esperava que Neville tivesse percebido isso.
- Quer saber? Eu achava que queria ser amigos de vocês, mas agora não lembro porque. Não imagino! – disse Neville descrente.
- Eu pulei uma vez. – comentou Harry - Me achava durão. Lembro até de dizer que mergulharia de barriga.
Neville olhou para ele. Não sabia que Harry tinha realmente pulado alguma vez na cisterna da fábrica.
- Doeu?
- Muito.
- Ótimo. – Neville deu um meio sorriso para ele e voltou sua atenção para a televisão na sua frente.
- Então a gente se vê na escola. – disse Harry enquanto saia do quarto com o coração e a consciência bem mais leves.
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