O Traidor do Próprio Sangue

CAPÍTULO TRINTA E UM – O Traidor do Próprio Sangue

– Eu não acredito! – reclamou Rony enquanto desciam as escadas do quinto para o quarto andar – Hoje foi realmente cansativo e agora isso? Eu já tive de aturar a voz sonífera de Binns por duas horas e agora eu não posso descansar no salã...

– Rony! Cala a boca! – exclamou Hermione ríspida – Você não parou de reclamar desde que saímos de frente do quadro da grifinória!

– Mas... – começou Rony que foi interrompido por Harry.

– Vocês não precisavam ter vindo. – respondeu Harry aborrecido já avistando as gárgulas do escritório do diretor.

Hermione parecia ter ficado muito chateada com o que o amigo lhes falara. Rony também se sentiu descontente.

– Harry isso pode ser importante para você e, se é importante para você é para nós também! – disse Hermione com a voz embargada.

– É cara... A Mione tem razão.

– Desculpe, eu não tive a intenção de fazer vocês chateados, é porque vocês brigam muito... – as gárgulas estavam diante dos três e novamente um delas espantou-se por ver Harry.

– Garoto! – exclamou a gárgula espantada – não me diga que você veio ver o diretor?

Harry confirmou com a cabeça.

– Por Merlin! Você deve estar confundindo o escritório do diretor com seu salão comuna...

– Não minha cara Choloe, fui quem o chamei. – Dumbledore surgiu por trás dos três garotos e apoio a alva mão sobre o ombro de Harry. – Calda de Morango!

– Você conseguiu aquilo? – perguntou a outra gárgula.

– Creio que mais tarde eu vá conversar com vocês, agora não é oportuno. – disse Dumbledore indicando os alunos com os olhos.

–Compreendo, mas...

– Choloe, por favor a passagem.

– A sim! – disse em tom de imploração e girando para o lado a escada circular tornou-se visível. O quarteto subiu as escadas e ao chegarem no austero escritório de abóbadas escuras e cheias de relevos e inscrições cuja leitura ficava difícil devido á altura. Não foi surpresa para Harry que uma bacia de pedra antiga com algo prateado que não diferenciava o líquido do gasoso estivesse sobre a mesa do diretor. Ao lado diversos instrumentos finos de prata também repousavam imóveis. Sem falar nada, Dumbledore conjurou três cadeiras de chintz e as posicionou de frente para sua mesa, fazendo assim com que os três ocupantes estivessem à vista do interior da Penseira. Rony e Mione se sentaram após Dumbledore pedir para que fizessem o mesmo. Harry foi o último a se sentar e quando finalmente o fez Dumbledore começou a falar com sua voz serena e sábia de sempre.

– Vocês três são realmente muito inteligentes. E juntos parecem funcionar melhores que sozinhos. – Dumbledore piscou os olhos vagarosamente. – Mas isso deve ser discutido em um outro momento. Chamei você aqui Harry, para que pudesse lhe explicar o que está acontecendo. Vocês vieram e vão escutar também. – referiu-se, Dumbledore, aos amigos de Harry – Bem acho que em anos, Voldemort realizou algo que eu supunha ele jamais fosse tentar. Ele ousou tentar invadir Hogwarts. Não porque eu esteja aqui, – disse Dumbledore respondendo ao questionamento que mal havia se formado na cabeça de Harry – mas porque ele, mais do que ninguém, sabe assim como eu das proteções que este castelo guarda e que talvez este castelo ainda possua segredos de que nem eu imagine. Ele sabia que o que tentava era algo impossível, porque mesmo que todos aqui fossem mortos, – Hermione espantou-se com as duras palavras do diretor e apertou com força os braços da cadeira – o castelo ainda guardaria sua maior proteção. Mas antes que isso fosse necessário eu invoquei o escudo do castelo, o Escudo dos Quatro, essa bela redoma multicolorida que envolve toda a Hogwarts é um escudo milenar criado, obviamente por Gryffindor, Ravenclaw, Slytherin e Hufflepluff.

– Então o lema da escola esculpido no chão do Saguão de Entrada é... – disse Hermione contente.

– Sim, Srta. Granger. Exatamente como você havia deduzido, o lema da escola é um mantra evocativo. Embora algumas outras palavras sejam necessárias você pensou corretamente. – Dumbledore abriu um largo sorriso para Hermione e corando a garota retribuiu com um discreto sorriso. – Mas como em tudo há um lado ruim, por ser muito poderoso, este escudo deixa as melhores habilidades mágicas em baixa, principalmente a execução de feitiços, e a prática da legilimencia e da oclumência. – Foi a vez de Dumbledore sorri para Harry e o garoto ficar sem graça. – Harry, creio que nas próximas noites, as alterações de humor de Lorde Voldemort voltem a incomodá-lo. E lembro que você sempre poderá contar com no mínimo um integrante da Ordem no castelo, qualquer notícia eu quero que você conte para um deles, não se esqueça de pensar antes de agir. Use sua sabedoria quando o poder não estiver ao alcance.

O mês de abril desprende do calendário velozmente e maio chega com um ar quente que enche as salas e corredores da escola. A primavera parecia ter finalmente chegado, e já era possível caminhar pelos corredores do castelo apenas com o uniforme convencional, sem o uso cumulativo de capas, casacos e suéteres de lã grosa e quente. As aulas de Herbologia e Trato de Criaturas Mágicas haviam se tornado mais agradáveis, talvez fosse porque flores de Albatroz e Amassos fossem mais interessantes que as perigosas víboras verdes e os feios cavalos-do-lago.

A redoma multicolorida permanecia á proteger a escola. Nos dias de sol, os raios luminosos atravessavam a enorme bolha e projetavam raios coloridos que faziam com que o gramado tivesse tons de roxo, vermelho e azul. O castelo também recebia as cores e parecia que havia recebido um banho de tinta, os antigos muros de pedra cinza agora eram, verdes, azuis, vermelhos e amarelos. Apenas Snape e Trelawney pareciam incomodar-se com o escudo, Snape dizia que sua luz atrapalhava sua concentração e Trelawney sempre se aborrecia porque um raio de luz azul insistia em cruzar sua janela fazendo com que o vermelho predominante fosse recortado de forma brusca. Flitwick e McGonnagal sabiam que muitos dos feitiços estavam ficando imperfeitos devido a interferência do escudo, mas não reclamavam uma palavra sequer, apenas sacudiam a varinha novamente até produzir o efeito desejado.

As reuniões da AD também haviam sofrido as interferências do escudo e nem todos conseguiam realizar as tarefas propostas. Em uma noite cheia de interferências externas, a reunião foi apenas de revisões. Mesmo Harry, tentou conjurar seu patrono, e o cervo saiu da ponta da varinha sem a galhada e os contornos estavam difusos e embaçados. Hermione e Pavarti quase tiveram um acesso ao não conseguirem, as duas, a executar uma azaração do impedimento com perfeição. Rony, após várias tentativas inúteis com o velho desarmamento, sentou-se a um canto e ficou observando a movimentação. Luna e Gina conversavam conforme produziam faíscas dispersas e sem efeito algum. Ao fim, Harry desistiu e dispensou todos uma hora mais cedo.

Aos poucos a convivência com o escudo tornou-se pacífica e embora poucos alunos insistiam em discutir porque aquilo estava ali, a maioria já havia voltado a pensar no Campeonato das Casas e na final de Quadribol, que afinal andava perturbando Rony. Ele não parava de insistir que embora precisassem apenas de uma simples vitória, ele ainda se preocupava com que a torcida poderia arrumar, de forma que prejudicasse a performance dos jogadores. Rony não parava de dar conselhos a David e Laff, mas Harry sabia que no fundo o conselho era para ele mesmo.

Harry voltou um tanto quanto aborrecido para a torre da grifinória, embora sua cicatriz formigasse, o garoto não deu importância alguma para o fato, dispensou a mochila em uma das poltronas vazias e subiu para o dormitório. Ele afundou-se em sua fofa cama de colunas e ficou deitado, acordado, por horas a fio. Pensando em tudo. Pensando em todos. Pensando em si. Sua cicatriz foi queimando devagar. Harry não ligava para a dor boba de sua cicatriz. Sua maior cicatriz jamais se fecharia, ele jamais seria o mesmo sem seus pais e seu padrinho. E além de suas perdas ele ainda tinha de descobrir sozinho uma força inexistente de uma forma inexplicável que mesmo Dumbledore não pode dizer. Sua cicatriz ardeu em brasa e sem notar, Harry Potter havia caído no sono.

Mais uma vez aquele mês, Harry via uma enorme pirâmide de cor roxa, ela estava de ponta à cabeça, e Harry, embora não entendesse o porque, sentia-se extremamente feliz por lembrar-se da pirâmide. Ainda muito sonolento Harry foi incomodado por risos e vozes femininas distintas que riam e lhe satisfaziam mentalmente. Harry abriu os olhos, mas não estava no dormitório da torre de Grifinória, ele estava sentado em uma poltrona de estofado verde e madeira escura. A cadeira estava no centro de um aposento frio e cinzento, a única luz dali vinha de um archote central que queimava um fogo de chamas verde luzidias e bruxelantes. As paredes de pedra haviam recebido quadros muito feios, mas que chamavam a atenção por que pareciam ser uma seqüência, onde folhas secas rolavam e pulavam de moldura para moldura. As vozes femininas que Harry havia escutado vinham de duas mulheres a sua frente, elas usavam longas capas pretas. Uma era relativamente alta com longos cabelos louro-acinzentados e olhos fundos e negros. Ao seu lado uma mulher também de olhos negros, porem delineados por sobrancelhas e cílios escuros e compridos que dava ao rosto da mulher um ar misterioso e maléfico e moldurado pelos longos cabelos negros. Harry as conhecia muito bem, e também conhecia quem estava sentado, afinal aquele não era ele, e aquelas mulheres não era apenas mulheres. No aposento que Harry ali estava, Voldemort conversava jovialmente com Narcisa Malfoy e Bellatrix Lestrange.

– Vamos, mestre! Conte-nos como você conseguiu a façanha de vencer a morte, afinal você não teve sucesso com os métodos de Snape...

– Confesso – Voldemort falou com sua habitual voz fria e cortante, parecia estar muito calmo – que os métodos criados por Snape foram muito interessantes para mim, afinal sem a poção criada por ele eu jamais estaria aqui com este corpo, novamente, junto de vocês...

– Mas não foi apenas isso! Snape nos contou que sua parte era pequena, que sua real função era espionar o salva-trouxas do Dumbledore! – explicou Narcisa curiosa.

– Nunca, – começou Voldemort diminuindo o tom da voz e tornando-a cada vez mais macabra – ninguém saberá o que passei. – Voldemort fechou os olhos e a visão de Harry também foi fechada, ele apenas sentiu seus lábios se moverem e mandarem as duas saírem com uma voz fria que não lhe pertencia.

Harry sorria, na verdade o rasgo que agora era sua boca curvava-se de forma contente e sarcástica, afinal por tudo o que havia passado e feito sorrir era algo impossível. Ainda de olhos fechados, Harry lembrou-se de seu segundo ano, de quando pudera dizimar seu primeiro sangue-ruim com a cobra de seu maior ancestral... Seus pensamentos correram para uma sala escura cheia de retratos descolorados, de pessoas que pareciam dormir um sono profundo, porém inquieto. Novamente ele voltou sua mente para a pergunta de sua Comensal preferida...

Novamente, depois de quase trinta anos ele sentiu a dor da morte, um forte cheiro de vela queimada invadiu suas narinas e um liquido viscoso e fervente descer lhe pela cabeça, ele sentiu sua pele endurecer como pedra, uma dor lancinante proveniente das queimaduras e um prazer notório de que seus planos estivessem dando certo. Ele sentiu um dedo frio limpar seus olhos, quando o abriu viu um homem com uma cabeça de chacal que segurava uma varinha de ouro. Um outro homem depositava sobre seu peito um amuleto de ouro, parecia um olho dourado. Por fim diversos escaravelhos foram jogados dentro do local onde ele estava junto com uma enorme cobra prateada, Nagini.

Antes que uma tampa fosse posta sobre a abertura do caixão que se encontrava, Harry viu Percy Weasley ao seu lado, anotando tudo em um bloquinho de pergaminho.

– Sim mestre... – disse Percy com os olhos incinerados pelo poder – entendo. Óbvio que sim. – Percy balançava a cabeça de forma afirmativa e quando Harry sentiu extrema raiva por ver a traição de Harry, ele sentiu que Voldemort havia percebido sua presença, ele levantou-se puxou a varinha e antes que dissesse alguma coisa Harry gritou.

– EU SEI DE TUDO! – ele viu um reflexo verde no reflexo de seus óculos mas antes disso ele sentiu as fofas almofadas de sua cama. Ele não podia acreditar no que vira, como Percy podia ser tão tolo, como ele podia ser tão burro de trair o sangue de sua família? Harry levantou-se da cama de dossel e viu pela janela que o dia estava amanhecendo, sem acordar Rony ou qualquer outro, ele fez o que devia fazer. Correu o colégio à procura de Dumbledore. Ainda no sétimo andar encontrou a professora McGonnagal ainda usando seu robe de seda.

– Potter! O que faz no corredor à esta hora? – McGonnagal parecia não entender a preocupação nos olhos do menino.

– Ele... – Harry ofegava – Ele está furioso.

– Ele quem? – Minerva parecia muito preocupada – Você-Sabe-Quem? Você sonhou com ele? Ele invadiu sua mente? – Harry negou com a cabeça. – Então como sabe que está furioso? – Harry respirou fundo antes de falar.

– Profe-fe-fessora eu sonhei com Voldemort sim, mas foi eu quem invadiu a mente dele, não sei como, mas ocorreu. – A diretora da Grifinória levou as mãos a boca e disse muito enérgica. – Vamos ver Dumbledore agora. – Ainda se perguntando o porque um meio-animago jogaria cera quente em alguém ou o que seria aquele olhou dourado, ele seguiu McGonnagal descer as escadas de mármore.

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